Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 501 | Abril de 2020 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

"Consumidores buscam alimentos com mais valor agregado."

João Dornellas, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia).  É graduado em Tecnologia de Leites e Derivados, em Administração pela Universidade Ítalo Brasileira, pós-graduado em Gestão de Negócios, com MBA pelo IBMEC-SP e pela FESP-SP, com especialização em Liderança pela London Business School, e em Gestão de Recursos Corporativos pelo IMD-Lausanne, Suíça. Possui também especialização em Recursos Humanos e em Gestão do Conhecimento pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). É Conselheiro de Administração pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Foi vice-presidente da Nestlé do Brasil, onde atuou nas áreas de operações, de desenvolvimento de novos produtos, tecnologia e regulatória, Recursos Humanos e Corporate Affairs, e vice-presidente de Pessoas & Gestão no Grupo NC - holding que concentra grandes empresas farmacêuticas (EMS, Germed, Legrand, Novamed e Novaquímica), empresas de Comunicação (NSC -SC), Construção Civil ( ACS - 3Z )  e de Energias Renováveis.

“A indústria brasileira de alimentos exporta para 180 países. Esse número já demonstra a qualidade do produto brasileiro, além da sua segurança para o consumidor e parceiros comerciais”, afirma João Dornellas, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), entrevistado desta edição de abril da Revista Coamo.

A indústria de Alimentos é constituída por 37 mil estabelecimentos, com presença em todos os municípios do Brasil, e emprega de forma direta 1,66 milhão de colaboradores. Em 2019, o setor faturou o equivalente a 9,6% do PIB. O setor possui forte conexão com as atividades agropecuárias, que estão na base de sua cadeia de suprimentos. Em 2019, a indústria de alimentos absorveu, segundo estimativa da Abia, 58% do valor da produção agropecuária alimentar do país.

Além de garantir o abastecimento de alimentos à população brasileira, o setor exporta todos os anos cerca de 20% do seu faturamento para mais de 180 países. Em 2019, o setor gerou um saldo positivo de US$ 28,8 bilhões, o que representou 61,7% de todo o saldo da balança comercial brasileira.

Para Dornellas, os consumidores têm buscado, cada vez mais, alimentos com mais valor agregado, sendo atualmente uma tendência mundial a procura por alimentos com benefícios à saúde das pessoas.  “As parcerias entre os produtores agropecuários e a agroindústrias de alimentos são fundamentais para conquistar o desenvolvimento das cadeias produtivas de alimentos no País.”



Revista Coamo: A indústria de alimentos é uma das grandes impulsionadoras da economia brasileira? Quais são os desafios desta categoria para continuar crescendo com sustentabilidade?

João Dornellas: Mesmo antes da crise do coronavírus, a cadeia de produção e distribuição brasileira já sofre há anos o impacto das deficiências de infraestrutura dos sistemas logísticos. Esse é um dos principais desafios que o Brasil terá que superar nos próximos anos se quiser ser competitivo diante da ratificação dos acordos de livre comércio do Mercosul com a União Europeia (EU) e a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta). Outro gargalo que subtrai a nossa competitividade é a complexidade do sistema tributário brasileiro, que implica em elevados custos de gestão e no acúmulo de créditos de impostos nas operações de exportação. Nesse sentido, a Reforma Tributária em tramitação no Congresso Nacional será uma excelente oportunidade para resolver essas questões.



RC: Como analisa a posição do Brasil como segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo e as perspectivas para 2020 considerando os adventos do coronavírus?

Dornellas: Devido a pandemia do novo coronavírus, ainda não foi possível estimar os impactos gerados nas vendas para o mercado interno e as exportações. A economia mundial está sofrendo um declínio muito forte em todos os setores, mas estamos confiantes e vamos reunir esforços para que tudo volte ao normal o mais rápido possível.



RC: A ministra da Agricultura Tereza Cristina tem destacado o papel da agricultura que não pode parar e que não corremos risco de desabastecimento de alimentos no País. Qual a análise da Abia desta situação?

Dornellas: Concordamos com a ministra Tereza Cristina. Cerca de 80% da produção da indústria brasileira de alimentos é voltada para o mercado interno. Desde que não haja restrições à circulação das matérias-primas, dos insumos e dos profissionais que atuam na cadeia produtiva de alimentos e bebidas, o funcionamento do setor segue dentro da normalidade e não há nenhum risco imediato de desabastecimento no País.



RC: Com o avanço do novo coronavírus quais foram as medidas implantadas pelo Comitê de Crise da Abia em parceria com a Associação Paulista de Supermercados e a Associação Brasileira de Supermercados?

Dornellas: O Comitê de Crise monitora diariamente o fluxo de vendas e estoques nos supermercados e hipermercados espalhados pelo Brasil, para garantir que o abastecimento não seja prejudicado nesse período. Caso o monitoramento sinalize algum problema de abastecimento, o comitê pode tomar decisões mais rápidas e efetivas para resolvê-lo.



