Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 537 | Julho de 2023 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

ARTHUR IGREJA

“A tecnologia é fundamental, é um caminho, mas não resolve tudo. O centro das questões sempre está no ser humano”.

O especialista em Tecnologia e Inovação, Arthur Igreja, palestrou no Encontro de Líderes Cooperativistas na Coamo e é o entrevistado deste mês na Revista Coamo. Segundo ele, em 2023 é quase inevitável não falar de inteligência artificial, sendo o grande tema do ano e o que todo mundo

está tentando entender. “É interessante ver o quanto que isso tem causado mudanças profundas, positivas. É algo muito interessante de ser acompanhado. Avanços na pesquisa, na saúde, na melhora da vida das pessoas.”

O especialista acredita que para uma pessoa poder dominar - no sentido de ela pilotar a experiência -, ela tem que primeiro entender que a capacidade humana nem sempre vai acompanhar a evolução tecnológica. Mesmo que a conexão esteja duas vezes mais rápida, o seu cérebro não fica duas vezes mais rápido. “Nós continuamos humanos, com as nossas limitações, com os nossos pontos positivos.”

Revista Coamo: Muito se comenta sobre os termos “Inovação”, “Tecnologia” e “Inteligência Artificial”. Como o Senhor define estes temas?

Arthur Igreja: Inovação nada mais é do que encontrar novas formas para fazer algo e alcançar resultados melhores. Porque isso pode ter um contexto local, ou seja, não precisa ser uma inovação para o mundo. Por exemplo, se em uma determinada cidade alguém faz algo que nunca foi feito lá e o resultado é melhor, foi uma inovação em âmbito municipal.

Tecnologia é qualquer artefato, software, hardware, que ajuda as pessoas a serem mais produtivas, mais eficientes, que elas consigam alavancar suas capacidades, tornando-as mais rápidas, mais produtivas, com acesso a mais dados.

Inteligência artificial nada mais é do que ao invés de se ter algoritmos, que eles são pré-configurados para executar alguma tarefa. O algoritmo é programado e fará algo. A inteligência artificial tem a capacidade de adaptação. Ao longo do tempo ela vai conseguir aprender novas tarefas, obter novas informações, ela evolui, não vai ficar fazendo sempre a mesma coisa.

RC: Quais os “erros” mais comuns sobre esses temas?

Arthur: Os erros mais comuns são ter medo, achar que tecnologia e inteligência artificial resolvem tudo magicamente. Essas questões precisam ser mais bem compreendidas para que as pessoas possam incorporar justamente o lado positivo nas suas vidas. Ainda são questionamentos muito pouco compreendidos.

RC: A tecnologia tem que estar disponível para todos e as soluções devem ser encontradas pelas pessoas. A tecnologia resolve tudo?

Arthur: Não, a tecnologia não resolve tudo e enfatizo isso sempre. Tecnologia é ferramental, tecnologia é meio, tecnologia é caminho, não é destino. O centro das questões sempre esteve e sempre estará no ser humano. Tecnologia é mera ferramenta, aquela velha história: um belíssimo quadro na parede só faz sentido se ele for observado, quem pintou não foi a tinta e o pincel e quem o colocou nesse espaço não foi a furadeira, mas todos esses elementos são bastante importantes, porém a ‘mágica’ está na criação do quadro, na capacidade de observação, na emoção que ele causa.

Arthur Igreja é TEDx speaker. Especialista em Tecnologia e Inovação. Master em International Business pela Georgetown University (EUA), Masters of Business Administration pela ESADE (Espanha) e Mestrado Executivo em Gestão Empresarial pela FGV. Pós-MBA e MBA pela FGV. Autor do livro “Conveniência é o Nome do Negócio”. Membro da Fundação Grupo O Boticário. Certificações executivas em Harvard e Cambridge. Atuação profissional em mais de 25 países. Anualmente, ministra mais de 150 palestras no Brasil, América do Sul, EUA e Europa.

"OS ERROS MAIS COMUNS SÃO TER MEDO, ACHAR QUE TECNOLOGIA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL RESOLVEM TUDO MAGICAMENTE."

RC: Quais as principais conquistas sobre inovação e tecnologia?

Arthur: Em 2023 é quase inevitável não falar de inteligência artificial. É o grande tema do ano, é o que todo mundo está tentando entender. É interessante ver o quanto que isso tem causado mudanças profundas, positivas. É algo muito interessante de ser acompanhado. Avanços na pesquisa, na saúde, na melhora da vida das pessoas. Sempre tento olhar muito por esse impacto positivo da inovação e da tecnologia.

RC: Para acesso e agregar inovação e tecnologia em nosso dia a dia, qual deve ser o nosso comportamento no uso das redes sociais?

Arthur: Acredito que para uma pessoa poder dominar, no sentido de ela pilotar a experiência, ela tem que primeiro entender que ela, enquanto ser humano, não mudou, ou seja, se a conexão fica duas vezes mais rápida, o nosso cérebro não fica duas vezes mais rápido. Nós continuamos humanos, com as nossas limitações, com os nossos pontos positivos. A pessoa tem que compreender o papel da tecnologia na vida dela e, fundamentalmente, entender no que a tecnologia ajuda para que seja feito bom uso. Esse ponto é fundamental.

E claro, entender de tecnologia, entender também que se usar em excesso gasta o dia inteiro, a pessoa fica alienada a tudo. É importante dominar na medida em que aquilo está fazendo bem.

RC: Quais são as principais dicas sobre IA – Inteligência Artificial?

