Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 484 | Setembro de 2018 | Campo Mourão - Paraná

LAVOURA X PECUÁRIA

Sistema produtivo integrado

Boi no inverno e soja no verão. A possibilidade de integrar a lavoura com a pecuária já se consolidou entre os cooperados da Coamo. Seja para engordar o gado de corte ou alimentar as vacas na produção de leite, o sistema tem gerado bons resultados na produção agrícola. O projeto foi implantado há 20 anos na Fazenda Experimental da Coamo, em Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), e vem ajudando a revolucionar o conceito de exploração consorciada no campo.

São vários os exemplos de cooperados que adotaram e aperfeiçoaram o sistema após conhecerem os resultados dos trabalhos na Fazenda Experimental. Jorge Tonet, de Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), é um deles. Ele tem duas propriedades, uma em Mamborê e outra em Luiziana e com o sistema consegue integrar a produção das áreas. Em Luiziana fica a pastagem que abriga os animais durante o verão, enquanto que em Mamborê, a lavoura. Porém, no inverno a plantação de soja dá lugar para a aveia, azevém e brachiaria que servem de pastagem para o gado.

Tonet explica que a integração surgiu com a necessidade de alimentar os bovinos durante o período mais frio do ano. “No inverno faltava pasto e o sistema de integração nos permite abrigar e aumentar a quantidade de animais na área. Enquanto eles ficam nas áreas de lavouras, as pastagens passam por uma reforma e correção para um bom desenvolvimento das gramas e para que possam abrigar os animais durante o verão”, diz.

O cooperado observa que a integração ajudou a melhorar o sistema produtivo. No caso dos animais, há um ganho de peso, e fertilidade nas vacas. Tonet faz todo o processo de criação desde a cria, recria e engorda. Para a soja o associado também vem alcançando boas produtividades. “A integração melhora o sistema. Conseguimos uma maior renda com a pecuária e não atrapalha em nada a produção da soja. Pelo contrário, beneficia a cultura já que há diversificação e reciclagem no sistema produtivo”, assinala.

Cooperado Jorge Tonet tem duas propriedades e com o sistema lavoura x pecuária consegue integrar a produção das áreas Jorge Tonet com o médico veterinário da Coamo Hérico Alexandre Rosseto

Em Pitanga (Centro do Paraná) o planejamento na propriedade do cooperado Neudi Volski é voltado para a produção de grãos no verão e para a alimentação das vacas de leite durante o inverno. Ele trabalha com o sistema há algum tempo, e em parceria com a Coamo vem melhorando a cada ano, seja na hora de cultivar ou plantar. “Fazemos a integração sem prejuízo para nenhuma atividade. Planejamos o plantio da soja e seguimos todas as recomendações técnicas para uma boa produção. Assim que tiramos a lavoura fazemos o plantio da aveia e azevém utilizando alta tecnologia”, observa o cooperado.

Ele acrescenta que os pastos são piqueteados para render todo o potencial nutritivo para os animais. “Há um aumento de três a quatro litros por animal quando comparamos o verão com o inverno. Esse ganho mostra que compensa investir na integração lavoura x pecuária. Já plantamos trigo lá atrás, mas é uma cultura de muito risco e nem sempre rende o esperado. Como também temos a pecuária de leite, o sistema se encaixou perfeitamente”, diz Volski.

O médico veterinário Ercílio Fontana Júnior, da Coamo em Pitanga, ressalta que o clima na região é frio e que existem poucas opções. “Nesse sentido, a integração é uma boa opção de renda. Assim como Neudi Volski temos vários outros cooperados que adotam o sistema e vem tendo bons resultados, seja para a pecuária de leite ou de corte”, assinala.  

Planejamento na propriedade do cooperado Neudi Volski é voltado para a produção de grãos no verão e alimentação das vacas de leite durante o inverno. Trabalho conta com assistência do veterinário Ercílio Fontana

Contudo, o veterinário observa que as recomendações técnicas devem ser seguidas para que a integração não cause prejuízos ao sistema. Ele explica que deve haver uma atenção especial para que o solo não fique compactado. Para que isso não ocorra é necessário piquetear as áreas e fazer rodízio dos animais. Outro ponto importante, segundo Ercílio, é a quantidade de animais na área. “É necessário que haja um acompanhamento técnico e um planejamento. Seguindo as recomendações, o cooperado terá um bom resultado com a pecuária e, também, com a agricultura.”

