Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 546 | Maio de 2024 | Campo Mourão - Paraná

DIVERSIFICAÇÂO

NA ROTA DO QUEIJO

Famílias investem em diversificação de atividades como forma de gerar renda. Em algumas situações, a iniciativa acaba sendo uma necessidade para garantir a sustentabilidade e a geração de rendo no campo

Angelita Surkamp, de Pinhão (PR), produz queijos artesanais como opção de diversificação de atividades

Quem chega no sítio CRS localizado no Vale do Alecrim, em Pinhão (Centro- Sul do Paraná) já consegue ver na estrada de chão batido envolta por araucárias, um chalé de madeira aconchegante e acolhedor. É um convite para apreciar um bom queijo. Ainda mais um produto artesanal, feito com a união de uma família, no caso os Surkamp. O casal Angelita e Rogério toca o negócio com as duas filhas, em uma diversifi cação de atividades que se tornou a principal fonte de renda na propriedade.

A prática de diversificação envolve a introdução de múltiplas atividades produtivas em uma mesma propriedade, como alternativa ao modelo tradicional que depende de uma única cultura. São estratégias que permitem às famílias enfrentarem as incertezas do mercado e do clima com mais tranquilidade. Em resposta, muitos agricultores ampliam as operações, incorporando atividades produtivas. Em algumas situações, a diversificação acaba sendo uma necessidade para garantir a sustentabilidade e a geração de renda no campo.

No sítio CRS, a produção de queijos é uma tradição que vem da mãe e da sogra de Angelita. Eles sempre tiveram um carinho especial pelos produtos e, em 2015, começaram a fazer para consumo próprio. Depois, os parentes e amigos provaram os queijos e garantiram suas encomendas. Com o aumento da demanda eles perceberam que era hora de montar uma agroindústria.

A indústria familiar prosperou e hoje eles produzem queijo colonial com maturação de 30 dias ou de acordo com a preferência do consumidor. Eles também produzem queijo temperado e defumado, além dos queijos com morge de vinho e de café, um lançamento que a equipe da Revista Coamo teve o privilégio de degustar em primeira mão. Este último é produzido com o Café Coamo Extra Forte.

A Queijaria da Angelita está na rota dos queijos da região e já recebeu prêmios. “Em 2019, participamos de um concurso nacional e ficamos entre os "50 Ouro" com o queijo colonial maturação de 30 dias. Em 2023 participamos do concurso Paraná e ganhamos a medalha de ouro também no queijo temperado e defumado”, comemora a cooperada. O que começou com 20 litros por dia de leite, hoje precisa de 150 litros para atender a demanda. “Nosso objetivo é dobrar a produção. Pretendemos continuar a transformar leite em queijo”, revela Angelita.

O casal está realizando melhorias na propriedade. Eles estão construindo uma nova estrutura para a queijaria, inclusive com vitrines para que o consumidor possa ver os queijos expostos e com o espaço de ordenha das vacas. “Estamos ampliando com calma para não dar um passo maior que a perna. Somos gratos com tudo, inclusive, com a presença das nossas filhas trabalhando com a gente”, pondera.

Rogério com o médico veterinário Thales Henrique Fernandes de Quadros, da Coamo em Pinhão (PR). Bom manejo dos animais para produção de leite e queijos

Para que tudo funcione bem, cada um tem uma tarefa na produção dos queijos e o Rogério é o responsável pelo cuidado e ordenha das vacas. São cerca de 60 animais, sendo 35 em lactação. São produzidos 550 litros de leite por dia. Desses, cerca de 280 litros são destinados para a produção de queijo. “A ordenha da manhã fi ca para os queijos e a da tarde vendemos para o laticínio. Mas, com o aumento da estrutura, nossa expectativa é aumentar a produção do queijo”, prevê o cooperado.

O queijo bom e que atenda à expectativa do consumidor precisa de um leite bom. Para produzir essa matéria-prima de qualidade, os Surkamp investem na alimentação das vacas. O suporte técnico para garantir uma boa alimentação, vem da assistência técnica da Coamo. O médico Veterinário, Thales Henrique Fernandes de Quadros, da Coamo em Pinhão, revela que a ideia na propriedade é trabalhar com a diversidade de alimentos. “O objetivo é sempre reduzir um pouco do custo e continuar com uma produtividade boa para as vacas.”

