Faculdade no campo
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Lucas Battisti Dall Est, de Tupãssi (PR), representa uma nova e bem informada geração de agricultores |
O tempo ainda fechado e o barro na estrada eram motivos de alegria. Afinal, depois de 40 dias, a chuva voltava a aparecer na região Oeste do Paraná. Na direção de uma camioneta preta, um jovem agricultor apontava de um lado para o outro mostrando as plantas de milho ainda molhadas pela chuva que acabara de cair. “Essa chuva era muito esperada. Se demorasse mais um pouco, as perdas poderiam ser agravadas.” A previsão é de um jovem de apenas 24 anos, que apesar da pouca idade sabe bem o que fala. Afinal, cresceu no meio das lavouras ao lado do pai e do avô e com eles aprendeu boa parte do que sabe. A complementação veio com a formação acadêmica. O jovem referido é Lucas Battisti Dall Est, cooperado em Tupãssi, que representa uma nova e bem informada geração de agricultores.
Se há algum tempo, jovens com esse perfil saiam de casa para estudar e permaneciam nas cidades, hoje estão tomando o caminho inverso: se formando e voltando para o campo e, na maioria das vezes, assumindo a atividade até então conduzida por pais e avós.
Na área de ação da Coamo são vários os exemplos de cooperados com graduação, mestrado e até dourado trabalhando no meio rural, fazendo com que os negócios da família sejam mais promissores e vantajosos. Lucas, por exemplo, é engenheiro agrônomo e o que mais pesou na escolha do curso foi justamente a experiência e o trabalho que já vinha desenvolvendo. “Desde pequeno tinha vontade de continuar no campo. Trabalhava com o meu pai, tio e avô, e a minha família me incentivou a cursar agronomia. Me formei no início de 2015 e atuo junto com eles na tomada de decisões e nos trabalhos do dia a dia”, conta o cooperado, acrescentando que a paixão pela atividade foi fator importante para se manter no campo. “Se você perguntar para qualquer agricultor o que o motiva a trabalhar com a agricultura, certamente o amor pelo que faz será uma das respostas. É a satisfação em produzir alimentos que dá sentido ao nosso trabalho. ”
Conforme ele, a formação acadêmica tem contribuído para melhorar a atividade, seja na hora de planejar, implantar ou cuidar das lavouras. “Dessa maneira conseguimos acompanhar de forma mais técnica, alinhada com as recomendações da Coamo. Também temos uma visão mais ampla da atividade no sentido empresarial, unindo a experiência do meu pai, do meu tio e o avô, com o conhecimento adquirido no banco da faculdade.”
Conforme o cooperado, o trabalho desenvolvido na propriedade tem agregado mais valor à produção e a renda da família. “Estamos mais antenados as novas tecnologias e utilizando as novidades para melhorar toda a cadeia produtiva. Temos alguns desafios pela frente, como por exemplo, aumentar a produtividade na mesma área. Para isso, contamos com o apoio da Coamo que tem papel fundamental no desenvolvimento dos cooperados. A cooperativa nos oferece vários cursos e treinamentos visando a nossa profissionalização e incentivando a melhoria da atividade. A Coamo nos dá segurança para continuar investindo na atividade.”
O engenheiro agrônomo Marcelo Fanhani, da Coamo em Tupãssi, destaca que a especialização e a profissionalizando para conduzir as atividades da família é o caminho mais percorrido pelos jovens de hoje. Ele observa que essa nova geração tem uma visão mais empresarial, fazendo com que a agricultura seja mais promissora e rentável. “São agricultores que usam mais tecnologia e as ferramentas que têm nas mãos, além de serem apaixonados pelo que fazem. O atual cenário no campo exige isso, que os agricultores tenham mais informação e formação.”
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Lucas Battisti com o engenheiro agrônomo Marcelo Fanhani da Coamo em Tupãssi |
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Paulo Vinícius Demeneck Vieira, de 29 anos, cooperado da Coamo em Juranda, concluiu doutorado na área agronômica |
Da graduação até o doutorado foram 12 anos de estudos e dedicação. Milhares de horas em uma sala de aula estudando sobre um setor que tem papel de suma importância na economia do Brasil. Tudo isso visando a sucessão da atividade agrícola da família. “Sabia que assumiria essa atividade e para isso resolvi me preparar fazendo o curso de agronomia. Acabei me interessando pela área de pesquisa e fiz mestrado e doutorado. Isso trouxe conhecimento e diversas experiências que estão sendo implementadas para melhorar a atividade.” A fala é do jovem Paulo Vinícius Demeneck Vieira, de 29 anos, cooperado da Coamo em Juranda (Centro-Oeste do Paraná).