O engenheiro agrônomo e agropecuarista, José Aroldo Gallassini, diretor-presidente da Coamo, é um entusiasta pelo sistema lavoura x pecuária. Ele começou a trabalhar primeiro com a criação de gado, na década de 70. Anos mais tarde, entrou na atividade agrícola e a integração, segundo ele, surgiu após os primeiros ensaios na Fazenda Experimental.

Gallassini explica que o grande problema para quem trabalha com a pecuária é o inverno. “Todo pecuarista tem a obrigação de se preparar para o inverno, um período mais cedo e, geralmente, falta pastagem para os animais. Isso faz com que o gado que engordou no verão perca peso. O plantio de outra cultura, como a aveia e azevém, por exemplo, faz com que os animais não passem fome e continuem engordando”, observa.

Ele acrescenta que na propriedade cultiva aveias branca e preta, azevém e brachiária. “O plantio dessas culturas é logo após a colheita da soja. São quatro opções de pastagem que abrigam o gado até setembro, quando ocorre o plantio da nova safra de verão”, diz Gallassini e observa que o sistema pode ser adotado como alternativa para diversificação de renda. “Pode ser feito com um animal, mil ou dez mil cabeças. Tudo depende do tamanho da área. Outro ponto importante é que não há necessidade de ser pecuarista e pode adquirir os animais apenas para engordar no inverno. É um sistema que gera uma boa renda e não necessita de grandes investimentos.”

José Aroldo Gallassini em uma das áreas destinadas para os animais no inverno e que receberá plantio de soja no verão

Resultados consistentes em 20 anos

Hérico Rossetto, veterinário da Coamo, acompanha projeto na Fazenda Experimental desde a implantação, há 20 anos

O SISTEMA INTEGRAÇÃO LAVOURA X PECUÁRIA:

- Possibilita integrar a produção de grãos e criação de gado numa mesma área

- Aumenta a eficiência e rentabilidade da propriedade, auxiliando a sustentabilidade na produção de grãos e de gado

- Conserva e recupera solos pelas pastagens e sequestro de carbono

- Utiliza 20% da área para implantação da pastagem perene de verão e 80% da área que é destinada a lavoura de verão para implantação de pastagem anual de inverno. Ex: pressão de pastejo de 4.500 Kg de peso vivo animal necessitará de 1 hectare de pastagem perene de verão e 4 hectares de pastagem anual de inverno

O SISTEMA TEM COMO OBJETIVO:

- Reforma de pastagens com o uso de cultivos agrícolas

- Plantio de forrageiras para recuperação e/ ou aumento da sustentabilidade de áreas agrícolas

- Renda adicional e diminuição de riscos pela utilização de forrageiras anuais em pastejo após o cultivo agrícola de verão

ENTRE OS BENEFÍCIOS OBTIDOS ESTÃO:

- Utilização de pastagens de elevado potencial produtivo e de qualidade

- Facilidade na formação de pastagens

- Aproveitamento de resíduos agrícolas para alimentação animal

- Planejamento forrageiro adequado, com alimento disponível o ano todo para os animais

- Manutenção do solo coberto

- Diminuição de plantas invasoras nas culturas subsequentes

- Sequestro de carbono pelas pastagens cultivadas e manejadas

- Racionalização do emprego da mão-de-obra e maior eficiência do uso de adubos e máquinas

- Produção de carne e leite de alta qualidade e de forma competitiva

- Aumento da produtividade agrícola

O projeto na Fazenda Experimental é desenvolvido pela Coamo em parceria com órgãos e instituições de ensino, entre eles o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e as universidades Federal do Paraná (UFPR) e Estadual de Maringá (UEM), além de empresas parceiras.

O banco de dados que compila todo o trabalho mostra resultados surpreendentes. Além da alta produção de soja e milho, todo lote de bezerros que entrou no sistema, saiu boi gordo em um ano. A grande O banco de dados que compila todo o trabalho mostra resultados surpreendentes. Além da alta produção de soja e milho, todo lote de bezerros que entrou no sistema, saiu boi gordo em um ano. A grande sacada do projeto é manter o solo coberto, o ano inteiro. Com o decorrer dos anos, o teor de matéria orgânica do solo aumenta, o que credencia o sistema a enfrentar anos secos, chuvosos e com geada. Com isso, há um impacto positivo no aumento da renda do produtor, sobretudo por meio da diminuição dos riscos com a atividade de inverno.

