Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 471 | Julho de 2017 | Campo Mourão - Paraná

SUCESSÃO NO CAMPO

AGORA, É COM ELES

Acostumado a trabalhar em família, ‘seo’ Agostino Dalchiavon, de Honório Serpa, está passando pelo processo de sucessão com tranquilidade e seriedade. As atividades são desenvolvidas, de forma mais efetiva, em parceria com o filho Maico

É cada vez maior o número de jovens que assumem o comando dos negócios da família nas propriedades rurais. A maioria deles mantém uma tradição passada por gerações. Uma relação de confiança, onde a união da experiência com a juventude tem dado certo neste processo.

As lições recebidas dos pais, pelos filhos, é a base para o sucesso de uma boa sucessão familiar. Quanto mais cedo houver esta interação, melhor será a gestão dos negócios pelo sucessor da família. E, normalmente, quando são bem orientados, os filhos não só dão sequência ao trabalho como vão além, conduzindo os negócios para o sucesso.

Os pais têm um papel importante neste processo, já que, pela ordem natural da vida, tudo o que o pai construiu deve seguir na mão dos filhos em determinado momento. Eles herdam dos pais muito mais que traços genéticos. Afinal, os pais são as maiores influências na formação das crianças. Os exemplos cultivados dentro da família e durante a rotina de atividades da propriedade são decisivos na formação da carreira e também ajudam a construir a personalidade destes sucessores, que desde muito cedo têm um forte contato com o trabalho no campo.

Contudo, em muitos casos, a sucessão acaba sendo um grande desafio que deve ser enfrentado com profissionalismo e dedicação para que não se torne um grande problema. Para se ter uma ideia, quase um terço das propriedades rurais brasileiras foi obtida por herança, o que torna a sucessão um dos assuntos de maior relevância no campo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 5,2 milhões de estabelecimentos rurais no país, 1,5 milhão teve patrimônio passado entre os membros familiares. O desafio, no entanto, é fazer o negócio atravessar gerações. Outro dado do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), aponta que apenas um em três empreendimentos chega à segunda geração, e só uma minoria passa para a terceira. Não é a toa que uma das expressões que mais ilustram essa dificuldade é categórica: “pai rico, filho nobre, neto pobre”.

A expressão está longe do pensamento da família Dalchiavon, de Honório Serpa (Sudoeste do Paraná). Acostumado a trabalhar em família, ‘seo’ Agostino está passando pelo processo de sucessão com tranquilidade e seriedade. Nascido em Sarandi (Noroeste do Rio Grande do Sul), ele começou a trabalhar com o pai e durante vários anos atuou em união com os irmãos. Agora, as atividades são desenvolvidas, de forma mais efetiva, em parceria com o filho Maico Pedro Dalchiavon.

‘Seo’ Agostino veio para o Paraná em 1978, mais precisamente para Pitanga (Centro do Paraná) e desde então é associado da Coamo. Os primeiros plantios foram em terras arrendadas e, atualmente, cultiva um total de 150 alqueires próprios em Honório Serpa, onde está há 28 anos. “Saímos do nada e vemos que houve uma grande evolução. Conseguimos formar os filhos e tenho a satisfação de tê-los do meu lado. O mais novo de forma mais próxima e o outro ajudando de longe”, comenta se referindo aos filhos Maico e Tiago, ambos engenheiros agrônomos. Enquanto Maico está na propriedade, Tiago atua na profissão em uma multinacional. 

Para ele, ter alguém para dar continuidade e sustentabilidade à atividade é de suma importância. “Construímos um bom capital e acredito que eles não vão pôr tudo a perder. Vemos muitos casos de filhos que assumem e perdem tudo. Espero que os meus continuem no nosso ritmo e estão preparados para isso. A minha experiência adquiri trabalhando e eles tiraram várias coisas dos livros.”

Momento na propriedade da família Dalchiavon é de unir a experiência com a juventude e a vontade de aprender

Em Pitanga, os cooperados Cesar Luís da Silva e Cesar Luís da Silva Júnior vivem o cenário de parceria e sucessão. Júnior está seguindo o caminho do pai e está na terceira geração da família que veio do Rio Grande do Sul

O momento na propriedade é de unir a experiência com a juventude e a vontade de aprender e colocar várias novidades em prática. “Todo o dia é de aprendizado na fazenda, e com o meu pai. É um desafio não só para tentar aprender como, também, incorporar novas tecnologias”, comenta Maico Pedro Dalchiavon. Ele fez parte, em 2016, da 20ª Turma de Jovens Líderes Cooperativistas da Coamo onde, inclusive, tem um módulo que trata da sucessão no campo. “Foi um trabalho de teoria e que venho vivenciando na prática”, recorda.

