Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 542 | Dezembro de 2023 | Campo Mourão - Paraná

INOVAÇÃO E ENCONTRO DE COOPERADOS

UMA CONQUISTA PARA A PESQUISA

Fazenda Experimental do Mato Grosso do Sul, em Dourados, é um marco para a Coamo. Estação foi inaugurada com encontro de cooperados

Inauguração da Fazenda Experimental Mato Grosso do Sul foi um dia histórico que marca um avanço para o Estado e para o cooperativismo

Aquiles Dias, diretor de Suprimentos e Assistência Técnica da Coamo

Marcelo Sumiya, gerente de Assistência Técnica

Marcos Vinicios Garbiate, coordenador da Fazenda Experimental Mato Grosso do Sul

Airton Galinari, presidente Executivo da Coamo

A pesquisa e a ciência estão no DNA da Coamo. Há 48 anos, a diretoria da cooperativa teve a visão de que era importante ter um laboratório a céu aberto e criou a Fazenda Experimental. Até então, o centro de pesquisas da Coamo estava localizado em Campo Mourão no Centro-Oeste do Paraná. Mas, no dia 6 de dezembro, foi inaugurada mais uma unidade em solo sul-mato-grossense, mas especificamente no município de Dourados. Um dia histórico que marca um avanço para o Estado e para o cooperativismo. 

Juntamente com a inauguração foi realizado o 1º Encontro de Cooperados da Fazenda Experimental Mato Grosso do Sul. O novo laboratório a céu aberto da cooperativa conta com uma área de 70 hectares. Para este primeiro evento foram preparadas cinco estações de pesquisa e uma palestra com Marcos Araújo sobre o "Panorama agrícola 2023/2024". Foram dois dias de evento, o primeiro para os cooperados e o segundo para os técnicos.

Segundo Marcos Vinicios Garbiate, coordenador da Fazenda Experimental Mato Grosso do Sul, a inauguração e o primeiro encontro contaram com uma boa participação dos cooperados. “No primeiro dia tivemos reunidos cooperados de todas as unidades da Coamo no MS. No segundo dia, vieram técnicos e parceiros da Coamo, pois esse alinhamento das informações com eles também é muito importante.” 

Com relação ao planejamento do evento, Marcos afirma que foi feito pensando em temas atuais que de fato possam ser aplicados pelos cooperados nas propriedades. “Para as estações, pensamos em temas regionais do Estado. Montamos uma vitrine para realizar o encontro. Mas toda a extensão da fazenda já começou a ser trabalhada e tem alguns ensaios. Vamos conduzir um trabalho na mesma dinâmica do que é realizado em Campo Mourão, mas com adequações para o Mato Grosso do Sul.”

O gerente de Assistência Técnica da Coamo, Marcelo Sumiya, diz que esse passo é a continuidade de um trabalho que já vem sendo realizado no Mato Grosso do Sul. “Dentro da evolução técnica da Coamo, instalamos essa fazenda para alcançarmos patamares não somente de produtividade, como também uma sustentabilidade no sistema de produção. É uma estabilidade que vem por meio da pesquisa, técnicas de boas práticas agrícolas, amenizando fatores que possam interferir na produtividade dos cooperados.”

A Coamo prima por levar as melhores tecnologias aos cooperados. Para isso, a cooperativa conta com a Fazenda Experimental. “Já tínhamos em Campo Mourão e em Mangueirinha, no Paraná, uma área de experimentação. Como expandimos para o Mato Grosso do Sul havia uma dificuldade em deslocar nossos técnicos e cooperados para participar dos nossos dias de campo e mostrar alguma nova tecnologia. Então, ter uma estrutura de experimentação no Mato Grosso do Sul era um sonho que acalentávamos a bastante tempo”, revela o diretor de Suprimentos e Assistência Técnica da Coamo, Aquiles de Oliveira Dias.

Uma unidade nova que seguirá a tradição construída aos longos desses 48 anos. “A filosofia de trabalho é exatamente a mesma. Vamos ter experimentação agrícola de produtos, novas cultivares, novas biotecnologias, enfim, tudo que está sendo lançado de novo, vamos testar aqui na Fazenda Experimental e isso será transferido aos nossos cooperados. Então, o cooperado não precisa testar nada em sua propriedade. Qualquer produto que, inclusive, ele queira sugerir, testamos, ele vem aqui e vê o resultado. Esse é o objetivo, é um investimento 100% da Coamo e nós abrimos para nossos parceiros, para universidades e institutos de pesquisa para testarmos juntos e o resultado ser levado aos nossos cooperados”, reforça Dias.

