Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 511 | Março de 2021 | Campo Mourão - Paraná

ENCONTRO DE VERÃO 2021

Compromisso com o conhecimento

Encontro foi realizado no dia 22 de janeiro, no formato digital

A Coamo realizou no dia 22 de janeiro o tradicional encontro de cooperados na Fazenda Experimental. Assim como ocorreu na edição de inverno, a de verão, também foi no formato virtual. O evento reuniu técnicos da cooperativa e pesquisadores para tratar de diversos assuntos relacionados com a agricultura. O encontro está disponível no canal da Coamo no YouTube.

TEMAS APRESENTADOS

Trabalhos de pesquisa em andamento na Fazenda Experimental Coamo

- João Carlos Bonani – Coamo

Desafios no Manejo de Amaranthus hybridus resistente a herbicidas

- Julio Cesar Lunardelli Trevisan - Coamo

- Fernando Adegas – Embrapa Soja

Buva resistente a herbicidas: Cenário atual e estratégiade controle

- Marcos Vinicius Garbiate – Coamo

- Fernando Adegas – Embrapa Soja

- Robinson Osipe – UENP

Como preparar a planta de soja frente a condição de estresse

Geraldo Chavarria – UPF

Confira nas próximas páginas reportagens sobre os temas apresentados no Encontro de Verão, na Fazenda Experimental.

Trabalhos na Fazenda Experimental

João Carlos Bonani, chefe da Fazenda Experimental da Coamo: "Nosso objetivo é buscar alternativas para que os cooperados possam desenvolver suas atividades da melhor maneira possível."

A Fazenda Experimental da Coamo foi fundada em 1975. Resultado da visão e planejamento estratégico da diretoria da cooperativa, a fazenda cumpre o objetivo de melhorar o ambiente produtivo e proporcionar mais rentabilidade aos cooperados. É reconhecida como um modelo e ponto de referência para a validação e desenvolvimento da pesquisa agropecuária brasileira. A fazenda conta com 190 hectares onde são realizados cerca de 230 experimentos a cada ano, pelo departamento Técnico da Coamo, em parceria com diversas instituições de pesquisa.

“Nosso objetivo é buscar alternativas para que os cooperados possam desenvolver suas atividades da melhor maneira possível. O resultado de cada trabalho é repassado aos agricultores por meio da assistência Técnica da cooperativa em cada entreposto, além de serem apresentados com a realidade de cada região nos dias de campo”, diz João Carlos Bonani, chefe da Fazenda Experimental da Coamo.

Ele ressalta que o cooperado tem usado e assimilado com perfeição o que é repassado e, com isso, vem melhorando seu ambiente de produção. “O objetivo é que no final essa melhoria se transforme em mais rentabilidade ao cooperado”, observa.

Bonani apresentou no encontro virtual alguns dos trabalhos que estão sendo conduzidos na Fazenda Experimental. Assim que os resultados forem concretizados, serão repassados aos cooperados.

O sistema Antecipe, desenvolvido pela Embrapa/Milho e Sorgo, que é o cultivo intercalar antecipado, é um desses trabalhos. Se trata em semear a cultura de milho nas entrelinhas da soja. Quando a soja estiver na fase de enchimento de grão entra com uma semeadora específica e faz o plantio na entrelinha da soja. Na sequência, a soja vai se desenvolver até a sua maturidade fisiológica e colheita. A colhedora entra cortando a soja e, também, a planta de milho. Como a planta do cereal já estará estabelecida, tem uma vantagem em comparação ao plantio que iniciaria logo após a colheita da soja. E como o ponto de crescimento da planta de milho ainda está abaixo do nível do solo, mesmo com o corte das folhas rebrotará e terá desenvolvimento normal.

De acordo com Bonani, o experimento está implantado em parcelas de 600 metros quadrados e estão sendo utilizadas três cultivares de diferentes cortes e ciclos. “Teremos três épocas de plantio de milho inserido na soja, para que possamos avaliar o sistema de produção como um todo”, frisa.

