Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 484 | Setembro de 2018 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“Acredito e propago o cooperativismo como forma de construir um país melhor.”

De inicialmente técnico em Contabilidade, Juacir João Wischneski formou-se em Ciências Contábeis na turma de 1980 e vem atuando como contador, auditor, consultor e professor em diversas instituições de ensino superior. “Estou no cooperativismo desde julho de 1981, quando ingressei na então Associação de Orientação às Cooperativas – Assocep. Porém, um ano antes, em agosto de 1980, quando convidado pelo professor Dionizio Olicheviz, iniciei os estudos sobre cooperativismo, preparando em teoria e prática para no ano seguinte, participar como sócio da empresa que iria suceder a Assocep no trabalho de Auditoria das Cooperativas Paranaenses.”

Catarinense de Canoinhas, a Capital da erva mate, o professor Juacir João Wischneski acompanhou nas últimas décadas o processo de reestruturação e evolução da gestão no cooperativismo paranaense. Wischneski afirma que, “o cooperativismo é o maior movimento da terra, o segundo maior movimento é representado pela Igreja Católica, cuja parcela da população a ela ligada é menor que a metade das pessoas envolvidas diretamente com as sociedades cooperativas. É um movimento que cresce e se fortalece no mundo todo, por promover o desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo, além de gerar o bem-estar social dos indivíduos e comunidades.”


Revista Coamo: Quando o senhor ingressou na Ocepar?

Juacir João Wischneski: Em 1992, ingressei na Ocepar a convite dos dirigentes João Paulo Kolovski e José Roberto Ricken para o desenvolvimento de um trabalho voltado a consolidação da implantação do Programa de Autogestão das Cooperativas Paranaenses, sob o comando de Ricken. Havia iniciado um Sistema de Análise e Acompanhamento das Cooperativas Paranaenses a partir das técnicas similares ao trabalho que desenvolvia anteriormente na Cocap - cooperativa central. Neste sistema, adaptado por Carlos Claro de Oliveira, foram incluídos indicadores voltados à análise de Tesouraria, que representava um avanço tecnológico, pois este padrão de análise é voltado ao acompanhamento do ciclo financeiro e operacional das empresas. Coube a mim, com o apoio de outros colegas da Ocepar, realizar testes com dados reais das cooperativas nas áreas econômica e financeira, abordando aspectos societários e atuação física nas atividades de cada cooperativa.


RC: Como foi este trabalho inédito no cooperativismo?

Wischneski: Iniciamos pelo ramo Agropecuário e posteriormente para outros segmentos. Após os testes e análise em laboratório, passamos a implantação nas próprias cooperativas. Elas teriam a incumbência de padronizar os dados e alimentar diretamente no sistema das informações, que após conferência eram validados para compor o banco de dados, onde se processava análises agrupadas de diversas formas com similaridade de informações criando cenários do sistema cooperativo para servir ao monitoramento da Autogestão e informações de apoio ao gerenciamento das cooperativas.  Com o compromisso de manter o sigilo e a identidade de cada cooperativa individualmente, o sistema, apelidado de SAAC, foi um sucesso.


RC: Quais os resultados do processo de gestão que marcaram a evolução do cooperativismo?

Wischneski: A partir dos indicadores gerados em 1992, várias medidas com apoio técnico da Ocepar foram tomadas junto às cooperativas resultando em fusões, incorporações e assunção de ativos entre cooperativas, bem como projetos de recuperação, estruturação de atividades e saneamento financeiro, entre outras modalidades. Desta forma, no Paraná, foram vários os problemas oriundos do período de hiperinflação pelo qual passou o país, e solucionados sem prejuízos operacionais dos sócios nas respectivas cooperativas. Tenho orgulho de ter participado no pleito junto ao Governo Federal para criação do Sescoop na mesma medida provisória (Nº 1.715) do Programa de Revitalização das Cooperativas de Produção Agropecuária – Recoop – em novembro de 1998. Tive a honra de ajudar a escrever a primeira minuta onde incluímos a autorização para a criação do Sescoop, cujo objetivo principal é a operacionalização do Programa de Autogestão das Cooperativas Brasileiras. A criação do Sescoop foi um marco histórico no apoio à profissionalização das Cooperativas Brasileiras.