Desde que começou a participar mais efetivamente das tomadas de decisões, o cooperado tem melhorado a condução das lavouras, utilizando práticas e sistemas de produção mais sustentáveis economicamente e com aumento de produtividade. “Implementamos a rotação de culturas, por exemplo, intercalando as lavouras de verão e de inverno, além de melhorar as correções do solo e os tratos culturais. Estamos fazendo tudo de forma mais eficiente e com redução de custos. É um trabalho que já está aparecendo, mas que terá um melhor resultado a médio e longo prazo.”
Paulo é outro que sempre teve o incentivo da família para que pudesse se formar e buscar conhecimento na área. “A formação me ajuda a ter uma visão mais crítica das novas tecnologias e avaliar junto com a assistência técnica da Coamo qual a melhor forma de aplicá-la na prática. São ações que ajudam tanto na parte técnica quanto administrativa da propriedade”, afirma.
Na opinião do engenheiro agrônomo Leandro Mansano Martines, da Coamo em Juranda, a profissionalização dos cooperados tem papel fundamental na melhoria da atividade, fazendo com que as famílias tenham mais renda e qualidade de vida. “A gente ainda vê os jovens saindo do campo para a cidade. Mas, quem busca a formação e continua na atividade tem tido sucesso. São vários os casos de cooperados que estão utilizando nas lavouras as práticas e técnicas que aprenderam na faculdade, tornando o trabalho muito mais rentável. É uma troca de informação, um algo a mais para a verticalização da atividade agropecuária.”
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Na opinião do engenheiro agrônomo Leandro Mansano Martines, a profissionalização dos cooperados tem papel fundamental na melhoria da atividade |
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Formada em veterinária, Elisa Pesarini Selicani, de Bragantina (PR), tem a responsabilidade de cuidar da criação dos animais, principalmente das ovelhas que entram como diversificação de atividades na propriedade da família |
Engana-se quem pensa que os novos empresários da roça estão apenas dando sequência ao legado deixado pelos pais. Eles estão também empreendendo, transformando as propriedades e incrementando atividades rentáveis, sustentáveis e otimizadoras. É o caso de Elisa Pesarini Selicani, de Bragantina (Oeste do Paraná), que é formada em medicina veterinária e tem a responsabilidade de cuidar da criação dos animais, principalmente das ovelhas que entram como diversificação de atividades na propriedade da família. Porém, ela não mede esforços para ajudar o pai e o irmão na condução da agricultura. Seja na boleia do caminhão para transportar a safra, ou na direção da colheitadeira.
O sonho de se formar e se manter no campo sempre fez parte dos objetivos da jovem. “Sou apaixonada pela área rural e pelos animais. Sempre houve a necessidade de mais uma pessoa na sucessão, além do meu irmão que já estava à frente da agricultura. Foi pensando nisso que me formei e vim trabalhar com a família e a criação de ovelhas foi uma opção para termos uma renda a mais”, ressalta a produtora. Ela lembra que o pai, ‘seo’ Maércio Selicani, está passando a atividade para os filhos e a formação acadêmica está ajudando na implementação de novas tecnologias na propriedade. “É um trabalho de família. Meu irmão cuida da administração e da parte burocrática da agricultura. Eu fico mais no apoio, ajudando em tudo que precisam.”
Pesou na escolha por continuar na propriedade o fato de trabalhar em algo que é da família, em dar continuidade à atividade iniciada pelo pai há vários anos. “A agropecuária é rentável, basta vermos que é o setor que está segurando a economia do Brasil. A faculdade ampliou o meu conhecimento mostrando que nós do campo precisamos ser mais empreendedores. Temos um grande desafio de manter a agropecuária rentável e competitiva, produzindo alimentos de forma eficiente, seja na parte vegetal ou animal.”
Para Elisa, o cooperativismo tem papel fundamental para que os jovens possam continuar trabalhando e tendo sucesso na atividade. “A cooperativa nos dá todo o apoio que necessitamos. É mais difícil quando estamos sozinhos, mas juntos temos mais força e competitividade.”
