Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 445 | Março de 2015 | Campo Mourão - Paraná

Cultura

A ARTE DOS OVOS PINTADOS

Em Roncador, famílias mantêm viva a história e costumes ucranianos

Atradição ucraniana vem sendo mantida ao longo dos anos. Na  época da Páscoa, a cultura surge com mais força reverenciando os costumes trazidos da Ucrânia. Em Roncador (Centro-Oeste do Paraná) cerca de 800 famílias vieram ou são descendentes de imigrantes ucrânianos. Número este que representa cerca de 30% da população local.

Um dos hábitos que se perpetuando ao longo da história na cidade, principalmente no período que antecede a Páscoa, é a produção de pêssankas – pintura em ovos.

Segundo historiadores, os ovos representam a fertilidade, a saúde e a prosperidade, e antigamente eram apontados como símbolo mágico, significando o surgimento da vida.  Assim, os ucranianos mostravam seus sentimentos com o  ato de produzir pinturas nos ovos coloridos.

“Aprendi a fazer pêssanka com a minha mãe, sinto-me extremamente feliz com isso e em continuar fazendo e repassando a tradição aos mais novos.” Maria Bodnar

Dona Maria Bodnar é um bom exemplo. É uma descendente que colabora para continuar a tradição na comunidade.  “Fazem seis anos que faço a pêssanka com mais regularidade, mas quando criança via minha mãe fazendo,  era muito bonito, já passou mais de 40 anos e ainda lembro bem”, conta.

De poucas unidades para uma quantidade maior. Essa foi a transformação na vida de Maria Bodnar de uns anos para cá. Ela  passou a fazer pêssanka praticamente o ano todo para atender um bom número de  pedidos que chegam do setor de Turismo do Município para entregar aos visitantes e também de pessoas da própria comunidade. 

Mas ela adianta que quem não tem paciência não faz um trabalho bem feito, pois cada ovo (pêssanka) demora entre um dia e meio a dois dias para ser confeccionado. “Tem que ter dom, tem que gostar e levar jeito e o silêncio é necessário. Para mim,  fazer pêssanka é uma verdadeira terapia.”

COMEÇO – Segundo a artista, o primeiro passo é escolher o ovo e saber o que quer fazer. Em seguida, faz-se  um risco com lápis mas ainda não dá para saber o que vai se formar. Cobre-se o ovo com cêra,coloca a cor em cima do desenho, do suave para o mais forte e deixa o preto por último. Então, retira-se a cera que protege as cores e o formato do desenho, e está criada uma obra de arte.  Uma das dificuldades que Bodnar aponta para a produção é encontrar a  tinta, que além de difícil de achar tem custo considerado alto. “A gente compra tudo em Prudentópolis, que é o ´Vaticano ucraniano no Brasil´, informa.

O MARCO DA TRANSIÇÃO

O historiador Eduardo Sganzerla, em “Pêssankas: a arte ucraniana de decorar ovos”, informa que o Paraná é o estado com o maior número de artesões e o final da década de 50 foi determinante para que a pêssanka deixasse de ser apenas uma tradição na páscoa dos ucranianos para ser uma arte. Em 1957 a pioneira Maria Kirylowicz Voloschen levou a técnica de pintar ovos no estilo ucraniano formando a primeira turma na atual Sociedade Ucraniana no Brasil, com sede em Curitiba.

RITO PASCAL

Segundo a tradição, cerca de 20 dias antes da Páscoa as famílias começam a riscar os ovos e depois iniciam a pintura. Antigamente, devido as dificuldades financeiras era costume as famílias se presentearem com as pêssankas ao invés dos ovos de páscoa.

No período da Semana Santa, não há consumo de nenhum tipo de carne para os ucranianos que seguem o rito católico. No sábado pascal, durante a missa da ressurreição, alimentos são benzidos para serem consumidos e as pêssankas presenteadas no Domingo de Páscoa.

PARANÁ TEM 81% DOS UCRANIANOS NO BRASIL

O Brasil conta atualmente com cerca de  500 mil descendentes ucranianos,  dos quais 96,5 % nascidos no Brasil e 81 % morando no Estado do Paraná. Os outros 19% estão distribuídos no Norte de Santa Catarina,nas regiões de  Canoas e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e também em São Caetano do Sul, em São Paulo.

No Paraná, Prudentópolis, no Centro-Sul , se destaca sendo “O  coração da Ucrânia no Brasil”. Dos 50 mil habitantes, cerca de 70%  são descendentes de imigrantes ucranianos que chegaram no século 19.  Já os outros 30% são descendentes de  italianos, poloneses e alemães.

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