Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 464 | Novembro de 2016 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

UM SENHOR COOPERATIVISTA

Engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini, idealizador e presidente da Coamo e Credicoamo

No mês em que a Coamo completa 46 anos de fundação, o entrevistado do mês é o idealizador e presidente da cooperativa engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini. Ele fala sobre o surgimento da Coamo, da participação dos associados e da importância do movimento cooperativista.


Revista Coamo: Dr. Aroldo, como foi o trabalho de cooperativismo que originou a Coamo?

José Aroldo Gallassini: A questão do cooperativismo no Paraná foi um plano do serviço de extensão rural.  A Acarpa, atual Emater, da qual eu participava como engenheiro agrônomo em Campo Mourão tinha como trabalho de extensão a criação de uma cooperativa e a gente colocou isso na cabeça. Na época, no trabalho inicial não tínhamos nem trigo e nem soja, não tínhamos e não conhecíamos as lideranças. Existiam cinco tratores na região e houve cinco tentativas para se fundar uma cooperativa, mas nenhuma deu certo. Então começamos a identificar as lideranças e a conversa de cooperativismo foi crescendo. Tivemos cooperativas que vieram aqui, gente que veio para fazer cooperativa, tomou dinheiro dos produtores e levou para outras regiões dizendo que sairia uma cooperativa e nada aconteceu. Foi um período também em que o cooperativismo não estava em uma boa fase porque muitas cooperativas nasceram, não aqui na nossa região, mais em vários lugares no Brasil e não deram certo. Iniciamos um trabalho estruturado e de base com  a identificação das lideranças. No dia 09 de dezembro de 1969 fizemos uma reunião de lideranças com os produtores e esposas, e um grupo de trabalho de todos os outros setores, como saúde e cultura, que tinha na região. Foi feito um grupo sobre cooperativas que nós chamamos de “Grupão”  para falar de cooperativa. A ideia cresceu e no final do treinamento, o prefeito de Campo Mourão (Horário Amaral)  disse: “se vocês tiveram sucesso na cooperativa a gente pode doar um terreno”.  Aquele foi o primeiro e único terreno que a Coamo ganhou em 46 anos.


RC: O senhor imaginou algum dia que a Coamo se tornaria tão grande e com sucesso?

Gallassini: Com o início da ideia, tivemos toda uma história. Eu tirei férias e alguns produtores criaram uma cooperativa na minha ausência que atrasou o trabalho em seis meses, já que aquela cooperativa não nasceu. Daí mobilizamos e acabou dando certo a Coamo fundada como Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda com a sigla Coamo. Fizemos muitas reuniões e felizmente deu certo, fizemos a Coamo no início para trigo - tinha três produtores de trigo na região- e depois do cereal já veio a soja e a cooperativa não parou mais de crescer. Eu jamais imaginava que a Coamo pudesse ter tanto sucesso e se tornar a maior cooperativa da América Latina.  Hoje, a Coamo recebe anualmente mais de 7 milhões e 200 mil toneladas de produtos em suas 120 unidades de armazenagem. Na época não tinha nenhum armazém adequado na região para receber a produção e a Coamo se estruturou nas áreas de armazenagem, assistência técnica, fornecimento de insumos, comercialização, produção para o mercado interno e exportação. E como resultado temos uma grande e bem capitalizada Coamo que se estruturou nesses 46 anos de existência.


Dr. Aroldo ministrando palestra sobre cooperativismo aos produtores no final da década de 60

RC: Quais  fatores o senhor aponta para o sucesso da Coamo nesses 46 anos?

Gallassini: A gente não pode deixar de falar do associado que não tinha conhecimento do cooperativismo, mas acreditou, foi conhecendo e participando. Importante é a honestidade das pessoas que participaram do início do movimento. Afirmo sempre  que a falta de honestidade prejudicou e fez com que muitas cooperativas não tivessem sucesso, e como resultado, elas quebraram . Então, a honestidade em uma cooperativa é relevante, não podemos deixar dúvidas para o associado, que adquire confiança, acredita, trabalha junto e só tem a ganhar.


RC: E a participação do associado?

Gallassini: Além da honestidade, outro fator realmente importante é a participação do associado, pois o próprio Estatuto Social diz que ele tem que entregar toda a produção e adquirir todos os insumos na cooperativa. Felizmente, podemos nos orgulhar da expressiva presença dos associados no dia a dia da Coamo. Trata-se de uma participação efetiva, de uma educação cooperativista na prática que vem dando excelentes resultados nesses anos todos. Assim, o associado recebe e absorve as novas tecnologias que vão chegando no mercado e vai crescendo de maneira sustentável.


RC: Como é esta relação com os associados?

Gallassini: Eu sou muito otimista em relação ao quadro social que sempre teve participação efetiva nesses 46 anos. É uma relação de confiança, de respeito e de muita cordialidade. Procuro estar sempre com os associados, para isso promovemos diversos eventos durante o ano e eu faço questão de ir até as unidades para conversar e interagir com eles. Mas, o principal fator de sucesso de uma cooperativa é a participação dos seus associados. Na Coamo a gente pode contar com essa atuação direta deles nos volumes de produção entregues nos armazéns da cooperativa e no abastecimento dos volumes de insumos. E pensando neles, fazer novos projetos, como por exemplo, das indústrias, que só foi possível por acreditar no quadro social. Tínhamos receio no começo e até se falava, "mas e se ele não participar, se ele virar as costas, não acreditar, não vai dar certo!". Fizemos um trabalho que deu certo porque o associado acreditou e participou ativamente de todos os projetos que foram implantados desde o começo pela Coamo.


