Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 466 | Janeiro/Fevereiro de 2017 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“A AGRICULTURA OCUPA 8% DO NOSSO TERRITÓRIO; PRODUZIMOS MUITO COM POUCO, ISTO É SINAL DE EFICIÊNCIA.”

Blairo Maggi, ministro da Agricultura

O produtor rural, engenheiro agrônomo e senador, Blairo Maggi, paranaense de São Miguel do Iguaçu, no Oeste Paranaense, onde nasceu em 1956 e registrado na cidade de Torres, litoral gaúcho, é o entrevistado desta edição da revista Coamo. “Sou paranaense pois nasci aqui, mas sou gaúcho pois lá fui ´gerado´ e ´registrado´ em Torres”, conta Maggi, que adulto mudou-se para o estado do Mato Grosso, na região Centro-Oeste do Brasil. Lá construiu uma carreira de sucesso, sendo o grupo que leva o seu sobrenome um dos principais na exportação de soja do país e ele é considerado um dos maiores produtores individuais de soja do mundo. 

No campo político, nas eleições de 1994 ele foi eleito suplente de senador, governou por duas vezes o Estado do Mato Grosso (em 2002 e 2006), e depois senador nas eleições de 2010. Em maio de 2016, Maggi assumiu o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Formado em agronomia na Universidade Federal do Paraná, ele decidiu seguir os passos do pai, pequeno agricultor, investindo no cultivo da soja em áreas inexploradas, o que o levou ao Mato Grosso.

Revista Coamo: Ministro Blairo Maggi, qual é a importância do cooperativismo para o agronegócio?

Blairo Maggi: Bom, é de extrema importância, já visto que os grandes volumes de produção agrícola que a gente tem, a grande parte vem do setor do cooperativismo pelo trabalho das cooperativas, as quais mantêm uma relação importante com os produtores associados transferindo renda para eles e obviamente fazendo receita para o processo industrial. Isso é a verticalização da nossa atividade, em vender soja e milho, e ele também está vendendo uma proteína que vale muito mais, que tem um valor no mercado internacional, então a importância das cooperativas é basicamente isso, elas reúnem milhares de produtores e os colocam no processo integrado onde todo mundo ganha, graças ao cooperativismo.

RC: Como analisa o cooperativismo do Paraná, seus resultados e atividades?

Maggi: Eu venho do Centro-Oeste do país, onde predominam grandes culturas e grandes produtores. O setor do agronegócio é gigante e complexo, mas quero conhecer e aprender mais, viajar o país para conhecer as diferentes realidades do setor produtivo. Eu venho ao Paraná e fico impressionado, aqui no Paraná, o cooperativismo deu certo. Não só neste Estado, mas no Sul do Brasil, é um modelo muito forte que levou a diversificação da economia, já que está em várias frentes, não só na agricultura, mas na avicultura, na cadeia de suínos e bovinos, nos lácteos, na industrialização e na comercialização. E há de ressaltar a própria organização e gestão do sistema cooperativo.

RC: O senhor em visita a Ocepar em 2016 conheceu o PRC 100, qual sua avaliação deste programa do cooperativismo paranaense?

Maggi: A proposta do Sistema Ocepar de implantar o Planejamento Estratégico, o PRC 100 é um exemplo de gestão no sistema cooperativo. O propósito de dobrar o faturamento das cooperativas paranaenses nos próximos anos, saindo de R$ 50 bilhões para R$ 100 bilhões, é um olhar para o futuro e ao mesmo tempo, criar as estratégias para chegar lá.

RC: O setor cooperativista poderá ter apoio do Ministério da Agricultura para desenvolver suas ações e seu plano de expansão?

Maggi:  Sem dúvida que sim, o cooperativismo é um setor importante que vai continuar tendo atenção do governo, e esse apoio já vinha acontecendo, pois temos uma área dentro do ministério voltada ao cooperativismo. Vamos reformular o ministério e dar um novo status a esta questão, e contribuir para o seu desenvolvimento e fortalecimento.

RC: Quais novidades podemos esperar com relação a pesquisa?

Maggi: Sou muito entusiasta em relação à biotecnologia, mas também tenho algumas preocupações. Estamos pagando para usar biotecnologia para resolver, por exemplo, a questão da lagarta. Voltamos a usar inseticidas para combater pragas secundárias. Temos que tomar cuidado com isso. A biotecnologia resolve um problema, mas cria outro. Precisamos agir, e estimular as empresas para que façam um contraponto no uso da biotecnologia, temos  que organizar o meio ambiente.

RC:  Quando parlamentar o senhor acompanhou a questão do novo código florestal.

Maggi: O Brasil tem a lei ambiental mais dura do mundo e também a que mais penaliza. Por outro lado, somos o país que mais preserva e mesmo assim, somos muito criticados. Hoje 61% do território nacional está preservado, ou seja mais da metade do nosso território está do mesmo jeito de quando Pedro Alvares Cabral chegou aqui. Desse total, 11% são preservados pelos produtores sem nenhuma remuneração ou contrapartida. Nenhum outro país faz isso. Os levantamentos da Embrapa mostram que no mundo, no máximo 12 países possuem um tamanho territorial relevante, ou seja, tem uma área superior a 2,5 milhões de Km². Este é o caso do Brasil com 8,5 milhões de km². Nenhum desses países preserva mais de 8% do seu território. O Brasil é exceção pois preserva 61% de sua área.

RC:  E a agricultura brasileira produz muito em uma área pequena.

Maggi: É verdade, a agricultura ocupa apenas 8% do nosso território, isto significa que produzimos muito com pouco, isto é sinal de eficiência e temos que mostrar ao mundo o quanto preservamos o meio ambiente. O Brasil é um exemplo nessa área e recebe críticas de todo mundo. Reclamam que não respeitamos a Amazônia, que não respeitamos os índios, que não cuidamos dos rios. Mas só falam, porque na prática ninguém preserva como nós. Então o Brasil tem que dar um grito de independência.

RC: Ministro, qual a importância de eventos técnicos para os produtores e como analisa a tecnologia repassada para o desenvolvimento do agronegócio e da cadeia produtiva?

Maggi: Sem dúvida nenhuma, os dias de campo e eventos tecnológicos promovidos em benefício dos produtores tem o objetivo de transferência de tecnologia, e a troca de informação entre os próprios produtores e os apresentadores criadores das tecnologias. Assim, os produtores usuários das tecnologias vêem as coisas funcionando e não só imaginando como seriam, mas na prática. Isso ajuda o produtor conhecer as novidades e tomar a decisão certa na hora de fazer os investimentos com o uso de tecnologias modernas.

RC: Qual a sua mensagem para o agricultor nesse momento de crise do país, em que agronegócio continua alavancando a economia.

Maggi: Olha, tem duas coisas que quebra o homem, que quebra o agricultor e o empresário. Uma é a falta de dinheiro e a outra é o excesso de crédito, então sempre que a gente vai bem tem mais oferta de crédito, mas tem que saber que no ano seguinte não será a mesma situação. É preciso sempre fazer as coisas com parcimônia e tranquilidade. O produtor rural está de parabéns pois o Brasil vai colher esse ano a maior safra da sua história e todo mundo pode falar o que quiser, que foi o crédito na hora certa, assistência técnica, as máquinas, mas sem o homem, sem o agricultor nada funciona, então parabéns a todos os agricultores.

Blairo Maggi, ministro da Agricultura

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