Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 479 | Abril de 2018 | Campo Mourão - Paraná

OPINIÃO

CAMPEÃO EM LONGEVIDADE, JAPÃO USA OITO VEZES MAIS AGROQUÍMICOS DO QUE O BRASIL

Fonte: Jornal Gazeta do Povo

A imagem de que o Brasil é o país que mais utiliza agroquímicos no mundo é desconectada da realidade e apenas alimenta mitos e inverdades sobre a segurança dos alimentos produzidos no país. Na proporção de área cultivada, por exemplo, o Japão utiliza oito vezes mais defensivos agrícolas. É o que aponta estudo da Universidade Estadual Paulista em Botucatu (Unesp) no fórum Diálogo: Desafio 2050 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, promovido em São Paulo pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Embrapa, Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

“Dizer que somos campeões mundiais no consumo de agrotóxicos é uma abordagem simplista e até irresponsável”, diz o professor Caio Carbonari, um dos autores da pesquisa. Segundo ele, apesar de utilizar o maior volume de defensivos (em função do tamanho continental), o Brasil está em 7º lugar na proporção com a quantidade de terras cultivadas, ficando atrás de países como Japão, Alemanha, França e Reino Unido. E se a análise for pelo volume de alimentos produzidos, o país cai para 11º no ranking do uso de defensivos, e passam à nossa frente Argentina, Estados Unidos, Austrália e Espanha.

“Estamos numa situação bastante confortável quando olhamos os dados com a ótica mais adequada. Temos sido muito eficientes no uso da terra e dos insumos, e essa sustentabilidade só é possível por causa ciência e dos agroquímicos”, avalia o pesquisador. “A imagem que se cria do consumo de agrotóxicos no Brasil está desconectada de nossa realidade”, completa.

Mesmo os critérios de proporcionalidade não são os mais adequados para tratar do tema. A situação do Japão é emblemática disso. Na proporção de área cultivada, os japoneses utilizam oito vezes mais agroquímicos do que o Brasil. “Não dá para apontar o dedo para o Japão e dizer que o alimento deles está contaminado, que está prejudicando as pessoas. Afinal, a gente sabe da qualidade de vida e da longevidade dos japoneses”, afirma Carbonari. Segundo dados de 2016 da Organização Mundial de Saúde (OMS), a expectativa média de vida da população japonesa é de 83,7 anos, a mais alta do planeta. No Brasil, a média é de 75 anos.

Qual o melhor critério então para medir o uso equilibrado de agroquímicos? O índice mais adequado seria o EIQ, que vem das iniciais, em inglês, de Quociente de Impacto Ambiental, referenciado pela FAO e pela literatura científica moderna. O EIQ leva em conta os riscos associados ao uso dos agroquímicos nas mais diversas situações, incluindo o mecanismo de ação na planta, a degradação e persistência no solo, e os níveis de toxidade e possíveis riscos de contaminação da água, dos alimentos e do próprio homem, seja o trabalhador rural, seja o consumidor final.

O trabalho de pesquisa analisou dados do uso de agroquímicos nas culturas de soja, milho, algodão e cana de açúcar entre os anos de 2002 e 2015. Em todos os principais quesitos, houve diminuição significativa dos riscos. Para o trabalhador rural, o risco de contaminação diminuiu 54,2%, enquanto para o consumidor a queda foi de 37% e, para o meio ambiente, de 33%. “Desde 2004 a gente vem numa tendência clara de equalizar, de estacionar o consumo de agrotóxicos no Brasil; ou seja, na contramão de toda a imagem que se construiu na sociedade brasileira”, diz Carbonari. “Não existe crescimento exacerbado como se divulga. E se falarmos em termos de risco, estamos em situação extremamente positiva, com quedas acentuadas. Comparados com outros países, em qualquer uma dessas culturas, estamos em situação igual ou melhor”. 

Para Elisabeth Nascimento, professora de toxicologia da Universidade de São Paulo, compreender a avaliação dos riscos é fundamental para mudar a percepção das pessoas. Ela lembra que desde os anos 80 os produtores rurais vêm sendo orientados sobre como usar corretamente o que chama de “praguicidas”. Para se manterem legalizados no mercado interno, e mesmo para exportar, os grandes produtores sabem da necessidade de seguir o receituário agronômico. A obediência aos parâmetros é fiscalizada, entre outros, pelo Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes, do Ministério da Agricultura, e pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Agência Nacional de Vigilãncia Sanitária. “Temos que lembrar também que os defensivos não são tão baratos assim, então o produtor procura usar nas doses recomendadas”, afirma. 