 

O queijo produzido pelo Produtos da Angelita precisa ter um alto teor de gordura. Por isso, segundo Thales, a escolha das raças das vacas também é importante.“Eles trabalham com vacas jerseys, mais propensas a produzir leite com teor de gordura mais alto. Utilizam as rações Coamo com teor de energia mais alto e uma alimentação balanceada para alavancar o teor de gordura.”

Ele ressalta também a importância de cuidar da sanidade dos animais. “É preciso trabalhar muito a parte da saúde, controlar mastite, ter qualidade de manejo de ordenhadeiras e das vacas. Sempre avaliar essa qualidade do leite para saber o que está trabalhando e, com isso, conseguir produzir seu queijo de qualidade. Não adianta a gente só pensar em volume.”

O cuidado é tanto que, inclusive, os Surkamp, tem uma certifi cação de área livre de tuberculose e brucelose. “São poucas as propriedades que têm esse selo. Isso é um passo importante, porque você consegue ter uma garantia de qualidade. Com essa certificação, tem facilidade de acessar mercados regionais, estaduais e até de fora do país”, afi rma o veterinário.

Leite de Primeira

Um produto para ser bom exige uma matéria-prima de qualidade. Da mesma forma que os Surkamp prezam por isso, tem também o cooperado Sérgio Amaral dos Santos, de Janiópolis (Centro-Oeste do Paraná). A diferença é que a diversifi cação da propriedade dele está focado na produção de leite. Ele produz e entrega para que outra família realize a transformação em queijos. “É um trabalho gratificante que fazemos com carinho e com muita calma com as criações, para obter um produto de qualidade.”

Numa média, ele produz cerca de 19 litros de leite por dia para cada vaca. Quando ele está com 30 vacas em lactação, consegue tirar cerca de 630 litros de leite por dia. “Geralmente no inverno a produção cai um pouco, pois a vaca está no final da lactação.”

Boa parte da produção do cooperado é destinada para produzir queijos. “O leite que produzo pela manhã é todo destinado para eles. Enquanto a produção da tarde comercializo para lacticínios”, explica Sérgio.

Pelo fato de o leite ser destinado para a produção de queijos a preocupação com a qualidade é redobrada. “As vacas precisam produzir um leite com bom teor de gordura e proteína. Quanto melhor e mais gordo for o leite, aumenta a qualidade do queijo.”

Para obter essa qualidade, Sérgio precisa se atentar ao manejo. “Quando as vacas estão no pasto, este precisa ser bom e quando estão em confinamento precisam de uma silagem de qualidade, somado a uma ração de qualidade, que no caso eu utilizo as rações Coamo.”

Sérgio Amaral dos Santos, de Janiópolis (PR), produz leite para a produção de queijos da família Menão Leandro, Moacir, Adalgisa e Adriano. Família unida na produção de queijos em Janiópolis (PR)
O galo canta e o queijo cura

São seis da manhã e o leite produzido pelo seu Sérgio já está no sítio São Sebastião de propriedade da família Menão. Antes mesmo do nascer do sol e do galo cantar, o cooperado Adriano, chega com o leite que acabou de sair da vaca. A esposa dele, Adalgisa, ou o irmão, Leandro, já estão esperando e com tudo pronto para iniciar o processo de produção dos queijos tipo minas frescal, temperado e sem lactose.

Os dois irmãos, Adriano e Leandro, herdaram o gosto pelo queijo da mãe, a dona Odília. Eles contam cada um com a sua queijaria e seus clientes. Cada um tem o seu negócio e ponto de venda e para não atrapalhar a comercialização um do outro, eles alternam os dias de produção, tendo em média 40 quilos de queijo por dia.

Quando Adriano se casou com Adalgisa, ela começou a ajudar a sogra a produzir queijos. “Com o passar do tempo e os ensinamentos da minha sogra, decidimos que queríamos ter nosso próprio negócio para diversificar a renda. Com a receita dela iniciamos, e pouco a pouco fomos aumentando a produção”, lembra Adalgisa.

A produtora explica que a matéria-prima deles é o leite cru e para trabalhar com esse tipo de produto é preciso ter muita qualidade. “Esse leite precisa ter rastreabilidade. Pegamos o leite do Sérgio, pois sabemos a procedência. Ele está dentro das normas, tem todos os exames laboratoriais que precisa e é acompanhado pela equipe técnica da Coamo. Por isso, conseguimos fazer esse queijo fresco sem precisar pasteurizar o leite”, afirma.