Como o Mato Grosso do Sul tem características muito particulares e distintas do Paraná, ter essa estação experimental era uma necessidade, conforme explica o presidente Executivo da Coamo, Airton Galinari. “Como a área de abrangência é muito grande, pois já atendemos praticamente todo o Estado, temos realidades muito diferentes. Então, testaremos as tecnologias, variedades, híbridos, cultivares, produtos, enfim, tudo aquilo que é particular para cada região.” 

Galinari ainda enfatiza que a Fazenda Experimental representa um grande avanço e modernização na tecnologia para os cooperados. “Com a Fazenda Experimental, o cooperado ganha muito tempo. Testando aqui, vamos levar ao cooperado o que está testado e comprovado, seguindo um protocolo muito rigoroso que a Coamo adota. Fazemos parceria e refinamos tudo que chega até o cooperado. É uma alegria oferecer isso aos cooperados que merecem e realmente vão corresponder a esse investimento que a cooperativa está fazendo.”

 

Helder Kuroda, cooperado em Amambai, participou da 25ª turma de Jovens Líderes Cooperativistas e na apresentação do Projeto Integrador de conclusão do curso foi proposta a criação de uma Fazenda Experimental no Mato Grosso do Sul

Alan Aquino Guedes de Mendonça, prefeito de Dourados

Fernando Nascimento, coordenador de Agricultura da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do MS

Este era também um sonho dos cooperados. Helder Kuroda, associado em Amambai, Jovem Líder. Na apresentação do Projeto Integrador de conclusão da 25ª turma do curso, foi proposta a criação de uma Fazenda Experimental no Mato Grosso do Sul. “É algo gratificante, pois a Coamo está sempre nos ouvindo e ao nosso lado, atendendo os pedidos dos cooperados, independentemente de ser um produtor rural grande ou pequeno.”

Kuroda elenca alguns dos benefícios que a novidade traz. “Ter a fazenda experimental aqui, significa que teremos estudos muito mais próximos da nossa realidade, de clima, solo. Sem ter que fazer na nossa fazenda, isso facilitará muito a nossa vida e o planejamento de cada safra. Nesse primeiro evento já aprendi muito. Apesar de ser formado em agronomia, nossa profissão exige atualização constante. Se eu ficar parado no tempo, não consigo expandir e obter melhores resultados”, diz.

 

Impacto econômico 

O evento de inauguração da Fazenda Experimental Mato Grosso do Sul contou com a presença do prefeito de Dourados, Alan Aquino Guedes de Mendonça e do coordenador de Agricultura da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Fernando Nascimento, representando o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel.

O prefeito Alan Guedes falou aos cooperados e lembrou da importância da cooperativa para economia do município. “A Coamo tem sido uma constante incentivadora e investidora no MS e, em especial na nossa cidade. Essa nova Fazenda Experimental tem o objetivo muito claro de difundir tecnologia e de experimentar. Então, vai permitir que os cooperados de Mato Grosso do Sul possam ter a sua disposição, melhores tecnologias mais afeitas ao nosso tipo de solo. É em função desses investimentos e dos resultados que colocam Dourados entre as 100 principais cidades do agronegócio brasileiro. A Coamo tem sido importante para o município, não só pelos investimentos, como pelos empregos que gera”, completa.

Para o representante do Governo do Estado, Fernando Nascimento, essa iniciativa da Coamo é vista com muito bons olhos. “A Coamo em si e os cooperados sul-mato-grossenses já têm uma grande responsabilidade da produção estadual. Cerca de 1/3 da produção de soja e milho são produzidos pelos cooperados da Coamo, e essa nova unidade experimental é fundamental. Toda inovação, toda nova tecnologia tem um custo e esse custo não deve ser absorvido pelo produtor. Ele não deve ter que testar e experimentar, pois isso tem um custo muito alto, e essa unidade vem para evitar que o produtor tenha esse custo.”

