Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 542 | Dezembro de 2023 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

CASSIANO RIBEIRO

Editor executivo da Revista Globo Rural

"O melhor do agro são as pessoas que produzem e cultivam a terra, e são responsáveis pelo sucesso da atividade no país."

Além dos desafios já conhecidos, de um país com clima tropical e de dimensão continental, como o clima e a infraestrutura, acredito que o campo e todo o ecossistema do agro, exigirão cada vez mais profissionais qualificados, de diferentes áreas e com conhecimento técnico aprofundado." A frase é do Editor executivo da Revista Globo Rural, Cassiano Ribeiro, entrevistado do mês na Revista Coamo. 

Segundo ele, 2024 marca o início dessa uma transição, com um mercado fazendo exigências rigorosas. "As pesquisas mostram que o consumidor global está mudando seus hábitos e buscando ter mais consciência do que consome, seja alimentação ou energia. Isso implica mudanças. A lei antidesmatamento é só uma dessas exigências, talvez a mais rigorosa, sim, e que vai exigir investimentos em rastreabilidade em toda a cadeia. Mas, acredito que isso será gradual e não radical, até porque não é algo simples a se fazer. 


Revista Coamo: Qual a sua percepção do agronegócio brasileiro e a importância para economia nacional? 

Cassiano Ribeiro: O agro talvez seja um dos setores mais complexos e ao mesmo tempo fascinantes. É a força vital da nossa economia. Falar de agronegócio é falar de natureza, de alimentação e gastronomia, de pesquisa e inovação, de política, de esporte, de energia. Mas, para mim, o melhor do agro são as pessoas que fazem parte desta atividade, especialmente as que estão diretamente envolvidas com a produção, cultivando a terra. Brasileiros que amam seu trabalho, que têm o agro na veia há muitas gerações e, sem dúvidas, são os maiores responsáveis pelo sucesso do país neste ramo. Ao longo da minha carreira, posso dizer que acompanhei de perto algumas transformações importantes e que foram fundamentais para o aumento da produção e da produtividade, como por exemplo a adoção da agricultura de precisão, a chegada das agtechs, os lançamentos, cada vez mais, surpreendentes das máquinas e dos implementos com altíssima tecnologia embarcada e, mais recentemente, a “explosão” no uso de bioinsumos, que tenho certeza é sem volta e revolucionário para o Brasil. Certamente, o país vai liderar também essa área em todo o mundo. 

RC: Nas Melhores do Agronegócio 2023 qual é o resumo e visão das melhores companhias do país e por quê é uma safra de campeões? 

Cassiano: Diante dos desafios que o clima tem imposto à vida na Terra, principalmente a quem depende da natureza para trabalhar e viver, podemos dizer que a safra é de campeões. Produtores, indústrias, instituições de ensino e de pesquisa, os mais diversos profissionais que hoje formam esta atividade no país, todos merecem um troféu. O Melhores do Agronegócio existe para celebrar as conquistas de quem faz parte do agro. Com 19 anos de idade, é o mais tradicional e respeitado prêmio do setor no país, que tem rigor técnico confiável e avaliação da Serasa Experian, nossa parceira nessa iniciativa desde sua criação.


RC: Quais as motivações do aumento de faturamento do setor conforme o ranking? Como foi elaborado este diagnóstico? 

Cassiano: Costumo dizer que o Melhores do Agro dura poucas horas para quem é premiado, mas, para nós na Globo Rural, é um projeto de 12 meses. Janeiro é o mês que sentamos para conversar com a Serasa e pensar nas melhorias a serem feitas. Em fevereiro, abrimos as inscrições e, ao longo de pelo menos 6 meses, é feita uma análise minuciosa de mais de 600 empresas, de fazendas a indústrias de genética vegetal. Elas são separadas em 21 categorias e a partir daí os técnicos da Serasa avaliam todas as respostas dadas pelos inscritos no formulário, que tem ficado cada vez mais rigoroso. Isso mobiliza algumas dezenas de pessoas na Serasa e na Globo Rural. O ranking leva em consideração o desempenho financeiro, social e as ações de sustentabilidade das companhias. Cada critério desse tem um peso dentro da pontuação final, que dá origem ao ranking. No fim, são listadas as campeãs nas 21 categorias e uma comissão julgadora externa, formada por grandes nomes ligados ao setor, vota em mais  quatro empresas para receberem prêmios especiais: a melhor em sustentabilidade, a melhor entre as 500, a melhor entre pequenas e médias (com faturamento de até R$ 78 milhões) e a campeã das campeãs.

Cassiano Ribeiro, jornalista, especializado em agronegócio e MBA em Informações Econômico-Financeiras no Mercado de Capitais. Atua na cobertura de temas ligados ao campo há mais de 15 anos. Iniciou a carreira em uma das maiores consultorias de mercado agrícola, em Curitiba, voltada ao atendimento de produtores. Depois, foi convidado a integrar o núcleo de agronegócio do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom), onde trabalhou por mais de quatro anos na produção de reportagens multimídia para a Gazeta do Povo e na coordenação de expedições que percorriam as principais regiões agrícolas do Brasil. Em 2015, assumiu a edição da revista Globo Rural, sendo responsável inicialmente pelos projetos especiais da publicação. Em 2019, assumiu a chefia de jornalismo e passou a integrar o quadro de colunistas da Rádio CBN. Em 2023, liderou a execução do projeto editorial mais relevante da Editora Globo nos últimos anos, transformando a Globo Rural no hub multiplataforma de conteúdos especializados em agro da Globo, que inclui os jornais Valor Econômico e o Globo, a Rádio CBN, a revista Globo Rural e todos os canais digitais da marca em redes sociais. Lidera atualmente um time de mais de 20 jornalistas e designers, além de colaboradores externos. É responsável pela criação e execução de projetos, eventos e pela interlocução com todo o ecossistema do agro.