Serão avaliados o impacto nas plantas de soja com possível amassamento do trator e semeadora e, também, o impacto no milho após o corte e o amassamento com a colhedora de soja. “Quando tivermos os resultados, passaremos aos cooperados. A ideia é de que o plantio da segunda safra de milho seja antecipado em até 20 dias. Esse ano tivemos atraso no plantio da soja e um possível atraso no plantio do milho, nada mais oportuno do que falar desse sistema para analisar a viabilidade de acordo com a região de cada cooperado”, diz.

O manejo de solo, com trabalhos de fertilidade química voltado a utilização de boro, e trabalhos de cobertura de solo, com a utilização de mix de plantas de cobertura é outra linha de pesquisa estudada na Fazenda Experimental. “No mix temos várias espécies que permite o plantio de todas ao mesmo tempo. Com isso temos diferentes sistema radiculares, parte aérea e ciclagem de nutrientes. O estudo na Fazenda Experimental é para entender melhor os benefícios que podem ocorrer com a parte física, química e biológica do solo. Será analisado se a palhada deixada pelas plantas contribuirá para o manejo de plantas daninhas, por exemplo, ou se irá prevenir alguma doença nas lavouras.”

A FAZENDA EXPERIMENTAL


- Fazenda Experimental foi fundada em 1975

- Conta com uma área de 190 hectares

- Mais de 230 experimentos a cada ano

- Tem parceria com instituições de pesquisa e ensino

- Objetivo é a difusão de tecnologias para melhoria do ambiente produtivo e, consequentemente, aumento da rentabilidade do cooperado

Estudo sobre agentes de controle biológico no sistema de produção é outro destaque nos trabalhos na Fazenda Experimental. Os produtos biológicos vêm ganhando espaço no mercado e a Coamo está atenta a isso. “Vamos fornecer o que o cooperado precisar de fato. Porém, precisamos estudar e entender melhor algumas tecnologias”, comenta Bonani.

Com isso, estão sendo desenvolvidos trabalhos para controle biológico de nematoides e controle biológico de percevejo marrom da soja. Ainda sobre os percevejos, está sendo realizado um ensaio de controle químico de percevejo marrom.

Demais linhas de estudos estão sendo desenvolvidas com produtos com ação fisiológica/ antiestresse, monitoramento de fungicidas para ferrugem asiática por meio do ensaio de rede da Embrapa Soja, entre outros.

Empresas parceiras da Coamo desenvolvem na Fazenda Experimental testes de soja, trigo e milho em ensaios de Valor de Cultivo Uso (VCU). Nesta safra são 40 hectares de soja para nove ensaios, divididas em 2500 parcelas experimentais. São mais 300 cultivares em códigos e pré-comerciais com as novas Biotecnologias: Enlist e Intacta 2 Xtend.

Em todas as Unidades da Coamo, o departamento Técnico cultiva faixas demonstrativas para que os resultados sejam apresentados nos dias de campo locais. São 86 faixas demonstrativas com 30 cultivares comercias de soja, 47 faixas demonstrativas em 14 cultivares comerciais de trigo, 28 faixas demonstrativas para o milho verão e 28 faixas para a segunda safra. Bonani destaca a importância da participação do cooperado nos dias de campo das unidades. “Nos dias de campo, o cooperado tem a oportunidade de avaliar qual a cultivar mais adequada para sua propriedade, podendo extrair o máximo de rendimento da cultura com o apoio da assistência Técnica”.

Soja e suas condições de estresse

Há uma série de estratégias para melhorar a situação e fazer com que a planta tolere mais as adversidades

Toda vez que uma planta de soja está estressada seja por falta de água, temperatura elevada, excesso de radiação ou fitotoxidez, o custo da lavoura aumenta e o lucro tende a ser menor. Essa é a ideia básica da penalização do rendimento da lavoura. Neste cenário, há uma série de estratégias para melhorar a situação e fazer com que a planta tolere mais as adversidades.

O assunto foi apresentado no Encontro de Cooperados pelo professor da Universidade de Passo Fundo (RS), Geraldo Chavarria. Ele é pesquisador na área de fisiologia vegetal, com foco na cultura da soja. De acordo com ele, a planta sempre está estressada. "Tanto é verdade que ela não atinge o seu potencial produtivo. É preciso analisar todo o sistema produtivo, pensar em todas as safras. Não se alcança de um ano para o outro, uma planta de soja com capacidade de tolerar a adversidade. De maneira geral, a construção é muito mais abrangente”, diz.