RC: A gestão no cooperativismo tem evoluído de forma satisfatória?

Wischneski: A evolução do cooperativismo brasileiro é visível, em especial no Estado do Paraná. As cooperativas agropecuárias passaram a ser um importante instrumento de difusão de tecnologias e atuam implementando políticas de desenvolvimento no agronegócio. As sociedades cooperativas participam do desenvolvimento econômico e social do país e comprometidas por sua própria filosofia de trabalho. A capacitação dos executivos e profissionais, bem como dos sócios e jovens sócios, vem se tornando premissa básica nas últimas décadas. Percebe-se que, cada vez mais, a união de pessoas com estratégias, construídas à luz dos princípios cooperativistas é o que leva a sociedade ao desenvolvimento e a sustentabilidade empresarial.


RC: Como avalia o grau de profissionalização atualmente dos associados?

Wischneski: No Brasil, em especial onde as cooperativas têm uma atuação mais forte, ou os produtores vieram de uma base cooperativista, eles estão muito evoluídos, contudo, ainda a grande maioria é carente quanto à administração da propriedade como empreendimento sustentável. Já as cooperativas apresentam-se em diferentes situações. Algumas em situação econômica privilegiada, investindo na profissionalização de seus funcionários e sócios. Outras ainda buscam formas de sobrevivência e adequação à realidade, e estão procurando o equilíbrio sócioeconômico para se adequar aos novos tempos de investimentos em capacitação e profissionalização, porém, com tecnologia não adaptada às sociedades cooperativas.


RC: Qual a importância do Sistema Ocepar para a profissionalização dos sócios e funcionários das cooperativas?

Wischneski: Com o apoio da Ocepar e do Sescoop, as cooperativas têm ampliado suas ações voltadas à formação e profissionalização de sócios, colaboradores, dirigentes e familiares. Mensuramos e comprovamos os frutos destes esforços nas Sociedades Cooperativas, cujos resultados ano a ano vem sendo melhores. Percebemos pelos indicadores de desempenho, que as cooperativas vêm a cada ano evoluindo mais e mais, conforme pode ser observado pela classificação das Melhores e Maiores da revista Exame. Contudo, não calculamos esta atuação nos resultados gerados e seus reflexos nas famílias dos sócios. Podemos concluir que ainda faltam instrumentos de mensuração para medir se realmente as sociedades cooperativas de fato estão cumprindo sua missão. Visualmente, podemos afirmar que sim.


RC: Na sua opinião há preocupação das diretorias para melhorias de gestão e processos nas cooperativas?

Wischneski: Percebo um grande esforço no aprimoramento da gestão das cooperativas, que tem sido realizado com apoio do Programa de Autogestão. Porém, o Paraná é o único estado da federação que tem 100% das cooperativas monitoradas e acompanhadas em relação aos resultados econômicos e financeiros.


RC: O senhor está à frente de programa de Jovens Líderes da Coamo. Constatou melhorias e resultados na educação cooperativista?

Wischneski: Falar deste trabalho é falar do Dr. José Aroldo Gallassini, seu idealizador. Posso definir esta questão com a mesma simplicidade que ele. Pensar na formação dos jovens sócios é pensar na sustentabilidade da gestão, o futuro é esse. O mentor do Programa e seu conteúdo foi meu mestre Albino Gawlak. Iniciei na primeira turma junto com o Albino em 1998. Na época, fazia o módulo de Contabilidade e depois os de Contabilidade e Análise Contábil. O programa começou em 1998 com duas turmas no primeiro ano, e após ocorreu a formação de uma turma por ano. O curso de Formação de Jovens Líderes Coamo foi sendo adaptado para sua realidade. A partir de 2013 com a aposentadoria do professor Albino, passei a coordenação deste trabalho apaixonante que é a formação de novas lideranças para a cooperativa Coamo. No total, 900 jovens cooperativistas já se formaram no curso que está na 22ª turma em 2018.