 

Programação de inauguração e encontro com cooperados contou também com uma palestra sobre o "Panorama agrícola 2023/2024", com Marcos Araújo

Além das estações de pesquisa, cooperados puderam visitar uma exposição de máquinas agrícolas promovida por empresas parceiras da Coamo

Como preparar a planta para superar períodos de estresse

O estresse vegetal é um dos principais fatores que podem influenciar na redução de produtividade das culturas. Compreender o funcionamento da planta e o ambiente onde ela está inserida é importante para tomar decisões em relação ao manejo das culturas. 

Segundo o engenheiro agrônomo Marcelo Cordeiro de Abreu, da Coamo em Dourados, as plantas possuem mecanismos próprios para reagir aos períodos de estresse, e os produtores podem auxiliar nesses processos. “Não podemos alterar o ambiente, mas melhorá-los com a utilização de tecnologias disponíveis. Um exemplo são produtos que promovem a rápida desintoxicação da planta e contribuem para uma recuperação mais rápida”, diz.

Ele explica que os estresses podem ser bióticos, com ataque de pragas ou doenças, e os abióticos, como altas temperatura, insolação e estiagem. “O índice UV [índice ultravioleta] é frequentemente alto na região do Mato Grosso do Sul, e enfrentamos, também, desafios do veranico. Esses estresses são frequentes, e é necessário preparar a planta. Não se trata apenas de intervir quando a planta já está formada, mas também de melhorar o ambiente produtivo”, comenta e cita melhoria no sistema de produção como um aliado para minimizar os efeitos com os estresses. “Podemos aprimorar a qualidade do solo, da cobertura com palhada e praticar a rotação de culturas. Tudo isso contribuirá para uma expressão genética superior da planta e uma produtividade mais elevada para o produtor”, comenta Marcelo.

Franklin Bilibio (Rio Brilhante), Marcelo Cordeiro de Abreu (Dourados), Natali Silva Gomes (Itaporā) e José Eduardo Frandsen Filho (Maracaju)

Evandro Fagan, da Unipam

Ele acrescenta que é possível fazer ajustes com a planta em desenvolvimento, mas é essencial se preparar antes do plantio. “Realizar um bom planejamento é fundamental. É possível trabalhar com coberturas como braquiária, mix de cobertura e rotação de culturas, melhorando a qualidade do solo para enfrentar os possíveis estresses na cultura principal, a soja”, assinala.

Evandro Binotto Fagan, professor e pesquisador na área de fisiologia de produção no Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam), destaca a importância do desenvolvimento do sistema radicular, que constitui a base para a formação da caixa produtiva, composta por nós, folhas e outros elementos que sustentam a produção de flores e grãos. “Diversos fatores, como a qualidade física, química e biológica do solo, influenciam o crescimento radicular. Sistemas de cultivo com culturas de sucessão e cobertura são fundamentais para proporcionar condições adequadas ao desenvolvimento das plantas. Em alguns casos, é necessário recorrer à utilização de substâncias que mitigam os efeitos do estresse causado por temperatura, luz, falta ou excesso de água.” 

Ele compara a planta a uma máquina que necessita de todos os cuidados para não parar de funcionar. “Isso envolve compreender o funcionamento da planta, minimizar as perdas nos momentos mais desafiadores como, por exemplo, na aplicação de fungicidas ou herbicidas, e lidar com os estresses diários e sazonais de forma eficaz. Temperaturas elevadas associadas à deficiência hídrica representam os estresses mais prejudiciais, porque são os mais difíceis de se controlar.” 

Conforme o pesquisador, o produtor rural precisa pensar no sistema como um todo, adotando mecanismos de cobertura do solo. “O manejo adequado do solo, considerando aspectos químicos, físicos e biológicos, é fundamental. Além disso, é necessário escolher os momentos apropriados para aplicar produtos foliares destinados ao controle de doenças, pragas e plantas daninhas. Em muitos casos, esses produtos podem ser agressivos, exigindo a redução dos efeitos. Isso é crucial para manter o potencial produtivo da planta, assegurando a capacidade contínua de produção e geração de resultados.”

