Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 532 | Fevereiro de 2023 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

FERNANDO GONÇALVES NETO Presidente da Jacto

 Fernando Gonçalves Neto é engenheiro Mecânico pela Universidade de São Paulo, campus de São Carlos, pós-graduado em Gestão Estratégica e AMP pela Harvard Business School. Tem experiência no desenvolvimento de produtos no segmento de máquinas agrícolas e na gestão de áreas de inovação, industrial e de negócios. Ingressou na Jacto em 1996 e desde 2014 ocupa a presidência.
“O grande desafio do agronegócio no Brasil e em todo o mundo é a segurança alimentar, ou seja, produzir alimentos saudáveis e acessíveis a toda a população mundial. Ao mesmo tempo, existe uma cobrança global por uma produção mais sustentável, que preserve o meio ambiente. Nesse contexto, a agricultura digital se torna uma grande aliada dos produtores, pois ela permite a gestão dos negócios baseada em dados.” A afirmação é do presidente da Jacto, Fernando Gonçalves Neto.

Na entrevista deste mês, o presidente da Jacto, parceira da Coamo há várias décadas, diz que a inspiração da Jacto vem do propósito de servir ao produtor. "Estamos sempre buscando inovações que de fato ajudem o agricultor em seus desafios de produzir mais, com mais qualidade, no mesmo espaço de terra. Como empresa, defendemos a ideia da sustentabilidade dos negócios como um tripé que considera o bem-estar das pessoas e comunidades, a lucratividade do produtor e a atenção ao meio ambiente.”

Revista Coamo: Qual é o propósito da Jacto e em quais países está atuando?

Fernando Gonçalves: A Jacto tem como missão servir ao agricultor com as melhores tecnologias de mecanização, informações e serviços. Somos uma empresa com 75 anos de história, que começou no Brasil com o seu fundador Shunji Nishimura, um imigrante japonês, em 1948. Atualmente, temos fábricas no Brasil, Argentina e na Tailândia, escritório comercial e Centro de Distribuição no México e Estados Unidos, e equipes locais em várias regiões do mundo. Temos uma ampla linha de produtos de alta tecnologia, que vai de equipamentos portáteis a máquinas de grande porte para pulverização, adubação, plantio, poda, colheita de café e cana-de-açúcar. Também oferecemos soluções e serviços para a agricultura de precisão e agricultura digital, para uma produção cada vez mais sustentável. Comercializamos nossos produtos para mais de 100 países.

RC: Como foram os resultados da empresa em 2022 e quais as perspectivas para 2023?

Fernando Gonçalves: Ainda não divulgamos os resultados de 2022, mas podemos dizer que foram positivos apesar da conjuntura de incertezas que enfrentamos. Em 2023, estimamos um crescimento um pouco mais tímido em relação aos anos anteriores, devido ao cenário desafiador no Brasil em que os juros para investimentos estão mais altos para os agricultores, e à falta de recursos do plano safra 22/23. Mas, ainda assim, estamos otimistas.

RC: A história da Jacto começou há mais de 70 anos com o seu fundador, Shunji Nishimura. Por que a humildade, simplicidade e a honestidade são virtudes essenciais para a Jacto no relacionamento com parceiros?

Fernando Gonçalves: Temos entre os valores da Jacto “três virtudedades”. Essa é uma palavra que não existe no dicionário da língua portuguesa, por ter sido criada com o objetivo de agrupar os valores: Honestidade, Humildade e Simplicidade. Esse valor é ilustrado pelo bambu, uma das plantas mais tradicionais do Japão. Uma planta simples, que só após dois anos plantada começa a enraizar, para depois crescer. Alto e afinado, o bambu se mantém de pé por causa de suas raízes fortes. Entendemos essas raízes como a humildade, a simplicidade e a honestidade, virtudes essenciais para estabelecermos relacionamentos sadios e duradouros, e alicerces fundamentais para o crescimento sustentável das empresas.

RC: O fundador Shunji Nishimura disse que “É preciso sempre semear mais vida”. Qual a importância dele como líder da Jacto e quais dos seus legados repercutem?

Fernando Gonçalves: Shunji Nishimura era muito grato ao Brasil, e aos 70 anos começou uma nova missão de agradecimento ao país. Ele dizia: “Tudo o que tenho devo ao Brasil. Eu nada teria se estivesse em outro país. O Brasil é generoso, sempre me deu mais do que o meu trabalho mereceu. Por isso, preciso devolver um pouco do muito que recebi deste país”. Ele então criou a Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, em novembro de 1979, que a princípio era um colégio agrícola, com o sonho de “semear mais vidas”. Passados quase 44 anos, a Fundação hoje engloba um colégio de ensino infantil e fundamental, uma escola técnica do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e a Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo) com cursos superiores em Mecanização em Agricultura de Precisão e Big Data no Agronegócio. Por meio dos alunos, o legado do seu Nishimura de cultivar vidas com educação continuará repercutindo por muitas gerações e contribuindo com a agricultura mundial.

RC: O que leva a Jacto a se inspirar e a inovar sempre em tecnologias, produtos e soluções?

