Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 471 | Julho de 2017 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

"PESQUISA BRASILEIRA ESTÁ NA FASE ADULTA E COLHE BONS FRUTOS."

O engenheiro agrônomo Fernando Storniolo Adegas, é pesquisador da Embrapa Soja, atuando na área de Manejo de Plantas Daninhas com ênfase em ecologia, manejo, resistência a herbicidas e tecnologia de aplicação. Fez Mestrado em Fitotecnia/Plantas Daninhas – ESALQ/USP, em 1994, Especialização em Mecanismo de Ação de Herbicidas – Purdue University (USA), em 2002, Doutorado em Agronomia – Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 2005, e Pós-doutorado – Colorado State University (USA), 2011/12.

"Sem dúvida nenhuma, a minha maior motivação foi, e ainda é, poder contribuir com o desenvolvimento da agricultura nacional, auxiliando os técnicos e agricultores a melhorar o sistema produtivo, com lucratividade e de forma sustentável." A citação é do engenheiro agrônomo Fernando Storniolo Adegas, pesquisador da Embrapa Soja, atuando na área de Manejo de Plantas Daninhas com ênfase em ecologia, manejo, resistência a herbicidas e tecnologia de aplicação. Na entrevista deste mês da Revista Coamo, ele aborda os trabalhos da pesquisa e os desafios para o setor produtivo.


Revista Coamo: Como o senhor iniciou o trabalho na pesquisa?

Fernando Storniolo Adegas: Logo após a minha graduação fiquei durante seis meses trabalhando em um projeto de pesquisa no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), após isto vim ao Paraná para trabalhar na antiga ACARPA, hoje Emater-PR, atuando como extensionista junto aos produtores rurais. Só voltei à área de pesquisa quando fui realizar o meu mestrado na ESALQ/Piracicaba. A partir de 1998 cheguei na Embrapa Soja em um projeto de parceria com a Emater-PR e depois ingressei, via concurso, definitivamente na equipe de pesquisa da Embrapa Soja.


RC: O que mais motivou nesses anos todos? Qual o maior desafio que encontrou em seu trabalho?

Adegas: Sem dúvida nenhuma, a minha maior motivação foi, e ainda é, poder contribuir com o desenvolvimento da agricultura nacional, auxiliando os técnicos e agricultores a melhorar o sistema produtivo, com lucratividade e de forma sustentável. O maior desafio foi antever os problemas que apareceram nos últimos anos, especialmente os relacionados a resistência de plantas daninhas a herbicidas. Agora o desafio é gerar conhecimento e tecnologias para conviver e minimizar esta situação.


RC: Como o senhor avalia o trabalho da pesquisa agropecuária brasileira nas últimas cinco décadas?

Adegas: Se fosse uma pessoa, poderíamos dizer que a pesquisa agropecuária brasileira está na sua fase adulta. Isto significa que atingimos uma etapa de maturidade, colhendo muitos dos frutos semeados nas últimas décadas. Temos o orgulho de dizer que a pesquisa agrícola realizada pelas diversas instituições atuantes no setor, sejam públicas como a Embrapa, as Universidades e as Empresas Estaduais, sejam as privadas como as fundações, as cooperativas e outras, foram fundamentais para desenvolverem a base da tecnologia agrícola para regiões subtropicais e tropicais típicas do Brasil, transformando o país de importador agrícola em meados do século passado, em uma potência agrícola do mundo atual.


RC: As novas biotecnologias terão novos desafios? E quais os impactos no manejo de plantas daninhas?

Adegas: As próximas biotecnologias relacionadas a tolerância à herbicidas, como os sistemas Enlist (a base de 2,4-D) e XTend (a base de dicamba), serão mais uma opção que os produtores terão de utilização de herbicidas atualmente não seletivos para a soja, dentro da cultura. No entanto é oportuno salientar que nenhuma destas tecnologias será a solução para todos os problemas e situações da nossa agricultura, pois são tecnologias específicas para controle de determinadas espécies de infestantes. Além disto, como existem diversas regiões do país com cultivo de culturas de outono/inverno, os grãos remanescentes nas áreas de cultivo podem germinar e se transformar em plantas voluntárias para a cultura em sucessão, com necessidade de controle, como uma planta daninha normal.


RC: Qual é o papel do engenheiro agrônomo nesse "novo" cenário?

Adegas: Todo este novo contexto relacionado ao manejo de plantas daninhas traz como consequência, a necessidade de maior conhecimento técnico para a convivência com este problema. Neste cenário, o engenheiro agrônomo será figura central, tanto para buscar os conhecimentos e tecnologias geradas pela pesquisa, como realizar a implementação das mesmas, especialmente através do Manejo Integrado de Plantas Daninhas.


RC: Quais as possíveis novas resistências que poderão surgir nos próximos anos?

Adegas: É muito difícil fazer uma previsão sobre quais podem ser as próximas plantas daninhas resistentes a herbicidas. Mas, como o herbicida mais utilizado é o glifosato, a probabilidade de aparecimento de novos casos de infestantes resistentes a este herbicida pode ser considerada maior.


RC: E quanto as estratégias de manejo para evitar e retardar essas resistências?

Adegas: A principal estratégia é a adoção do Manejo Integrado de Plantas Daninhas, que didaticamente podemos definir como sendo a seleção e a integração de métodos de controle e o conjunto de critérios para a sua utilização, com resultados favoráveis dos pontos de vista agronômico, econômico, ecológico e social.


RC: Os produtores têm feito a sua parte, mas qual é o principal desafio?

Adegas: O principal desafio é diminuir o empirismo e aumentar o conhecimento científico, destacando quatro áreas estratégicas: biologia e ecologia das plantas daninhas; as relações de interferência entre as plantas daninhas e a cultura; a amostragem e parâmetros de controle; e a eficácia na seleção e no uso dos métodos de controle, balanceando a importância de cada um dentro do planejamento de manejo na propriedade, como o preventivo, o cultural, o mecânico e o químico, especialmente a rotação de herbicidas.


RC: Como o senhor observa o cooperativismo como instrumento de geração de renda e desenvolvimento?

Adegas: Um dos grandes pilares do desenvolvimento da agricultura nacional foi o sistema cooperativista, que proporcionou a união de produtores, das mais diferentes categorias e origens, em torno de um objetivo comum, que é viabilizar a produção agropecuária de cada propriedade ligada a cooperativa. Neste sentido, a Coamo pode ser considerada como um dos grandes exemplos de sucesso, pois se transformou em uma das principais cooperativas do setor agropecuário do mundo, cujo resultado mais importante pode ser observado pela eficiência obtida pelos seus associados.


RC: O senhor tem participado regularmente dos eventos e encontros com associados da Coamo na Fazenda Experimental. Como avalia este trabalho direto com os associados?

Adegas: Para mim, estes eventos têm sido uma grande oportunidade de troca de experiências com os usuários finais das informações e tecnologias geradas pela pesquisa, bem como de prospectar novas situações de pesquisa de acordo com as necessidades mostradas pelos produtores. Espero que os encontros na Fazenda Experimental continuem por muito tempo, pois têm se mostrado fundamentais para o desenvolvimento dos cooperados da Coamo e consequentemente, de todo setor produtivo da região.

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.