Para uma lavoura bem implantada é necessário focar em um triângulo formando por semente, adubação e plantio. “Esse processo precisa estar interligado. Não adianta ter uma semente com 90% de vigor, um fertilizante de alto padrão e semear no pó. Dessa maneira não fecha o triangulo e isso vai fazer com que haja penalização para a planta e, obviamente, para o rendimento”, pondera.

Para uma lavoura bem implantada é necessário focar em um triângulo formado por semente, adubação e plantio

Geraldo Chavarria, professor da Universidade de Passo Fundo (RS), é pesquisador na área de fisiologia vegetal, com foco na cultura da soja

De todas as questões, o momento do plantio, conforme o pesquisador, é o que requer mais atenção. “A ansiedade para dar largada ao plantio, seja pela pressão de semear depois a segunda safra de milho ou por outros motivos, faz com que o agricultor não comece a safra da maneira mais correta. É preciso aguardar o momento mais adequado. Esse é um ponto fundamental.”

O sistema radicial é outra questão para se trabalhar a longo prazo, do ponto de vista de estresse. Chavarria diz que é muito comum a planta com raiz em curva. Ele explica que essa curvatura está associada a um sistema de compactação de solo. “Isso é bastante comum. Tem que pensar de maneira diferenciada o sistema para que as raízes cresçam em maior escala. O estresse vinculado a planta está relacionado a falta de água e temperatura. A planta regula a sua temperatura baseada na circulação de água. Observa-se que se não circula água, não entra carbono em escala e a planta absorve menos nutrientes, movimenta menos ativo e tem maior potencial de fitotoxidez”, observa.

Conforme Chavarria, na safra passada as plantas de soja ficaram até três semanas sem água e isso fez com que elas saíssem de 90% do seu volume em água, o que é o normal, para 42, 45%. Quando entrou com aplicação de fungicida nessa condição, o potencial de fitotoxidez passou a ser maior. “O básico é evitar a aplicação nesse momento”, frisa.

Outro ponto importante a ser observado é relacionado com o perfil solo. É possível observar com clareza o seguinte: 80% das raízes de soja chegam a 20 centímetros de profundidade e o ideal é que chegassem a 40 centímetros. “Na maioria dos casos há necessidade de duplicar a profundidade do sistema radicial. Para saber a realidade de cada produtor é preciso uma análise de solo estratificada e, se necessário, utilizar calcário, gesso, fazer rotação de culturas e ter cobertura constante.”

Chavarria observa que uma prática comum nesta última safra foi a semeadura em condições inadequadas. Ele diz que um ponto importante para ressaltar é em relação a fixação biológica de nitrogênio (FBN). “Quando se faz uma inoculação de qualidade , claro que vai depender de tecnologia, mas de maneira geral queremos colocar, pensando em uma dose de inoculante inicialmente, algo como 600 mil células por semente, para que no solo tenha viáveis, de 80 a 100 mil células por semente. Duas horas após a semeadura, com temperatura próxima a 40 ºC, estarão no solo 30 mil células.

Nessa condição, não temos mais uma situação viável de bactéria para firmar inoculação. Lembrando que esse processo representa de seis a oito por cento de incremento na produtividade da soja.”

Quando a planta está estressada ela fecha o estômato e para em 95% a circulação de água e açúcar. Seja estresse por falta de água, temperatura ou granizo. “Nessa situação não faça nada. Teve granizo, espera dois ou três dias e depois aplica. Faltou água e voltou a chover, espera os mesmos dois ou três dias para fazer a aplicação. O grande desafio é colocar com eficiência o produto dentro da planta. É preciso respeitar a lógica do seu funcionamento.”

Estresse por excesso de chuva

Com o andamento da safra, uma nova situação surgiu. O estresse por excesso de água. Na semeadura da soja houve falta de água e essa restrição hídrica foi recompensada no final do desenvolvimento vegetativo das plantas. Além de muita chuva, o período foi de pouca nebulosidade. “É um período fundamental para a fotossíntese, ou seja, a planta produzir energia para uma boa produtividade. Em muitas situações tivemos atraso de semeadura, e sabemos que nesse período os dias começam a ficar mais curtos. Essa condição de nebulosidade faz com que a taxa sintética caia. De maneira geral, nesse momento podemos ter uma tendência de falhas na estrutura da planta.

