Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 518 | Outubro de 2021 | Campo Mourão - Paraná

AGRICULTURA

Quando o milho se torna um problema

Milho voluntário precisa ser encarado como uma planta daninha e se não manejado de maneira correta pode causar prejuízos

O campo de produção da safra de verão pode virar o ringue de uma batalha em que a soja pode não ter vez. O adversário é o milho voluntário, que sobra da colheita da segunda safra. Quando esse grão ou espiga, que ficou no solo, nasce, pode se tornar uma planta daninha. Além de disputar diretamente por água, luz, nutrientes e espaço, é hospedeiro de pragas como lagartas, pulgões, cigarrinha do milho e doenças como o complexo de enfezamentos. É um assunto sério e que exige atenção e planejamento do agricultor, para evitar severas perdas e queda na produtividade.

Com o início da safra de verão, o monitoramento é uma medida necessária para identificar se há ou não plantas de milho voluntário nas lavouras de soja, para que se defina a melhor estratégia de controle. “Nas regiões onde se predomina o sistema soja/milho segunda safra, o milho tiguera, é a principal ponte verde para a manutenção da população de cigarrinha no campo. Eliminada está ponte, teremos menos insetos com potencial de dano no milho segunda safra”, orienta o chefe da Fazenda Experimental da Coamo, João Carlos Bonani.

Outro alerta é que as cigarrinhas, utilizam o milho tiguera como fonte de alimentação, abrigo e reprodução em um período que a cultura principal não está instalada naquela área. “As cigarrinhas sadias e as cigarrinhas infectadas se alimentam e fazem posturas no milho, aumentando assim a população de cigarrinhas infectadas”, reforça Bonani.

Cabe ressaltar que antes o milho voluntário era controlado facilmente pelo glifosato, quando se tinha mais do cereal convencional. Contudo, com o avanço do milho RR, o grão com essa tecnologia não é mais controlável pelo glifosato. “Acabou ficando soja RR e milho RR. Assim, o glifosato não consegue agir e precisamos utilizar outros herbicidas para o controle”, explica o pesquisador da Embrapa Soja, Fernando Adegas.

Gráfico mostra perdas na produtividade da soja se o milho voluntário não for controlado corretamente

Portanto, entre os pilares de um bom manejo do complexo de enfezamentos da cultura do milho está a eliminação do milho voluntário. “O primeiro passo é fazer uma boa colheita, quanto melhor for, menos grãos e espigas vão sobrar na área. Além de tudo é dinheiro para o produtor, que não vai perder esse milho, pois está colhendo o máximo possível. Outra ação é controlar as emergências, quando esses milhos nascerão. Além de não deixar esse milho competir com a soja. Em resumo, colher bem e na hora certa e monitorar”, enfatiza Adegas.

Se o milho vem de grão e tem no máximo um ou dois fluxos, o controle é mais fácil, pois o fluxo é mais uniforme. Quando já vem de pedaços de espiga ou sabugo, esses fluxos podem acontecer em até cinco ou seis vezes. Isso dificulta o controle, pois será mais desuniforme. “Alguns herbicidas controlam o fluxo de grão, mas quando é fluxo de espiga inteira ou em pedaços, não dá. É preciso diferenciar de onde vem o milho voluntário.”

O milho voluntário precisa ser encarado como uma planta daninha. Qualquer uma quando cresce e passa para estádios mais avançados, fica mais difícil de controlar. “Milho voluntário pequeno que tem duas há quatro folhas é fácil de controlar. Quando cresce um pouco mais, com seis a doze folhas, quase dando uma espiga, fica muito difícil.”

O segredo é o planejamento do milho tiguera, conforme conclui Adegas. “Quando estamos semeando o milho, precisamos nos organizar e pensar na próxima cultura que será semeada. É preciso um bom planejamento para uma boa execução para não ter problema com esse milho voluntário. Na Embrapa temos estudos que apresentam essas perdas de um ano para outro. Se tiver duas ou três plantas por metro quadrado de milho, pode- -se perder até 50% da cultura da soja. É um número alarmante. O milho voluntário tem grande poder de competição. Estudamos também com a área técnica da Coamo os fluxos desse milho, que podem chegar em até seis. Imagine a dificuldade, cinco ou seis fluxos e duas plantas podendo nos deixar sem metade da produção.”

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