Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 494 | Agosto de 2019 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“Integração lavoura-pecuária é um sistema para a sustentabilidade no ambiente agrícola”

Adelino Pelissari possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Paraná (1976), mestrado em Ciências do Solo pela Universidade Federal do Paraná (1987) e doutorado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade de São Paulo (1992). Atualmente é Professor Titular da Universidade Federal do Paraná no Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo e do Curso de Pós-Graduação em Agronomia- Produção Vegetal deste Departamento. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Plantas Daninhas, atuando principalmente nos seguintes temas: integração lavoura-pecuária, plantas daninhas, herbicida, defensivos agrícolas e pastagens.

Quando o assunto é Integração Lavoura e Pecuária, o pesquisador Adelino Pelissari é uma das referências. Há mais de 20 anos ele participou de uma equipe que iniciou os estudos desse sistema, implantado na Fazenda Experimental da Coamo, e que veio oferecer mais conhecimento e informação aos associados da cooperativa.

Pelissari é o entrevistado desta edição. Ele comenta sobre a importância e os avanços do sistema e do conhecimento como forma de agregar valor às atividades dos técnicos e usuários das tecnologias. “Vivemos na era do conhecimento científico, queremos saber como e porque as coisas acontecem, quais os fenômenos que estão por trás das respostas que temos.”



Revista Coamo: Professor, o que o senhor faz atualmente?

Adelino Pelissari: Sou um engenheiro agrônomo aposentado, que participou da implantação do sistema de extração de embalagens vazias de defensivos agrícolas e do sistema de integração lavoura-pecuária e floresta, hoje, por convenção e por terminologia da Organização das Nações Unidas (ONU) chamado de Sistema Integrado de Produção Agropecuária (Sipa). Continuo atuando como assessor e atendendo às solicitações da Universidade para participar de bancas de defesa e, às vezes, dou aulas sobre a minha especialidade e temas ligados à Sipa e à ciência das plantas daninhas em diferentes universidades do país. Com 67 anos, dedico mais tempo à família e a encontrar ex-alunos que me proporcionaram ótima convivência no período de graduação. Tive a oportunidade de promover cursos de extensão universitária por mais de 20 anos sobre excelência profissional e humana. Não fui um professor exclusivamente de formação técnica e científica, mas sempre com a visão da necessidade de formar jovens também nos aspectos das virtudes humanas e nas leis morais, para ajudar na autoconfiança da vida profissional em temas como autocontrole e autoconhecimento, qualidade, decisão e capacidade de empreendimento e relacionamento.



RC: O que faz um fitopatologista?

Pelissari:  Somente poderia responder esta questão, a partir do conhecimento técnico e científico, necessários para produzir uma cultura no seu pleno estado hígido. Se a fertilidade, o ambiente, a relação solo, planta e atmosfera estiverem equilibradas a planta se desenvolverá com menores riscos e patógenos, e redução da incidência das plantas daninhas. Mas, se essa cultura está sendo afetada por uma praga, doença ou planta daninha, faremos a fitossanidade. Isto quer dizer, é a área da ciência da proteção das plantas que permite que elas sejam protegidas. Inicialmente pelas próprias características de um ambiente de qualidade de fertilidade, onde a planta encontrará por si só a sua alto defesa. Por outro lado, quando em desequilíbrio haverá necessidade de se proteger com defensivos agrícolas ou, no caso de uma doença ou pragas, com inseticidas. Isso é fitossanidade, a área de proteção das plantas.



RC: Como observa as informações divulgadas quanto ao uso de defensivos no Brasil?

Pelissari: Importante este assunto, que faço questão de esclarecer. Nos dias atuais, a mídia tem sido altamente pejorativa em dizer que o Brasil é o maior consumidor do mundo em agrotóxicos. Isso não é verdade. Países como Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, França e Japão consomem muito mais. Isso mostra o quanto estamos avançado em conhecimento técnico-científico. Dizemos que para um projeto agronômico ter sucesso, tem que ser economicamente viável, ambientalmente sustentável, socialmente justo, culturalmente aceito, ter ética e ser moralmente correto. Atendendo esses cinco pressupostos, produziremos culturas com menos insumos e mais produtividade. Isso é possível por meio de conhecimento técnico e o engenheiro agrônomo se apropria desse conhecimento e repassa para o sistema de produção, seja na monocultura ou na rotação de culturas ou em projetos de sistemas integrados com a produção agropecuária, que conta com a presença do animal.



RC: Qual é a era em que vivemos e o papel do engenheiro agrônomo?

