Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 464 | Novembro de 2016 | Campo Mourão - Paraná

ASSISTÊNCIA TÉCNICA

CONTRA-ATAQUE AOS PERCEVEJOS

A safra 2016/17 caminha bem. Em comparação com o ano anterior, o plantio antecipou em 12%, na área de ação da Coamo. Até o fechamento desta edição, 95% da cultura no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul já tinha sido semeada.

Diante desse cenário, Lucas Gouvea, supervisor de Assistência Técnica da Coamo, diz que a expectativa é de uma safra promissora. Porém, ainda assim, o agricultor fica na dependência do clima. “Existe divergência por parte dos institutos de meteorologia. Não se sabe se será de fenômeno El Niño ou La Niña. O que se tem de notícia é que as chuvas tendem a ficar um pouco abaixo da média, caracterizando um período mais seco.”

Gouvea orienta que diante desse prognóstico de clima mais seco, é propício o surgimento de determinadas pragas. “Em tempos de seca, as pragas, em específico, o percevejo marrom e barriga verde, podem incomodar a cultura da soja. Portanto, se tivermos chuvas abaixo da média é provável o ataque nas regiões mais quentes”, explica.

Contudo, este não é motivo para alarme, mas o cooperado deve ficar atento para um manejo adequado. “A condução da lavoura deve ser normal, mas com atenção à época de florescimento da cultura. Passando para fase R3, que na agronomia corresponde a fase do "canivetinho", onde inicia a formação da vagem,  qualquer descuido pode prejudicar a produtividade.”

Caso comece a se detectar a incidência da praga na fase vegetativa, o agrônomo diz que é preciso monitorar a lavoura. “Verifique se está acontecendo em todo o talhão ou só na bordadura próximo à alguma mata. Se for assim, não é motivo de preocupação. Agora, se nessa fase, ocorrer alta incidência em um talhão considerável, é preciso uma análise técnica para decidir qual medida tomar”, esclarece Gouvea.


MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

A bandeira do departamento técnico da Coamo é e sem pre será a do Manejo Integrado de Pragas (MIP). “Decidimos nossas ações sempre com embasamento técnico, e para isso é preciso monitorar a lavoura.  Se na fase R3, por exemplo, encontrarmos dois percevejos por metro para lavouras destinadas a grãos e um em lavouras para sementes, é o momento de fazer intervenção com produto químico. Porém, antes e após a aplicação, o monitoramento deve acontecer.”

Lucas Gouvea ainda alerta que cada caso é um caso. "É preciso que o técnico analise a lavoura para verificar qual a necessidade de aplicação de produtos. Na agricultura não existe receita de bolo, cada ano é diferente, cada safra é uma safra, e a decisão final parte do diagnóstico do técnico.”

Lucas Gouvea, supervisor da gerência de Assistência Técnica da Coamo destaca a importância do pano de batida


DE OLHO NO CLIMA E MANEJO

Beatriz Ferreira, da Embrapa/Soja: "Até o momento não dá para afirmar se o clima está influenciando positivamente ou negativamente a ocorrência de percevejos."

O percevejo ataca a vagem da soja e se alimenta diretamente do produto final, que é o grão. Trata-se de uma praga importante, devido a densidade populacional. Fato é que não se sabe o que pode acontecer nesta safra de verão e a melhor forma de não sofrer prejuízos é mantendo-se informado e de olho na lavoura.

A entomologista da Embrapa/Soja, Beatriz Ferreira, há muito tempo estuda essa praga. Ela diz que até o momento é baixa a incidência, mas isso não é motivo para o cooperado se acomodar. De acordo com ela, é preciso monitorar a lavoura. “Até o momento não dá para afirmar se o clima está influenciando positivamente ou negativamente a ocorrência de percevejos. Mas, se a temperatura elevada continuar, a tendência é acelerar o ciclo de qualquer inseto, tanto do percevejo como das outras pragas que ocorrem em temperatura elevada.”

Porém, existe um outro lado nessa moeda. “Se houver bastante chuva, a população reduz em função da queda das ninfas pequenas da planta, que depois não conseguem subir novamente e morrem. Mas, como é um pouco cedo para se detectar essa incidência, a melhor ação é a prevenção.”

Falando em prevenção, a pesquisadora, defensora do monitoramento da lavoura, ressalta que não existe melhor método para o efetivo controle dos percevejos. “Embora o pano de batida é um método que o pessoal acha um pouco mais difícil, é muito simples e eficaz para se ter a noção exata da população de percevejo na lavoura”, aconselha.

Caso a expectativa de incidência de percevejos se confirme, Beatriz orienta que seja mantido o monitoramento para aplicar o produto apenas quando for realmente necessário. “No estágio de floração, muitas vezes, o percevejo pode estar presente na lavoura, mas sem causar danos. Então, é importante esperar o momento certo para aplicar e fazer o manejo recomendado, utilizando produto e a dose certa para o controle de percevejo.”

