Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 469 | Maio de 2017 | Campo Mourão - Paraná

SAFRA DE INVERNO

LUCRO VARIÁVEL, MAS SISTEMA EQUILIBRADO

"A palhada do trigo favorece o plantio direto e a fertilidade do solo", diz cooperado Ilseu Mazzuti, de Marilândia (Centro-Norte do Paraná)

Muitas vezes prejudicado pela política agrícola, o trigo perdeu espaço ao longo dos anos e para o bolso do produtor não costuma gerar grandes resultados, se comparados aos da soja e do milho em anos bons. Contudo, para o sistema de produção o cereal sem dúvidas ainda é a melhor opção de inverno na maioria das regiões produtoras, sendo importante para a rotação de culturas e a quebra do ciclo de pragas e doenças dentro da propriedade. 

Apesar do desfavorecimento do mercado, quando bem conduzido, o trigo é capaz de agregar lucro e inúmeras outras vantagens ao sistema produtivo, contribuindo diretamente com o desenvolvimento das culturas subsequentes, seja a soja ou milho verão. Por isso, os triticultores da região da Coamo não abrem mão de investir no cereal, independentemente da liquidez do produto. Na propriedade do cooperado Ilseu Mazzutti, de Marilândia do Sul (Centro-Norte do Paraná), o trigo é a principal alternativa para o inverno e para ele a cultura soma muito para o verão. "Considerando os dois sistemas [verão e inverno] o trigo nos traz bons resultados, não tanto financeiro, mas especialmente para melhorar as produtividades das culturas de verão”, acrescenta.

Conforme o produtor, além de proporcionar melhor controle de pragas e ervas daninhas, a palhada do trigo ainda favorece as operações de plantio direto e contribui para o melhor equilíbrio da fertilidade do solo e manutenção de umidade no sistema. O cooperado revela que neste inverno 60% da área de plantio da propriedade foi ocupada pelo trigo e o restante com milho de segunda safra. “Plantamos em torno de 200 alqueires de trigo neste ano e esperamos colher uma média de 130 sacas acima. Este é o resultado que temos obtido nos últimos anos. Além de nos proporcionar um rendimento razoável ainda ajuda muito o sistema”, garante.

Com clima propício para o desenvolvimento da cultura, a região de Marilândia do Sul é amplamente ocupada pelo trigo no inverno. A aveia e o milho safrinha são as outras espécies com boa adaptabilidade na região, que é de clima frio e geograficamente alto. “O trigo é o carro-chefe da nossa região e traz bons resultados para os produtores, porque eles vêm investindo bem durante os anos. Em áreas grandes como a do Ilseu uma média de 130 sacas é considerada boa. Mas, temos casos aqui em áreas pequenas com mais de 160 sacas por alqueire, quando a lavoura é bem conduzida. Essa cultura pode proporcionar para a soja um aumento de produtividade de até 15 a 20% quando é bem adubada e manejada”, esclarece o engenheiro agrônomo Cezar Machado Carrijo, do Departamento Técnico (Detec) da Coamo em Marilândia do Sul.

INTERVENÇÃO POSITIVA

Família Zanelli, de Faxinal (Centro-norte do Paraná): trigo é importante no sistema do produtor

Com clima regular e chuvas na hora certa as lavouras foram implantadas dentro do zoneamento recomendado e estão em pleno desenvolvimento na região de Faxinal, também no Centro-Norte do Paraná. Na propriedade da família Zanelli, as plantas emergiram conforme o previsto nos 130 alqueires destinados à cultura, que todos os anos ocupa pelo menos metade da área da família. “Na nossa região o trigo é fundamental, apesar de ser uma cultura instável. Mas tem anos que nos dá retorno e ainda interfere positivamente no sistema”, explica Paulo Francisco Zanelli, um dos três filhos do ‘seo’ Antonio, que trabalha em parceria com o pai e os irmãos. “É uma cultura que ajuda em todos os sentidos, dando ou não o retorno financeiro, mas quando produz bem é muito vantajosa. Ano passado chegamos a produzir em alguns talhões até 200 sacas por alqueire”, revela Paulo, lembrando que, mais uma vez, investiram alto no cultivo. “Nossa parte estamos fazendo, o problema é a comercialização desse produto que a cada ano fica mais complicada”, diz.

Patriarca dos Zanelli, ‘seo’ Antonio faz questão de cultivar trigo. O cereal está presente no dia a dia do cooperado há mais de 20 anos. “Até teve uma época que migramos para a aveia, mas como ela não tem muito comércio voltamos para o trigo e o milho safrinha”, conta o produtor, que teve bons e maus momentos com a cultura, mas não deixou de plantar. “Já tivemos dificuldades com o clima e hoje em dia com a comercialização. De uns anos para cá melhorou muito, mas já passamos alguns apertos. No entanto, como é um cereal determinante para o sistema de produção e a melhor opção de inverno para nossa região continuamos cultivando”, afirma Paulo, elogiando o apoio da cooperativa. “Procuramos fazer o melhor nessa parceria e graças a Deus tem dado certo.”

Geograficamente formada por regiões com diferentes altitudes, o clima no município de Faxinal propícia a implantação do trigo em razão da janela entre o verão e o inverno ser um pouco mais extensa que em outras regiões, de acordo com o agrônomo Alvaro Ricardo Moreira, do Departamento Técnico (Detec). Ele esclarece que não é fácil cultivar o cereal, mas no contexto de planejamento anual, o trigo é de fato a melhor alternativa para o período mais frio do ano. “Pensando em manejo de plantas daninhas e fertilidade, diminuição de plantas daninhas, entre outros, mais que uma opção econômica o trigo é uma opção de manejo mesmo. Temos muitos triticultores tradicionais nesta região”, finaliza.

Cooperado Paulo Zanelli aposta na tradição de plantar trigo e comemora a boa produção do cereal
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