Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 561 | Setembro de 2025 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

 

NATALINO AVANCE DE SOUZA

Diretor-presidente do IDR-PR

"O futuro da agricultura depende de inovação, sustentabilidade e da permanência dos jovens no campo."

O desenvolvimento rural do estado paranaense tem avançado com a atuação direta do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), que integra pesquisa, extensão e políticas públicas voltadas ao fortalecimento da agricultura no estado. À frente do instituto está o diretor-presidente Natalino Avance de Souza, que ressalta o papel da pesquisa em áreas como solo, melhoramento genético, processos produtivos e práticas sustentáveis, além da assistência técnica voltada para ampliar a renda e a qualidade de vida dos agricultores.

Em entrevista à Revista Coamo, Natalino aborda os principais programas e desafios do setor, como as mudanças climáticas, a inovação tecnológica, a sucessão familiar e a agregação de valor na produção. Ele também destaca a relevância da diversificação de culturas, da sanidade animal e vegetal, e da sustentabilidade. "O IDR-Paraná tem o cooperativismo no seu DNA", afirma.

Revista Coamo: O IDR-Paraná tem trabalhado em diversas frentes de pesquisa e assistência técnica. Quais são hoje as principais linhas de atuação do instituto junto aos agricultores?
Natalino Avance de Souza: O IDR-Paraná atua no desenvolvimento rural do estado por meio de pesquisa e assistência técnica. Na área de pesquisa, foca em solo, melhoramento genético de plantas e processos produtivos. Na assistência técnica, busca aumentar a renda e qualidade de vida dos pequenos agricultores, promovendo a sustentabilidade no Paraná.

RC: Nos últimos anos, a agricultura paranaense tem enfrentado desafios relacionados ao clima. De que forma o IDR-Paraná tem apoiado os produtores para lidar com esses riscos e reduzir perdas?
Natalino: A agricultura é sem dúvida, uma indústria a céu aberto. O clima tem mudado muito, com impacto severo na atividade agrícola. Os principais prejuízos são vistos no solo e na escassez hídrica, com consequências na produção e na renda dos produtores. O IDR-Paraná tem focado na ação de manejo e cobertura dos solos e segurança hídrica. O programa Irriga Paraná é uma política pública implementada nessa direção, assim como existem diversos programas de governo para ajudar os agricultores a continuar o seu processo de produção, mas com segurança.

RC: A inovação tecnológica tem sido um diferencial no campo. Quais tecnologias ou práticas sustentáveis o instituto tem incentivado junto aos agricultores?
Natalino: A agricultura ainda é uma atividade penosa, o que afasta os jovens do campo. Para mudar esse cenário, o IDR-Paraná tem atuado em parceria com universidades no desenvolvimento de ferramentas e máquinas que reduzam o esforço no trabalho rural. O setor de pesquisa do instituto foca especialmente em


Foto de Natalino Avance de Souza, engenheiro agrônomo.

Natalino Avance de Souza é engenheiro agrônomo formado pela Fundação Faculdade de Agronomia Luiz Meneghel, de Bandeirantes (PR), em 1978. Nesse mesmo ano ingressou na Acarpa, que se transformou em Emater e hoje é o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater (IDR-Paraná), vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Ocupou o cargo de secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, maio de 2024 a abril 2025. Durante a carreira atuou como extensionista em Assis Chateaubriand, Toledo, Paranavaí e como gerente regional em Irati. Em 2005 concluiu o curso de mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná. Foi ainda presidente da Ceasa (Centrais de Abastecimento do Paraná) de 2013 a 2018 e coordenou o processo de incorporação das entidades que formam o IDR-Paraná.

inovações que tornem a atividade mais atrativa e compatível com os avanços de outras áreas da economia.

RC: O Paraná é referência nacional em produtividade agrícola. Na sua visão, quais são os fatores que sustentam esse desempenho e o que ainda pode avançar?
Natalino: A revolução da agricultura no Paraná foi impulsionada por fatores como mecanização, pesquisa, assistência técnica e um forte arranjo organizacional. O estado possui o melhor ambiente institucional do Brasil para o setor, com destaque para o papel das cooperativas, Ocepar, IDR-Paraná, Adapar e universidades. Esses elementos continuam ativos, garantindo que a agricultura paranaense permaneça forte, competitiva e em constante desenvolvimento.

RC: Como o IDR-Paraná tem atuado na área de diversificação de culturas e agregação de valor à produção, especialmente para pequenos e médios agricultores?
Natalino: O Paraná já é o estado mais diversificado do Brasil e pratica uma das melhores agriculturas. O seu VBP (Valor Bruto da Produção) é composto por mais de 300 produtos agropecuários. O VBP é o mecanismo que mede a renda que se produz hoje em cada município, em cada propriedade, portanto ela é uma medida oficial. A sua capacidade de agroindústria vai da exportação à agroindústria familiar.


 

"A AGRICULTURA DO PARANÁ SE FORTALECE COM ASSISTÊNCIA TÉCNICA PESQUISA, SUSTENTABILIDADE, INOVAÇÃO E COOPERATIVISMO.”

O IDR-Paraná tem buscado melhorar a densidade de renda dos pequenos e médios produtores, estimulando o tipo de novos produtos mais rentáveis e a transformação em regime familiar. Para garantir que o homem do campo tenha renda, que as pequenas propriedades continuem sobrevivendo com condições dignas.

