Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 480 | Maio de 2018 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“O mundo exige lideranças empreendedoras e cooperativistas.”

José Luiz Tejon: Jornalista, publicitário, mestre em arte e cultura com especializações em Harvard, MIT e Insead e doutor em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai. Colunista da Rede Jovem Pan, autor e coautor de 33 livros. Coordenador acadêmico de Master Science em Food & Agribusiness Management pela AUDENCIA em Nantes/França e professor na FGV In Company. Considerado uma das 100 personalidades do agronegócio pela Revista Isto é Dinheiro. Homenageado pela Massey Ferguson como destaque no agrojornalismo brasileiro 2017. Conferencista com Prêmio Olmix – Best Keynote Speaker/ Paris e Top Of Mind Estadão RH. Presidente da TCA International e Diretor da agência Biomarketing.

O entrevistado do mês na Revista Coamo é o jornalista, palestrante e escritor José Luiz Tejon. Ele aborda temas importantes sobre empreendedorismo, cooperativismo, política e como ter sucesso na vida profissional e pessoal. "Sucesso é tudo o que ocorre enquanto estamos apaixonados, trabalhando com amor e engajamento. Sucesso significa manter a nossa criança interior viva dentro de nós, independentemente da idade. Sucesso é algo que não termina nunca", diz. "Para ter uma boa cooperativa você precisa de líderes dignos, corajosos e que compreendam o poder fundamental de criar equipes de valor", cita Tejon.


Revista Coamo: Como o senhor se define e qual o seu legado para alunos, professores, parceiros e empreendedores?

José Luiz Tejon: Sou um ser humano que fez dos grandes incômodos a sua alavanca de crescimento e de progresso. Um aprendiz das grandes pessoas com as quais convivi e convivo. O resultado da cooperação e o meu legado é encorajamento de seres humanos. A vida na terra será sempre uma arte de lutas e quando não duvidamos do nosso destino e domamos o medo, passamos a não temer os desafios, e ao contrário, compreendemos que há um gigantesco poder positivo nos incômodos. Guerreiros não nascem prontos, e aprender é a sabedoria maior de uma vida, ao invés de botar culpa no entorno.


RC: Considerando sua experiência em diferentes áreas como gestão de vendas, agronegócio, liderança, motivação e superação humana, por qual tem inclinação?

Tejon: As áreas dos nossos talentos em vida se conectam. Aliás, dizem que talento é a capacidade de um ser humano se expor às experiências. O agronegócio para mim é um exemplo de guerreiros. Produtoras e produtores rurais são seres humanos que são incomodados o tempo todo. A agropecuária é uma sucessão de fatores incontroláveis. As evoluções da tecnologia também os obrigam a mudar, o tempo todo. Precisam fazer sucessores e criar, liderar e progredir com uma cooperativa. Uma prova gigantesca da vitória da sabedoria humana acima das incertezas e dos fatores incontroláveis. Liderança é fundamento para tudo na vida. E, a venda, está presente em tudo o que fazemos. A venda mais difícil do mundo é vendermos nós mesmos para nós mesmos. Vender as mudanças, as nossas transformações. A segunda venda mais difícil do mundo é vender as pessoas que amamos para elas mesmas. Vender a crença no potencial humano dos nossos filhos por exemplo.


RC: O senhor sempre fala de sucesso, mas o que é o sucesso, e como fazer para ser bem-sucedido?

Tejon: Sucesso é tudo o que ocorre enquanto estamos apaixonados, trabalhando com amor e engajamento. Sucesso significa manter a nossa criança interior viva dentro de nós, independentemente da idade. Sucesso é algo que não termina nunca. A felicidade, porém, essa é nosso momento presente. O sucesso é o futuro. Mas se não sentirmos o prazer íntimo da realização e do sucesso, desanimamos, e ao desanimar, perdemos a felicidade, e se perdermos a felicidade paramos de evoluir, em qualquer coisa na vida, no trabalho e nas relações humanas.


RC: Qual a importância da criatividade para impulsionar competições, melhorias de ambientes e condução saudável dos negócios?