A rentabilidade no campo, devido ao uso adequado da tecnologia, praticamente assemelha-se ao alcançado na unidade demonstrativa instalada na Fazenda Experimental da cooperativa. "Isso demonstra que os produtores rurais seguem as orientações técnicas geradas pela pesquisa no manejo dos animais; avaliam bem a pressão de pastejo; aplicam corretamente a adubação de base no verão e no inverno, e a adubação de cobertura no inverno; manejam bem a pastagem, além de comprar e vender bem os animais", enumera o veterinário da Coamo, Hérico Alexandre Rossetto. O técnico revela que o sistema vai bem tanto na bovinocultura de corte quanto de leite.

A lotação de animais na pastagem de verão, dentro do sistema, varia de 18 a 23 cabeças por alqueire, enquanto a média nacional, em pastos adequados, é de até cinco animais por alqueire. Em todo o complexo a rentabilidade de soja, levando em conta o uso de 100% da tecnologia, tende a ser de até 15% a mais na área de integração, na comparação com uma área de cultivo sem bois. O que é melhor: a soja não recebe adubo porque este já foi disponibilizado no sistema, durante o inverno; além de que são feitas menos aplicações para controle de plantas daninhas, na comparação com uma lavoura que não teve a presença de bois. "Sendo assim, a grande vantagem do sistema é não deixar de ganhar nas culturas de grãos e, acima de tudo, agregar resultados expressivos com a produção de carne, no inverno, com uma atividade de risco baixo", finaliza Rossetto.

Pesquisadores da área

Adelino Pelissari, pesquisador da UFPR

Quando o assunto é Integração Lavoura e Pecuária, os pesquisadores Aníbal de Moraes (pós-doutor na área de Sistemas Integrados na Produção Agropecuária) e Adelino Pelissari (doutor na área de solos e nutrição de plantas), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), estão entre os grandes nomes da pesquisa brasileira. Há 24 anos, eles iniciaram os estudos desse sistema, e há 20, implantaram com o departamento técnico da Coamo, a Syngenta e o Iapar, o ensaio na Fazenda Experimental, agregando mais conhecimento e informação aos associados da cooperativa.

Assim, implantado com suporte técnico fornecido pela Universidade Federal do Paraná, desenvolveu-se pesquisas quanto ao impacto da integração do pastejo animal sobre o solo destinado ao plantio comercial de cereais de verão, soja e milho. “O que fizemos foi sistematizar a relação solo/planta/ animal dentro de uma demanda estabelecida pelos próprios agricultores, que buscavam uma alternativa econômica para o período de inverno”, conta Aníbal de Moraes.

Anibal de Moraes, pesquisador da UFPR

Segundo Moraes, dessa forma, haveria uma renda extra simplesmente na utilização de uma atividade a mais no período de inverno. “Grande parte da área era utilizada apenas para cobertura, utilizando aveia em geral. Então, por que não utilizar aquela cobertura como uma pastagem para transformá-la em um produto comercializável, seja carne ou leite?

Isso geraria mais uma atividade econômica que se somaria as duas principais atividades de renda que eram e, até hoje, permanecem, que são a soja e o milho.”

Conforme Adelino Pelissari, o cenário da região começou a se modificar com o surgimento de novas alternativas de exploração do solo em áreas bem manejadas. “Este é um projeto economicamente viável e sustentável, socialmente justo, culturalmente aceito e eticamente correto. Portanto, está inserido no papel do produtor rural do futuro: ter a mesa farta de boa comida e boa bebida, e a natureza preservada”, acentua Pelissari.

 “Eu sempre digo que boi não morre no inverno, nem com geadas e nem com granizo”, brinca Pelissari. Para ele, este é o grande sucesso da integração. “É uma forma efetiva de ter sustentabilidade econômica na propriedade, desde que o produtor ingresse na atividade com todo o critério técnico necessário”, alerta.

LIÇÃO QUE FICA

Nesses 20 anos de pesquisa, muito se aprendeu e o sistema foi aperfeiçoado de forma que se tornasse viável tecnicamente e economicamente.

As pesquisas foram delineadas buscando entender qual seria a pressão de pastejo ideal sobre a pastagem de inverno, aveia e azevém, bem como adubação de base e de superfície correta para manutenção da pastagem anual de inverno e impacto da permanência dos animais nesta área sobre a produtividade da lavoura de verão.

Também se avaliou a pressão de pastejo ideal sobre a pastagem perene de verão, correta adubação de correção e manutenção e manejo da mesma.

Desta forma no período de primavera e verão os animais eram mantidos em uma área de pastagem perene, dividida em estrela africana e mombaça e no período de outono e inverno os animais eram mantidos em uma pastagem de aveia e azevém plantada sobre a área destinada a atividade agrícola.

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