A medida que o sol retorne, a orientação de Chavarria é para estimular a planta a voltar a funcionar corretamente. “O caminho mais básico é aumentar o metabolismo de nitrogênio e a ação hormonal. É fazer com que a planta volte a trabalhar em maior escala. Lembrando de um detalhe importante: aplicar algo na folha do ponto de vista fisiológico tem o lado positivo, de alcançar a taxa metabólica quatro ou cinco vezes maior. O lado negativo é a taxa de penetração. A tecnologia de aplicação é muito importante nesse momento e deve ser realizada conforme a orientação técnica.”

Foco na buva resistente

Marcos Vinicius Garbiate: Aumento da incidência da buva se deve, principalmente, a prática inadequada de manejo e características específicas da biologia

A buva é uma das principais plantas daninhas presentes no sistema de produção brasileiro. O aumento da incidência dessa planta se deve, principalmente, a práticas inadequadas de manejo e características específicas da biologia. É uma planta de ciclo anual, com ampla distribuição geográfica e adaptabilidade, com um sistema radicular extremamente agressivo, alta produção de sementes, e com alto potencial de competição.

O primeiro caso de buva resistente a herbicidas foi registrado em 2005, no Rio Grande do Sul, onde foi encontrado um biótipo resistente ao glifosato. Desde então, vem sendo necessário trabalhar o manejo químico de maneira diferente, com novos mecanismos de ação para uma melhor eficiência no controle. O primeiro passo foi a utilização de herbicidas com o mecanismo de ação da ALS, principalmente, a molécula de clorimuron. Devido ao uso generalizado, em 2011 já havia relato de buva resistente ao ALS. “Novamente, a partir desse cenário, precisou uma nova adaptação e passou a utilizar com duas aplicações de herbicidas no sistema. Uma primeira aplicação com produtos sistêmicos, normalmente, glifosato e 2,4-D e depois uma aplicação com produtos de contato, geralmente, com paraquat”, diz Marcos Vinicius Garbiate, coordenador de Suporte Técnico da Fazenda Experimental.

A buva é uma das principais plantas daninhas presentes no sistema de produção brasileiro

Ele observa que, mais uma vez, a utilização apenas do manejo químico de forma generalizada contribuiu, também, para o aparecimento da resistência ao paraquat em 2016 e ao 2,4-d em 2017. “Dentro desse histórico de resistência da planta daninha a vários mecanismos de ação, fica a pergunta: será que não está no momento de repensar o manejo de buva no sistema? Utilizar novas estratégias de controle e implantar um manejo integrado de plantas daninhas?”, questiona Garbiate.

Ele acrescenta que quando se fala em manejo integrado, um dos principais pontos é a presença de palhada no sistema. “Um sistema de cultivo que preconiza a palhada, dificilmente, tem problema com a buva. Outro ponto importante é a rotação de culturas, uma prática que traz diversidade para o sistema.”

Em relação ao manejo químico, têm algumas opções de controle que podem ser mais bem utilizadas. Os herbicidas pré-emergentes, por exemplo, conseguem atuar no momento que a planta daninha é mais suscetível ao controle. Algumas biotecnologias também auxiliam no manejo desta planta daninha como por exemplo: liberty link, intacta 2 X Tend e o Enlist.

A Fazenda Experimental conta um ensaio que trabalha com 19 tratamentos com o objetivo de avaliar diferentes herbicidas, principalmente, os novos auxínicos e as opções para manejo na aplicação sequencial.

Fernando Adegas, pesquisador de plantas daninhas da Embrapa/Soja, recorda que de três anos para cá, aumentou a população de buva tolerante e resistente

Fernando Adegas, pesquisador de plantas daninhas da Embrapa/Soja, recorda que de três anos para cá, aumentou a população de buva tolerante e resistência ao 2,4-D. Ele explica que o principal sintoma de resistência é a rápida necrose. “Logo após a aplicação do 2,4- D, a planta queima a folha para rebrotar. O maior problema é na região Oeste do Paraná, mas já atingiu outras áreas da Coamo. Fiquem de olho porque esse problema está se estendendo.