A pesquisadora acredita que a população deveria ser melhor informada sobre o conceito de IDA – ou seja, de Ingestão Diária Aceitável. “Temos hoje no país inúmeros instrumentos que podem nos dizer, com certeza, quanto podemos comer sem correr riscos. Claro que não existe risco zero e nem segurança absoluta. O que mata não é um pouco disso, um pouco daquilo, mas a exposição crônica”, argumenta.

A FALÁCIA SOBRE OS AGROQUÍMICOS

Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR

Foi a partir da produção em escala no século XX que o alimento se tornou mais acessível à população de baixa renda que também passou a ter acesso a uma variedade maior de produtos. Vários fatores contribuíram para isso, entre eles uso da tecnologia, avanço da genética e capacitação.

Vamos nos ater à questão da tecnologia, especificamente ao uso de agroquímicos. Para se entender isso é necessário, primeiro, levar em consideração que o Brasil é um país tropical, o que exige um manejo diferente dos utilizados em países como os Estados Unidos e o Canadá onde o próprio clima congelante do inverno se encarrega de eliminar as pragas. Por isso usamos agroquímicos que não são tão necessários em países frios.

A aplicação de agroquímicos exige o uso correto, com a recomendação técnica de um engenheiro agrônomo. Esse profissional que fará o receituário para o caso específico de cada praga, doença ou planta daninha. A compra do produto ocorre mediante essa receita. Aliás, produtos que impactam no custo de produção, portanto, são utilizados pelo produtor somente quando necessário, porque o uso excessivo aumenta os custos.

O uso de forma racional, que significa a aplicação quando necessário da quantidade exatamente prescrita, não causa dano nem ao meio ambiente nem a saúde humana, tendo como base a assistência técnica e respeitando os períodos de carência.

A agricultura hoje investe cada vez mais em boas práticas agrícolas, necessárias para quem produz de olho na saúde de sua família e trabalhadores. A agropecuária precisa de solo fértil para ser produtiva e tem se valido de sistemas como Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Outro ponto que precisa ser considerado é que um produto novo, para ser colocada no mercado, tem alto custo porque leva tempo para ser desenvolvida e exige muitos estudos. Antes de ser colocado no mercado, ele precisa de autorização do Ministério da Agricultura, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

A educação, com orientações corretas, é importante para acabar com as notícias falsas, os boatos que causam pânico e confusão à população. Muitas vezes as desinformações surgem travestidas de campanhas educativas, mas nada mais são do que ações difamatórias e alarmistas que prejudicam quem produz e garante a mesa cheia de alimentos.

O SENAR-PR, por exemplo, atende um milhão de alunos por ano, de escolas públicas e particulares, de 1º. a 9º. ano levando conhecimento sobre diversos temas, entre eles os relacionados ao meio ambiente, por meio do Programa Agrinho. Desde seu nascimento, o SENAR-PR teve como motivação a conscientização sobre o uso correto de agroquímicos, reflexo da constante preocupação com o bem-estar e segurança do trabalhador rural.

Até hoje, as capacitações nos cursos na área de aplicação de agrotóxicos continuam entre os mais procurados por trabalhadores e produtores rurais. Desde que começou suas atividades em 1993, o SENAR-PR já capacitou 165.291 pessoas na aplicação de agroquímicos em quase 14 mil cursos. Isto sim é uma ação transformadora e de resultado efetivo.

Outro ponto relevante para desmistificar essa questão é o cálculo do uso de agroquímicos, que deve ser realizado por área de produção e não por número de habitantes. O produto é utilizado para manejo e controle de pragas nas culturas e não para consumo humano, portanto é incorreto o cálculo de consumo por habitante como tem sido divulgado.

São dados que estão disponíveis para serem comprovados por quem está disposto ao esclarecimento. Há pesquisadores e estudiosos sérios e isentos que podem desmistificar tudo isso. O conhecimento é aberto a todos, basta querer.

Artigo publicado no Boletim Informativo da Faep

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