Edson Vicente Palenscki 

São Gabriel do Oeste 


É necessário ser diferente para sermos insuperáveis. É uma satisfação participar desse primeiro encontro de cooperados na Fazenda Experimental do Mato Grosso do Sul. É a concretização de um sonho ter a Coamo presente no Estado e trazendo toda essa estrutura de atendimento para nós.

Sara Donadon Secretti 

Itaporã 


É de muita importância ter uma Fazenda Experimental no Mato Grosso do Sul. Poder ver o desenvolvimento das tecnologias para a nossa realidade ajuda a tomar as melhores decisões. Cada dia de campo é um aprendizado. A pesquisa é realizada em favor o desenvolvimento dos cooperados.

Desempenho das biotecnologias no controle de lagartas em soja e milho

Juarez Kalife Filho 

Dourados 


Ter uma estação de pesquisa no Mato Grosso do Sul é muito importante porque teremos pesquisas dentro da nossa realidade. É uma conquista para que possamos ter melhor resultado no campo. A assistência Técnica da Coamo foi muito assertiva na escolha dos temas abordados nesse primeiro encontro

A incidência de lagartas no campo é algo natural, mas que precisa ser controlada pelo produtor, já que esse tipo de praga pode reduzir o índice de área foliar das plantas e, consequentemente, diminuir o peso de grão e a produtividade da lavoura. Neste sentido, as biotecnologias têm sido importantes aliadas para auxiliar no controle de lagartas e outras pragas, como plantas daninhas. Para tanto, é necessário conhecer o histórico e aplicações de cada uma dessas biotecnologias, pois nos últimos anos tornou-se mais frequente a presença de espécies resistentes. 

O engenheiro agrônomo, Odair Johanns, da Coamo em Caarapó, detalha os pilares de atuação que o produtor precisa desenvolver para adotar uma medida mais eficaz no combate às pragas. “É muito importante a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP), um monitoramento constante no período de desenvolvimento da cultura, bem como direcionar uma área para refúgio”, explica.

De acordo com o agrônomo, isso se deve ao fato de que, mesmo com o uso de biotecnologias, algumas pragas secundárias têm sobressaído, por isso é importante o acompanhamento frequente. Outra ferramenta importante é a definição de um refúgio estruturado, sem o uso de biotecnologias. “A biotecnologia é concentrada especificamente em algumas proteínas e acaba sofrendo uma pressão de seleção se a gente não fizer o refúgio”, comenta Odair. 

A estação também explicou como identificar as principais lagartas da cultura da soja. O produtor deve se atentar para os danos causados por estas lagartas que variam de acordo com o gênero e a espécie. Na apresentação, os técnicos evidenciaram especialmente os danos causados pela Rachiplusia nu, que não se alimenta das nervuras das folhas, atacando somente o limbo foliar, causando danos com aspecto rendilhado. "Se o produtor notar esses aspectos em lavouras que utilizam biotecnologias, isso tende a significar a presença de Rachiplusia nu", conclui Odair.

Wagner Henrique de Borba Bini (Amambai), Odair Johans (Caarapó), Ronaldo Lopes Costa (Bandeirantes) e Marcio Rech (Ponta Porā)

Rogério de Sá Borges, da Embrapa Soja

O pesquisador da Embrapa Soja, Rogério de Sá Borges, explica que se deve ter mais cuidado com determinadas espécies de lagartas, como as spodopteras, incidentes sobre a cultura do milho, e a rachiplusia nu, conhecida como falsa-medideira, a qual tem se tornado mais frequente na soja e que não está contemplada pelo uso de biotecnologias.

O pesquisador detalha que o aumento da incidência da rachiplusia nu está associado à elevação da temperatura média nas regiões produtoras de soja. Considerando uma previsão continuada no aumento das temperaturas, Rogério ressalta a importância dos cuidados para melhorar a performance do manejo anti-resistência.


Manejo de nitrogênio na cultura da soja

José Juracy Silveira Nobre Neto (Caarapó), José Petruise Ferreira Junior (Campo Mourão), Doglas Cândido Braga (Sidrolândia) e Flávio Emilio Pizzigatti (Dourados)

Tadeu Inoue, da UEM

O nitrogênio é o elemento mais importante para alcançar altas produtividades na cultura da soja. A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) é o principal meio de fornecer esse elemento às plantas, com um custo de investimento bastante acessível. O engenheiro agrônomo Flávio Emilio Pizzigatti, da Coamo em Dourados, destaca que o objetivo da estação foi chamar a atenção dos cooperados para a importância do manejo do nitrogênio na cultura da soja.