RC: O senhor tem defendido sempre a educação cooperativista. Qual a importância do cooperativismo nesses 46 anos da Coamo?

Gallassini: O cooperativismo no mundo é uma forma de participação da sociedade como um todo. No mundo, o cooperativismo é sucesso onde for instalado porque a participação dos associados é igualitária sem proteção, classificação de pequeno, médio ou grande, sem diferenciação de religião, de raça, enfim, o cooperativismo não tem discriminação, por isso é sucesso. Todos são associados não importando o seu tamanho, se ele é rico ou pobre, no cooperativismo eles têm o reconhecimento da sua diretoria e têm que se sentir donos da sua cooperativa. Isso é muito positivo e um diferencial para o sucesso da nossa cooperativa.


RC: O senhor tem ideia da importância que tem para o cooperativismo e para Coamo?

Gallassini: Sinceramente não sei. Mas, a minha vida é a Coamo e o cooperativismo se tornou uma coisa só no meu viver. Assim, se tornou parte de minha vida e da minha família e, também, de todos envolvidos com o movimento, como os 28 mil associados e os 7.400 funcionários. Por isso, falo da importância de todos puxarem para o mesmo lado, porque daí as coisas dão certo. Então, não sei medir isso, e até onde vai o envolvimento e o sucesso da cooperativa. O que posso medir é a dedicação de todos e o sucesso da nossa cooperativa, por meio dos resultados.


RC: O senhor é cooperado da Coamo, da Credicoamo, da CooperAliança e também é usuário do sistema Unimed. Qual a importância do cooperativismo na vida do senhor?

Gallassini: O cooperativismo para mim é muito importante, posso dizer que sou um cooperativista, porque participo de quatro cooperativas de segmentos diferentes. Quando eu falo de produção agrícola sou Coamo e aliás, 100% Coamo. De produção pecuária sou associado da CooperAliança, de Guarapuava, que é uma cooperativa de carnes relativamente recente que vem crescendo muito. Quando falo de crédito sou associado da Credicoamo, da qual sou presidente, e na saúde sou usuário da Unimed porque é uma cooperativa de médicos e temos convênio, o qual dou muito valor. Esse sistema se tornou viável para a manutenção da saúde da família, e disponibilizamos esse benefício para os associados da Coamo.


RC: Em 46 anos, a Coamo se estruturou e se preparou para as mudanças e está preparada para continuar crescendo?

Gallassini: Para o crescimento de uma cooperativa não existe limite, o que a gente tem que ter de limite é a capacidade das pessoas que trabalham no setor para não crescer desordenadamente e sim progredir, prestar um melhor serviço e proporcionar mais renda para os associados. Então, temos duas formas para crescer. Uma delas é a horizontal, e a Coamo já atingiu esse nível com sua atuação nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Outra forma é o crescimento vertical, que é muito importante para agregar valor a produção dos associados. Temos interesse cada vez mais nesta questão da industrialização dos produtos. Estamos na soja com diversos produtos como margarina de diversos tipos, gordura vegetal, óleo de soja refinado, produção de óleo bruto e farelo, enfim na soja com uma verticalização bastante grande. No café, estamos indo bem na torrefação e moagem e, também, muito bem no trigo, produzindo farinha de qualidade em um moinho moderno, que em menos de quatro meses de instalação atingiu sua capacidade máxima de produção de 500 toneladas/dia em Campo Mourão. Temos também outro moinho arrendado que produz outras  200 toneladas/dia. Então produzimos 700 toneladas/dia e a possibilidade de fazer 26 tipos de farinha. Estamos avançando para diversos tipos, desde pão, massas, farinhas para pães e bolos. A Coamo está vendendo toda produção no mercado de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul.


RC: Qual a mensagem que o senhor deixa para os cooperados?

Gallassini: Iniciei um trabalho, que não é para mim, mas para todos. Criamos um sistema cooperativista para isso, para uma sociedade como um todo. São 28 mil associados que representam 28 mil famílias, são mais de sete mil funcionários responsáveis por seus familiares, então diretamente são mais de 140 mil pessoas envolvidas e beneficiadas pelo cooperativismo da Coamo. Vamos continuar com esse trabalho, pensando e agindo para o melhor dos associados e familiares. Criamos a Coamo para sempre, não foi para duas, quatro ou cinco gerações, mas para toda a vida. Por isso, a medida que o tempo passa temos que nos reestruturar e adequar para atender as necessidades do quadro social e do agronegócio. Podemos e temos o direito de ficar velhos e vamos ficar, pois esta é a ordem natural das coisas. Mas, a Coamo não pode e não ficará velha. Por isso é que temos que preparar novas pessoas para o futuro da Coamo e ter sempre uma cooperativa moderna, sólida e segura, cada vez mais, atuante em prol do desenvolvimento do quadro social e no cumprimento da sua missão. Desejo felicidades e prosperidade a todos, parabenizo a todos os associados da Coamo pelos 46 anos de grande sucesso, com a certeza de que quanto mais negócios fizerem com sua cooperativa mais forte ela ficará e eles também. A principal missão da  Coamo está na razão da existência dos seus associados.

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