Para o engenheiro agrônomo Alfeu Luiz Fachin, da Coamo em Bragantina, os jovens estão retornando para o campo com mais vontade e projetos para ampliar as atividades que vinham sendo tocadas pelos pais. “É uma geração mais desafiadora, com novos valores. A Coamo nos dá todo amparo para que possamos atender esses novos cooperados de forma eficiente para que eles possam incrementar a renda e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida das famílias.”
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Elisa com o pai Maércio Selicani e o engenheiro agrônomo Alfeu Luiz Fachin |
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Emilio Magne Guerreiro Junior, de Campo Mourão, é agrônomo e casado com a estudante de veterinária Stefhany Nassar Guerreiro. Formação vem para ajudar na elaboração de novos projetos para a propriedade |
“Se eu fosse trabalhar com outra coisa, não saberia o que fazer. Só sei trabalhar com a agricultura.” É o que afirma Emilio Magne Guerreiro Junior, de Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), que tem história parecida com a de milhares de jovens que cresceram correndo entre as lavouras e tiveram inspiração nos pais e avós para continuarem no campo. “Desde criança eu vinha para a fazenda com o meu pai e já sabia que iria fazer agronomia. Aos 16 ou 17 anos comecei a trabalhar de forma efetiva e nunca pensei em fazer outra coisa que não fosse ser agricultor.”
Entre os vários motivos citados pelo cooperado para continuar no campo, tem ainda o fato de se trabalhar em um local com uma paisagem que se renova a cada dia. “Por mais que seja estressante, principalmente quando o assunto é comercialização, temos um horizonte encantador para admirar todos os dias. As pessoas da cidade buscam o campo para relaxar no final de semana e eu tenho isso a toda hora”, diz. Ele acrescenta que acima de tudo, a agricultura é uma atividade que vale a pena investir e que proporciona uma boa qualidade de vida.
Entre os desafios da nova geração, Guerreiro Junior cita a importância de se mudar a visão da sociedade perante os agricultores. “Muitos ainda enxergam o agricultor como uma pessoa de chapéu de palha e calça curta na beira de um rio, isolado e sem estrutura. A agricultura não é mais isso, faz muito tempo. Hoje temos tecnologia e condições ideais de trabalho. É uma atividade prazerosa”, destaca Guerreiro, que iniciou a faculdade com 18 anos de idade.
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Emilio Guerreiro Junior e a esposa Stefhany |
Ele recorda que logo de cara acabou tendo alguns pequenos atritos com o pai, pois queria implantar novos sistemas. “Eu tinha a teoria e havia acompanhado três ou quatro safras. Meu pai a experiência de mais de 40 safras. Fui amadurecendo e entendendo que as mudanças devem ocorrer, mas aos poucos. A união da experiência de vida com a da faculdade se fortaleceu e hoje utilizamos várias tecnologias que não tínhamos no passado. A faculdade ensina o ideal, mas nem sempre é a realidade. Temos que levar em consideração todos os fatores que existem por trás.”
Guerreiro Junior é casado com a estudante de medicina veterinária Stefhany Natália Nassar Guerreiro. Ela se forma neste ano e diferente do marido, os pais não eram do campo. O sonho de ser veterinária vem desde criança, mas o de trabalhar com animais ruminantes adquiriu na faculdade e foi importante para elaborarem um novo projeto para a propriedade rural. A ideia deles é transformar parte da área de agricultura em um local para abrigar bovinos, fazendo a integração lavoura pecuária. “Foi um casamento tanto no pessoal quanto no profissional. Quando entrei na faculdade não sabia no que trabalhar , mas juntos criamos esse projeto e pretendemos colocar em prática. É uma oportunidade de trabalhar com a família e de exercer a profissão no campo”, assinala Stefhany.
Ela ressalta que as atividades desenvolvidas na propriedade rural são animadoras, gratificantes e prazerosas. “É bem diferente do que trabalhar em um escritório fechado e com a mesma rotina todos os dias. No campo, as perspectivas de crescimento são enormes, seja pessoal ou financeira. Sem contar que estamos cuidando de algo que é nosso e isso dá mais liberdade para investir.”
