Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 538 | Agosto de 2023 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

MALU NACHREINER

CEO do Grupo Bayer Brasil e líder da divisão agrícola da companhia

“Precisamos expandir a barreira de novos modelos de negócios, que tenham a sustentabilidade como peça-chave na definição de sucesso.”

“Recebi o convite para ser CEO da Bayer no Brasil com muito orgulho porque é um grande desafio liderar uma organização desse porte e com essa relevância. Ser escolhida também foi um desafio pessoal, por ter assumido esta posição durante a pandemia, considerando as incertezas que vivíamos no mundo naquele momento.” A afirmação é da engenheira agrônoma Malu Nachreiner, convidada para ser a entrevistada desta edição da Revista Coamo. 

Ao longo dos anos, Malu ocupou posições em vendas e marketing, antes de ser promovida a líder da divisão agrícola da Bayer em 2020 e, posteriormente, em 2021, a CEO da companhia no Brasil. “Ainda no meu período de estágio na empresa, tive a oportunidade de passar um tempo na área de atuação da Coamo e aprender sobre a importância do cooperativismo no Brasil. “

Revista Coamo: A senhora é a primeira mulher a presidir uma companhia tão importante como o grupo Bayer. Como recebeu este convite? 

Malu Nachreiner: Com muito orgulho, porque é um grande desafio liderar uma organização desse porte e com essa relevância. Ser escolhida também foi um desafio pessoal, por ter assumido esta posição durante a pandemia, considerando as diversas incertezas que vivíamos no mundo naquele momento. Posso dizer que tenho o prazer e a responsabilidade de estar à frente de uma organização com mais de 5.000 colaboradores. 

RC: Qual é a sua missão na presidência do Grupo Bayer Brasil? 

Malu Nachreiner: O Brasil, por ser a segunda maior operação da companhia no mundo e a maior operação na América Latina, tem um papel fundamental na estratégia global de negócios. Minha missão tem sido dar continuidade à jornada de alcançar a visão de “Saúde para todos, Fome para ninguém” – ajudando a prevenir e curar doenças, melhorando a saúde cotidiana das pessoas e contribuindo para alimentar uma população que não para de crescer, de forma sustentável. É uma missão ambiciosa e que envolve muitos desafios, mas para alcançá-la seguimos investindo continuamente em ciência e inovação, em colaboração com grandes parceiros dentro e fora do agro. 

RC: Com sua experiência, como define o agronegócio brasileiro? 

Malu Nachreiner: O agronegócio brasileiro é altamente profissionalizado e tem se mostrado um setor muito resiliente, fundamental para o desenvolvimento do país. Desde que iniciei minha carreira, um aspecto é muito claro: há uma busca incessante por inovação. O agricultor e o agronegócio brasileiro estão entre os mais sustentáveis do planeta, investem em soluções e técnicas modernas e são peça-chave na missão de alimentar uma população crescente sem esgotar os recursos naturais. Além disso, o agronegócio brasileiro é responsável pelo crescimento, geração de renda e empregos no interior do nosso país de norte a sul.

RC: Quais os desafios e como prevê o futuro do agronegócio? 

Malu Nachreiner: A demanda global por alimentos seguirá crescendo, com projeções da FAO indicando que a população mundial deverá chegar a 10 bilhões de pessoas até 2050. Com isso, o setor precisará manter a capacidade produtiva para alimentar uma população que aumenta a cada dia – tudo isso gerando menor impacto ambiental possível. A tendência é que a indústria de forma geral, e não apenas a cadeia de insumos, desempenhe um papel central nos avanços rumo à agricultura regenerativa, que são as práticas de manejo que permitem o aumento da produção ao mesmo tempo em que proporciona benefícios para a natureza. Para isso, enxergamos um futuro bastante colaborativo, cocriando ao lado de parceiros como a Coamo, ao mesmo tempo em que vemos cada vez mais uma busca contínua do agricultor. 

RC: O Brasil é uma potência e referência agrícola mundial. O que precisa ser feito para sermos cada vez melhores e competitivos? 

Malu Nachreiner: Seguir na vanguarda da inovação é uma necessidade para o setor no Brasil. Precisarmos ir além da inovação clássica e expandir a barreira de novos modelos de negócios, que tenham a sustentabilidade como peça-chave em nossa definição de sucesso. Para isso, a digitalização é uma fronteira onde ainda temos que avançar. A adoção de soluções digitais no campo tem crescido de forma exponencial e acreditamos que a tecnologia é capaz de conduzir o agro brasileiro para uma posição de ainda mais prestígio.

 

Malu Nachreiner é graduada em agronomia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), ela começou em 2004 como estagiária na Monsanto, que depois foi adquirida pela Bayer. Depois do período de estágio, aos 23 anos e recém-formada, foi contratada para trabalhar no Rio Grande do Sul, onde assumiu o cargo de representante técnica de vendas (RTV). Foi o início do seu relacionamento com agricultores e o dia a dia no campo. Ao longo dos anos, ocupou novas posições em vendas e marketing, antes de ser promovida a líder da divisão agrícola da Bayer em 2020 e, posteriormente, em 2021, a CEO da companhia no Brasil.
"O PRODUTOR TEM GRANDE INTERESSE EM SE MODERNIZAR E O BRASIL É O SEGUNDO MAIOR MERCADO DA NOSSA PLATAFORMA DE AGRICULTURA DIGITAL."

