Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 478 | Março de 2018 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

MOVIMENTAÇÃO NO PORTO DE PARANAGUÁ CRESCE ACIMA DA MÉDIA NACIONAL

LUIZ HENRIQUE TESSUTI DIVIDINO, é diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina desde 2012. Tem mais de 25 anos de experiência no setor portuário, tanto na administração pública quanto na iniciativa privada.

Em 2017, a movimentação geral no Porto de Paranaguá cresceu 14% em comparação a 2016. O número é praticamente o dobro do aumento da média nacional de movimentação portuária, que ficou em 8%. Neste ano, Paranaguá bateu o recorde na exportação de soja (11,4 milhões de toneladas), embarque total de grãos (19,4 milhões de toneladas) e na movimentação de cargas gerais (10,3 milhões de toneladas). O porto ainda é o líder nacional na importação de fertilizantes e no embarque de carne congelada de frango. O principal destino das cargas que saem por Paranaguá é a China.

As informações são do diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) Luiz Henrique Tessuti Dividino. "Nos últimos oito anos, já foram investidos mais de R$ 657 milhões em obras para aumentar a produtividade do Porto, entre elas estão as campanhas de dragagem, a troca dos carregadores de navios graneleiros (shiploaders), a reforma do cais, a construção de uma Base de Prontidão Ambiental e reforma nos gates de acesso ao cais", diz o entrevistado do mês na Revista Coamo.


Revista Coamo: Qual a missão da APPA e seus resultados?

Luiz Henrique Tessuti Dividino: A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) nos últimos anos dedicou-se a promover a recuperação, repotenciamento e ampliação do Porto de Paranaguá. Esta situação incorporou investimentos superiores a R$ 624 milhões, a revisão de normas e procedimentos, que resultaram em ganhos diretos para todos os terminais portuários.


RC: Qual trabalho foi realizado para a consolidação da gestão pública de segurança portuária?

Dividino:  A APPA investiu maciçamente no processo de segurança patrimonial e alfandegária. Além da atualização do Plano Local de Segurança portuária, implantou um novo Centro de Comando e Controle Operacional (CCCOM), com a instalação de mais de 400 câmeras e centenas de periféricos de automação dos portões de acesso. Foram instalados scanners de contêineres, pallets e de bagagens, que diariamente fiscalizam tudo que entra e sai do Porto.


RC: Qual tem sido a postura da AAPA em relação a defesa do porto público?

Dividino: O Porto de Paranaguá, em função da sua condição geográfica e características físicas, tem o DNA do Porto Público. É a nossa vocação. A equação de porto público com operações privadas, como é o caso do Terminal da Coamo, é a razão do sucesso e dos constantes avanços na movimentação de cargas e recordes de produtividade. Em qualquer cenário, o cais do porto continuará público. Preservado o cais público, a APPA fomenta a instalação de novas empresas no seu entorno para garantir a concorrência e competitividade desejada pelos nossos clientes, neste caso importadores e exportadores.


RC: Os portos de Paranaguá e Antonina são importantes corredores de exportação. Qual foi a evolução registrada nos últimos anos?

Dividino: Nos últimos sete anos, o Corredor de Exportação foi o terminal graneleiro que mais recebeu investimentos no País. Reformamos todo o cais de atracação, dragamos os berços, que possibilitam atender maiores navios. Adquirimos quatro novos shiploaders, no lugar de antigos equipamentos da década de 70, com ganhos de produtividade em mais de 30%. Implantamos novas moegas, sistemas de automação, melhoramos os níveis de manutenção preventiva. Isso possibilitou a movimentação do corredor de exportação saltar de 12 milhões de toneladas em 2012 para mais de 17 milhões de toneladas em 2017. Os investimentos realizados possibilitaram um novo recorde de produtividade. O navio “Stella Dawn”, no início de março/2018, carregou 16,54 mil toneladas de grãos no período de seis horas, carga equivalente a cerca de 75 caminhões por hora de operação. No dia 02 de março deste ano, recebemos o maior navio graneleiro que atracou no Porto - “Jubilant Devotion” para carregar 87 mil toneladas de farelo de soja (2.900 carretas de 30 Ton.) O recorde anterior foi o carregamento do navio “Nord Cetus”, que levou 84,7 mil toneladas em 2013.


RC: Como funciona o sistema de gestão dos Portos do Paraná?

Dividino: A atual gestão da APPA tem como premissa o planejamento participativo, onde todos os terminais são ouvidos, e incluímos no Conselho da Administração da APPA representantes da sociedade organizada. Hoje a Fiep e Faep tem assento no CONSAD, participando de todas as decisões estratégicas do Porto.


RC: Quais são os próximos desafios do Porto de Paranaguá?