"FALAR DE AGRONEGÓCIO É FALAR DE NATUREZA, DE ALIMENTAÇÃO E GASTRONOMIA, DE PESQUISA E INOVAÇÃO, DE POLÍTICA, DE ESPORTE, DE ENERGIA."

RC: Quais os desafios na sua opinião para o agronegócio brasileiro? 

Cassiano: Além dos desafios já conhecidos, de um país com clima tropical e de dimensão continental, como o clima e a infraestrutura, acredito que o campo e todo o ecossistema do agro, exigirão cada vez mais profissionais qualificados, de diferentes áreas e com conhecimento técnico aprofundado. Por isso, sou um grande entusiasta da formação educacional e técnica no setor e acredito muito que essa área vai crescer bastante no agro. Inclusive, posso adiantar que muito em breve teremos lançamentos na Globo Rural que vão nesse sentido, da educação. 


RC: As exigências internacionais dos compradores europeus com políticas de preservação e a polêmica lei antidesmatamento será um grande problema para os produtores brasileiros? Como analisa esta situação? Será um ambiente conturbado? 

Cassiano: Não sei se conturbando, mas certamente de ajustes significativos. O ano de 2024 marca o início dessa transição, com um mercado fazendo exigências rigorosas. Importante ressaltar que isso não é exclusividade do Brasil. As pesquisas mostram que o consumidor global está mudando seus hábitos e buscando ter mais consciência do que consome, seja alimentação ou energia. Isso implica mudanças, sobretudo no lado de quem produz e fornece produtos e serviços.

A lei antidesmatamento é só uma dessas exigências, talvez a mais rigorosa, sim, e que vai exigir investimentos em rastreabilidade em toda a cadeia. Mas, acredito que isso será gradual e não radical, até porque não é algo simples a se fazer.

RC: Como avalia a comunicação do agronegócio em face a mídia estática e digital, e o comportamento dos agricultores e a imagem do setor na comunidade? 

Cassiano: Acredito que a comunicação tem sido encarada cada vez mais como um elo estratégico por toda a cadeia produtiva, mas não na medida necessária. Quando me perguntam se o agro se comunica bem, independente se for com a sociedade ou com o próprio setor, a minha resposta é categórica: ‘não’. Mas se me perguntar se a comunicação do agro hoje é melhor que a de 10 anos atrás, vou dizer “com certeza”! E isso sem dúvida tem a ver com a digitalização da comunicação, com a maturidade e maior consciência de todos que fazem parte desta atividade de que a comunicação precisa ser eficaz, profissional e sem contaminação ideológica, e com o interesse do agro em se comunicar, usando todos os canais disponíveis – e são muitos. Sobre o consumo de mídias, embora no agro a gente ainda veja um comportamento mais conservador em relação ao consumo de informações, é um dos setores que ainda valoriza e consome muito os meios tradicionais como jornais, revistas e rádio. Para nós, comunicadores profissionais, essa é uma excelente notícia. 

RC: E o cooperativismo, qual a sua importância para alavancar o agronegócio e a economia? 

Cassiano: Acredito que as cooperativas são a chave para uma agropecuária mais inovadora, diversa e sustentável. Se hoje o agro brasileiro é uma potência global, com certeza as cooperativas têm um peso crucial nisso. Como diz o ex-ministro Roberto Rodrigues, as cooperativas têm o ESG na veia. E por uma razão muito simples. São organizações formadas por muita gente, de todos os gêneros, raças e idades, com tamanhos de propriedades variados, com desafios comuns e particulares. E todos trabalham juntos pelo sucesso coletivo. Para mim, essa é a receita de mundo ideal. Se todo setor econômico do país fosse mais cooperativista, o Brasil seria muito maior do que é. 


RC: Como paranaense e editor executivo como é ver a Coamo no pódio das campeãs setoriais em as Melhores do Agronegócio e a primeira do PR no ranking? 

Cassiano: Conheço a Coamo há muito tempo. Tive a honra de entrevistar o dr. Gallassini algumas vezes, quando trabalhava na Gazeta do Povo e na Globo Rural. Sou fã dessa e de todas as cooperativas, como pode ter percebido na resposta anterior. Mas confesso que as do Paraná me dão um orgulho danado e óbvio porque tenho uma ligação afetiva com o Estado onde nasci. Gostaria de ver muitas Coamos espalhadas pelo Brasil.

RC: Deixe sua mensagem para os mais de 31 mil cooperados e mais de 9 mil funcionários. 

Cassiano: A esse exército de gente que trabalha de sol a sol, lua a lua, quero deixar o meu abraço solidário e minha admiração por tudo o que fazem. Desejo um 2024 próspero, de saúde, conquistas e realizações. Contem sempre com a Globo Rural e com este jornalista, apaixonado por comunicação e pela atividade que exercem brilhantemente, como um aliado. Espero encontrá-los em uma próxima visita a Campo Mourão.

"Nas cooperativas todos trabalham juntos pelo sucesso coletivo. Para mim, essa é a receita de mundo ideal. Se todo setor econômico do país fosse mais cooperativista, o Brasil seria muito maior do que é."

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