“Apesar de uma tecnologia já consolidada, observamos que alguns produtores ainda não adotaram a prática. A inoculação, que envolve a fixação biológica de nitrogênio, é essencial para tornar o sistema mais rentável. Se a necessidade de nitrogênio fosse suprida por ureia, por exemplo, a produção de soja no Brasil seria praticamente inviável, demandando cerca de R$ 1.800 por hectare. A fixação biológica, por meio da inoculação, atende a 80% da demanda da cultura. Reforça-se, assim, a importância da prática do manejo do nitrogênio por meio da inoculação e co-inoculação”, destaca.

O pesquisador e professor na área de Solos e Nutrição de Plantas, Tadeu Inoue, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), reforça que a soja é a principal cultura e para que consiga produzir bem e com boa qualidade dos grãos, é necessário o nitrogênio. São necessários cerca de 80 quilos de nitrogênio por tonelada de grãos. “Se tivéssemos que pagar por esse produto na forma de adubação mineral, isso encareceria muito o custo de produção da cultura e inviabilizaria a comercialização. Desde a década de 1970 trabalhamos com essa parte microbiológica. É altamente eficiente na fixação do nitrogênio atmosférico e faz com que o nutriente seja repassado para a planta, reduzindo a necessidade do aporte de nitrogênio mineral via adubação e possibilitando a viabilidade econômica da cultura.” 

Segundo ele, a tecnologia diminui custos e contribui para o desenvolvimento da planta. “Na estação, mostramos como exemplo que se os agricultores tivessem que pagar pelo nitrogênio, teriam um custo adicional de cerca de R$ 1.800 por hectare na safra 23/24. Todos os agricultores sabem da importância do manejo da fixação biológica de nitrogênio para a cultura da soja. Porém, falta um fomento melhor para relembrá-lo que todo ano ele deve realizar a inoculação”, observa.
 
Desafios no manejo de doenças na soja

Mônica Caldeira (Dourados), Juliano Seganfredo (Engenheiro Beltrão), Mateus Gonçalves (Laguna Carapā), e Sidivan Loop (Laguna Carapā)

Maurício Conrado Meyer, da Embrapa Soja

Cada safra tem os seus desafios no controle de doenças na soja. Atualmente, a baixa eficiência dos fungicidas, aliada às mutações genéticas dos principais fungos tem aumentado a complexidade do manejo. O engenheiro agrônomo Mateus Gonçalves, da Coamo em Laguna Carapā, destaca que durante o encontro com cooperados foram apresentadas novas abordagens para o manejo de fungicidas, especialmente no que diz respeito a doenças que a cada ano vem tendo novas mutações e perda de eficácia de produtos. “Precisamos utilizar opções mais eficientes e temos uma variação muito grande dos fungos e dos produtos comerciais”, frisa. 

Segundo ele, os cooperados estão cientes disso, mas é essencial fornecer informações mais atualizadas. “Sempre há novas abordagens surgindo no mercado, como os produtos biológicos. A Coamo testa todas as opções e apresenta a melhor escolha.” Ele cita como exemplo que, no Mato Grosso do Sul, está sendo amplamente utilizada a ‘aplicação zero’, mas que dentro do manejo implementado não tem apresentado bom resultado financeiro. “É uma tecnologia que financeiramente não tem sido vantajosa a longo prazo. Isso é algo que os produtores questionam e desejam fazer, mas ao fornecermos essa informação, eles ficam cientes de que o manejo que já vinha sendo realizado é bem-feito e atende as necessidades.”

Mateus reforça que de maneira geral, os cooperados estão realizando um bom manejo e contam com produtos eficientes fornecidos pela Coamo. “As aplicações que recomendamos são bem executadas e os produtos disponíveis na cooperativa são eficientes, principalmente, os voltados para a utilização antes do fechamento das entrelinhas. É uma prática bem aceita pelos produtores e que vem gerando resultados positivos.”