Tejon: Existe um processo na vida. Começa com a coragem. Coragem para enfrentar as frustrações e os desafios do viver. Sem a coragem não confiamos em nós mesmos. E se não confiamos em nós mesmos, não confiamos na outra pessoa. E se não confiamos nos outros não cooperamos. E aí surge a criação. Toda criação é resultado da cooperação. Não criamos nada sozinhos. Ao obtermos a criação, uma visão inovadora que soluciona o que antes era impossível de ser resolvido, adquirimos o poder da consciência. Ou seja, podemos superar os infortúnios e as dificuldades do viver. Com a consciência clarificada podemos conquistar. Ao conquistar paramos para corrigir, para a autocrítica. Então finalizamos o círculo criando o caráter. Ao obtermos caráter, enfrentamos e construímos o nosso destino. Dessa forma a criação, por exemplo do cooperativismo foi um salto gigantesco na vitória da dignidade capilar do ser humano, acima dos infortúnios, da opressão e da submissão.


RC: O mundo carece de lideranças e empreendedores?

Tejon: O mundo exige doravante lideranças empreendedoras e cooperativistas. Não basta só o empreendedor. O empreendedor consegue fazer para poucos. A liderança precisa ter o outro lado da mesma moeda: a missão cooperativista.  Com ela o empreendedorismo pode ser compartilhado, e não deixamos para traz pessoas. A moderna liderança empreendedora, mesmo de organizações e corporações não cooperativadas, exigirá uma filosofia de gestão muito similar as melhores cooperativas do país, como é o próprio caso da Coamo.


RC: O senhor disse em uma entrevista, que se o Brasil tivesse mais “Aroldo Gallassini”, o país seria diferente. Por quê?

Tejon: Exatamente porque o Gallassini é um exemplo vivo do líder empreendedor e cooperativista. Conheço a Coamo há muitos anos, ainda nos anos 70, e vi sempre a integridade, a honestidade, uma abertura imensa para o novo, investimentos poderosos na educação, criatividade, diversificação, e ousadias, e crescimento da base cooperada. É uma cooperativa empreendedora que gera e cria cooperados empreendedores. Onde existe uma cooperativa bem liderada, com seres humanos como o Gallassini, ali tudo floresce muito melhor: a cidade, a sociedade, as escolas e a qualidade de vida. Portanto é fácil concluir: onde tem uma boa cooperativa, a vida tem mais dignidade. Para ter uma boa cooperativa você precisa de líderes dignos, corajosos e que compreendam o poder fundamental de criar equipes de valor. Pessoas que deem o exemplo em si mesmos. Por isso, minha admiração e elogios ao Gallassini. Alguns seres humanos mudam o mundo.  A história mostra. Precisamos assumir isso, e compreender esses valores, admirá-los e que eles sirvam de estímulo para a criação de novos líderes no mundo.


RC: Por que “Os Guerreiros não nascem prontos? 

Tejon: Tudo começa na educação infantil, na nossa família e no nosso berço. Como somos criados nos prepara para a coragem valorosa de enfrentarmos o mundo dentro da ética e dignidade da cooperação. Esses valores fundamentais são incorporados dentro de nós. A partir daí nos transformaremos em seres humanos que aprendemos a admirar e imitar. Um ambiente saudável, amplia consideravelmente a possibilidade de criarmos mais guerreiros valorosos. Guerreiros não nascem prontos, aprenderemos sempre, e o que separa um ser humano que vai ao futuro do outro é a sua capacidade de aprender a aprender. E grandes guerreiros nunca morrem, viverão para sempre dentro da memória e das atitudes dos seus sucessores.


RC: Para ser feliz e bem-sucedido, é preciso motivação?

Tejon: Para sermos bem-sucedidos, precisamos ser felizes e para ser felizes precisamos ter um sentido pelo qual vale a pena viver, e até morrer. Se tivermos um sentido forte dentro de nós, vamos encontrar o como fazer, iremos ter felicidade na jornada, no aprendizado e saberemos relativizar todos os espinhos do caminho. Tudo dependerá do sentido. E como obter sentido? Admirando seres humanos que conseguiram dar saltos espetaculares na vida, e comparando com outros que sob as mesmas circunstâncias não conseguiram. E qual o segredo da felicidade? Amor à uma causa, ao trabalho e as pessoas.


RC: Como percebe a visão dos brasileiros em relação ao agronegócio?

