Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 556| Abril de 2025 | Campo Mourão - Paraná

SUSTENTABILIDADE

Conservar o solo é a base da produtividade e do protagonismo agrícola do Brasil

Celebrado em 15 de abril, o Dia Nacional da Conservação do Solo chama a atenção para a importância do manejo adequado da terra como base para uma agricultura sustentável. A data foi criada para reforçar a necessidade de práticas que evitem a erosão, preservem os nutrientes e garantam a fertilidade do solo, essencial para o futuro do agronegócio.

O presidente do Conselho de Administração da Coamo, José Aroldo Gallassini, destaca os avanços conquistados na conservação dos solos no país e lembrou um marco histórico para Campo Mourão e para o Brasil: o lançamento do Plano Nacional de Conservação de Solo, em 1976, na Praça Bento Munhoz da Rocha Neto, com a presença do então ministro da Agricultura, Alysson Paulinelli.

“O trabalho aqui foi tão expressivo que chamou a atenção do Ministério da Agricultura. O ministro veio até aqui lançar ofi cialmente o plano”, recorda Gallassini, destacando o esforço regional no combate à erosão e na implantação de técnicas conservacionistas.

Segundo ele, a construção de curvas de nível e, principalmente, a adoção do sistema de plantio direto, foram etapas decisivas para transformar a realidade do campo. “Foi um processo longo, começando com curvas de nível comuns, base larga e, depois, a grande virada com o plantio direto, que veio coroar esse trabalho”, explica Gallassini.

O plantio direto é amplamente adotado e reconhecido mundialmente como um método eficiente e sustentável. “A técnica começou nos Estados Unidos e foi trazida para o Brasil. Com muito esforço técnico e dedicação dos agricultores, ganhou força. Aqui no Paraná, começou em Rolândia e depois chegou à nossa região”, recorda o presidente.

Com orgulho, Gallassini destaca o papel da Coamo nesse avanço. “Obtivemos reconhecimento nacional por essa contribuição. O monumento construído na praça Bento Munhoz, em Campo Mourão, representa esse legado: mostra a erosão, a curva de nível e todo o processo de conservação, que mudou a história da agricultura brasileira.”

Ao refletir sobre as quase cinco décadas de evolução, Gallassini afirma que, “sem a conservação do solo, o Brasil não teria se tornado esse gigante na produção de alimentos. Foi o que permitiu transformar terras ácidas e fracas em áreas produtivas, garantindo o presente e o futuro da agricultura.”

José Aroldo Gallassini, no monumento de conservação de solo em Campo Mourão (PR)

Se perder o solo, perde o patrimônio

As novas gerações precisam entender o valor da conservação de solos, e todo dia é dia de conservar o futuro, segundo o pesquisador, engenheiro agrônomo, doutor em Ciência do Solo da Universidade Estadual de Maringá, Marcelo Augusto Batista.

No dia 15 de abril se comemora o Dia Nacional de Conservação de Solo, resultado da aprovação de uma lei federal 7876, de 13 de novembro de 1989.

“Basicamente tudo que desenvolvemos na parte agrícola passa em algum momento pelo solo, então manter e conservar o solo é um fator importantíssimo, e não tem como separar. Imagine que nós fazemos um grande investimento em um corpo e para ele nos dar uma resposta, não podemos perder esse corpo. Então, conservar o solo é basicamente isso, temos que manter e melhorar, e não destruir ou perder porque quem perde o solo, perde seu maior patrimônio”, afirma Batista.

Com experiência de mais de 20 anos atuando como professor e palestrante, ele ensina que para a conservação do solo é necessário usar de técnicas e práticas que envolvem engenharia e fitotecnia. “Chamamos isso de práticas de caráter vegetativo e mecânico. 

Quando a gente fala de conservação do solo todo mundo lembra só do terraço, mas o terraço é uma das técnicas de caráter mecânico.” Para o pesquisador, a adubação do solo é uma prática conservacionista. 

Batista diz que existem uma série de técnicas utilizadas para conservar o solo e isso foi desenvolvido ao longo de muitos anos. “No Brasil melhoramos, e podemos dizer que temos um sistema muito bem desenvolvido para conservar o solo e com conhecimento. A geração mais nova não se lembra dos terraços, das erosões e voçorocas, que existiam, por exemplo, na região de Campo Mourão e no Brasil inteiro. Mas com o plantio direto, a rotação de culturas e outras técnicas, a nossa realidade é diferente e muito melhor para colher altas produtividades”, comemora Batista.

O produtor brasileiro de forma geral sabe conservar o solo, conforme o pesquisador. “O Paraná é uma referência mundial de conservação do solo. Poucas pessoas sabem que algumas microbacias serviram de referências para estudos internacionais. Esta deve ser uma missão de todos os agricultores que tiram do solo o sustento para si e seus familiares, e produzem alimentos para o nosso país e o mundo”, considera o pesquisador.

Marcelo Augusto Batista, pesquisador, engenheiro agrônomo, doutor em Ciência do Solo da Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Conservar para produzir

Há mais de três décadas, Antonio Cesar Diniz, de Campina da Lagoa (PR), adota práticas conservacionistas e colhe os frutos da produtividade sustentável

Antonio César Diniz, de Campina da Lagoa (PR), adota práticas de conservação de solo, especialmente o plantio direto, que vem sendo aplicado de forma contínua desde o final da década de 1980

Em Campina da Lagoa (Centro-Oeste do Paraná), o cooperado da Coamo, Antonio César Diniz, alia tradição familiar e conhecimento técnico para preservar o solo e garantir boas produtividades, mesmo diante de adversidades climáticas. A prática de conservação adotada, especialmente o plantio direto, vem sendo aplicada de forma contínua desde o final da década de 1980.

