No centro, os cooperados
Quem chega a Campo Mourão, na região centro-ocidental do Paraná, encontra uma cidade bem estruturada, de pouco mais de 100.000 habitantes, de acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na área central do município, um polo regional, fica o complexo de prédios que abriga a sede da Coamo Agroindustrial, a maior cooperativa agropecuária do país.
O movimento é intenso, com associados buscando atendimento para negociar as safras, comprar insumos ou realizar movimentações financeiras na cooperativa de crédito Credicoamo. O estacionamento é amplo, mas às vezes faltam vagas.
Em 2023, a Coamo faturou R$ 30,3 bilhões e teve sobra líquida (ou lucro, segundo a terminologia das cooperativas) de R$ 2,3 bilhões, dos quais ela distribuiu R$ 850,3 milhões a seus cooperados. Diante desses números, é difícil acreditar que nos primeiros anos da cooperativa, fundada em 1970, havia quem chamasse Campo Mourão de "terra dos três esses", em referência a sapé, samambaia e saúva, as únicas três formas de vida que, segundo se falava, eram capazes de sobreviver àquele solo pobre.
A baixa fertilidade da terra os produtores corrigiram à base de trabalho, disciplina e ciência, com extensionistas a campo. Um deles era o engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini, catarinense que chegou à cidade em 1968 depois de graduar-se pela Universidade Federal do Paraná.
Gallassini é o idealizador da Coamo e, hoje, preside seu conselho de administração. Em um memorial que a cooperativa acaba de inaugurar, é possível ver o jipe modelo 1954 que ele utilizava para o trabalho e entender um pouco mais da trajetória que levou a Coamo à marca atual de 31.665 associados, distribuídos por 75 municípios de Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Airton Galinari, presidente executivo do Coamo, diz que a cooperativa tem atualmente 400 engenheiros agrônomos no campo, atendendo os associados.
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"Além disso, mantemos uma fazenda experimental, há 50 anos, com estudos de rotação de culturas e o museu do solo. Temos parcerias com instituições como a Embrapa, universidades e indústrias. Só entram produtos em nosso portfólio depois de testados", relata. Galinari é engenheiro químico e ingressou na Coamo em 1987, como gerente da destilaria de álcool que a cooperativa mantinha. Mais tarde, ele se tornou superintendente de logística e operações, e, em 2020, com a criação de uma nova estrutura de governança, assumiu o posto de presidente executivo, liderando cinco diretores e reportando-se ao conselho de administração.
Questionado sobre o que considera ser o maior diferencial da Coamo para vencer o prêmio Melhores do Agronegócio, Galinari é direto: "Desde o começo, a Coamo teve a cultura de se capitalizar. Além dos fundos legais, que determinam 50% de captação para reinvestimento, nosso estatuto prevê outros fundos, que podem ser transitórios, para capital de giro, por exemplo. O dinheiro que faturamos é administrado e devolvido em forma de investimentos em nossas unidades. Todo cooperado tem acesso aos mesmos produtos e serviços. Transitamos pelos períodos de difi culdades com tranquilidade, fazendo bons negócios, pagando à vista. Isso gera confiança. Em 53 anos, a Coamo sempre devolveu sobras", relata.
Outro diferencial é a industrialização das commodities. O volume chegou a 9,9 milhões de toneladas em 2023. A Coamo industrializa cerca de 50% da soja e 50% do trigo que recebe. Esses produtos, em forma de itens como farinha de trigo, margarina e óleo de soja, chegam ao varejo com a marca da cooperativa.
Para o milho, já está em operação a indústria de ração animal, que produz 500 toneladas ao dia, mas consome menos de 2% do que a Coamo recebe. Para agregar mais valor ao cereal, a cooperativa já começou a construir uma planta de etanol de milho, que receberá investimentos de R$ 1.6 bilhão e deverá ficar pronta no segundo semestre de 2026. Com ela, a Coamo passará a industrializar 20% do milho que recebe.
"Olhamos para o futuro com confiança. E o mais importante: com foco no cooperado conclui Galinari. "Ele é a razão de a Coamo existir."
Texto publicado na Revista Globo Rural
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