RC: Qual é o cenário da indústria brasileira de alimentos? Quais os avanços que devem ser percorridos nos próximos anos?

Dornellas: A indústria de Alimentos é constituída por 37 mil estabelecimentos, com presença em todos os munícipios do Brasil, e empregam de forma direta 1,66 milhão de colaboradores. Em 2019, o setor faturou o equivalente a 9,6% do PIB. O setor possui forte conexão com as atividades agropecuárias, que estão na base de sua cadeia de suprimentos. Em 2019, a indústria de alimentos absorveu, segundo estimativa da ABIA, 58% do valor da produção agropecuária alimentar do país. Além de garantir o abastecimento de alimentos à população brasileira, o setor ainda exporta todos os anos cerca de 20% do seu faturamento para mais de 180 países. Em 2019, o setor gerou um saldo positivo de US$ 28,8 bilhões, o que representou 61,7% de todo o saldo da balança comercial brasileira. Entre os principais gargalos ao desenvolvimento da indústria de alimentos no País, estão as deficiências na infraestrutura do sistema logístico, o custo de gestão do complexo sistema tributário e a elevada carga tributária sobre os alimentos.



RC: Quanto a logística de abastecimento nos supermercados brasileiros?

Dornellas: No caso dos alimentos industrializados, as grandes redes de supermercados adquirem, em geral, os produtos diretamente das indústrias de alimentos. A entrega aos centros de distribuição do varejo é efetuada por operadores logísticos e transportadoras contratadas pela indústria. Os supermercados de menor porte são atendidos tanto diretamente pela indústria, quanto pelos seus distribuidores diretos e atacadistas, que podem ser de autosserviço ou de entrega.



RC: Como define a qualidade dos alimentos produzidos nas indústrias brasileiras? Os consumidores estão cada vez mais exigentes?

Dornellas: A indústria brasileira de alimentos exporta para 180 países. Esse número já demonstra a qualidade do produto brasileiro, além da sua segurança para o consumidor e parceiros comerciais. Em todo o mundo, os consumidores têm buscado, cada vez mais, alimentos com mais valor agregado. A indústria de alimentos tem procurado atender a essa demanda com o lançamento de alimentos fortificados e com maior valor nutricional. Também é uma tendência mundial a procura por alimentos com benefícios a saúde das pessoas. Produtos à base de probióticos, aminoácidos e vitaminas podem receber mais investimentos das indústrias. A indústria já reduziu os teores de sódio e gorduras trans e está em processo a redução de açúcares dos alimentos industrializados. Os produtos com menos açúcar, sódio e gorduras também estão na mira dos consumidores e podem ter mais espaço na prateleira nos próximos anos, assim como os alimentos integrais e os funcionais.



RC: Qual é a atuação da cadeia produtiva e a parceria para produção de alimentos com qualidade?

Dornellas: As parcerias entre os produtores agropecuários e a agroindústrias de alimentos são fundamentais para se conquistar o desenvolvimento das cadeias produtivas de alimentos no País. Por meio dessas relações, são produzidos alimentos com elevado padrão de qualidade, conectando o campo à mesa de dezenas de milhões de consumidores. Além disso, viabilizam-se diversos ganhos de eficiência, como a redução do custo de produção pela ampliação da escala das operações e maior eficiência no planejamento da cadeia de suprimentos, com redução de perdas e custos financeiros. Dessa forma, as inovações empreendidas por quaisquer dos participantes da cadeia produtiva são compartilhadas por todos os seus integrantes, em benefício direto aos consumidores, aos negócios e ao meio ambiente.



RC: O cooperativismo brasileiro investe na agroindustrialização. A Coamo tem na soja sua principal commoditie e a industrialização em três parques industriais em Campo Mourão e Paranaguá (PR) e Dourados (MS). Qual a importância do trabalho das cooperativas nesse segmento?

Dornellas: A industrialização de parte dos alimentos produzidos pelas cooperativas, seja para a produção de ingredientes alimentares ou alimentos embalados aos consumidores finais, constitui-se em uma importante estratégia para a agregação de valor ao negócio de todos os cooperados, além de contribuir para o desenvolvimento do emprego e da renda nas regiões onde estão situados.



RC: Qual sua mensagem para os cooperados da Coamo?

Dornellas: O cooperativismo agrícola é um exemplo de organização vitoriosa em nosso país, que soube se reinventar e se modernizar. Todos os dias, milhões de produtores rurais e as suas famílias acordam cedo sabendo que alimentos irão produzir, quais as melhores técnicas e padrões de qualidade a serem adotados, a origem dos insumos e dos recursos financeiros necessários à manutenção das atividades e, principalmente, onde e para quem irão comercializar os alimentos produzidos, tendo a certeza que chegarão à milhares de lares, alimentando pessoas de todo Brasil e do mundo, contribuindo para uma melhor qualidade de vida de todos nós.

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.