Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 486 | Novembro de 2018 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“Das terras improdutivas com os 3 S"s para uma das mais férteis do país”.

Nelson Teodoro de Oliveira, presidente do Sindicato Rural de Campo Mourão, vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e membro do Conselho de Administração da Coamo

O cooperado fundador da Coamo Nelson Teodoro de Oliveira, presidente do Sindicato Rural de Campo Mourão, vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e membro do Conselho de Administração da Coamo, é o entrevistado deste mês na Revista Coamo.

Mourãoense, conhecido como “Nelsinho”, de família tradicional que chegou há mais de 100 anos na região de Campo Mourão, é o cooperado fundador número 48 da Coamo. Sua família chegou na região à procura de terras para o plantio de café. Com orgulho, ele conta da alegria de ter feito parte do movimento que culminou com o surgimento da Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda., em 28 de novembro de 1970. Nelsinho é um entusiasta, conhece e propaga o cooperativismo como solução para resolver os problemas econômicos. Nelsinho comemora o sucesso do movimento que mudou a realidade agrícola e econômica, inicialmente da região de Campo Mourão, e ao longo de várias décadas, de várias regiões do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.

Nelsinho lembra que, antes do surgimento da Coamo, foram cinco tentativas para fundação de uma cooperativa na região. “Fundava uma cooperativa, mas quem estava à frente não tinha experiência e nem credibilidade para tomar a frente. Tudo começou a mudar com a chegada do Dr. Aroldo, então agrônomo da Acarpa, em 1968, que acima de tudo é um idealista e empreendedor”, conta Nelsinho, que na época do nascimento da Coamo, era um jovem que trabalhava como avaliador do Banco do Brasil.



Revista Coamo: O Sindicato Rural de Campo Mourão está completado 50 anos. Como o senhor define esses 50 anos?

Nelson Teodoro de Oliveira: Os Sindicatos Rurais são o braço político do produtor rural, juntamente com a Federação da Agricultura e a Confederação Nacional da Agricultura, enquanto que o braço econômico são as cooperativas. Campo Mourão não tinha uma agricultura forte, era uma terra fraca, onde predominavam os 3S’s, saúva, sapé e samambaia.  Não tinha grandes empresas de cereais como tinha na época em Maringá, e apareciam uns “picaretas” que no começo da safra abriam as portas, recebiam a primeira carga e até pagavam, mas não ganhavam a confiança do produtor. Muitos iam embora e deixavam os agricultores na mão.



RC: O setor agrícola não tinha representação na época?

Oliveira: Não tínhamos nenhuma organização para defender o agricultor, tinha uma associação rural. Daí veio um agrônomo da Acarpa para cá (José Carlos Carvalho) que era o superior do engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini, que chegou com a missão de fundar um sindicato, transformar a associação em sindicato. Ele me chamou e me disse que eu não iria entrar como interventor rural, mas fazer um sindicato. Eu topei e fundamos o Sindicato Rural em Campo Mourão.



RC: Como nasceu a ideia no mesmo período de fundar uma cooperativa?

Oliveira: Logo em seguida desse trabalho veio para Campo Mourão o Dr. Aroldo para ser o Regional da Acarpa, com a ideia de fundar uma cooperativa. A Acarpa não tinha dinheiro para pagar o aluguel, aí quem pagava o aluguel era a Associação Rural que foi transformada em sindicato.



RC: O senhor acredita que o Sindicato Rural cumpriu sua função ao longo dos 50 anos?

Oliveira: Só a fundação da Coamo já cumpriu a função. Porque eu era trabalhador do Banco do Brasil, filho do ‘seo’ Joaquim Teodoro, que inclusive foi prefeito de Campo Mourão. Os agrônomos da Acarpa eram novos aqui, e houve cinco tentativas para fundar cooperativas, mas nenhuma deu certo pois ninguém acreditava. Daí surgiu o Dr. Aroldo com esse idealismo fazendo reuniões para fundar uma cooperativa e deu certo.



RC: Como era o Dr. Aroldo naquela época, com menos de 30 anos?

Oliveira: Era um idealista recém-formado. Quando a Coamo nasceu não tinha nenhum patrimônio, e tinha que ter aval para comprar lá e quem autorizava era o meu pai. Muitas pessoas chegavam nele e diziam: “’Seo’ Joaquim, o senhor é louco de avalizar esse rapaz? Nem daqui ele é. Aí o ‘seo’ Ferri [Fioravante, primeiro presidente da Coamo] assumiu a presidência e conversou com ele, que aceitou ser gerente da cooperativa. Meu pai dizia: “Esse menino, Aroldo, é um menino bom, ele ajudou muito na fundação da Coamo.”



RC: O senhor imaginava que 48 anos depois, a Coamo seria a cooperativa que é hoje?

Oliveira: No começou ninguém acreditava. Mas, deu certo pela seriedade e muito trabalho.



RC: Com a seriedade e trabalho, caminhou junto a confiança?