Produzir queijos é uma tradição que vem sendo repassada pelas gerações na família Menão

Leandro também aproveitou a receita dos queijos de sua mãe e abriu sua queijaria. “Como a propriedade da família não é grande, é importante diversificar para obter mais renda. Além das divisões no trabalho de lavoura entre mim, meu irmão e meus pais, temos a produção de queijos”, revela.

Como opção de diversifi cação, Leandro destaca que o queijo é uma boa alternativa. “O queijo vem desde antes da minha mãe casar com meu pai. A produção foi aumentando, principalmente de uns 10 anos para cá. Hoje representa 50% da renda da nossa família. Em anos que a lavoura não vai tão bem, o queijo supre essa falta, pois traz uma rentabilidade estável.”

E se Leandro e Adalgisa ficam mais à frente da produção dos queijos, Adriano se encarrega da parte de buscar o queijo e cuidar da lavoura. “Quando me levanto ainda está escuro. Eu busco o queijo e entrego para minha esposa ou meu irmão.”

Na propriedade também tem soja e milho. Eles plantam 50 alqueires próprios e arrendados. “Nossa família começou com o café e na época, meus pais já tinham essa visão de ter uma segunda fonte de renda. As vezes com a geada, ficávamos sem produzir e o queijo ajudava a manter as contas em dia”, recorda Adriano.

Como a lavoura tem seus contratempos, ainda hoje, apesar do cenário ser outro, é o queijo que dá a estabilidade financeira o ano inteiro. “Essa tradição que minha mãe trouxe para nós faz toda a diferença em nossa família. Eu e meu irmão crescemos vendo nossa mãe fazer queijo e queremos que essa sucessão perdure em nossa família.”

O patriarca da família, Moacir Menão, mora em Janiópolis desde 1961 e conta como começou a produção de queijos na família. Ele recorda que no início fazia queijo para a família e quando se casou, em 1977, começou a fazer para vender. A família da esposa tinha tradição com a produção de queijo e ganhou força após o casamento. “No início o trabalho era bem artesanal. Era tudo manual, desde a ordenha até a produção final. Hoje os filhos trabalham com uma estrutura melhor, mais adequada para produzir queijos”, comenta.

Ele conta que incentivaram os filhos, Leandro e Adriano, para que eles dessem continuidade no trabalho, pois desde crianças acompanhavam a fabricação dos queijos. “Eles acreditaram e investiram no negócio. É uma satisfação ver que eles estão dando continuidade a um produto que se tornou uma importante fonte de renda para toda a família. O queijo produzido aqui na propriedade é de qualidade e tem ótima aceitação. Isso nos enche de orgulho.”

Adalgisa é uma das responsáveis pela fabricação dos queijos
Produção de queijos requer trabalho e dedicação

Queijo com um legado

Família Backes produz queijos finos e premiados em Vila Nova, no município de Toledo (PR)
O casal Cirlei e Everaldo Antonio Hammes Backes, residem no distrito de Vila Nova, município de Toledo (Oeste do Paraná), desde 1980, quando vieram de Entre Rios do Oeste. Há 35 anos trabalham no sítio transformado por eles em um modelo de sucesso ao investir na produção de queijos finos, como opção de diversificar as atividades na propriedade. “Tínhamos mais de 11 anos de produção de leite e percebemos as dificuldades financeiras. Decidimos agregar valor ao produto que já tínhamos e sabíamos fazer. Quando me aposentei, decidi me aliar ao Everaldo. Não fazemos as coisas só por dinheiro, mas sem dinheiro não se vive. Queríamos sustentar nossa família com um legado e um significado, inspirando outros a viverem desse trabalho”, comenta Cirlei.
Ela conta que os queijos já tinham valor afetivo para ela, pois os fazia desde a infância. Cirlei trabalhou 36 anos na educação e voltou a trabalhar na área rural para agregar valor ao queijo, usando o leite que o marido sempre trabalhou para produzir. “Quando agregamos valor e diversifi camos, conseguimos uma relação direta com o consumidor. A situação muda, pois a pequena propriedade consegue sair do produto primário e ir para o secundário e terciário, comercializando seu próprio produto diretamente. O consumidor ganha um produto de qualidade por um preço mais acessível e nós ganhamos mais, tanto financeira quanto afetivamente, comercializando algo que sei fazer e herdei da minha família”, observa.