Nesse ponto, entra a importância do Manejo Integrado de Pragas, conforme a pesquisadora. “O MIP é o manejo de várias pragas por meio do monitoramento da área para aplicar somente quando necessário os produtos químicos.  Não é preciso utilizar aplicações preventivas, o que acaba desequilibrando o sistema, pois na hora de uma aplicação realmente necessária, o agricultor terá que utilizar produtos mais fortes, já que os percevejos estarão mais resistentes.  Assim, com o uso de produtos mais fortes, acaba-se matando os inimigos naturais. Isso pode agravar o problema.”



COOPERADO X PERCEVEJO

José Jean de Almeida, agrônomo da Coamo em Engenheiro Beltrão, vistoria lavoura junto com o cooperado Enéias Fernandes Redi. Primeiros percevejos já começaram a aparecer na propriedade

Até nos sonhos a briga entre o cooperado Enéias Fernandes Redi e os percevejos foi travada. Isso porque, a preocupação com a praga ultrapassou a realidade e o cooperado de Engenheiro Beltrão (Centro-Oeste do Paraná), chegou a sonhar que era atacado por um percevejo gigante. Passado o susto de uma noite, o cooperado brinca com a história e diz que por ter uma área de grande incidência da praga fica difícil fechar os olhos para a lavoura.

O momento para Enéias é sempre de monitoramento. Além das outras atividades que realiza na propriedade, dar sempre uma olhadinha na lavoura nunca é demais. Ele cultiva uma área de 110 alqueires, deste total, 20 alqueires ficam próximos à mata, fato que aumenta a incidência de percevejos. “Temos bastante problema com ataque de percevejos todo ano, principalmente, nessa área que é beira de mato. Aqui, se cochilar perde, pois a incidência de percevejos é muito alta.”

Essa briga entre o cooperado e os percevejos é antiga. Por isso, ele reforça que é preciso cuidar da plantação enquanto há tempo. “Tem que monitorar e fazer o pano de batida para tentar minimizar, pois trabalhar sem percevejo é difícil. O negócio é controlar no início”, destaca.

Além disso, Redi diz que com anos de experiência na agricultura notou que existem variedades de soja em que a incidência de percevejos é menor. “Tem cultivar que suporta mais. Tem também algumas de menor porte, onde o veneno consegue penetrar melhor. As vezes podemos também estar errando na hora de aplicar o produto. Então, estou, inclusive, vendo com o departamento Técnico da Coamo outro tipo de bico para melhorar a aplicação.”

Nessa disputa, o cooperado diz que teve um ano de difícil controle, justamente pelo fato de ter descuidado da lavoura. “Em um ano de muita chuva, onde estava complicado entrar na lavoura, não acompanhei tão de perto. Naquele ano perdemos cerca de 30 sacas de soja por alqueire. Foi um ano isolado, pois a área geralmente colhe bem, mas bobeamos e não fizemos o monitoramento correto.”

Para o engenheiro agrônomo do departamento Técnico de Engenheiro Beltrão, José Jean de Almeida, com os percevejos realmente não dá para dormir no ponto. “Essa é uma área que tem muita mata ciliar e, por isso, precisa usar a tecnologia de aplicação, intercalando produtos e melhorando a eficiência, além de realizar o manejo integrado de pragas. Se não cuidar, o prejuízo é grande, interferindo na qualidade do produto e em produtividade também, podendo chegar a perdas de 20 a 25%, em qualidade de produto”, analisa.



MEDIDAS TÉCNICAS

Rodolfo Bianco, do Iapar: "O controle bem feito durante esse ciclo da soja, pode diminuir os problemas no milho segunda safra, principalmente com sobras de populações elevadas."

O percevejo deve ser analisado em todo o sistema agrícola. Ele sai da soja, passa para o milho e pode ir para o trigo, passando por diversos cultivos. Por esta razão, o entomologista do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Rodolfo Bianco, ressalta a importância de não se pensar nesta praga apenas na cultura da soja.

As decisões de manejar a praga devem estar calcadas sempre na amostragem, conforme orienta o entomologista. “O percevejo mais importante na soja é o marrom e passa um certo tempo de sua vida em dormência, retornando na floração da oleaginosa. Por isso, é muito importante que técnicos e produtores estejam alertas para começar o sistema de monitoramento.”

O pesquisador enfatiza que uma ação importante e pouco utilizada é a posterior análise da eficiência da aplicação. “O produtor aplica e acredita que está tudo certo e vai olhar a lavoura somente 10 e 15 dias depois. É muito tempo, suficiente para ter prejuízos. O ideal é que avalie essa lavoura de três a quatro dias depois para verificar se o efeito foi bom e se a população se mantém, se está entrando muito mais percevejos do que imagina, ou se a eficiência não foi boa. Assim, ele ainda consegue controlar a praga.”

