Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 487 | Dezembro de 2018 | Campo Mourão - Paraná

110 ANOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA

UM LEGADO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA PARA O CAMPO

‘Seo’ Terumi, cooperado em Pinhão, com a esposa Masako Suzuki

‘Seo’ Terumi chegou no Brasil em 1968 e após desembarcar do navio em Santos partiu para Guarapuava

Dois mil e dezoito é um ano especial para os descendentes de japoneses que vivem no Brasil, pois comemoram 110 anos de imigração. Foi em 18 de junho de 1908 que o navio Kasato Maru atracou em Santos com os primeiros 781 imigrantes do Japão. As famílias ainda cultivam tradições trazidas na bagagem e comemoram a permanência e o desenvolvimento no país que os acolheu, sempre valorizando a terra, família e a cultura. Parte desta história é contada por associados da Coamo que emigraram em busca de uma vida melhor em solo brasileiro. 

A reportagem da Revista Coamo visitou cooperados em Pinhão (Centro-Sul do Paraná) e em Juranda (Centro-Oeste do Paraná) com o intuito de resgatar a história de quem escolheu o campo para trabalhar e progredir. ‘Seo’ Terumi Suzuki, hoje com 74 anos, veio do Japão ainda jovem, com 23 anos de idade. Ele conta que a escolha pelo Brasil foi para realizar um sonho: ser agricultor. “No Japão isso não seria possível, pois não tinha área. Eu queria ser grande agricultor. Na época, estudava em um colégio agrícola e uns três anos antes de eu vir para o Brasil colegas já tinham vindo e isso me incentivou”, revela o associado.

‘Seo’ Terumi chegou no Brasil em 1968 e após desembarcar do navio em Santos partiu para Guarapuava para trabalhar em plantações de batata. “Na época não existia soja. Somente trigo no inverno e batata no verão”, diz. Antes de se mudar para Pinhão, ele ainda foi para o interior de São Paulo, onde conheceu a esposa Masako Suzuki, também nascida no Japão e veio para o Brasil aos 11 anos de idade. “Chegamos em Pinhão em 1977 e compramos duas áreas. Uma de 150 alqueires e outra de 200. Só que era tudo mato. Adquirimos dois tratores de esteira para destocar e plantar batata. Naquela época os japoneses só cultivavam batata, frutas e hortaliças.” O cooperado recorda que no início chegou a trabalhar com ameixa, mas era muito complicado porque para armazenar tinha que levar a fruta em Guarapuava, pois em Pinhão não tinha energia elétrica. Era uma viagem de 50 quilômetros todos os dias por estrada de terra.”  

‘Seo’ Terumi é associado da Coamo desde 1999. Ele se diz realizado e agradecido por ter sido acolhido pelo Brasil. “Eu era um jovem corajoso porque vim sozinho. Vendo tudo o que passou, digo que valeu a pena. Hoje temos 330 alqueires de terra, mas não tinha nada. Comecei do zero. Se tivesse ficado no Japão hoje seria funcionário de alguma firma. Porém, meu sonho era ser agricultor e só poderia ser realizado no Brasil. Sinto saudade do Japão, mas só para passear”, pondera o associado que é pai de três filhos.

No destaque, "seo" Terumi, com o grupo de imigrantes, em 1968, no navio Brazil - Maru ‘Seo’ Terumi Suzuki, de Pinhão (PR), veio do Japão ainda jovem, com 23 anos de idade

‘Seo’ Terumi com a esposa Masako Suzuki, também nascida no Japão e veio para o Brasil com 11 anos de idade No navio, durante a viagem para o Brasil, ‘seo’ Terumi aproveitava o tempo para praticar Kendo

Novas oportunidades no Brasil

Hirotaka Matsuda, também de Pinhão, saiu do Japão no final de 1959 e desembarcou no Brasil no dia 20 fevereiro de 1960. Ele tinha 11 anos e foram mais de 60 dias com a família a bordo de um navio cargueiro. Na época, a crise pós-guerra assolava os japoneses e a propaganda de que no Brasil havia prosperidade chamou a atenção do pai do ‘seo’ Hirotaka, que trabalhava no Japão fazendo frete com um pequeno caminhão.   

Logo que chegaram foram trabalhar em lavouras de tomate em Socorro, no interior de São Paulo. Começaram como empregados e depois de meeiros. Tempos depois iniciaram com o plantio de hortaliças que eram vendidas em feiras. Em 1974, mudaram para o cultivo de batatas o que os levaram a conhecer Guarapuava e, depois, Pinhão onde estão até hoje. “Ficamos sabendo que existia Guarapuava porque vimos um caminhão com a placa do município. Eu e meu irmão ficamos curiosos e visitamos a cidade, onde ficamos três anos e depois viemos para Pinhão. Estou aqui há mais de 30 anos, trabalhando com batata e depois cereais.”  