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José Luiz Tejon: "Há um movimento mundial de novas gerações vindo ao empreendedorismo a partir do agronegócio." |
O jornalista, professor e escritor José Luiz Tejon, é especialista em empreendedorismo e agronegócio e conhece bem esse novo cenário vivenciado no campo. Se há algum tempo, os jovens saíam do interior para estudar e se formar, hoje estão voltando para suas origens, produzindo e colhendo bem. “Há um movimento mundial de novas gerações vindo ao empreendedorismo a partir do agronegócio. Com as novas tecnologias, o campo ficou urbanizado e confortável. Jovens estudados, que ou assumem como sucessores, ou mesmo que buscam Start Ups, e criam negócios no campo, com as novas tecnologias. O empreendedorismo é uma perna desse caminho, a outra, obrigatória é o cooperativismo. Juntas, as mentalidades empreendedoras com a cooperação significam a viabilidade de milhões e de bilhões progredirem no mundo. E o futuro precisará distribuir dignidade para todos. Isso exige a filosofia cooperativista”, diz.
De acordo com ele, os jovens podem e devem olhar para o setor com olhar empreendedor. Olhar da porteira para dentro e pensar no meio ambiente, na sustentabilidade do agro. “O mundo mudou. Não tem mais nada a ver com a minha geração, por exemplo. Esse jovem é global, globalizado. Está na internet, na rede social. Eles são outra ‘cuca’ e devem aproveitar esse perfil”.
Tejon ainda acrescenta que antigamente diziam que se o jovem quisesse ser alguém na vida, tinha que sair do campo e ir para a cidade grande estudar. Hoje ocorre o contrário. “Se você quiser ser alguém, crescer na vida, você estuda e vai para o campo. As cidades grandes, como a região da grandiosa São Paulo, com quase 30 milhões de pessoas, não comportam todo mundo. Estamos assistindo um retorno ao campo.”
Mas os desafios ainda são expressivos. Segundo Tejon, são minoria os gestores rurais que estão preparados para passar o bastão do seu negócio. “Sucessão é uma preocupação. Significa criar novas gerações. Agora nós vamos para a agricultura digital, pecuária com inteligência artificial, e o jovem tem nisso uma aderência grande. Então qualquer agricultor precisa ter um grupo humano que goste de mexer com isso”, sugere.
Para o especialista, um fator que pode ajudar na hora da sucessão familiar rural é contar a história do empreendimento. “Quando a gente é jovem, a gente esquece e, por isso as histórias têm de ser contadas. O pioneirismo dos nossos pais, avós e bisavós, dá uma força gigantesca para enfrentar obstáculos”, recomenda.
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Presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken destaca como muito positiva a situação atual dos jovens agricultores |
Se para a agricultura a permanência ou início na atividade é positiva, imagine para o cooperativismo? É a união de pessoas que move o sistema. Mas, também é a cooperação que fortalece o campo. Trata-se de uma via de mão dupla. É bom para os dois lados o atual cenário agrícola observado na área de ação da Coamo. Afinal de contas, o cooperativismo permite que o associado tenha mais renda e conquista uma condição social melhor, e os cooperados é que movimentam a cooperativa.
O presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken destaca como muito positiva a situação atual dos jovens agricultores. “A opção de muitos é o campo, eles escolhem viver no campo, mas saem para se aperfeiçoar e ter um resultado na agropecuária. Esse retorno é uma opção deles, pois hoje a agricultura traz condições, muitas vezes, até melhores de renda.”
Ricken lembra a mudança de cenário no mercado profissional. “O jovem antes cursava a faculdade buscando um emprego em empresas ou no Estado. Mas, essa opção está muito limitada. Tendo, então, a opção de estar no meio rural, um caminho profissional muito promissor”, explica.
Para o cooperativista, também é muito difícil nos tempos atuais separar a zona urbana da rural. “Muitos agricultores moram na cidade e têm sua atividade profissional no campo, ou até mesmo moram nas suas propriedades rurais. O acesso à tecnologias como a internet está muito mais fácil e as cidades no interior do Paraná, por exemplo, estão próximas do meio rural. ”
O presidente da Coamo José Aroldo Gallassini, destaca o trabalho realizado pela cooperativa por meio do programa de formação de Jovens Líderes Cooperativistas. “Esse trabalho desperta a condição de líder nos participantes. Não basta ser um líder, é preciso estar preparado para exercer essa função. Com isso garantimos o futuro do cooperativismo, pois não basta simplesmente produzir grãos, a cooperativa vai agregar valor a essa produção, e o jovem precisa estar consciente que sua atuação é importante para ela se desenvolver.”
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