RC: A sucessão familiar rural é uma preocupação crescente. Quais ações o instituto desenvolve para apoiar os jovens no campo e garantir a continuidade da atividade agrícola?
Natalino: Hoje, no estado do Paraná, 87% da população vive nas cidades. O jovem vai ficar no campo se ele tiver mais renda, internet e qualidade de vida. O governo do Paraná tem investido em estradas rurais, na criação de um programa de conectividade rural, para alterar esse quadro de atração dos jovens pelas luzes do urbano. A Secretaria de Estado da Agricultura, Secretaria de Estado da Inovação e o IDR-Paraná, estão imbuídos de criar esse ambiente rural mais atrativo. Isso é antes de tudo uma questão de cidadania. O jovem é fundamental para uma agricultura com mais inovação. Então existe toda uma disposição governamental de trabalhar a participação desse público nas organizações sociais, nas cooperativas e na gestão das propriedades.

Natalino Avance de Souza, diretor-presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR).

Natalino Avance de Souza, diretor-presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR)

RC: A sustentabilidade ambiental é um tema cada vez mais presente na agricultura. De que forma o IDR-Paraná tem orientado os produtores quanto ao uso racional dos recursos naturais e à preservação ambiental?
Natalino: Sustentabilidade é um selo do Paraná, que é o estado mais sustentável do Brasil. Ser sustentável é preservar nosso principal patrimônio, que é o solo. O IDR-Paraná tem atuado em manter a competitividade da agricultura sem degradar o meio ambiente. Esse é o nosso compromisso, a essência do programa de microbacia que está em construção com o Banco Mundial, que visa estimular a adoção de práticas conservacionistas sem perder o foco na renda e na produção.

RC: A sanidade animal e vegetal é fundamental para a competitividade do Paraná nos mercados interno e externo. Quais ações o instituto vem promovendo para apoiar os produtores nessa área?
Natalino: A sanidade animal e vegetal é a chave para os nossos produtos acessarem o mercado mundial. O mundo em 2050 terá mais de 10 bilhões de pessoas precisando se alimentar. O Paraná é considerado o supermercado do mundo, hoje nós exportamos para mais de 170 países. No futuro vamos ter o dobro de gente querendo comprar e temos que fazer nossa lição! Quem não tiver sanidade e sustentabilidade, não vai vender. O IDR-Paraná vai assessorar todos os municípios para reativar os seus conselhos de sanidade para que esse aspecto nunca seja relegado.


"O desenvolvimento da agricultura paranaense passa pela pesquisa, pela assistência técnica, pela inovação tecnológica e pelo cooperativismo, pilares que garantem competitividade e renda ao produtor."

RC: O cooperativismo tem grande força no Paraná. Qual é a importância das cooperativas agrícolas para o desenvolvimento do setor rural do Estado?
Natalino: O Paraná tem o melhor cooperativismo do Brasil. Das maiores cooperativas do Brasil, a maioria é do Paraná, e são frequentemente citadas entre as melhores. A Coamo é a nossa maior cooperativa. Esse cooperativismo forte tem sido fundamental para o desenvolvimento da nossa economia. Nosso cooperativismo hoje é destaque nacional.

RC: Em sua avaliação, como a parceria entre entidades como o IDR-Paraná e as cooperativas pode contribuir ainda mais para fortalecer a agricultura paranaense?
Natalino: Me referi na pergunta anterior que o ambiente organizacional existente no estado do Paraná, que classifico como o melhor ambiente organizacional do Brasil. Isso permite a construção de ações e estratégias. O IDR-Paraná tem o cooperativismo no seu DNA. Nós participamos da criação da maioria das cooperativas do estado que hoje são destaques nacionais. Nossa relação com a Ocepar é a melhor possível. Queremos ajustar planos de trabalho com cada cooperativa e reforçar a parceria tanto no que tange a pesquisa agropecuária como assistência técnica e extensão rural.

RC: O senhor acredita que o Paraná está preparado para manter sua posição de destaque nacional na produção agrícola nos próximos anos? Quais pontos merecem atenção especial?
Natalino: O Paraná não conseguiu esse destaque por acaso. Sempre estará preparado para ser o melhor estado agrícola da nação. Existem ajustes que precisam ser feitos e temos consciência disso. Manejo, cobertura do solo, uso mais adequado de produtos químicos, segurança hídrica, menor custo de transporte para os nossos produtos serem mais competitivos, mais agregação de valor. Isso vem ocorrendo devagar, mas pode melhorar. Nós queremos ser parceiros nesses desafios.

RC: A Coamo representa milhares de cooperados em várias regiões. Que mensagem o senhor deixa sobre o papel da organização coletiva no futuro do agronegócio?
Natalino: A Coamo é orgulho para o Paraná, da extensão rural. O seu presidente é um extensionista, e nos envaidece muito ter José Aroldo Gallassini como presidente da principal cooperativa do estado. O seu corpo de dirigentes é comprometido. A Coamo fez de Campo Mourão uma referência nacional e faz a diferença na vida dos agricultores. Obrigado Coamo por ser tão competente e ligada à extensão rural.

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.