A pesquisadora da Embrapa Soja de Londrina, Cláudia Vieira Godoy é a entrevistada desta edição da Revista Coamo. Engenheira Agrônoma com especialização em fitopatologia na Embrapa Soja, trabalha com epidemiologia e controle de doenças de soja. Sua missão na Embrapa Soja está alinhada com a missão da empresa, qual seja viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira. “Desde minha contratação em 2002 tenho trabalhado mais especificamente, com a ferrugem-asiática, avaliando as diferentes estratégias de manejo dessa doença. Coordeno o Consórcio Antiferrugem e participo da coordenação da rede de ensaios para avaliação de fungicidas no controle de doenças na cultura da soja”, explica a pesquisadora.
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Cláudia Vieira Godoy é engenheira agrônoma, com doutorado em Fitopatologia pela Universidade de São Paulo. É pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Soja), desde 2002.
De 2012 a 2013 foi pesquisadora visitante no National Soybean Research Center, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, onde desenvolveu seu pós-doutorado. Seu foco de pesquisa na Embrapa concentra-se em Fitopatologia, com ênfase em epidemiologia e controle de doenças de soja. |
Revista Coamo: Qual é a área de pesquisa e sua missão na Embrapa Soja?
Cláudia Vieira Godoy: Sou Engenheira Agrônoma com especialização em fitopatologia e na Embrapa Soja trabalho com epidemiologia e controle de doenças de soja. Minha missão na Embrapa Soja esta alinhada com a missão da empresa de viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira. Desde minha contratação em 2002 tenho trabalhado mais especificamente com a ferrugem-asiática, avaliando as diferentes estratégias de manejo dessa doença. Coordeno o Consórcio Antiferrugem e participo da coordenação da rede de ensaios para avaliação de fungicidas no controle de doenças na cultura da soja.
RC: Qual a importância e os resultados da Embrapa Soja?
Cláudia: Por meio da rede de ensaios de avaliação de fungicidas conseguimos mostrar à cadeia produtiva a eficiência dos diferentes fungicidas no controle das doenças que incidem na cultura, para que o agrônomo consiga fazer uma recomendação que atenda cada situação específica. O Brasil semeou em 2016 uma área de 33,8 milhões de ha e cada região tem sua particularidade em relação a doenças. Não tem como ter uma recomendação única e nesse ponto o agrônomo é fundamental para definir a melhor estratégia de controle usando os resultados gerados na rede. Além da rede, a Embrapa trabalha para auxiliar a definição de políticas públicas que ajudem no manejo das doenças, como é caso do vazio sanitário da soja.
RC: Quais são os desafios para os próximos anos?
Cláudia: O principal desafio é o aumento e a manutenção dos atuais patamares de produtividade da cultura, uma vez que os problemas fitossanitários tendem a aumentar com o cultivo intensivo que é praticado no Brasil. Outro desafio importante é que estamos perdendo as ferramentas químicas em razão da seleção de pragas resistentes. Os fungos que incidem na cultura vêm sendo selecionados para resistência aos principais fungicidas sítio-específicos utilizados. Considerando a ferrugem-asiática, que é a doença que tem o maior potencial de dano para a cultura, a redução de eficiência de controle tem um impacto direto na produtividade.
RC: A ferrugem da soja é a principal doença na cultura e a cada ano aumentam as perdas de eficiência para alguns grupos químicos de fungicidas. Quais as soluções, ferramentas e/ ou tecnologias a médio, longo prazo para a mais importante cultura do Brasil transpor este grande obstáculo?
