Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 559 | Julho de 2025 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

entrevista

VANIR ZANATTA

Presidente do Sistema Ocesc
“Onde há uma cooperativa, há mais desenvolvimento, mais educação, mais cidadania, mais segurança e melhores serviços”.

À frente do Sistema Ocesc Vanir Zanatta conduz uma gestão pautada na valorização da representatividade, no fortalecimento institucional e na expansão internacional do cooperativismo catarinense. Em entrevista à Revista Coamo, o presidente destaca as prioridades de sua atuação, entre elas a construção de um planejamento estratégico para o período de 2025 a 2030, o reforço da presença institucional junto às cooperativas e o estreitamento do relacionamento com o poder público. “Estamos dando os primeiros passos para ampliar a internacionalização do cooperativismo catarinense”, afirma. Zanatta também ressalta a relevância histórica e econômica do setor em Santa Catarina, onde 58% da população está vinculada a cooperativas. Com foco no desenvolvimento sustentável, inclusão produtiva e geração de renda, o presidente observa que o cooperativismo tem papel essencial na qualidade de vida da população.


Revista Coamo: Quais são os seus desafios à frente do Sistema Ocesc?

Vanir Zanatta: Assumi a presidência do Sistema Ocesc em 2024, com o compromisso de fortalecer ainda mais o protagonismo do cooperativismo catarinense em nível estadual, nacional e internacional. Entre as metas da nossa gestão, destaco o aumento da representatividade das cooperativas de todos os ramos. O Sistema Ocesc precisa estar mais presente nas pontas, tanto com vistas institucionais quanto técnicas, para ouvir e alavancar ainda mais as cooperativas. Estamos dando os primeiros passos para ampliar a internacionalização do cooperativismo catarinense. Em agosto, estaremos em uma missão a Portugal para apresentar e prospectar negócios para o cooperativismo de Santa Catarina. Queremos mostrar ao mundo que o nosso cooperativismo é sólido, com produtos e serviços de qualidade e promove o desenvolvimento econômico com justiça social.

RC: Como está o planejamento estratégico do cooperativismo catarinense?

Zanatta: Estamos elaborando um planejamento estratégico para o Sistema Ocesc. Após um mapeamento que está em andamento, teremos uma gestão de processos, metas e objetivos bem definidos para o período de 2025 a 2030. Na frente de representatividade política, reforçamos os laços com a Frente Parlamentar do Cooperativismo de Santa Catarina (Frencoop/SC), e estamos atuando em sintonia com o governo estadual para voltarmos com o Conselho Estadual do Cooperativismo (Cecoop), garantindo um ambiente mais favorável e políticas públicas voltadas ao setor.

RC: Então, sua gestão busca o desenvolvimento do sistema?

Zanatta: Sim, a nossa gestão representa o compromisso com as lideranças cooperativistas catarinenses e as demandas de suas cooperativas, a construção coletiva fruto de diálogo, escuta ativa e decisões colegiadas. Ao final, queremos que a gestão alcance reconhecimentos ainda maiores para o Sistema Ocesc e para o cooperativismo catarinense como referência de desenvolvimento sustentável e que constrói um futuro melhor para todos.

Vanir Zanatta
Vanir Zanatta é o atual presidente do Sistema Ocesc, eleito para o mandato 2024–2028. Também é presidente da Cooperja. É natural de Jacinto Machado (SC) e possui uma trajetória de mais de três décadas dedicada ao cooperativismo catarinense. É graduado em ciências contábeis pela Univille (Joinville) e possui especializações em gestão de cooperativas pela Unisul e em administração pela Unesc. O presidente do Sistema Ocesc foi sócio-fundador e ex-presidente da Credija, onde atuou como presidente por 14 anos. Atualmente também preside a Cooperativa Central Brasileira de Arroz (Brazilrice), contribuindo para o desenvolvimento do setor orizícola nacional. É o atual vice-presidente da Fecoagro/SC.

RC: Quais são as principais virtudes das cooperativas de SC?

Zanatta: As cooperativas catarinenses são reconhecidas nacionalmente pela seriedade na gestão, pelo comprometimento com a comunidade e pela capacidade de gerar resultados com responsabilidade social. São instituições que reúnem pessoas em torno de um propósito comum e que valorizam, em sua essência, o equilíbrio entre eficiência econômica e inclusão social. Com o cooperativismo enraizado em nossa cultura e história, esses valores prosperaram em nossa terra e firmamos a governança democrática, a transparência nas decisões, e a solidariedade entre os cooperados e tantos outros. Entre as principais virtudes do cooperativismo de Santa Catarina, destacam-se a capacidade de adaptação, o espírito de inovação e o foco na perenidade dos negócios. As cooperativas catarinenses também possuem um diferencial importante: fazem parte da vida das pessoas. Elas não são apenas modelos de negócio, são redes de apoio, desenvolvimento e pertencimento. Por isso, o cooperativismo aqui não é apenas um setor, é um movimento social e econômico que constrói um futuro mais equilibrado e humano.

RC: Quais os principais ramos do cooperativismo catarinense?

Zanatta: O cooperativismo é um dos pilares do desenvolvimento de Santa Catarina. Nós geramos mais de 100 mil empregos diretos e somamos mais de 4,7 milhões de catarinenses cooperados — o que representa 58% da população do Estado. Trata-se de um modelo que movimenta a economia, distribui renda e promove inclusão produtiva em larga escala. As cooperativas atuam nos principais setores da economia catarinense. O agro é o principal ramo em faturamento, porém, o crédito tem maior número de cooperados, então do agro à saúde, do crédito à infraestrutura, do consumo ao transporte, trabalho e bens, todos ajudam a conectar o pequeno produtor, os consumidores, o empreendedor e o prestador de serviços a oportunidades reais de crescimento e sustentabilidade dos negócios. Além do impacto econômico, o cooperativismo contribui com a qualidade de vida das pessoas, pois reinveste seus resultados na própria comunidade.