Arthur: A principal dica é usar a seu favor e, para isso, o sentido é muito diferente para cada um. Para uma pessoa, a inteligência artificial ajuda em algo específico, para outra a finalidade é diferente. A única forma de equacionar isso é fazendo com que a pessoa use. E para usar ela precisa aprender. E para aprender hoje temos YouTube, podcast, tem tudo, está tudo na palma da mão, é só usar de uma forma produtiva e positiva. Isso depende de protagonismo e atitude, ou seja, a pessoa tem que pilotar essa experiência para ela mesma.

RC: É possível separar a vida pessoal do profissional quando se convive com a inovação e tecnologia?

Arthur: É difícil separar a vida pessoal, porque hoje esses espaços se confundem. A pessoa não sai mais de um escritório, está desconectada. As pessoas estão conectadas 24 horas. Mas é importante, sim, ter essa distinção. E, claro, quando o assunto é inovação e tecnologia, o primordial e a coerência. Tudo aquilo que nós gostamos como consumidores, temos que ter a coerência de oferecer isso para os clientes. No caso da Coamo, obviamente, os cooperados.

RC: Quais são as principais dicas sobre IA – Inteligência Artificial?

Arthur: A principal dica é usar a seu favor e, para isso, o sentido é muito diferente para cada um. Para uma pessoa, a inteligência artificial ajuda em algo específico, para outra a finalidade é diferente. A única forma de equacionar isso é fazendo com que a pessoa use. E para usar ela precisa aprender. E para aprender hoje temos YouTube, podcast, tem tudo, está tudo na palma da mão, é só usar de uma forma produtiva e positiva. Isso depende de protagonismo e atitude, ou seja, a pessoa tem que pilotar essa experiência para ela mesma.

RC: É possível separar a vida pessoal do profissional quando se convive com a inovação e tecnologia?

Arthur: É difícil separar a vida pessoal, porque hoje esses espaços se confundem. A pessoa não sai mais de um escritório, está desconectada. As pessoas estão conectadas 24 horas. Mas é importante, sim, ter essa distinção.

E, claro, quando o assunto é inovação e tecnologia, o primordial e a coerência. Tudo aquilo que nós gostamos como consumidores, temos que ter a coerência de oferecer isso para os clientes. No caso da Coamo, obviamente, os cooperados.

Arthur Igreja em evento com líderes cooperativistas em Campo Mourão

RC: Como está atualmente o estágio das empresas em relação à visão empreendedora e as oportunidades de inovação e tecnologia?

Arthur: É inegável que grande parte das empresas abraçou a tecnologia e inovação como o ‘modus operandi’ central dos seus negócios. A questão que deve ser ressaltada e, talvez, desmistificada, é que o agronegócio sempre foi muito visto como um ambiente menos conectado e, consequentemente, menos inovador. Quem mora no campo muitas vezes conhece as capitais e muita gente da capital não conhece o campo e opina do mesmo jeito e tem uma visão bastante enviesada. Tem inúmeras inovações incríveis que acontecem no agronegócio, no campo. Seria muito importante que mais pessoas conhecessem para ter uma visão um pouco mais realista.

RC: Por que o senhor fala que o agronegócio evoluiu e deixou de ser “perseguidor” da inovação para ser um protagonista?

Arthur: Falo isso, pois é o que aconteceu. No agronegócio podemos citar exemplos banais de tecnologia. Muito se ressaltou durante muito tempo sobre, por exemplo, utilização de drones. A utilização nas cidades é muito pequena, continua sendo basicamente para a geração de imagem. Mas muito se falava em entregas e milhares de aplicações com drones. No campo isso é uma realidade, para mapeamento, para irrigação, entre outros. O que acontece é que o campo passou a adotar essas tecnologias.

RC: Qual é a sua impressão sobre o cooperativismo, sua força e sua importância?

Arthur: É absolutamente essencial e é só analisar o que ocorre em inúmeras regiões do Brasil, regiões que estavam praticamente fadadas a viver um subdesenvolvimento, ter praticamente um destino de pobreza e conseguiram se tornar potências. 

E isso só foi possível pelo arranjo cooperativista no momento da compra dos insumos, da entrega, da produção, da agregação de valor, da verticalização da produção, da busca por mais mercado, por ter uma estrutura da cooperativa prestando seus serviços para os cooperados. Não importa a escala, um produtor individual jamais conseguiria ter acesso a tudo aquilo com o que uma cooperativa pode gerar. É um modelo encedor, fantástico e é por isso que continua crescendo o tanto que cresce.

RC: Como foi a sua participação em evento recente na Coamo?

Arthur: Foi um evento fantástico. Poder ver de perto um programa – Jovens Líderes Cooperativistas - desse que está completando quase 30 anos, é um daqueles momentos que falo que a materialização dos pilares do cooperativismo. O cooperativismo já faz há muitas décadas uma série de atividades que o mundo, recentemente, passou a valorizar, como toda onda ESG que é incrível, mas o cooperativismo já fazia isso antes dessa sigla existir. Tudo isso já existe há muito mais de 100 anos. Tudo isso está no nascimento das cooperativas. Foi um evento que celebrou toda uma construção de governança, da participação dos cooperados de forma equânime, ou seja, aquilo que as cooperativas prezam, que não depende do tamanho do produtor, todos eles têm uma participação igual e ativa. Estão presentes no dia a dia da cooperativa, no seu desenvolvimento, nas suas decisões. Fiquei extremamente honrado em poder participar desse momento, levar uma série de informações, e, uma vez mais poder ver a grandiosidade, os números da Coamo são absolutamente incríveis. É fantástico poder participar desse evento.

Fiquei honrado com o convite e foi um dia muito especial.

A inteligência artificial tem a capacidade de adaptação. Ao longo do tempo ela vai conseguir aprender novas tarefas, obter novas informações, ela evolui, não vai ficar fazendo sempre mesma coisa.

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