Em Campina da Lagoa (Centro-Oeste do Paraná), o cooperado da Coamo, Antonio César Diniz, alia tradição familiar e conhecimento técnico para preservar o solo e garantir boas produtividades, mesmo diante de adversidades climáticas. A prática de conservação adotada, especialmente o plantio direto, vem sendo aplicada de forma contínua desde o final da década de 1980.
Médico de formação, Diniz chegou à cidade em 1978 para atuar como cirurgião geral. No entanto, a ligação com a terra falou mais alto. “Meus pais sempre trabalharam com agricultura e pecuária. Cresci nesse meio e tinha o desejo de retomar essa origem”, relembra. No ano seguinte à chegada ao município, ele adquiriu uma área de 43 alqueires e começou a investir na agricultura.
Na época, o cenário não era promissor. “Campina da Lagoa estava praticamente toda à venda. A seca havia castigado a região, e muitos produtores queriam desistir”, conta. Mesmo assim, decidiu seguir em frente. Um dos primeiros passos foi contratar serviços para a construção de curvas de nível com esteira. “Desde o início, tive a preocupação de conservar o solo. Acreditava que seria possível produzir sem agredir a terra”, destaca.
Com o tempo, Diniz passou a buscar alternativas às práticas convencionais da época, que envolviam inúmeras operações antes do plantio da soja. “Era preciso gradear, passar herbicida, nivelar. Fazíamos até cinco operações antes de plantar. Ouvi falar de uma nova técnica chamada plantio direto e fui atrás de informações”, relata.
Após conhecer melhor a tecnologia, Diniz adquiriu uma plantadeira Baldan para iniciar os trabalhos. “Meu trator na época não dava conta, então precisei comprar outro, um pouco mais potente. Assim seguimos com o plantio direto, sempre pensando em preservar o solo e o lençol freático”, afirma. Segundo ele, a adoção das curvas de nível e o manejo conservacionista contribuíram para a manutenção das nascentes da propriedade. “Tenho minas que nunca secaram. Acredito que isso se deve ao trabalho contínuo de conservação.”
A produtividade, naturalmente, acompanhou a evolução tecnológica. “No início, a média era de 70 sacas de soja por alqueire. Com o tempo, as variedades foram melhorando e passamos a alcançar resultados maiores”, diz. A experiência no campo também traz lembranças das dificuldades enfrentadas no controle de plantas daninhas. “Tinha área infestada de leiteiro. Chegamos a carregar carretas com o mato para queimar. Era um desafio manter a produtividade”, conta o cooperado.
Antonio César Diniz com a esposa Sônia Maria Tittoto Diniz mostram o milho segunda safra com bom desenvolvimento mesmo após longo período sem chuva na área
|
Apesar das dificuldades, o plantio direto foi mantido. “Jamais abandonei. Sempre soube que revirar a terra destruiria tudo o que já tínhamos conquistado em termos de infiltração da água”, explica. Como exemplo prático, cita uma forte chuva de mais de 100 milímetros ocorrida na região. “Nas áreas com curvas de nível e plantio direto, a água sumiu rapidamente. Em outras áreas, transbordava.”
Mais recentemente, a prática conservacionista tem mostrado resultado na lavoura de milho da segunda safra. Mesmo com o estresse hídrico enfrentado entre o fim de fevereiro e início de abril, a lavoura se manteve vigorosa. “Não choveu quase nada no mês de março, justo quando o milho estava penduando. Ainda assim, a lavoura seguiu bem”, observa o associado.
Para Diniz, isso é reflexo do manejo adotado. “Não tenho base técnica para afirmar com certeza, mas acredito que, com a qualidade do solo, as raízes aprofundam mais e conseguem buscar água em maior profundidade”, diz. O trabalho também conta com o suporte técnico. “A orientação do engenheiro agrônomo da Coamo tem sido fundamental. Com a aplicação correta de insumos e nutrientes, conseguimos manter a sanidade e a produtividade das lavouras”, completa.
Para o engenheiro agrônomo da Coamo, Iury Machry Bomfi m, os bons resultados obtidos nas últimas safras estão diretamente ligados à conservação do solo. “A manutenção da fertilidade, a rotação de culturas e o plantio direto são práticas que têm impacto direto na produtividade. Aqui na região, temos observado que áreas com manejo adequado do solo apresentam desempenho superior, tanto no verão quanto no inverno”, explica.
Iury destaca ainda que o investimento em mix de plantas de cobertura durante o inverno tem sido uma estratégia importante para proteger e melhorar as características físicas e biológicas do solo. “A biota do solo responde bem quando há rotação de culturas e cobertura permanente. Isso contribui para diminuir a compactação, melhorar a infiltração da água e aumentar a disponibilidade de nutrientes.”
Ele reforça que, embora o clima seja um fator que o produtor não controla, é possível mitigar os efeitos negativos com boas práticas de manejo. “A conservação do solo é uma das principais ferramentas para garantir estabilidade na produção. Além disso, respeitar o meio ambiente, preservar matas ciliares e cumprir as exigências legais também faz parte do processo.”
Antonio César Diniz analisa palhada com o engenheiro agrônomo da Coamo, Iury Machry Bomfi m. Área será ocupada com trigo no inverno dentro de um planejamento de rotação de culturas
|