Fernando Gonçalves: A inspiração da Jacto vem do nosso propósito de servir ao produtor. Estamos sempre buscando inovações que de fato ajudem o agricultor em seus desafios de produzir mais, com mais qualidade, no mesmo espaço de terra. Como empresa, defendemos a ideia da sustentabilidade dos negócios como um tripé que considera o bem-estar das pessoas e comunidades, a lucratividade do produtor e a atenção ao meio ambiente. Dessa forma, as nossas tecnologias têm trazido mais conforto para as pessoas, proporcionado redução de custos para o agricultor (seja porque ele está economizando fertilizante ou aplicando melhor a pulverização), e menor impacto ambiental. Uma vez que as máquinas entregam a dose certa e no local correto, o impacto ambiental consequentemente é menor, pois os insumos estão sendo usados de forma inteligente. Há ainda menos gastos com combustíveis, consumo de água e amassamento do solo, tendo em vista que nossas máquinas são mais leves que as da concorrência.

RC: A Jacto tem uma ampla linha de produtos e serviços com alta tecnologia e soluções inovadoras. Quais são os principais desafios do presente e do futuro?

Fernando Gonçalves: O grande desafio do agronegócio no Brasil e em todo o mundo é a segurança alimentar, ou seja, produzir alimentos saudáveis e acessíveis a toda a população mundial. Ao mesmo tempo, existe uma cobrança global por uma produção mais sustentável, que preserve o meio ambiente. Nesse contexto, a agricultura digital se torna uma grande aliada dos produtores, pois ela permite a gestão dos negócios baseada em dados. Em 2020, a Jacto lançou o seu Ecossistema Digital que, por meio do aplicativo Jacto Connect, tem permitido unir quatro importantes participantes do ambiente agrícola: o agricultor, o ecossistema de negócios, os sistemas de informações e todas as “coisas” presentes na propriedade. Em 2021, iniciamos uma nova área voltada a serviços digitais, a Jacto Next, que oferece ao agricultor soluções integradas e completas que viabilizam a agricultura 4.0, simplificando a adoção de novas tecnologias e ajudando a alcançar elevados níveis de gestão. Para os próximos anos, além de ampliar a oferta de soluções para a agricultura digital, enxergamos nos veículos autônomos uma forte tendência. A Jacto já tem disponível o Arbus 4000 JAV, um pulverizador autônomo com aplicação inteligente, proporcional ao porte da planta e ideal para cultivos perenes. Nosso compromisso, portanto, é seguir investindo em pesquisa e desenvolvimento para trazer inovações tecnológicas para o campo.

RC: No quesito evolução e inovação, como analisa o perfil do produtor brasileiro? É exigente, ávido por novas tecnologias?
Fernando Gonçalves: Com certeza. Temos visto um produtor cada vez mais exigente, em busca de tecnologias que trazem redução de custos e mais produtividade, pontos fundamentais para a sua sobrevivência. Por exemplo, nas feiras agrícolas é bastante comum encontrarmos agricultores familiares interessados em soluções que proporcionem correção de controle e dados gerenciais. Em geral, começam com a adoção de GPS, que é a porta de entrada para a adesão de outras tecnologias, como o corte de seções. Além disso, o produtor tem recorrido a novas técnicas de plantio, que depositam a semente no solo com mais precisão, evitando desperdícios.

RC: Como observa a atuação das cooperativas e do agronegócio brasileiro?

Fernando Gonçalves: As cooperativas fazem um trabalho muito importante para o desenvolvimento da agricultura brasileira, principalmente no apoio aos pequenos e médios produtores. Ao agregar os cooperados, as cooperativas criam um ecossistema de negócios para que esses produtores possam ter mais lucratividade e poder de negociação na compra de insumos. Também são fundamentais na conquista de linhas de créditos para a aquisição de equipamentos e produtos. Outro ponto que não podemos esquecer é o acompanhamento agronômico que as cooperativas oferecem aos produtores em toda a cadeia produtiva, muitas vezes incentivando a adoção de novas tecnologias que tornam o dia a dia na lavoura mais leve e sustentável. Essa união de forças beneficia de forma direta todo o mercado e a imagem do agronegócio praticado no Brasil.

RC: Como define a parceria entre Jacto e Coamo nesses mais de 50 anos?

Fernando Gonçalves: Na época em que iniciamos os trabalhos na Jacto, o nosso fundador, o seu Shunji Nishimura, buscava meios de ingressar no mercado do Paraná, onde alguns concorrentes da Jacto atuavam há mais tempo. A Coamo foi a primeira revenda a abrir as portas para a Jacto, e ao longo de todos esses anos sempre mostrou-se ser um parceiro importante, em sintonia com os valores Jacto. Ambas as empresas cresceram exponencialmente pautadas na credibilidade.

RC: Presidente, deixe sua mensagem aos cooperados da Coamo.

Fernando Gonçalves: Estamos passando por um grande processo de transformação da agricultura, e para que todos possam se beneficiar é preciso cooperação de toda a cadeia do agronegócio na formação de pessoas para trabalharem no campo. As experiências mostram que é necessário trabalharmos juntos, em um grande ecossistema de inovação que seja capaz, principalmente, de investir na formação de gente qualificada para atuar no agro do século 21. A educação tem o poder de mudar a vida de muitas pessoas. É algo a mais que nos une em torno desse ambiente.

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