RC: O Agro está falando e vivendo inovação, tecnologia e inteligência artificial. O que pensa a respeito deste momento e como impacta no grupo Bayer e no agronegócio? 

Malu Nachreiner: Isso permite que os produtores rurais, com o uso de dados, moldem o futuro da agricultura, tornando-a ainda mais digital, sustentável e rentável. Nosso comprometimento é o de nos tornarmos facilitadores da digitalização no campo e, como líderes do setor, buscamos ser protagonistas nesse processo, apoiando os agricultores do início ao fim de suas jornadas. É notório o interesse do produtor rural em se modernizar: prova disso é que o Brasil é o segundo maior mercado da nossa plataforma de agricultura digital, Climate FieldView. 

RC: Quais soluções o grupo Bayer está encontrando para atender a demanda dos seus clientes e parceiros? 

Malu Nachreiner: A Bayer investe mais em pesquisa e desenvolvimento globalmente do que qualquer outra empresa do setor: são cerca de € 2,8 bilhões destinados anualmente ao desenvolvimento de novas sementes e biotecnologias, produtos de proteção de cultivos mais modernos e ferramentas digitais que contribuem para enfrentarmos os desafios impostos ao sistema global de alimentação. Ao longo das últimas décadas, a Bayer contribuiu com momentos-chave da agricultura brasileira, como no pioneirismo no plantio direto na palha, e na revolução no controle de doenças, elevando a produtividade de soja e milho. A Bayer também foi a primeira a lançar biotecnologias para as culturas de soja, milho e algodão; a trazer uma plataforma digital focada na agricultura (Climate FieldView); e a trabalhar no modelo colaborativo, de amplo licenciamento. 

RC: Como será a agricultura do futuro? 

Malu Nachreiner: A convergência de toda essa inovação nos 

permitirá, cada vez mais, gerar soluções integradas para resolver os desafios mais urgentes. Os agricultores precisam da melhor genética com as melhores características desenvolvidas por biotecnologia, precisam de indicações de plantio baseadas em dados para saber quando e onde plantar esses produtos. Necessitam, ainda, de soluções de proteção de cultivo mais eficazes e de menor impacto, que, junto com soluções biológicas e agricultura de precisão, sejam capazes de gerar uma safra de forma sustentável. É nesta direção em que estamos centrando nossos esforços.

RC: Qual sua opinião sobre o cooperativismo, considerando sua performance e importância para o desenvolvimento dos cooperados e do país? 

Malu Nachreiner: Grande parte do sucesso e dos recordes de produtividade do agronegócio brasileiro se deve justamente ao sistema cooperativista e a instituições consagradas como a Coamo, tão fundamental para o desenvolvimento do agronegócio paranaense e brasileiro. As cooperativas têm um papel fundamental na comercialização de insumos pela sua capilaridade, por seu corpo técnico e por estarem presentes de norte a sul do país fazendo com que soluções inovadoras, novas tecnologias e insumos cheguem aos agricultores. Investimos no potencial desse modelo de acesso ao mercado por meio das cooperativas e nos orgulhamos de ter como parceira uma das maiores cooperativas do país e de toda a América Latina como a Coamo. Uma parceria que vem de muitas décadas e que tornou possível revoluções na agricultura, como a chegada da biotecnologia na cultura da soja e milho aos agricultores e cooperados, para citar apenas um exemplo. A Coamo é referência em assistência técnica, sempre com foco no sucesso do cooperado, que, no final, é o nosso cliente para quem desenvolvemos novos produtos, tecnologias e soluções.

Malu Nachreiner, CEO do Grupo Bayer Brasil e líder da divisão agrícola da companhia
"Enxergamos um futuro bastante colaborativo, cocriando ao lado de parceiros como a Coamo, ao mesmo tempo em que vemos cada vez mais uma busca contínua do agricultor brasileiro por inovação."

RC: A senhora assumiu a presidência e é referência para as mulheres. Comoanalisa a atuação das mulheres a frente de companhias e propriedades, e no agronegócio? 

Malu Nachreiner: As mulheres estão conquistando cada vez mais espaço na agropecuária brasileira. Esse movimento tende a continuar, ainda que exista muito espaço para avanços e melhorias. Vejo meu papel na Bayer como uma facilitadora de entradas também para outras mulheres e me sinto responsável por ser um exemplo, reforçando o quanto somos capazes.

É importante não apenas a participação cada vez maior das mulheres no agro, mas o incentivo à diversidade e inclusão de forma ampla. Vemos isso, inclusive, como uma vantagem para inovação, pela soma de diferentes olhares em busca de soluções para os desafios do nosso tempo. Para as empresas comprometidas com diversidade, equidade e inclusão, é preciso de intencionalidade para pensar em formas efetivas de criar oportunidades. Como Bayer, temos uma missão coletiva de promover, internamente e externamente, um ambiente agro mais diverso e inclusivo. Em 2020, criamos o Conexão Mulheres no Agro, programa que investe em inúmeras ações de capacitação, liderança, gestão e eventos para ampliar a presença feminina. Só no ano passado, aproximadamente 8.000 mulheres foram impactadas por meio de 85 ações realizadas pelo programa. Uma das ações que estão dentro dessa iniciativa é o Prêmio Mulheres do Agro, idealizado em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) para valorizar mulheres que se destacam na gestão de pequenas, médias e grandes propriedades agrícolas.

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