Médico de formação, Diniz chegou à cidade em 1978 para atuar como cirurgião geral. No entanto, a ligação com a terra falou mais alto. “Meus pais sempre trabalharam com agricultura e pecuária. Cresci nesse meio e tinha o desejo de retomar essa origem”, relembra. No ano seguinte à chegada ao município, ele adquiriu uma área de 43 alqueires e começou a investir na agricultura.

Na época, o cenário não era promissor. “Campina da Lagoa estava praticamente toda à venda. A seca havia castigado a região, e muitos produtores queriam desistir”, conta. Mesmo assim, decidiu seguir em frente. Um dos primeiros passos foi contratar serviços para a construção de curvas de nível com esteira. “Desde o início, tive a preocupação de conservar o solo. Acreditava que seria possível produzir sem agredir a terra”, destaca.

Com o tempo, Diniz passou a buscar alternativas às práticas convencionais da época, que envolviam inúmeras operações antes do plantio da soja. “Era preciso gradear, passar herbicida, nivelar. Fazíamos até cinco operações antes de plantar. Ouvi falar de uma nova técnica chamada plantio direto e fui atrás de informações”, relata.

Após conhecer melhor a tecnologia, Diniz adquiriu uma plantadeira Baldan para iniciar os trabalhos. “Meu trator na época não dava conta, então precisei comprar outro, um pouco mais potente. Assim seguimos com o plantio direto, sempre pensando em preservar o solo e o lençol freático”, afirma. Segundo ele, a adoção das curvas de nível e o manejo conservacionista contribuíram para a manutenção das nascentes da propriedade. “Tenho minas que nunca secaram. Acredito que isso se deve ao trabalho contínuo de conservação.”

A produtividade, naturalmente, acompanhou a evolução tecnológica. “No início, a média era de 70 sacas de soja por alqueire. Com o tempo, as variedades foram melhorando e passamos a alcançar resultados maiores”, diz. A experiência no campo também traz lembranças das dificuldades enfrentadas no controle de plantas daninhas. “Tinha área infestada de leiteiro. Chegamos a carregar carretas com o mato para queimar. Era um desafio manter a produtividade”, conta o cooperado.

 

Antonio César Diniz com a esposa Sônia Maria Tittoto Diniz mostram o milho segunda safra com bom desenvolvimento mesmo após longo período sem chuva na área

Apesar das dificuldades, o plantio direto foi mantido. “Jamais abandonei. Sempre soube que revirar a terra destruiria tudo o que já tínhamos conquistado em termos de infiltração da água”, explica. Como exemplo prático, cita uma forte chuva de mais de 100 milímetros ocorrida na região. “Nas áreas com curvas de nível e plantio direto, a água sumiu rapidamente. Em outras áreas, transbordava.”

Mais recentemente, a prática conservacionista tem mostrado resultado na lavoura de milho da segunda safra. Mesmo com o estresse hídrico enfrentado entre o fim de fevereiro e início de abril, a lavoura se manteve vigorosa. “Não choveu quase nada no mês de março, justo quando o milho estava penduando. Ainda assim, a lavoura seguiu bem”, observa o associado.

Para Diniz, isso é reflexo do manejo adotado. “Não tenho base técnica para afirmar com certeza, mas acredito que, com a qualidade do solo, as raízes aprofundam mais e conseguem buscar água em maior profundidade”, diz. O trabalho também conta com o suporte técnico. “A orientação do engenheiro agrônomo da Coamo tem sido fundamental. Com a aplicação correta de insumos e nutrientes, conseguimos manter a sanidade e a produtividade das lavouras”, completa.

Para o engenheiro agrônomo da Coamo, Iury Machry Bomfi m, os bons resultados obtidos nas últimas safras estão diretamente ligados à conservação do solo. “A manutenção da fertilidade, a rotação de culturas e o plantio direto são práticas que têm impacto direto na produtividade. Aqui na região, temos observado que áreas com manejo adequado do solo apresentam desempenho superior, tanto no verão quanto no inverno”, explica.

Iury destaca ainda que o investimento em mix de plantas de cobertura durante o inverno tem sido uma estratégia importante para proteger e melhorar as características físicas e biológicas do solo. “A biota do solo responde bem quando há rotação de culturas e cobertura permanente. Isso contribui para diminuir a compactação, melhorar a infiltração da água e aumentar a disponibilidade de nutrientes.”

Ele reforça que, embora o clima seja um fator que o produtor não controla, é possível mitigar os efeitos negativos com boas práticas de manejo. “A conservação do solo é uma das principais ferramentas para garantir estabilidade na produção. Além disso, respeitar o meio ambiente, preservar matas ciliares e cumprir as exigências legais também faz parte do processo.”

Antonio César Diniz analisa palhada com o engenheiro agrônomo da Coamo, Iury Machry Bomfi m. Área será ocupada com trigo no inverno dentro de um planejamento de rotação de culturas

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