O 2,4-D ainda é uma opção, mas é bom monitorar para ver como a aplicação se comportará”, assinala.

Como alternativa ao 2,4- D, existe no mercado o Triclopir e o Dicamba. Contudo, mesmo eles sendo auxínicas, tem algumas diferenças. Uma característica é que a reação na planta é mais lenta. O 2,4-D, com uma semana, se notava a totalidade do efeito, já com esses outros dois produtos é mais demorado. Outro ponto é o residual no solo. O 2,4-D tem um residual mais curto. Há uma preocupação ainda maior com os dois produtos com o clima seco. "Nesta safra, por exemplo, se o residual era de 15 a 20 dias para Triclopir e 30 dias ou mais para o Dicamba, quase que dobrou. Essa é uma questão importante. A outra é relacionada a seletividade em culturas mais sensíveis, que podem ser prejudicadas."

Robinson Osipe, pesquisador de plantas daninhas, diz que é obrigação entregar a área limpa para a soja se desenvolver

Robinson Osipe, pesquisador de plantas daninhas, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), diz que é obrigação do agricultor entregar a área limpa para a soja se desenvolver. “Se conseguirmos ter sucesso no controle, o estabelecimento da cultura fica mais fácil”, frisa.

Um ponto importante para se ressaltar é o volume de calda. “Temos visto muitos agricultores querendo, cada vez mais, diminuir o volume de calda e isso é um agravante. Neste ano, em particular, nesta safra de verão, com a estiagem prolongada, era importante um volume de calda que permitisse uma aplicação mais consistente”, comenta Osipe.

No período de manejo para o controle da buva, o que mais se viu foi a primeira aplicação com produto sistêmico sendo realizada logo após a primeira chuva. Porém, quando entrou com a aplicação sequencial a condição climática já não estava mais tão favorável. Osipe explica que nesse tipo de condição, a orientação é de que se ficaram falhas na primeira aplicação, por questão climática ou de volume da calda, é preciso analisar se a aplicação sequencial irá fechar o controle e repensar se vale a pena fazer novamente todo o processo com a primeira. “Se o produtor ainda tiver tempo para fazer o processo, desde o início, seria interessante ele pensar em uma retomada, porque a pior coisa que tem para a buva é falha no manejo. Não temos nenhum produto para o controle da buva instalada no meio da lavoura da soja”, acrescenta.

Sobre a importância do pré-emergente no manejo da buva, Osipe recorda que no passado se usava mais este tipo de produto. Com o passar do tempo, os agricultores foram diminuindo o uso. “Há uma necessidade do sistema produtivo para que voltemos a adotar o produto em pré. Se eu consigo com pré-emergente postergar a germinação da planta daninha, já diminuo pelo menos uma aplicação de glifosato. Tem ainda a questão de não termos mato competição inicial, e isso traz benefícios econômicos e produtivos.”

Desafios com o Caruru

Júlio Cesar Lunardelli Trevisan, engenheiro agrônomo da Coamo em Ipuaçu (SC)
Plantas daninhas

O Brasil conta atualmente com 53 plantas daninhas resistentes a herbicidas. Essa resistência ocorreu em duas fases: de 1993 a 2000 com inibidores de ALS, ACCase e o segundo após 2000 com inibidores de EPSPS (glifosato). São espécies resistentes ao glifosato, buva, azévem, capim amargoso, capim falso rhodes, caruru gigante, capim pé de galinha, Amaranthus hybridus, leiteiro e o capim arroz.

Eliminar as plantas daninhas significa reduzir a competição com a cultura que está implantada. Por isso, a importância de se fazer uma dessecação bem feita para não ter perdas e problemas de resistência no futuro dessas plantas daninhas, sempre associado ao manejo integrado de plantas daninhas.

Algumas plantas daninhas podem causar perdas acima de 90% na produtividade da soja se não controladas de forma eficiente. Por isso, é importante fazer um bom manejo na fase inicial de desenvolvimento da planta. Sem falar na dificuldade de colheita devido algumas plantas possuírem grande teor de água em seu caule dificultando a colheita e podendo até danificar as máquinas, sem falar das impurezas e perdas na produtividade e qualidade de grão.