Dividino: O Planejamento realizado pela APPA estabeleceu um plano de ação para expansão e aperfeiçoamento do Porto para os próximos 10 anos. Isso vai acontecer. Ainda temos dois grandes desafios a vencer. O maior deles é buscar melhorias para os acessos terrestres, principalmente a necessidade de implantação de uma nova ferrovia sentido Oeste do Paraná. Precisamos oferecer alternativas de transportes terrestres aos nossos clientes. O Governo do Paraná, lançou no final de 2017, o projeto da Nova Ferroeste, que com participação da iniciativa privada, pretende conectar a Ferroeste de Dourados no MS até o Porto de Paranaguá, estabelecendo um novo canal de escoamento. O segundo é conseguir que o Governo Federal conclua os processos dos novos arrendamentos de áreas para garantir a continuidade das ações da APPA. A APPA propôs a construção de cinco novos terminais privados. Os projetos estão na Diretoria de Outorgas da Secretaria Nacional de Portos – SNP, vinculada ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. Um terminal portuário do primeiro desenho até o início das atividades demora aproximadamente cinco anos. A cada dia que passa comprometemos o futuro. A proposta da APPA foi incluída no Programa de Parcerias para Investimentos – PPI, do Governo Federal, mas tem muita dificuldade na Secretaria Nacional de Portos - SNP. Estamos aguardando esta decisão há mais de seis anos. O Plano da APPA é arrendar três áreas para novos terminais graneleiros, e duas áreas, uma para implantação de um terminal de produtos florestais e uma para um novo terminal de veículos. A melhoria dos acessos terrestres, principalmente ferroviários e a ampliação da oferta de serviços portuários, mediante arrendamento do Governo Federal serão os principais desafios da próxima década.


RC: O senhor coordenou a implantação de processos de automação nas áreas operacionais e de gestão do fluxo de cargas. Quais foram estas  mudanças?

Dividino: As filas de caminhões em Paranaguá são coisa do passado. Estamos completando sete anos sem formação de filas na BR 277. O processo de coordenação e sincronização dos processos com os principais terminais resultou neste avanço. Realizamos a automação de vários processos, a automação de balanças, a implantação de sistemas de rádio frequência, sistemas OCR e hoje nos comunicamos com os caminhoneiros via SMS. Investimos na melhoria das condições do Pátio de Triagem do Porto, com novos acessos, trocamos a iluminação de todo o pátio.


RC: Quais os principais investimentos no Porto de Paranaguá?

Luiz Henrique Tessuti Dividino, diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA)

Dividino: A APPA investiu em recursos próprios R$ 624 milhões desde 2011 e investirá mais R$ 200 milhões até o final de 2018, na modernização, ampliação e melhor capacitação do porto de Paranaguá. O Porto de Paranaguá, desde 2012, atuou pelo restabelecimento da infraestrutura marítima do complexo Paranaguá, que ficou anos sem dragagem. Além de manter os canais de acesso nas profundidades e na geometria de projeto, a dragagem traz ganhos de produtividade. A conclusão da dragagem de aprofundamento, prevista para agosto de 2018, Porto de Paranaguá passará a ofertar mais um metro de profundidade, que possibilitará o carregamento de 10 mil toneladas de cargas a mais por navio ou 800 containers, e com isso, possibilitará a redução dos custos de fretes marítimos. Os investimentos resultaram em aumento de 25% na movimentação de cargas neste período – em 2017, o porto teve uma alta de 14% nas suas operações, o dobro do crescimento da média nacional.


RC: Como avalia a aceitação das normas de atracação de navios e da legislação ambiental pelos usuários e clientes?

Dividino: A expertise do corpo técnico da APPA, à estreita cooperação estabelecida com a iniciativa privada, e a dedicação dos milhares de trabalhadores diretamente envolvidos com a atividade portuária, possibilitaram mudanças radicais no Porto. As normas de atracação foram atualizadas depois de 20 anos. Hoje são os terminais portuários que estabelecem o Planejamento de Carregamento dos Navios, e a partir disso, consolidam os seus planos de escoamento das cargas do interior para o Porto. Transferimos aos terminais privados a condição de fazer o planejamento completo cabendo a APPA sincronizar os planos e atividades. O resultado disso foi elevar a capacidade operacional de fluxo de 12 milhões de toneladas em 2012 para mais de 17 milhões de toneladas em 2017. Na área ambiental não foi diferente. A APPA desde 2012, mudou totalmente seus processos e passou a adotar a política ambiental como prioridade da empresa. Em 2010, o Porto de Paranaguá foi interditado por falta de licença ambiental para operar, e em 2017, fomos eleitos o porto número 01, no índice de desenvolvimento ambiental IDA, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ, entre portos públicos e privados. Isso pode demonstrar a atenção dada pela APPA na gestão ambiental, que inclui a relação com o meio ambiente e com o município de Paranaguá.


RC: Como observa a atuação das cooperativas em parceria com a APPA? 

Dividino: O cooperativismo no Paraná é uma referência mundial. Este processo de integração de capital produtivo, promoção de ações sinérgicas que potencializam a capacidade de produção e comercialização dos associados, é a equação mais democrática que se pode conhecer. As cooperativas são o motor de escoamento do Porto, além de ocupar os seus terminais próprios dão serviços para outros terminais privados. Seja no complexo soja, milho, ou seja, nos produtos industrializados e/ou frigorificados, as cooperativas estão presentes no nosso dia a dia. As cooperativas décadas atrás escolheram Paranaguá como seu porto de atuação, se instalaram e cresceram, e o Porto e a comunidade cresceram juntos.

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