“Pensar na formação dos jovens associados é pensar na sustentabilidade da gestão, o futuro é esse!”

RC: Qual é papel do associado hoje e qual deverá ser no futuro?

Wischneski: A falta de conhecimento empresarial gera a falta de comprometimento. Percebemos a falta da fidelização necessária para se manter a prática do ato cooperativo. Um maior comprometimento do cooperado poderá proporcionar às empresas cooperativas, um melhor enfrentamento nas mudanças organizacionais, o que possibilitará, futuramente, o fortalecimento do sistema cooperativo e maiores benefícios na economia do país.


RC: Como percebe o trabalho de gestão e desenvolvimento da Coamo, e a preocupação da diretoria quanto a profissionalização dos associados?

Wischneski: Primeiro, sinto-me honrado em participar desta caminhada na Coamo em busca do desenvolvimento e melhorias da qualidade de vida dos associados. Acredito que a Coamo, representada pelo seu presidente Gallassini, com o tamanho que tem, cuja grandeza é em igualdade, representada pela humildade para os seus sócios, demonstra que a sinergia entre pessoas, tecnologia, métodos e processos em si não bastam, mas deve ser complementada pela integridade empresarial. Os princípios e valores das sociedades cooperativas estão consolidados nos padrões de integridade. As atitudes dos dirigentes, conselheiros e colaboradores da Coamo demonstram esta integridade.


RC: Como conviver com as novas tecnologias e redes sociais que provocam mudança no comportamento dos jovens?

Wischneski: Confesso que tudo isso já me preocupou muito, principalmente no meio familiar, porém, como aconteceu todas as vezes que o progresso nos assustou, pude perceber os benefícios desta mudança tecnológica. Cabe aos adultos e educadores direcionar o aprendizado e utilizar estas novas ferramentas. As instituições educacionais estão atrasadas quanto às tecnologias, devemos estar atentos com tudo o que move o mundo das relações e utilizar tudo que é encantador para gerar conhecimento aos nossos jovens. Nós podemos aprender com os nossos alunos, observar o que eles gostam de utilizar, sem deixar de mostrar a eles que a idade nos presenteia com a sabedoria e experiência, portanto é necessário a capacitação constante para não tropeçarmos nos teclados e perdermos para as redes sociais.

Professor Albino com a diretoria da Coamo e alunos da 12ª turma de Jovens Líderes Cooperativistas

RC: Os jovens agricultores reconhecem o trabalho das gerações anteriores?

Wischneski: Os jovens não têm dificuldade em assimilar o trabalho desenvolvido pelas gerações passadas. Eles têm muita consciência do trabalho e sacrifício anterior nesta construção. Os jovens associados de hoje são pessoas maravilhosas, possuem a mente aberta, estão “loucos” para aprender, com todos os conhecimentos que possuem, com a educação que lhes foi dada, tanto em casa como nas instituições de ensino, com toda tecnologia que possuem em suas mãos, são como a terra fértil que recebe boas sementes, basta uma chuvinha para florescer e reproduzir.


RC: Como observa o cooperativismo e sua importância na prática para ser eficaz e gerar resultados?

Wischneski: O Cooperativismo é o maior movimento da terra, o segundo maior movimento é representado pela Igreja Católica, cuja parcela da população a ela ligada é menor que a metade das pessoas envolvidas diretamente com as sociedades cooperativas. Podemos dizer que se trata de um movimento que cresce e se fortalece no mundo todo, por promover o desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo, além de gerar o bem-estar social dos indivíduos e comunidades onde está presente.

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