Oliveira: Sim, a confiança, porque é isso que o cooperativismo “vende”: confiança. Se não tem confiança, ninguém entrega aqui, ninguém entra de sócio e ninguém compra ou movimenta com a cooperativa. Então para mim isso tudo é motivo de orgulho. Posso dizer que o maior orgulho que tenho é a Coamo, pois desde o começo muitos não acreditavam, e entre os que tinham fé na ideia estava eu e o Dr. Aroldo. Sou nascido aqui, filho de fundadores da cidade e de ex-prefeito, fui vereador por um mandato e conheço muito a história do cooperativismo e da cidade, por isso afirmo: Campo Mourão se divide em antes e depois do presidente da Coamo.



RC: O cooperativismo mudou o cenário e a história de Campo Mourão?

Oliveira: Veja só pela história de Campo Mourão, que cresceu graças a Coamo e ao Banco do Brasil, que financiou todas aquelas terras ruins. A Coamo deu assistência técnica, recebeu a produção e pagou devidamente o produtor, que deixou de entregar para o cerealista e perder a metade ou mais da metade da produção. Então, a Coamo trouxe estrutura agrícola para a região, por isso afirmo que tenho o maior orgulho do cooperativismo e dizer que ajudei a fundar uma cooperativa de sucesso como a Coamo.



RC: Trata-se de um movimento que transforma e faz a diferença nas comunidades?

Oliveira: Eu vivi as duas fases, antes e depois da Coamo. Posso dizer que o cooperativismo é a melhor essência que tem. Um cidadão que me identifico muito, é o Mangabeira Unger (Ministro de Assuntos Estratégicos e coordenador do Programa Amazônia Sustentável). Ele é um dos grandes pensantes que já conheci. Ele estudou em Harvard e um dia ele esteve na Coamo com o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes (Imersão no cooperativismo paranaense em maio de 2009). Perguntei a ele qual a razão de vir a Campo Mourão. Ele me disse “Sabe Nelson, eu fui professor de Harvard por 28 anos, pedi uma licença agora e vim para o Brasil, país que nasci. O presidente do Brasil me convidou para projetar o país para os próximos 50 anos. Temos aqui o maior patrimônio do mundo que é terra para produzir alimentos. Mostrei esse relatório para o presidente, comprovando que só vamos colher o benefício desse trabalho por meio das cooperativas. Foi quando o presidente me pediu para falar com o ministro Reinhold. Fui e falei com ele e disse que o Paraná tinha um bom sistema cooperativista. Mas eu falei: ministro lá no Centro-Oeste tem muita gente exportando? Não, ninguém compra de um cidadão só. Temos que ter garantia de quem compramos e que amanhã será entregue para nós, não podemos ficar nenhum dia sem comer e nem os nossos animais, e somente com as cooperativas teremos segurança para esse trabalho”. Foi então, que eu disse ao Mangabeira que o segredo para uma cooperativa é gestão, e a Coamo era o modelo certo.

Nelsinho Teodoro ao lado do Dr. Aroldo e autoridades na inauguração do primeiro armazém da Coamo, em 1972. No discurso, João Palma Moreira, delegado do Ministério da Agricultura no Estado do Paraná

RC: A organização do setor produtivo é uma amostra da importância do agronegócio para o país?

Oliveira: Sim, é preciso ter novas lideranças e que os jovens se interessem pela política da agricultura, já que os líderes de hoje, daqui alguns anos não estarão mais à frente das entidades e serão substituídos.



RC: Então o senhor teme por um futuro com falta de novas lideranças?

Oliveira: Sim temo muito, se as novas lideranças não acordarem e dormirem por muito tempo, porque é muito fácil ficar só assistindo e ficar quieto, com falta de participação. Muitos agricultores jovens pensam apenas no dinheiro no bolso que os pais deixaram ou irão deixar.



RC: Quais motivos estão levando a Coamo ao sucesso?

Oliveira: O cooperativismo faz parte do meu dia a dia, acredito que a excelência na gestão, a qualidade nos serviços e a participação grande dos associados tem feito o sucesso da Coamo no cenário do cooperativismo e do agronegócio do país. Na cooperativa as coisas são feitas corretamente com muita seriedade, trabalho e honestidade, e os associados têm a satisfação e a confiança necessária para avançar sempre. Na Coamo é assim, tudo é feito com o propósito de beneficiar os milhares de associados.



RC: Qual é na sua opinião o futuro da Coamo?

Oliveira: O futuro da Coamo é o que estamos vendo hoje, fazendo os investimentos certos, avançando com os pés no chão e, com essa filosofia, o futuro é muito bom para o produtor rural associado e a cooperativa.

Nelson Teodoro de Oliveira nas comemorações de 25 anos da Coamo
RC: Qual a mensagem para os leitores da Revista Coamo?

Oliveira: A mensagem que deixo é uma mensagem de esperança pelos 48 anos da Coamo, a mesma mensagem de quando ela surgiu. Vamos acreditar em nós, no nosso futuro e acreditar nas nossas instituições. O futuro é muito bom, agora se nós ficarmos esperando que alguém faça por nós não tem como dar certo. A Coamo realiza um trabalho sério e honesto, e devemos ter muito orgulho de fazer parte da cooperativa, pois a cada dia ela prova para o Brasil que basta fazer um trabalho sério para ir em frente e alcançar o sucesso. Os cooperados valorizam a administração da diretoria e o trabalho que ela desenvolve. Parabenizo os cooperados, a diretoria e os funcionários por estes 48 anos de sucesso.

Nelsinho Teodoro integra o atual Conselho de Administração da Coamo
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