RC: O senhor cita travessia e perpetuação. Qual é o principal problema e ao mesmo tempo, quais as dicas para que a sucessão aconteça?
Nishimura: É uma grande questão, muitas vezes, na transição a gente não se prepara e as pessoas de um modo geral, vão achando que quando chegar a hora vai virar a chave e vai dar tudo certo. Mas não é bem assim. Tem que ter um preparo, um entendimento. Eu falo que o grande problema para as empresasfamiliares é o desconhecimento do processo sucessório. Se as pessoas não entendem o processo sucessório, as dificuldades, os preparativos que têm que ser feito e as pessoas vão deixando isso para última hora, não vai dar certo. É muito importante que as pessoas comecem a entender.
RC: E aí é que entra a importância do relacionamento e das conversas entre familiares e gerações.
Nishimura: Sim, precisamos começar a conversar e então, basicamente o grande problema no processo de transição entre as gerações é a comunicação e o relacionamento. Não é tratar as questões, é entender e resolver os problemas, os conflitos, que existem em toda a família. Conflito não é coisa ruim, ele existe e não é em toda a relação, mas resolvendo vamos alinhando e encontrando caminhos para dar sequência por meio das gerações.
RC: Como o senhor acredita que deve ser o processo de transição?
Nishimura: Esta é uma grande questão, a de que como podemos construir basicamente um processo de transição. Eu posso afi rmar, que se as pessoas se preparam para a transição, a chance de sucesso é bastante alta. Se for ao contrário, se as pessoas não se prepararem para a transição e sucessões futuras, a chance é muito baixa de sobrevivência. Isso não é desastroso para a maior parte das empresas que se preparam, mas sim para quem não percebe e não se prepara para esta situação que mais dia, menos dia, vai acontecer.
RC: Qual a consequência para as famílias que não estão atentas a esta preparação?
Nishimura: Se não houver essa preparação, o que pode acontecer é que, de repente, essas famílias, possivelmente na área agrícola, irão deixar de ser proprietárias e de empresários rurais. A gente observa bastante que, quando há um confl ito não resolvido, conciliado, normalmente o pai divide a propriedade em vários pedaços e dá para os fi lhos. Mas esse é um caminho muito ruim porque a gente tem que saber também que vocação agrícola, por exemplo, não é para todo mundo. Então, ser um agricultor não é uma vocação que todas as gerações têm ou querem perpetuar. Pode ser que dentro de uma família tenha um ou dois que têm a vocação e outros não. Mas o fato de conseguir trabalhar junto e manter a família unida e conseguir conciliar tudo isso é um caminho muito bom.
RC: Como foi a visita na Coamo nos dias 4 e 5 de dezembro e o encontro com os cooperados e a diretoria?
Nishimura: Posso resumir em uma palavra: sensacional, foram dois dias que irão fi car em nossa história, memória e em nossos corações. Na chegada, fomos até a Fazenda Experimental e tivemos a honra de plantar uma árvore em nome da família Nishimura, o qual nos deixou muito feliz e emocionado. Depois, saboreamos o carneiro no buraco, prato típico de Campo Mourão. E após a minha palestra com os líderes da Coamo, fomos surpreendidos, de novo, com uma homenagem por meio de um quadro com a imagem de toda a nossa família, inclusive com o meu pai.
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É um reconhecimento que recebemos com alegria e emoção, retratando uma grande parceria entre as famílias e Coamo, perpetuada ao longo de muitas décadas.
RC: Qual foi o sentimento e a conexão que o senhor encontrou na Coamo?
Nishimura: A empresa cresce, e a tendência às vezes de uma empresa ao crescer, é perder a sua alma, perder a sua identidade. Mas, estar aqui na Coamo foi diferente, é algo fabuloso, fantástico. A Coamo cresceu tanto e eu vejo o gigantismo em que ela se transformou, mas uma das coisas que eu percebi na cooperativa é o calor humano sempre presente, com o carinho e o relacionamento, a hospitalidade, o acolhimento das diferentes pessoas que pude encontrar e conviver nesses dias maravilhosos. Normalmente em algumas empresas que crescem muito, vai gerando um esfriamento nas relações, um distanciamento. E aqui encontrei o mesmo acolhimento e carinho dado ao meu pai e aos meus irmãos nas diversas visitas que eles fizeram ao longo desses anos todos.
RC: Então, manter as empresas com alma e valorizar as pessoas é um grande desafio no crescimento?
Nishimura: Sem dúvida, é grande o desafio de manter as empresas com alma e a Coamo está de parabéns, pois isso é admirável. Celebramos a forte parceria entre a Jacto e a Coamo, que é uma parceria de bom relacionamento, de amizade, de respeito, de inovação tecnológica e bons resultados. É uma relação que vem sendo cultivada desde o tempo do meu pai e do Dr. Aroldo, e a gente percebe que é uma relação forte, e isso nos enche de alegria e esperança. A gente vê a história do Brasil, da Jacto e da Coamo e vai entender a história da agricultura brasileira moderna. É impressionante ver como o Brasil evoluiu em pouco tempo e com a Jacto e Coamo não foi diferente, pois temos os nossos valores e o espírito com um DNA, com a inovação e os investimentos muito presente em prol dos nossos clientes e parceiros.
Família Nishimura: Jorge, Shiro, Lincon, (em pé) e Takashi, Jiro, Shunji e Chikao (sentados)
"O reconhecimento que recebemos da Coamo, foi com muita alegria e emoção, e retratou uma grande parceria entre as famílias e Coamo, perpetuada ao longo de muitas décadas." |
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