O pesquisador Maurício Conrado Meyer, da Embrapa Soja, destaca a complexidade do manejo da doença na soja como um grande desafio. Segundo ele, o motivo é a diversidade de pressões da doença em cada safra, variando principalmente por condições climáticas. “Este ano, por exemplo, está sendo complicado para a agricultura brasileira, com a região Sul enfrentando excesso de chuvas e o Centro-Oeste lidando com escassez. São condições que impactam diretamente na incidência e severidade das doenças e na produtividade.”

Ele ressalta que o produtor deve estar atento desde o início da implantação das lavouras. “O controle não deve se restringir apenas durante o ciclo da cultura. Deve haver um planejamento antecipado para cada propriedade. A escolha de cultivares adaptadas e tolerantes às doenças é um fator importante. A cobertura do solo com palhada para evitar a disseminação de fungos remanescentes da cultura anterior, assim como o controle químico e biológico ajuda a reduzir o avanço da resistência dos fungos aos fungicidas. O manejo eficaz requer acompanhamento constante da incidência e dinâmica da evolução das doenças na lavoura”, acrescenta o pesquisador.

Maurício explica que o clima chuvoso e úmido deste ano amplia os desafios, especialmente no caso da ferrugem. “Cada safra depende da adequação do manejo ao sistema produtivo. O controle de doenças na soja não é uma decisão isolada para um ciclo específico. Ao contrário, requer um planejamento contínuo e ações ao longo dos anos para lidar com deficiências no controle químico dos fungicidas e otimizar a eficiência do programa de controle.”

 

Plantas daninhas de difícil controle e o manejo de Sorghum spp

Um dos principais problemas da agricultura é o manejo de plantas daninhas. Atualmente, além das resistentes a herbicidas, há um outro fator de contaminação das cargas de soja e milho por plantas daninhas proibidas na China, e isso tem causado problemas no processo de exportação das culturas. Uma das estações do encontro com cooperados abordou esse assunto. 

O engenheiro agrônomo, Elvison Alves da Cruz, da Coamo em Itaporã, destaca que a estação focou no manejo de plantas daninhas de difícil controle, com atenção voltada para o Sorghum spp, conhecido popularmente como vassourinha ou capim massambará. O agrônomo ressalta a relevância econômica dessa praga, pois a presença mínima de suas sementes em produtos exportados pode resultar em prejuízos financeiros e impactar as relações comerciais com o mercado externo.

Elvison observa que o problema não é exclusivo do Mato Grosso do Sul e a sua presença tem se tornado mais frequente em todo o Brasil. A estação tratou tanto o pré-plantio, com a adição de pré-emergentes, quanto o controle pós-emergência na cultura do milho e da soja. “A ‘vassourinha’ é uma preocupação tanto no verão, durante o cultivo da soja, quanto na segunda safra de milho. A incidência crescente no verão tem gerado preocupações, especialmente em relação à colheita de soja”, diz. 

Ele observa que a ‘vassourinha’ também pode afetar a produtividade e reduzir a rentabilidade dos cooperados. “Portanto, é crucial implementar estratégias de manejo eficazes para enfrentar esse desafio crescente na agricultura”, frisa.

O pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja, ressalta que o assunto abordado no encontro com cooperados é de extrema importância devido a crescente resistência de plantas daninhas em todo o mundo, com ênfase no Brasil e, sobretudo, na região Centro-Oeste, especialmente aquelas resistentes a herbicidas, incluindo o glifosato. 

Ele diz que um ponto crucial é a questão do Sorghum spp e sua produção de sementes que estão se alastrando. “Os produtores devem ter atenção para o controle dessa planta daninha. O crescimento rápido da planta demanda alternativas de herbicidas em pré e pós emergência, sendo importante considerar tanto o controle químico quanto o cultural, incluindo o uso de palhada.”

O pesquisador reforça a importância de atuar preventivamente, impedindo o crescimento desde o início, seja por meio de herbicidas emergentes ou com pós emergentes em plantas pequenas.

Fernando Adegas, da Embrapa Soja

Marcelo Balão (Amambai), Elvison Alves da Cruz (Itaporā), Hugo Lorran de Melo Rocha (São Gabriel do Oeste), José Vinicius dos Santos Zanzi (Maracaju)

Equipe técnica da Coamo responsável pela apresentação e coordenação do primeiro encontro de cooperados na Fazenda Experimental do Mato Grosso do Sul, em Dourados

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