Na safra de verão 2020/21 um tema ganhou a cena. A cigarrinha do milho se tornou a protagonista, ou melhor dizendo, a vilã. Isso preocupou os produtores rurais, pois essa praga é a causadora do complexo de enfezamento da cultura do milho. Assim, na busca de esclarecer dúvidas sobre o assunto, a Coamo realizou no dia 18 de fevereiro, uma reunião técnica por meio do canal da cooperativa no YouTube, ultrapassando seis mil visualizações. Quem conduziu a palestra no evento técnico virtual foi o engenheiro agrônomo da Coamo, Bruno Lopes Paes, com a participação dos pesquisadores Josemar Foresti e Paulo Roberto Garollo, que responderam aos questionamentos enviados pelos participantes da live.
Desde 2019, esse assunto é abordado nos dias de campo da Coamo e para o chefe da Fazenda Experimental da Coamo, João Carlos Bonani, o cooperado precisa aprender a conviver com esse problema. “O complexo de enfezamento transmitido pelas cigarrinhas é grave. Por isso, precisamos estudar e entender as estratégias do manejo da cigarrinha para minimizarmos o problema na cultura do milho.”
De acordo com o gerente de Assistência Técnica da Coamo, Marcelo Sumiya, a extensão da área de plantio demonstra a relevância do tema. “Temos na safra de verão, uma área plantada de 100 mil hectares de milho e na segunda safra teremos um milhão e duzentos mil hectares. Se na área menor, estamos enfrentando problemas dessa gravidade, em algumas regiões, imagine na safra de inverno. A preocupação será ainda maior.”
Segundo o diretor de Suprimentos e Assistência Técnica da Coamo, Aquiles de Oliveira Dias, esse assunto é preocupante. “Está sendo implantada a safra de milho 2021 e a área vai ser maior. Por isso, o potencial do problema pode ser maior do que na cultura do verão. Estamos em conjunto com a pesquisa, buscando alternativas para uma possível solução. Ainda não temos todas as respostas, mas assim como todos os desafios que surgiram ao longo desses anos, vamos superar esse também.”
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Aquiles Dias, diretor de Suprimentos e Assistência Técnica da Coamo |
LINHA DO TEMPO DOS EVENTOS REALIZADOS PELA COAMO
04/FEV/2019: ENCONTRO DE COOPERADOS
Alerta sobre o assunto; Monitoramento do milho 2ª safra
28/FEV/2019: IMPLANTAÇÃO DE EXPERIMENTOS
36 híbridos para monitorar o complexo de enfezamentos; Avaliação visual;
Amostras enviadas para laboratório; Análises de PCR
16/JUL/2019: ENCONTRO DE COOPERADOS
Apresentação dos resultados; Problemas agravados na região da Coamo
04/FEV/2020: ENCONTRO DE COOPERADOS
Apresentação de resultados e monitoramento do vetor
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Evento foi mediado por Marcelo Sumiya, gerente de Assistência Técnica, e João Carlos Bonani, chefe da Fazenda Experimental da Coamo |
O inseto vetor do enfezamento do milho, a cigarrinha (Daubulus maidis), surgiu no México e está presente em todo o continente americano. A cigarrinha pode causar diversos danos à cultura do milho. “Existe o dano direto, quando há a sucção de seiva. Porém, é um dano pouco importante. O que nos preocupa é o dano indireto, onde ocorre a transmissão das doenças: enfezamento pálido, enfezamento vermelho e o vírus da risca. Esse inseto possui um plano de voo que pode chegar a 30 quilômetros, dependendo das condições do vento”, explica o engenheiro agrônomo da Coamo de Campo Mourão, Bruno Lopes Paes.
O agrônomo alerta sobre a temperatura, que pode afetar tanto a transmissão do patógeno quanto o ciclo do inseto. “Temperaturas mais elevadas, com 30 graus de dia e cerca de 25 graus a noite, favorecem o desenvolvimento dos molicutes dentro da planta e a proliferação do inseto. Temperaturas mais amenas, dificultam o surgimento de sintomas em plantas de milho, e não há eclosão de ovos em temperaturas abaixo de 20°C”, esclarece Bruno Paes.
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Bruno Lopes Paes, engenheiro agrônomo da Coamo |
Com relação aos sintomas, o engenheiro agrônomo detalha. “Os molicutes se desenvolvem nos vasos condutores das plantas e interferem na condução de nutrientes, causando uma desordem hormonal. Os principais sintomas são em folha, multiespigamento, redução de internódios e má formação de grãos. Existem também sintomas no espiroplasma (enfezamento-pálido), no fitoplasma (enfezamento-vermelho) e o do vírus da risca, onde a folha fica com riscas nas nervuras. Outros sintomas são o apodrecimento da espiga da planta, facilitando a entrada de água e outras doenças de espiga. Pode ocorrer o tombamento das plantas, onde podem aparecer fungos oportunistas, dentre outros.”
Para evitar esse problema Bruno apresenta diversas ações. “A primeira coisa é monitorar o inseto à campo. Na Fazenda Experimental já fazemos isso desde outubro de 2019. Colocamos armadilhas para capturar esses insetos. Eles são capturados uma vez por semana, e mandamos para análise de PCR, para ver se estão ou não contaminados. Em praticamente todas as análises tivemos a presença de cigarrinhas contaminadas.”
Outros manejos necessários são a eliminação de plantas voluntárias e sincronização de plantio. “Vemos que em diversas lavouras de soja no verão contamos com a presença do milho tiguera mal manejado. O milho serve de alimentação para a cigarrinha completar o seu ciclo. Outra ação importante é plantar o milho num intervalo de tempo mais curto. Isso desfavorece a presença no inseto vetor, pois não haverá a ponte verde”, orienta Bruno.
Segundo Bruno Paes, a escolha do híbrido também é outro ponto a ser analisado. “Precisamos usar a genética a nosso favor. Percebemos ao longo dos anos que alguns milhos toleram mais o complexo de enfezamento. Os sintomas irão variar de acordo com a fase de infecção da cigarrinha e se tenho milho suscetível ou não a campo. Medidas pontuais não são capazes de resolver o problema, recomenda-se o manejo integrado, todas essas ações devem ser realizadas em conjunto.”
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