Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 521 | Fevereiro de 2022 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

JOSÉ ROBERTO RICKEN presidente do Sistema Ocepar

As perdas com as colheitas da safra 2021/2022 são significativas em relação as dos anos anteriores. Em 2020, o Paraná produziu quase 25 milhões de toneladas de grãos e nesta safra deverá colher, no máximo, 16 milhões de toneladas. Isso representa uma redução de aproximadamente nove milhões de toneladas o que, em valores, poderá ter impacto de mais de R$ 30 bilhões no PIB do Estado.

As cooperativas do Paraná são responsáveis por quase 65% de tudo que se produz no Estado e reúnem mais de 180 mil produtores rurais. O presidente do Sistema Ocepar/ Sescoop, José Roberto Ricken, é o entrevistado desta edição. Ricken comenta os problemas atuais na agricultura e as medidas enviadas pela entidade ao governo federal para amenizar a situação dos agricultores paranaenses.



Revista Coamo: Nesse momento de perdas nas lavouras de verão, qual é a posição da Ocepar no apoio aos agricultores para amenizar os prejuízos?

José Roberto Ricken: Vivemos uma das estiagens mais severas que a agricultura paranaense já passou. As perdas estão sendo bastante significativas em relação a uma safra normal. Em 2020, o Paraná produziu quase 25 milhões de toneladas de grãos. Mas, agora, vamos colher, no máximo, 16 milhões de toneladas. Uma redução de aproximadamente nove milhões de toneladas o que, em valores, poderá ter impacto de mais de R$ 30 bilhões no PIB do Estado. As cooperativas do Paraná são responsáveis por quase 65% de tudo que se produz no Estado e reúnem mais de 180 mil produtores rurais. De imediato, levamos ao secretário da Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, e à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, juntamente com a OCB, a necessidade de agilizar as vistorias das áreas já comprometidas com a seca, para que fossem liberadas para o próximo plantio, além do pagamento do seguro para o produtor estabelecer a segunda safra de milho plena, e com isso, amenizar parte dos prejuízos.



Revista Coamo: E com relação a prorrogação das dívidas dos produtores?

Ricken: Reivindicamos junto ao Governo Federal a prorrogação de dívidas e buscamos recursos emergenciais para que o produtor possa dar sequência em sua atividade, como também para reposição junto às cooperativas de crédito e as agropecuárias para que possam prorrogar o vencimento dos débitos dos produtores, principalmente os que não têm como origem o crédito rural. Toda e qualquer modificação na atual política agrícola, na questão de prorrogar dívidas e repassar mais recursos, é preciso passar pelo Congresso Nacional. Sendo assim, acionamos nossa base de parlamentares que atuam na Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), por meio de um Projeto de Lei, como também junto ao Poder Executivo, por meio de Decreto, para socorrer a agricultura, permitindo, assim, o rebate nas negociações de dívidas, principalmente junto ao Pronaf e a suplementação de recursos para fazer a equalização, porque não haverá renegociação sem equalização, mesmo que isso já esteja previsto nos contratos. Estamos acompanhando e pressionando para que uma solução seja apresentada o quanto antes, afinal, o produtor não pode esperar.



RC: Quais pautas a Ocepar está trabalhando com o Congresso em benefício do cooperativismo paranaense?

Ricken: Iniciamos o ano com uma pauta bastante extensa junto ao governo federal. Fomos surpreendidos no dia 04 de fevereiro com uma decisão do Ministério da Economia, por meio do Tesouro Nacional, de suspender as contratações de financiamentos rurais, justamente num momento de muita preocupação devido à quebra da safra. Outro assunto que está no radar da Ocepar é o abastecimento mundial de insumos e fertilizantes. A Rússia é um dos principais fornecedores de nitrogenados (21%) e um grande fornecedor global de adubos. E a tensão no Mar Negro pode trazer riscos iminentes para a cadeia de suprimentos globais, com destaque, a curto prazo, para grãos e fertilizantes, refletindo no aumento dos custos de produção. Recentemente, participamos de uma Audiência Pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, quando pudemos manifestar nossa preocupação em relação ao Projeto de Lei 6.417, que dispõe sobre ciência e tecnologia para o agronegócio. É preciso que o governo apoie mais os centros de pesquisas oficiais, como é o caso da Embrapa, e os Estados. A falta de recursos e os sucessivos cortes nos orçamentos podem comprometer e inviabilizar o desenvolvimento de novas pesquisas para o agronegócio brasileiro, que é modelo para o mundo.



RC: Foi aprovado na Câmara o projeto de Lei 6.299 sobre alimentos mais seguros?

Ricken: Uma boa notícia foi a aprovação pela Câmara Federal do Projeto de Lei 6.299, de autoria do deputado Luiz Nishimori, que trata sobre alimentos mais seguros. O projeto, além de agilizar o processo de registro, moderniza o sistema. Este é um assunto que debatemos há mais de 20 anos. Precisamos modernizar, caso contrário, não vamos acompanhar o que vem acontecendo no mundo, com insumos com menor índice de toxidade e, com isso, a produção de alimentos cada vez mais seguros para os consumidores. Agora precisamos aprovar este mesmo projeto no Senado.



RC: O senhor concorda que a Lei da Mata Atlântica predomine sobre o Código Florestal?

Ricken: Não, não concordamos que a Lei da Mata Atlântica prevaleça sobre o Código Florestal no âmbito da regularização de áreas consolidadas, o que traz insegurança jurídica ao setor produtivo e coloca em descrédito a lei federal. Não podemos admitir que depois de todo esforço que foi feito para termos um Código Florestal, com estabelecimento de regras claras em relação às matas ciliares, reserva legal e o cadastro ambiental rural (CAR), isso seja mudado. O parecer que está no Senado impacta diretamente não só o Paraná, mas também os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Por isso, precisamos mobilizar nossa base de apoio para que não sejamos prejudicados. A agilização das licenças ambientais é outra questão relacionada ao Código Florestal que precisa melhorar, especialmente em relação às normas que as regulamentam, pois temos que adequá-las às normas internacionais. Há atualmente, um apelo muito grande de outros países na questão ambiental e precisamos modernizar tudo isso.