Pelissari: Vivemos a era do conhecimento científico, queremos saber como e porque as coisas acontecem, quais os fenômenos que estão por trás das respostas que vemos. Fundamentado por diagnósticos precisos, o engenheiro agrônomo toma procedimentos para lançar mão desses químicos, que são frutos do pensamento científico do homem para o próprio bem do homem. O que toca mais o ser humano é uma mesa farta de boa comida e bebida ou o uso das últimas inovações e tecnologias? Eu costumo dizer, façamos uma experiência: vamos ficar três dias sem luz e sem alimentos para ver se é bem verdade isso, ou se o que mais vai mexer comigo é se tenho necessidade de me alimentar ou ter o último Iphone na mão? É só cada um fazer a sua experiência. Daí a importância de se passar para a sociedade a necessidade deste conhecimento, de que não estamos em hipótese alguma destruindo a natureza, pelo contrário, estamos dando qualidade de vida para o homem pela própria natureza e mantendo uma mesa farta de boa comida e bebida para alimentar a humanidade. Então, este é um dos grandes papéis dentro da área das ciências agronômicas, que é uma parte da fitopatologia ou fitossanidade.



RC: Qual a importância da Integração Lavoura-Pecuária considerando a evolução e tecnologia utilizada pela pesquisa e produtores?

Pelissari: É muito significativo o sistema integração lavoura-pecuária. Nesses 20 anos houve grandes evoluções. É só observar os resultados que a Coamo mostra quando compara a resposta da produção na Fazenda Experimental e os resultados dos produtores cooperados que realizam o sistema. Vemos duas ou três vezes a mais, a produção obtida na Fazenda Coamo versus a produção que os cooperados obtêm nesse sistema. É uma diferença significativa. Isso mostra a importância de se fazer adubação de sistema com conhecimento do solo e do ambiente para dar à planta o que ela realmente necessita. Para isso, existe também a utilização de uma pesquisa realizada pelo professor Paulo de Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que traz o uso mais eficiente das forrageiras pelos animais, onde passamos a ter pastejo com melhor qualidade. Foi uma evolução extremamente significativa com ganhos diários de peso vivo na ordem de 10 a 20%. A Integração Lavoura-Pecuária é feita de pequenos detalhes, e é exatamente o conhecimento que se traduz nas respostas desses ganhos. Esse conhecimento permite que se possa dar a resposta esperada, uma vez que, este é o sistema mais sustentável que se conhece na atualidade.



RC: A Integração Lavoura-Pecuária é uma forma sustentável no ambiente produtivo?

Pelissari: A integração lavoura-pecuária ou o Sistema Sipa, os Sistemas Integrados de Produção Agropecuária são uma forma eficiente e estruturada de promover a sustentabilidade com segurança dentro do ambiente agrícola. Isso é fundamentado cientificamente. Temos mais de 100 teses e dissertações sobre o tema, o que nos dá realmente autoridade do conhecimento para seguir em frente neste propósito. Vivemos em um sistema sustentável em todos os sentidos. É fundamental a capacitação do produtor para trabalhar com esse sistema, pois ele vai atuar com o componente animal. Lembro de um dia de campo na Fazenda Experimental da Coamo quando um associado de Santa Catarina após ouvir a explanação do Hérico (médico veterinário da Coamo) sobre os bons resultados com a Integração Lavoura-Pecuária, disse:  “Podem fazer o que ele está falando porque é verdade, eu ouvi há muito tempo, achei que seria bastante difícil, mas decidi fazer e tenho resultados satisfatórios”.



RC: Como analisa esta parceria com o cooperativismo para o desenvolvimento das tecnologias?

Pelissari: Sou fã incondicional do cooperativismo, se não fosse o ativismo ou a partir de cooperativas sólidas e seguras, com administrações competentes, honradas e honestas, não teríamos o desenvolvimento agropecuário que temos no Brasil. Se existe um agronegócio tão forte é porque existem cooperativas fortes e há parceria entre cooperativas com universidades e empresas de pesquisa como Embrapa, por exemplo. A agricultura nacional deve muito ao cooperativismo. Os associados têm o suporte mais seguro e estável para conhecer as novas tecnologias, pois ele sozinho não conseguiria e não teria acesso ao conhecimento técnico e científico, e às respostas dos técnicos, para o sucesso do sistema empresarial agrícola que tem alta complexidade em função dos fatores de produção.

Para o pesquisador, o sistema integração lavoura-pecuária é uma forma estruturada para promover no ambiente agrícola a sustentabilidade com segurança
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