Everaldo Backes trabalha junto com a esposa na produção de leite e queijos

A propriedade recebe visitas, onde as pessoas conhecem todo o processo e podem adquirir os queijos. “Realizamos eventos para grupos que podem degustar nossos queijos em diversas combinações. Temos cinco tipos de queijos: dois franceses e três autorais”, revela Cirlei.

Everaldo ressalta que todo o trabalho é realizado por meio de parcerias. “Esse é o caminho. Temos parcerias focadas principalmente na produção de queijos fi nos. Esse projeto realmente deu significado para nossa propriedade. Antes disso, trabalhávamos com queijos tradicionais, que eram bons, mas não tinham excelência. Hoje, temos premiação internacional”, ressalta.

De acordo com o cooperado, ter uma renda extra com o queijo, além da agricultura e do leite in natura, é muito importante. “Agregar valor e deixar um legado é crucial. Trabalhar com excelência motiva nossos filhos a permanecerem na propriedade. Queremos que eles estudem e se fixem aqui.” Ele acrescenta que a propriedade é livre de brucelose e tuberculose, um trabalho pioneiro no município. “Cuidar bem dos animais é essencial para ter um leite de qualidade, pois não se faz um bom queijo com leite ruim. Controlamos mensalmente cada animal, garantindo a rastreabilidade do produto e a qualidade da matéria-prima.” A queijaria Atani tem o nome inspirado nas iniciais dos nossos filhos: Alexandre, Thais e Nicole.

Na propriedade são produzidos entre 700 e 800 litros de leite por dia, com picos de até mil litros. São utilizados cerca de mil litros semanais para a produção de queijo e o excedente é entregue no laticínio. “Estamos aumentando a produção de leite e queijo gradualmente, conforme a demanda. É um dos nossos desafios, mas estamos nos preparando para isso”, ressalta Everaldo.

Rebanho de oportunidades

Robson Livi com o pai Paulo e o filho Samuel. Ovelhas surgiram como opção de diversificação de atividades e se tornaram uma importante fonte de renda na propriedade

Robson Daniel Livi encontrou na ovinocultura uma alternativa para a geração de renda em São Pedro do Iguaçu (Oeste do Paraná). Agricultor, ele começou a criação de ovelhas há sete anos e escolheu a raça Dorper, que lhe chamou a atenção pela beleza e produção de carne. "Quando vi a Dorper pela primeira vez, gostei muito e pesquisei bastante sobre suas características raciais e sua capacidade de produzir carne. É uma raça adaptável às condições climáticas e feita especificamente para a produção de carne", explica.

A criação de ovelhas tem se mostrado uma atividade muito importante para a economia da propriedade de Robson, agregando valor e se tornando uma fonte significativa de renda. "Eu não esperava que a ovinocultura se tornaria uma das principais fontes de renda, mas o mercado está muito receptivo. A criação de ovinos está crescendo no Brasil", acrescenta o cooperado.

Robson possui cerca de 80 animais na propriedade Cabanha Pérola Negra, incluindo 45 matrizes. Ele utiliza redes sociais e participa de feiras para comercializar os animais. "As feiras são uma vitrine para apresentar as ovelhas", frisa. Os animais são criados em um sistema semiconfinado, onde ficam a pasto e são alimentados no cocho. Eles são classificados conforme o sexo e a idade para receberem o tratamento adequado. "Utilizo uma área que não chega a meio alqueire, que foi reestruturada para garantir a sanidade e bem-estar dos animais", explica Robson.

Apesar do pequeno espaço e do número relativamente baixo de animais, Robson destaca a rentabilidade da atividade. "Com poucos animais e pouco espaço, consigo uma boa rentabilidade. Tenho em torno de 80 animais em menos de meio alqueire", afirma.

Além da ovinocultura, Robson também trabalha com agricultura, o que ele considera uma combinação importante. "Ter uma atividade diversificada é crucial. Sempre fui agricultor, mas queria algo novo e acabei optando pelas ovelhas ", conta. "A ovinocultura pode não ser a principal fonte de renda, mas paga muitas contas. É uma paixão trabalhar com ovelhas. Qualquer um que tenha vontade de entrar nessa atividade vai entender o prazer que é mexer com esses animais", finaliza.

Rebanho conta com animais premiados em feiras

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.