Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 553 | Dezembro de 2024 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

JORGE NISHIMURA

Membro do Conselho do Grupo Jacto e do Conselho Curador da Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia

"O grande problema para as empresas familiares é o desconhecimento do processo sucessório."

Jorge Nishimura, filho caçula do seu Shunji Nishimura, fundador da Jacto é o entrevistado desta última edição de 2024. Ele conta como está o processo de sucessão nas famílias e afi rma que se não houver preparação, muitas podem desaparecer como proprietárias rurais. "Se as pessoas se prepararem para a transição, a chance de sucesso é bastante alta, mas ao contrário, sem a transição para sucessões futuras, a chance é muito baixa de sobrevivência.”

A Jacto é um dos parceiros mais antigos da Coamo e Jorge tem orgulho do seu pai, Shinji Nishimura, um pioneiro que revolucionou a agricultura, após chegar ao Brasil em 1932, com apenas 21 anos de idade, para buscar uma vida melhor. A Jacto é uma marca forte nos campos do Brasil e do mundo, e a inspiração do nome da empresa remete a história vinda realmente do rastro deixado no céu pelos aviões a jato, e representa progresso, tecnologia e modernidade.

Jorge Nishimura é o filho caçula do seu Shunji Nishimura, fundador da Jacto, e atualmente é membro do Conselho do Grupo Jacto e do Conselho Curador da Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, que suporta diversas entidades educacionais. Formado em Engenharia Mecânica, Jorge teve papel decisivo na construção da Governança Corporativa do Grupo Jacto. Foi um dos fundadores da Universidade da Família, em 1992, juntamente com a sua esposa Márcia, tendo atuado como presidente da organização até 2022. Ele esteve na Coamo dia 5 de novembro palestrando para 300 lideranças da cooperativa com o tema “O Desafio da Sucessão nas Empresas Familiares”.

Revista Coamo: Quando se fala em Jacto, lembramos do pioneirismo do seu pai, o seu Shunji Nishimura. Qual o legado dele que perpetua para as gerações?

Jorge Nishimura: Agradeço o convite por estar nesta conceituada Revista Coamo, que completou 50 anos de publicação ininterrupta em 2024. Ela é uma referência na comunicação do cooperativismo e do agronegócio. Parabéns a todos da Coamo por valorizar e incentivar a comunicação efi ciente com os cooperados, funcionários, clientes, parceiros e a comunidade. Falar do meu pai é muito prazeiroso e motivo de grande alegria. Ele chegou ao Brasil em 1932, é a pessoa que plantou a Jacto, que deu início a esta empresa presente na vida de milhares de empreendedores do campo e da cidade. E quando a gente olha, passados 76 anos de história, enxergo claramente o DNA do meu pai. As coisas que ele fez para que a Jacto fosse do jeito que ela é, o jeito dela funcionar e o de relacionar com as pessoas. Isso vem tudo do meu pai, é impressionante. Esse conhecimento e os valores vem sendo passados por várias gerações e é tão valioso a gente ter entendido o valor de tudo isso. É muito, muito bom mesmo.

RC: Como foi o início do senhor nos negócios da Jacto?

Nishimura: Eu entrei nos negócios da família como o filho mais novo. Entrei na empresa no começo dos anos 1980 e acabei encontrando o meu lugar dentro da Jacto quando nós começamos a tratar de uma temática muito difícil em uma empresa familiar, que é como a gente mantém a empresa ao longo das gerações. É conhecido que empresa familiar tem um ciclo curto. E tem um conhecido ditado “Pai rico, filho nobre, neto pobre.” Isso mostra, de certa forma, que o ciclo de uma empresa familiar quase nunca chega até a terceira geração, a geração dos netos. Conforme uma pesquisa global, o ciclo começa com os avós, passa para os pais, e chega aos fi lhos, mas menos de 10% consegue chegar até os filhos. Então esse é um drama para as empresas familiares e a economia de um modo geral.

RC: A Jacto viveu esta transição. Como foi esse processo?

Nishimura: Este tema é muito importante e gosto de compartilhar, inclusive, agradeço a Coamo pela oportunidade de ter mostrado um pouco desta experiência no dia 5 de dezembro para 300 líderes dos Comitês Educativos. Nós vivenciamos essa experiência de atravessar tempos difíceis de transição. Mas de fato, a Jacto acabou conseguindo vencer as dificuldades, os obstáculos. Não foi fácil, mais graças a Deus a gente conseguiu chegar e hoje temos a terceira geração na liderança do grupo Jacto. Isso é uma coisa muito boa, que nos deixa muito feliz.

RC: O senhor diz que muitas famílias esquecem ou não conhecem o processo sucessório.

Nishimura: Sim, e acredito ser isso uma coisa importantíssima, pois a gente olha os negócios, olha um monte de atividades, mas muitas vezes esquecemos do processo sucessório e da necessidade dele acontecer. A sucessão é importante porque ela vai dar a continuidade das coisas que o pai começou lá trás, então é muito importante, relevante. Eu vejo com muita preocupação o fato de que muitas famílias não vão conseguir fazer essa travessia. Isso a gente tem compartilhado, porque a sucessão em uma empresa familiar, é uma coisa fantástica e muito importante. Mas não é fácil não.

"A GENTE OLHA OS NEGÓCIOS, OLHA UM MONTE DE ATIVIDADES, MAS MUITAS VEZES ESQUECEMOS DO PROCESSO SUCESSÓRIO E DA NECESSIDADE DELE ACONTECER."