Entre as espécies que mais causam danos e prejuízos, está o Caruru (Amaranthus hybridus), uma planta exótica e agressiva, e com resistência ao glifosato e aos herbicidas inibidores de ALS. Não controlar pode comprometer toda uma lavoura, assim como ocorreu em uma propriedade de cooperado da Coamo em Ipuaçu (Oeste de Santa Catarina).

Na safra 2019/2020, uma área de três alqueires de soja teve que ser eliminada. As plantas foram dessecadas e no local semeado milho. “Isso mostra o quanto a planta é agressiva e pode causar danos econômicos importantes para a soja”, comenta o engenheiro agrônomo Júlio Cesar Lunardelli Trevisan, da Coamo em Ipuaçu.

Ele explica que na área foi realizada a aplicação de glifosato que não controlou a planta daninha. Depois foi aplicado glifosato associado com clorimuron e o resultado também não foi bom. “O Amaranthus hybridus ficou mais alto do que as plantas de soja. A eliminação da lavoura foi necessária para evitar ainda mais prejuízo. O impacto dessa planta daninha é muito grande na produção agrícola.”

Caruru pode comprometer toda uma lavoura, assim como ocorreu na propriedade de um cooperado da Coamo em Ipuaçu (SC)

Uma das hipóteses para o aparecimento do Amaranthus hybridus em Ipuaçu é que a planta daninha tenha sido transportada junto com esterco animal. “A região é produtora de suínos e aves de corte e o produtor usa os resíduos como fonte de adubo na lavoura. Isso acabou ocasionando o problema do caruru na região devido a infestação apresentar um gradiente e não sendo de forma aleatória”, diz Trevisan. Outras hipóteses são: sementes de culturas de cobertura de inverno transportadas de áreas infestadas, aquisição de gado bovino em leilões, rações, pássaros, trânsito de máquinas agrícolas e dispersão pelo homem. A Argentina tem vários casos e no Brasil, o Rio Grande do Sul é o Estado com mais registros de áreas contaminadas. No Paraná, há casos na região dos Campos Gerais.

O Amaranthus hybridus é de difícil identificação no campo. O agrônomo diz que algumas características podem ajudar. “As plantas têm o pecíolo maior do que o limbo foliar. Outra diferença é a marca d´água em "v" e a presença de espinhos na florescência. São algumas situações que podem diferenciar a planta daninha. Contudo, a identificação é confusa, pois assim como pode ter essas características, também pode não ter. Na dúvida, o melhor é procurar a assistência Técnica da Coamo.” As plantas emergem em temperatura a partir de 20 ºC em dois picos: meados de setembro e início de outubro, e depois novembro e dezembro.

Algumas medidas:

- Monitoramento das áreas infestadas

– eliminar plantas que sobraram das aplicações de herbicidas

- Controlar o trânsito de máquinas e equipamentos em áreas suspeitas - principalmente colhedoras

- Acionar o Departamento Técnico da Coamo em caso de escapes de controle de Amaranthus hybridus

O caso de Amaranthus hybridus resistente foi registrado na propriedade do cooperado em Ipuaçu, Luiz Fernando Gondolo. Ele revela que a planta daninha foi encontrada em 2019. Após identificar as plantas no campo houve algumas tentativas de aplicações de herbicidas sem sucesso. “Foram montadas várias parcelas, onde utilizamos produtos pré-emergentes. Alguns se saíram melhores, mas nada que funcione 100%. Estamos participando desse estudo para saber qual o melhor manejo e o produto com mais eficiência.”

Fernando Adegas, pesquisador de plantas daninhas da Embraá/Soja, reitera que a campo estão sendo testados alguns produtos em pré e pós emergentes. “O gênero Amaranthus hybridus é hoje a planta daninha que mais preocupa no mundo. É um dos principais problemas nos Estados Unidos, na Argentina e estamos apreensivos porque já temos registros no Brasil.”

Conforme o pesquisador, os primeiros passos estão sendo de monitorar. “Estamos estudando para entender como a planta germina, o seu período de crescimento e os manejos mais adequados. As opções de controle químico são basicamente com herbicidas em pré-emergência, alguns deles já estão no mercado e outros que estão vindo, e ao mesmo tempo algumas opções em pós emergência, com menos opção.”

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