RC: Como avalia o ano de 2021 para o cooperativismo paranaense?

Ricken: Foi um ano positivo, apesar de ainda estarmos numa pandemia. Ultrapassamos R$ 151 bilhões em movimentação econômica nas 216 cooperativas de sete ramos de atuação. Somamos 2,7 milhões de cooperados, gerando 125 mil postos de trabalhos com carteira assinada. Nossas cooperativas duplicaram sua participação no mercado internacional nos últimos três anos e, decorrentes das exportações, geraram cerca de US$ 6,7 bilhões para o país no ano passado. Além disso, recolheram aos cofres públicos quase R$ 4 bilhões em impostos e investiram mais de R$ 4,6 bilhões, especialmente em modernas agroindústrias. Temos uma presença forte na economia do Paraná com o agro, mas outros ramos também têm sido fundamentais, como os de crédito, saúde, trabalho e transporte. São setores que, por serem essenciais, não puderam parar durante o período de pandemia e, por isso, tiveram o reconhecimento da sociedade.



RC: Quais são as expectativas para 2022?

Ricken: Estamos iniciando o ano ainda com uma pandemia presente e uma safra menor. A perspectiva é de continuar crescendo. A demanda por investimentos do cooperativismo do Paraná se aproxima de R$ 5 bilhões ao ano, o que é um sinal de confiança do setor. Teremos uma comercialização menor da produção agrícola, devido à quebra de nove milhões de toneladas da safra de grãos. Mas, temos a esperança de podermos implantar, dentro do calendário de plantio, uma boa safra de milho, maior que a anterior e, se o clima permitir, colher 15 milhões de toneladas. As cooperativas de crédito vêm crescendo, se estruturando e, com isso, há uma expectativa muito grande dos outros ramos do cooperativismo, que possuem uma atuação mais urbana, com o retorno à normalidade e reaquecimento da economia. Com certeza, mesmo com dificuldades, o cooperativismo deve crescer, talvez não num percentual tão elevado como ocorreu em 2021, mas deve haver um crescimento bem significativo em todos os ramos.



RC: Para os próximos anos, o que o senhor prevê para o cooperativismo paranaense?

Ricken: Vamos trabalhar para que continue numa ascensão, cresça em todas as regiões do Paraná. Vamos dar sequência ao Plano Paraná Cooperativo, o PRC200 que tem como desafio, até o final da década, atingir faturamento de R$ 200 bilhões, bem como quatro milhões de cooperados, 200 mil empregos diretos e resultado líquido de R$ 11 bilhões por ano. Este planejamento estratégico visa oferecer condições para que nossas cooperativas possam investir mais em agroindústrias, estruturas de recepção da safra, comercialização e ganhar mais presença no mercado internacional com nossos produtos. Esperamos que não haja nenhum contratempo político ou econômico que possa interferir nessas metas de crescimento do setor.



RC: O planejamento estratégico implantado na Ocepar é um diferencial para o sucesso do nosso cooperativismo?

Ricken: Sim, esta é uma diferença do cooperativismo do Paraná em relação ao de outras regiões do Brasil. Desde a fundação da Ocepar, na década de 1970, sempre tivemos um planejamento estratégico, por meio dos projetos integrados de desenvolvimento regionais. Em 2015, o cooperativismo do Paraná movimentava por ano R$ 50 bilhões. E, ao invés de um planejamento para os próximos cinco anos, decidiu-se pela ousadia dentro de critérios consistentes, ao estabelecer como meta a movimentação econômica de R$ 100 bilhões nesse período. E, mesmo com a pandemia, o cooperativismo paranaense fechou 2020 com faturamento de mais de R$ 115 bilhões. No PRC200, definimos a meta de R$ 200 bilhões, e o desafio de investir nos próximos cinco anos, R$ 30 bilhões, sendo 70% em agroindústria, mercado e recepção. Atualmente, 48% da movimentação econômica tem como origem produtos fabricados pelas 120 agroindústrias das nossas cooperativas.



RC: De forma pioneira no Brasil, foi criada UniTI (Cooperativa Central de Tecnologia da Informação). Como será sua atuação e qual a importância para o desenvolvimento das cooperativas?

Ricken: Uma das preocupações que a gente sempre teve e tem é em relação à questão da tecnologia da informação. É um setor que demanda muitos investimentos para o acesso à tecnologia. Neste particular, temos a grata satisfação de dizer que o cooperativismo está se organizando. No ano passado, o Sistema Ocepar coordenou todo o processo de discussão de constituição de uma central cooperativa de T.I. No dia 8 de dezembro, com a participação de delegados de 21 cooperativas, foi constituída a Cooperativa Central de Tecnologia da Informação (UniTI), que começou a ser formatada e desenvolvida no PRC100 e que hoje integra um dos 20 projetos do PRC200, em Parcerias e Alianças. Dificilmente, de forma isolada, cada cooperativa não teria um nível suficiente de conhecimento e de investimento na área de tecnologia da informação. Nossas cooperativas entenderam a necessidade de se unirem num setor fundamental, no qual podemos realizar um belo trabalho. Inicialmente, ela atenderá 20 cooperativas do ramo agro e uma do ramo trabalho, mas logo se expandirá na prestação de serviços para outros ramos do cooperativismo, como crédito e saúde, com novos investimentos na área de informática e tecnologia de informação.

José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar
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