O associado da Coamo está hoje com 69 anos. Ele diz que os pais fizeram a escolha certa na época e se tivessem ficado no Japão não teriam a mesma oportunidade que tiveram no Brasil. “Temos parentes que continuam no Japão. Eles levam uma vida boa, mas o Brasil nos deu mais condições de trabalhar e prosperar”, recorda. O pai do ‘seo’ Hirotaka faleceu há cerca de cinco anos e a mãe dele vive no interior de São Paulo, com 90 anos de idade.

Hirotaka Matsuda com o gerente da Coamo em Pinhão, Mercilo Bertolini Hirotaka Matsuda veio do Japão com 11 anos de idade

O primeiro japonês em Pinhão

Casal Kesao e Mituko, em 1980, em uma das lavouras de batata cultivadas em Pinhão, e ao lado com os filhos Cristina, Eduardo e Cláudio

Kesao Yamazaki foi o primeiro japonês a morar em Pinhão. Ele residia em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, e chegou no município em 1974 para, também, trabalhar em lavouras de batata. Em São Paulo, trabalhava com os pais e a opção pela mudança foi em busca de novas oportunidades e de uma vida mais próspera. “Aqui se plantavam grandes safras de batatas e era a chance de crescer. Vim com um cunhado. Durante vários anos trabalhamos somente com a batata. Há algum tempo partimos para a produção de cereais. Hoje trabalhamos com as duas atividades”, comenta. Ele recorda que quando chegaram no município, a situação era bem diferente, com estradas sem asfalto e pouca estrutura para investimentos. 

Os pais do ‘seo’ Kesao vieram da região de Nagano, por volta de 1936. Segundo ele, os primeiros imigrantes queriam vir para o Brasil, ganhar dinheiro e voltar para o Japão. “Porém, isso nunca aconteceu. Quem veio ficou, até mesmo porque não ganharam a quantidade de dinheiro que imaginavam”, comenta o associado que é casado com a também descendente de japonês Mituko Yamazaki.

Kesao Yamazaki com a esposa Mituko. Trabalho em família e parceria com a Coamo

Produção com foco, fé e união

Acima os irmãos João, Francisco e Toshinori; e abaixo a família Maeda

Os irmãos João, Toshinori e Francisco Maeda, de Juranda (Centro-Oeste do Paraná), estão na segunda geração de japoneses no Brasil. A história deles começou com o pai Masanori, já falecido, que veio do Japão aos 17 anos. Eles vieram ainda jovens de Martinópolis, interior de São Paulo e residem na região de Boa Esperança e Juranda, desde 1960.  Juntos, administram uma área de 49 alqueires e suas médias de produção estão em torno de 180 sacas de soja e 260 sacas de milho safrinha. 

Na época, a família veio para o Paraná para trabalhar com lavouras de café, mas acabaram não tendo sucesso já que o clima frio não ajudava a condução da atividade. João explica que, depois do café, a família passou para o cultivo de algodão. “Naquele tempo, a região tinha muito mais moradores do que hoje, eram muitas as famílias que trabalhavam e tiravam sua renda do trabalho com o algodão. Tínhamos grandes comunidades, era muita gente, bem diferente do que temos hoje”, lembra.   

A agricultura sempre foi o carro-chefe da família. Seu João recorda que aprendeu a trabalhar no campo com o pai, seguindo os passos e seus ensinamentos. “É preciso acompanhar a evolução, sem tecnologia não vamos progredir. Tivemos sempre o apoio da Coamo e agradecemos ao cooperativismo. Desde o início, sempre fomos bem servidos com a Coamo, se não fosse ela, estaria ruim. A assistência técnica ajudou a melhorar muito a nossa produção e a renda da família.”   

Toshinori lembra que foi com seu pai seu início na agricultura nos bons tempos do algodão, quando a enxada era o principal instrumento de trabalho. “A enxada está esquecida, pois tudo está mais moderno. A nova geração de agricultores tem novas ferramentas e mais comodidade para trabalhar.” 

Ele acrescenta que os tempos são outros e as novas tecnologias estão ajudando a impulsionar a produção no campo. “Hoje colhemos até 200 sacas de soja por alqueire, antigamente, se a gente colhesse 80 sacas já estava bom demais. A Coamo nos ajudou muito nessa evolução. Está à frente para nos apoiar e difundir as novas e modernas técnicas.”

Com saudades do pai e das boas lições, o irmão Francisco agradece o repasse de informações passadas por ele há algumas décadas. “Meu pai nos ensinou muito, trabalhávamos de sol a sol e conseguimos evoluir. Após a morte do pai, ficamos só nós os irmãos Maeda, mas sempre unidos e trabalhando junto com a família.”  

‘Seo’ Francisco agradece a cooperativa por fazer parte da história da família. “Graças ao apoio da Coamo, temos comodidade e segurança para fazer um plantio bem feito e colher bem, e com boas safras temos boa renda.”

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