A dosagem do produto também é aspecto que merece atenção do agricultor. “Muitas vezes se usa dose a mais, ou acrescenta-se, principalmente, mais piretróide à formulação indicada, porque é barato. Isso causa mais choque do que deveria e acaba ocorrendo o chamado ‘ressuscitar de inseto’. Ele causa choque, mas não foi letal a ponto de realmente matar o inseto”, destaca Rodolfo Bianco.

Porém, conforme o pesquisador, a sub-dose pode fazer com que o "tiro saia pela culatra". “O pessoal pensa que é melhor aplicar duas vezes ao dia em menor dosagem, do que aplicar a dose correta. Assim, ele também estará perdendo.”

O horário de aplicação não pode ser negligenciado, de acordo com Bianco. “Os percevejos têm uma dinâmica. Eles não gostam do horário muito quente, ou seja, nesses horários eles estão escondidos e mais protegidos e com isso se perde eficiência de aplicação.”

Uma tendência percebida pela pesquisa, de acordo com Bianco, é a diminuição em volume de calda da aplicação. “Essa redução é outro aspecto que tem prejudicado a eficiência da aplicação de produtos. Temos que tomar cuidado e sempre atender a recomendação técnica, principalmente com respeito ao tipo de bico. Se está com soja mais enfolhado, o ideal é usar bico que produz uma gota menor e irá ajudar o produto a permear mais as folhas e atingir mais o baixeiro da planta. Para que isso aconteça tem que trabalhar em horário de temperatura mais amena, senão a gota pequena seca antes de chegar no alvo.”

A espécie de percevejo barriga verde tem crescido muito no final de ciclo da soja, a ponto de começar a preocupar também como praga da soja e não só do milho. “O controle bem feito durante esse ciclo da soja, pode diminuir os problemas no milho segunda safra, principalmente com sobras de populações elevadas. O marrom também ataca o milho”, enfatiza o entomologista do Iapar.

São vários aspectos que devem ser analisados nesse manejo. É preciso planejamento agrícola e começar a pensar em cultura isca. “Uma propriedade que  utiliza ao menos 10% de área coberta com plantio mais antecipado, concentra mais insetos nessa área onde o controle será mais intenso. Assim, teria o resto da área com menos população. Inclusive se preserva os inimigos naturais no resto da lavoura”, orienta Bianco.

Outra forma que o entomologista sugere para proteger inimigos naturais, é a que divide a propriedade em lotes para serem monitorados separadamente. “Identifica-se assim áreas que precisam de aplicação ou não. Com isso, preserva-se os inimigos naturais, pois a aplicação está sendo seletiva. Esqueça os calendários e aplicação em área total e sempre deixe alguns lotes sem aplicação para que esses inimigos naturais se redistribuam e sejam preservados. Eles são muito importantes, principalmente, no começo do ciclo da soja e podem ajudar no controle de percevejos. Se eles não existissem não teria forma de manejar percevejos”, conclui.



MONITORAR PARA NÃO ERRAR

José Pereira Nunes, de Quinta do Sol (Centro-Oeste do Paraná), também não descansa após o plantio e acompanha a lavoura com frequência. “Olho a lavoura de manhã e à tarde, e faço pano de batida. É um instrumento de trabalho. Se vou para a lavoura levo junto. Esse ano ainda não tive problemas com percevejos, mas não dá para descuidar.”

Essa rotina de trabalho, inclusive, ajuda o cooperado que já teve ataque de percevejo em safras anteriores, mas conseguiu manter o controle devido ao monitoramento. “Se não tivesse acompanhado de perto, sem dúvida, teria prejuízos significativos”, afirma.

Além disso, Nunes é adepto da tecnologia de aplicação. “É preciso aplicar o produto na hora correta, ação que elimina prejuízos e aproveita ainda mais o potencial do material.”

A torcida agora é para que o clima continue contribuindo porque se depender de José Pereira Nunes, sua parte está garantida. “Temos colhido uma média de 150 sacas por alqueire. E a expectativa é manter essa média.”

Segundo o engenheiro agrônomo do departamento Técnico da Coamo em Quinta do Sol, Guilherme Teixeira Gonzaga da Silva, a equipe da cooperativa acompanha os cooperados no monitoramento das lavouras. “Esse ano a incidência de percevejos tem sido pequena nessa região. Mas, em anos anteriores tivemos problemas desde a floração. Nesse ano já temos áreas nas fases R3 e R4, onde não tivemos que fazer a aplicação para percevejo. Porém, não se pode descuidar. O pano de batida deve ser acessório básico do agricultor.”

Em Quinta do Sol (Centro-Oeste do Paraná), ainda não foram encontrados percevejos, mas mesmo assim o cooperado José Pereira Nunes não descuida da lavoura. Trabalho é acompanhado pelo agrônomo Guilherme Teixeira Gonzaga
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