RC: Como avalia a atuação do cooperativismo catarinense?

Zanatta: De uma importância socioeconômica ímpar. Hoje somos o estado mais cooperativista do Brasil, com 253 cooperativas registradas no Sistema Ocesc, que geraram mais de 102 mil empregos diretos e movimentaram R$ 91 bilhões em receitas em 2024. Nosso estado soma mais de 4,7 milhões de cooperados, o que corresponde a 58% da população do estado, aqui cooperar é cultural. Outro resultado relevante de 2024 foi o de exportações de produtos cooperativistas: atingimos o marco de R$ 11,6 bilhões, o que representa cerca de 17,2% das exportações agropecuárias do estado. Isso demonstra a força desse modelo que, além de econômico, é social e humano.

RC: Como o cooperativismo é relevante na história e na qualidade de vida?

Zanatta: O cooperativismo é fundamental para o estado, a história de Santa Catarina e do cooperativismo é conjunta e inseparável. Ao longo dos anos o setor evoluiu muito, passando de uma atuação essencialmente produtiva para um papel estratégico de protagonismo no desenvolvimento sustentável. Hoje nosso estado tem uma das melhores distribuições de renda, dos melhores índices de IDH e a melhor qualidade de vida do país, e esses são marcos que o nosso movimento ajudou a construir. Podemos ter uma dimensão mais clara disso ao olhar para os impostos sobre receita de 2024, que atingiram R$ 3,9 bilhões em arrecadação. Todo esse montante recebido pelo Estado retorna para a sociedade em forma de creches, hospitais, segurança, estradas e outros serviços públicos. Há ainda toda injeção na economia que os empregos e negócios gerados pelo cooperativismo proporcionam, fazendo o dinheiro circular por diversas camadas e proporcionando qualidade de vida aos cooperados, colaboradores e comunidade em geral.

RC: Quais os entraves enfrentados pelo cooperativismo?

Zanatta: Queremos uma logística mais eficiente, pois nossas estruturas de portos e estradas ficam aquém de nossa vontade de empreender. A falta de mão de obra também está se tornando limitante na hora de novos investimentos. Os recursos, além de caros, ficaram bastante escassos. Somam-se a isso todos os riscos cibernéticos e digitais que enfrentamos no dia a dia. Mas mesmo com desafios a serem vencidos, o modelo tem sido um grande motor de transformação socioeconômica para Santa Catarina. Nosso movimento é organizado politicamente, tanto em nível estadual quanto nacional, e trabalha intensamente junto às casas legislativas, executivas e judiciárias em prol do cooperativismo. Esse trabalho conjunto entre as OCES e OCB pressiona e dá suporte técnico ao estado para que possamos seguir gerando desenvolvimento e renda para os brasileiros.

Vanir Zanatta
Vanir Zanatta, presidente do Sistema Ocesc

RC: Presidente, o cooperativismo brasileiro é sinônimo de referência e de desenvolvimento?

Zanatta: Ele é um dos pilares do desenvolvimento nacional. Presente em todos os estados e em praticamente todos os setores da economia, ele contribui de forma decisiva para a geração de renda, inclusão produtiva e desenvolvimento regional. Estamos falando de um modelo que gera mais de 500 mil empregos diretos no Brasil e reúne mais de 20 milhões de cooperados. Em muitas localidades, a cooperativa é a principal — quando não a única — referência de dinamismo econômico, assistência técnica, acesso a crédito e transformação social. No agro, as cooperativas são responsáveis por cerca de 50% de toda a produção nacional, fortalecendo a segurança alimentar, as exportações e o abastecimento interno. No crédito, democratizam o acesso ao sistema financeiro, especialmente em regiões onde os bancos tradicionais não chegam. E o mesmo se repete em todos os outros ramos. Portanto, apoiar o cooperativismo brasileiro é apostar em um país mais justo, equilibrado e sustentável. É construir um Brasil que cresce sem deixar ninguém para trás, como costumamos falar, um futuro melhor para todos.

“Queremos mostrar ao mundo que o nosso cooperativismo é sólido e promove o desenvolvimento econômico com justiça social”.

RC: Quais são os planos da Ocesc para o futuro?

Zanatta: Prevemos um futuro positivo e promissor. Quando olhamos as projeções para os próximos três anos (2025–2027), está previsto um crescimento de 34,7% no número de cooperados; 23,7% nos empregos gerados; e 35,2% no faturamento. Em termos de cooperados, a previsão dos nossos técnicos é de que em 2025 atinjamos 5,2 milhões de associados; 109,9 mil empregos proporcionados; e um faturamento de R$ 100,9 bilhões.

RC: Como o senhor observa a atuação da Coamo em benefício dos cooperados do extremo Oeste catarinense?

Zanatta: A Coamo é uma referência nacional em gestão, produtividade e comprometimento com o cooperado. Sua presença no extremo Oeste catarinense veio somar com as coirmãs da região, buscando dar mais competitividade, acesso a tecnologias de ponta e segurança na comercialização da produção agropecuária para os cooperados locais. O impacto da Coamo vai além dos números, a cooperativa impulsiona o desenvolvimento das comunidades onde está inserida, gera empregos, movimenta a economia local e fortalece o sentimento de pertencimento dos produtores a uma cooperativa. É um exemplo claro de como o cooperativismo, quando bem estruturado, transforma a realidade no campo e nas cidades. O Sistema Ocesc reconhece e valoriza essa atuação. A Coamo honra os princípios cooperativistas e mostra, na prática, o poder que as cooperativas têm de construir um agro mais sustentável, integrado e cooperativo.

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.