RC: O senhor cita travessia e perpetuação. Qual é o principal problema e ao mesmo tempo, quais as dicas para que a sucessão aconteça?

Nishimura: É uma grande questão, muitas vezes, na transição a gente não se prepara e as pessoas de um modo geral, vão achando que quando chegar a hora vai virar a chave e vai dar tudo certo. Mas não é bem assim. Tem que ter um preparo, um entendimento. Eu falo que o grande problema para as empresasfamiliares é o desconhecimento do processo sucessório. Se as pessoas não entendem o processo sucessório, as dificuldades, os preparativos que têm que ser feito e as pessoas vão deixando isso para última hora, não vai dar certo. É muito importante que as pessoas comecem a entender.

RC: E aí é que entra a importância do relacionamento e das conversas entre familiares e gerações.

Nishimura: Sim, precisamos começar a conversar e então, basicamente o grande problema no processo de transição entre as gerações é a comunicação e o relacionamento. Não é tratar as questões, é entender e resolver os problemas, os conflitos, que existem em toda a família. Conflito não é coisa ruim, ele existe e não é em toda a relação, mas resolvendo vamos alinhando e encontrando caminhos para dar sequência por meio das gerações.

RC: Como o senhor acredita que deve ser o processo de transição?

Nishimura: Esta é uma grande questão, a de que como podemos construir basicamente um processo de transição. Eu posso afi rmar, que se as pessoas se preparam para a transição, a chance de sucesso é bastante alta. Se for ao contrário, se as pessoas não se prepararem para a transição e sucessões futuras, a chance é muito baixa de sobrevivência. Isso não é desastroso para a maior parte das empresas que se preparam, mas sim para quem não percebe e não se prepara para esta situação que mais dia, menos dia, vai acontecer.

RC: Qual a consequência para as famílias que não estão atentas a esta preparação?

Nishimura: Se não houver essa preparação, o que pode acontecer é que, de repente, essas famílias, possivelmente na área agrícola, irão deixar de ser proprietárias e de empresários rurais. A gente observa bastante que, quando há um confl ito não resolvido, conciliado, normalmente o pai divide a propriedade em vários pedaços e dá para os fi lhos. Mas esse é um caminho muito ruim porque a gente tem que saber também que vocação agrícola, por exemplo, não é para todo mundo. Então, ser um agricultor não é uma vocação que todas as gerações têm ou querem perpetuar. Pode ser que dentro de uma família tenha um ou dois que têm a vocação e outros não. Mas o fato de conseguir trabalhar junto e manter a família unida e conseguir conciliar tudo isso é um caminho muito bom.

RC: Como foi a visita na Coamo nos dias 4 e 5 de dezembro e o encontro com os cooperados e a diretoria?

Nishimura: Posso resumir em uma palavra: sensacional, foram dois dias que irão fi car em nossa história, memória e em nossos corações. Na chegada, fomos até a Fazenda Experimental e tivemos a honra de plantar uma árvore em nome da família Nishimura, o qual nos deixou muito feliz e emocionado. Depois, saboreamos o carneiro no buraco, prato típico de Campo Mourão. E após a minha palestra com os líderes da Coamo, fomos surpreendidos, de novo, com uma homenagem por meio de um quadro com a imagem de toda a nossa família, inclusive com o meu pai. 

É um reconhecimento que recebemos com alegria e emoção, retratando uma grande parceria entre as famílias e Coamo, perpetuada ao longo de muitas décadas.

RC: Qual foi o sentimento e a conexão que o senhor encontrou na Coamo?

Nishimura: A empresa cresce, e a tendência às vezes de uma empresa ao crescer, é perder a sua alma, perder a sua identidade. Mas, estar aqui na Coamo foi diferente, é algo fabuloso, fantástico. A Coamo cresceu tanto e eu vejo o gigantismo em que ela se transformou, mas uma das coisas que eu percebi na cooperativa é o calor humano sempre presente, com o carinho e o relacionamento, a hospitalidade, o acolhimento das diferentes pessoas que pude encontrar e conviver nesses dias maravilhosos. Normalmente em algumas empresas que crescem muito, vai gerando um esfriamento nas relações, um distanciamento. E aqui encontrei o mesmo acolhimento e carinho dado ao meu pai e aos meus irmãos nas diversas visitas que eles fizeram ao longo desses anos todos.

RC: Então, manter as empresas com alma e valorizar as pessoas é um grande desafio no crescimento?

Nishimura: Sem dúvida, é grande o desafio de manter as empresas com alma e a Coamo está de parabéns, pois isso é admirável. Celebramos a forte parceria entre a Jacto e a Coamo, que é uma parceria de bom relacionamento, de amizade, de respeito, de inovação tecnológica e bons resultados. É uma relação que vem sendo cultivada desde o tempo do meu pai e do Dr. Aroldo, e a gente percebe que é uma relação forte, e isso nos enche de alegria e esperança. A gente vê a história do Brasil, da Jacto e da Coamo e vai entender a história da agricultura brasileira moderna. É impressionante ver como o Brasil evoluiu em pouco tempo e com a Jacto e Coamo não foi diferente, pois temos os nossos valores e o espírito com um DNA, com a inovação e os investimentos muito presente em prol dos nossos clientes e parceiros.      

 

Família Nishimura: Jorge, Shiro, Lincon, (em pé) e Takashi, Jiro, Shunji e Chikao (sentados)

"O reconhecimento que recebemos da Coamo, foi com muita alegria e emoção, e retratou uma grande parceria entre as famílias e Coamo, perpetuada ao longo de muitas décadas."

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