Tejon: 0 Agronegócio precisa se comunicar melhor, e a cada cadeia produtiva precisa educar o consumidor. A cadeia de carnes precisa educar seus clientes sobre a saúde, o que significa a boa nutrição. A sociedade não pode ter medo da ciência, da tecnologia, pois alimentos serão, cada vez mais, resultado do conhecimento humano e um sinônimo de saúde. Estamos no negócio da saúde humana, produzindo grãos, carnes ou hortifruticultura.  E se sustentabilidade é importante, qualidade e sanidade são fundamentais. Portanto, precisamos comunicar com o sentidoeducador,  precisamos estar mais unidos à agroindústria, aos supermercados e varejo. E nas exportações, precisamos cuidar da imagem do Brasil. Exportamos para cerca de 200 países, e eles pouco sabem do Brasil e das suas virtudes. Dou aula na Europa, e num encontro com o embaixador do Brasil na França diante de mais de 500 jovens universitários em Nantes, estávamos sendo criticados pois eles viam uma grande agricultura intensiva e de escala. Disse a eles que a França tem 400 mil agricultores e que no Brasil, apenas nas cooperativas tínhamos cerca de 1 milhão. O cooperativismo deveria ser um plano do estado brasileiro para mostrar ao mundo um lado humanista que progride, e que não é  assistencialista e populista. As nossas cooperativas poderiam ser excelentes casos para campanhas de imagem mundial.


RC: Como analisa o cooperativismo do Brasil e os seus resultados?

Tejon: O mundo tem quase 1 bilhão de cooperados, o Brasil cerca de 13 milhões e mais as suas relações indiretas. O faturamento das cooperativas no planeta terra é em torno de US$ 3 trilhões e no Brasil, em torno de R$ 350 bilhões. Somadas as cooperativas do Brasil e do mundo, elas são as maiores empresas do planeta. O mundo vai para 10 bilhões de pessoas e precisa muito mais do cooperativismo e das cooperativas, do que as cooperativas do mundo. O cooperativismo precisa ser um programa de estado, uma cultura difundida para toda a população, e matéria obrigatória desde a escola fundamental.  A Coamo, é um dos casos mais relevantes de cooperativas bem lideradas do país e do mundo. É criativa e iniciou por exemplo, exportações de milho. Ela agroindustrializa, inova, e cresce sua base cooperada. Seus resultados falam por si e o mais importante: superou o tempo e as piores crises do país, e continua superando. Seu sucesso vence o curto prazo. A Coamo é um exemplo merecedor do mais profundo estudo da arte de superar com milhares de pessoas juntas no Brasil.


RC: Qual deve ser o papel dos eleitores para o futuro do país?

Tejon: Eu não acredito mais somente em governo, só acredito doravante na sociedade civil organizada. Precisamos que a sociedade que realiza, que faz o PIB do país, que paga os impostos, gera empregos e riquezas, que planta, alimenta e exporta, que essa sociedade unida, reunida e organizada defina programas para o poder público seguir, e não ao contrário. Para as eleições, precisamos votar e eleger um líder sério, íntegro, honesto, corajoso, criativo, brasileiro e humano. E que tenha no cooperativismo uma das suas mais fundamentais bandeiras para seu programa de governo.


RC: Se fosse eleito Presidente da República, quais seriam suas prioridades?

Tejon: A prioridade seria criar uma mentalidade de empreendedorismo a partir da cooperação. Espantar a síndrome de vitimização do país. Promover e dar imensa estima ao trabalho, a ciência e a educação. Cuidarmos da base da pirâmide social do país, urgentemente, em função do modelo de crime que termina por atrair jovens e crianças. Seguir a lei. Diminuir o governo, o estado, e ampliar exponencialmente a atividade empreendedora com o cooperativismo.  E logicamente, irrigar o país em aberturas internacionais e nos posicionarmos como um país feito com todas as raças do mundo, todos os credos, um país onde não há espaço para o preconceito e a guerra. E neste contexto, quem é o melhor brasileiro? É aquele que conseguir orquestrar a cooperação dos melhores brasileiros. Um dia li que uma cooperativa era uma horda de egoístas, mas logo havia o texto seguinte: bem-intencionados. Ou seja, o melhor brasileiro é a liderança que integra os diversos egos humanos dentro de um sentido da boa intenção. Um grande abraço e a minha admiração ao Gallassini, à diretoria, equipe, funcionários e todos os cooperados da Coamo.

José Luiz Tejon com o mais recente livro "Guerreiros Não Nascem Prontos"
É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.