Cláudia: As soluções envolvem a adoção de práticas que utilizem todas as estratégias de manejo e não exclusivamente o controle químico. Entre essas estratégias pode-se citar a adoção do vazio sanitário e a semeadura no início da época recomendada. A adoção dessas duas estratégias faz com que aproximadamente 70% das áreas de soja do Brasil colham sem apresentar incidência do fungo da ferrugem ou que ele apareça somente no final do ciclo, com um impacto menor em produtividade. A utilização de cultivares com gene de resistência é outra estratégia que pode auxiliar no manejo, embora não dispense o uso do controle químico. Não há um grande número de cultivares disponíveis, mas por um lado isso é bom porque quando a área semeada com cultivares resistente aumentar, eleva a probabilidade do fungo vencer essa resistência da mesma forma que vem fazendo com os fungicidas. Há um número limitado de genes de resistência efetivos e não aumentar muito a área semeada com essas cultivares pode contribuir para a maior longevidade dos genes de resistência. Quanto aos fungicidas, estamos tendo a volta dos fungicidas multissítios como produtos a base de cobre, mancozebe, clorothalonil etc, que são produtos antigos, mas menos propensos a resistência do fungo. Esses fungicidas já começaram a ser utilizados em associação com os fungicidas que temos no mercado para aumentar a eficiência de controle e tentar atrasar a seleção de resistência. Outra medida que foi estabelecida para tentar atrasar a seleção de fungos menos sensíveis/ resistentes é a limitação da janela de semeadura da soja para reduzir o número de aplicações que ocorre na safra.
RC: Quando teremos um novo fungicida para a ferrugem da soja?
Cláudia: Novos fungicidas têm sido registrados, mas são combinações dos modos de ação já disponíveis e também combinações com multissítios. Modo de ação novo, sítio-específico, não há nenhum em avaliação na rede de ensaios no momento, embora várias empresas tenham a ferrugem-asiática como um dos focos principais de pesquisa de novas moléculas. Os fungicidas que são avaliados na rede, ainda com registro especial temporário para testes, demoram em média de 3 a 5 anos para entrar no mercado.
RC: Como avalia a parceria entre a Coamo e a Embrapa?
Cláudia: A parceria entre a Coamo e a Embrapa é essencial para que os resultados sejam repassados ao produtor. As duas instituições sempre trabalharam de forma muito complementar, com foco nos desafios e em parceria em diferentes momentos da história recente da agricultura. Ter a Coamo como parceira também é estratégico para termos retorno sobre situações enfrentadas no campo.
RC: Quanto ao trabalho da Fazenda Experimental da Coamo como instrumento de difusão aos produtores?
Cláudia: Os trabalhos realizados na Fazenda Experimental são importantes para que os produtores possam visualizar os resultados de pesquisa. Há uma grande quantidade de informações que chega ao produtor e é importante que além de receber as informações repassadas pelos agrônomos da Coamo, eles possam visualizar esses resultados para reforçar a adoção de tecnologias corretas.
RC: Diante da evolução, qual é o papel do pesquisador, da assistência técnica e do produtor rural?
Cláudia: Esses três componentes têm que ter uma forte ligação para que os resultados de pesquisa cheguem ao produtor. A assistência é a ponte entre o pesquisador e o produtor fazendo com que a informação chegue com agilidade e numa linguagem de fácil acesso. Outro componente extremamente importante nessa ligação, é o retorno das demandas de pesquisas que são geradas no campo, para que a pesquisa possa ser aplicada. Quem traz muitas das demandas dos produtores até a pesquisa é a assistência técnica.
RC: Qual sua mensagem aos cooperados da Coamo?
Cláudia: Agradeço a credibilidade e o respeito que os produtores têm na Embrapa, e deixar registrado nosso compromisso de sempre estar buscando soluções aos problemas enfrentados. A Embrapa vem acompanhando as mudanças na agricultura e vem investindo fortemente na geração de conhecimento. As linhas de pesquisa estão em constante reavaliação. A Coamo é uma cooperativa que investe no treinamento e atualização dos agrônomos que atuam diretamente com o produtor, levando prontamente as informações geradas na pesquisa. Diante do que falei anteriormente sobre aumento de resistência dos fungos aos fungicidas disponíveis no mercado, entendo que é importante a assistência técnica e os produtores estarem cientes dos riscos e dos impactos dessa questão no seu negócio. O aumento de resistência de fungos à fungicidas impacta por meio do aumento dos custos de produção em curto prazo, e na disponibilidade de produtos químicos eficientes no futuro, em um cenário de médio e longo prazo. Nesse sentido, os produtores devem usar as diversas estratégias divulgadas pela pesquisa para minimizar o problema e ampliar a vida útil dos fungicidas para controle da ferrugem.
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Cláudia Vieira Godoy é engenheira agrônoma e pesquisadora da Embrapa Soja desde 2002
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