Maico conta que sempre teve vontade de trabalhar na propriedade. “Sou formado há quatro anos e cheguei a trabalhar fora. Porém, não me sentia realizado. Meu lugar é aqui, na fazenda.” De acordo com Maico, a Coamo tem ajudado no processo e a colocar em prática as novidades para incrementar a atividade. “O desafio é estar conectado e agregar novas tecnologias. Trouxemos novos maquinários e novidades para aumentar a produção. Quando meu pai e meus tios começaram, era mais fácil a aquisição de terras. Hoje, está bem mais difícil e temos que pensar em melhorar a produção.” 

Em Pitanga (Centro do Paraná) os cooperados Cesar Luís da Silva e Cesar Luís da Silva Júnior vivem o mesmo cenário. Júnior está seguindo o caminho do pai e está na terceira geração da família que veio do Rio Grande do Sul. “Estamos por aqui há 27 anos. Comecei com o meu pai [já falecido] e agora estou trabalhando com o filho”, comenta Cesar. 

Com 45 anos de idade, ele nem pensa em se aposentar, mas já vem preparando o filho para assumir os negócios. “Desde cedo ele já me acompanhava e isso fez com que fosse pegando o ritmo para daqui uns anos tocar sozinho. Trabalhamos em parceria.”

Cesar ressalta que na agricultura, o pai começa um trabalho e quer que o filho continue e, assim, sucessivamente com as próximas gerações. “Porém, isso nem sempre ocorre e o filho não quer ficar no campo, parando com a atividade. É gratificante ver ele [Júnior] seguindo o mesmo caminho e saber que quer ficar na propriedade. Comecei com o meu pai e hoje tenho o meu filho do meu lado.”

Cesar Júnior, tem 23 anos e lembra que nem sempre pensou em permanecer no campo. “Sempre gostei, mas fui amadurecendo a ideia de ficar na propriedade aos poucos. Faz uns três anos que atuo de forma mais efetiva, ajudando a tomar a decisão.”

Os dois cultivam um total de 120 alqueires. Junior revela que o grande desafio é manter a produção para que continue dando bons resultados. “Cada um tem a sua opção e a minha é me manter na propriedade e ajudar o meu pai. Nesse ponto, a parceria tem sido bem tranquila e amadurecendo a cada dia”, assinala o cooperado.

Com 45 anos de idade, ele nem pensa em se aposentar, mas já vem preparando o filho para assumir os negócios

COAMO INVESTE NA FORMAÇÃO DE JOVENS COOPERADOS

Há quase 20 anos, a Coamo mantém o Programa de Formação de Jovens Líderes Cooperativistas e conta no cronograma assuntos relacionados à sucessão dentro da propriedade rural. Com o apoio do Sescoop, já foram formados mais de 800 jovens cooperados. O curso é ministrado pelo professor e consultor Juacir João Wischneski. Abaixo, ele responde algumas questões para um bom processo de sucessão dentro da propriedade.

Revista Coamo: Qual a importância da sucessão para a continuidade da atividade?

Juacir João Wischneski: A sucessão é o rito de transferência do poder e do capital entre o atual patriarca e o que virá conduzir os negócios, podendo ser herdeiro (a), ou outro membro da família. Portanto, planejar a sucessão é garantir a continuidade da atividade com qualidade, mantendo as boas práticas e aperfeiçoando-as quando necessário, pela renovação e modernização.

RC: Quando deve começar o processo? Existe alguma idade para isso?

Juacir: Se inicia com o patriarca incentivando os herdeiros a dar continuidade. Esta preparação deve ser pensada desde muito cedo, com muito planejamento. Não há uma idade pré-definida, porém quanto mais cedo se iniciar o amor pela atividade e a importância da sua continuidade, melhor.

RC: Como deve se comportar quem está passando a sucessão?

Juacir: Deve superar qualquer resistência à entrega do poder. Existe uma tendência à passividade natural no sucedido quando o assunto é sucessão. Os fundadores por medo de se indispor com a família, acabam adiando o plano de sucessão ou não elaborando um planejamento para a situação na expectativa que ao natural a transição aconteça. Mas, é preciso evitar a ideia de que o tempo se encarregará de resolver o assunto. Pois, o mais comum é que com a ausência do patriarca/fundador, os problemas e divergências se ampliem.

RC: Como deve se comportar quem está assumindo?

Juacir: Deve ter o comportamento do líder: muita humildade e servidão, sempre a disposição de aprendizagem, escutando os conselhos, demonstrando e dedicando amor no que faz.

DICAS PARA O PROCESSO DE SUCESSÃO
  • Não espere estar à beira da morte para preparar o sucessor;
  • Não pense que é eterno e que ninguém será capaz de substituir no comando;
  • Não obrigue os filhos a seguir um caminho que eles não desejem de todo o coração;
  • Não tente provar que está certo sempre que alguém mais jovem apresentar uma ideia diferente;
  • Não "sabote" a tua própria empresa para preservar a tua soberba e a tua vaidade.
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