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Carmen Rodrigues Truite, nasceu em Maringá, é filha de um engenheiro mecânico e uma dona de casa, e neta de agricultores. É casada e tem uma filha. Desde jovem queria ser engenheira agrônoma e se formou em 1991 pela Universidade Federal do Paraná. Ao sair da faculdade se mudou para um sítio de propriedade da família e foi produzir frutas. Da propriedade rural ela voltou para Curitiba, trabalhou em uma empresa de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto até passar no concurso da Caixa Econômica Federal onde trabalhou por três anos. Então entrou no BRDE onde está há 15 anos e há 12 na gerência de Operações de Produtores Rurais e Convênios. |
Neta de agricultores, engenheira agrônoma e com experiência de ter morado em um sítio onde produzia frutas, a gerente de Operações Adjunta de Produtores Rurais e Convênios do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) Carmem Rodrigues Truite, conhece bem a realidade de quem trabalha com a produção agrícola. "Plantar era fácil, difícil mesmo era o recurso para o custeio e fazer a comercialização, pois naquela época não havia muito crédito, tão pouco acesso ao crédito como temos hoje. Tempos difíceis!”, recorda.
Ela revela que se encanta com o cultivo da terra e a produção de alimentos. "É como mágica! Me faz bem ajudar quem trabalha com esta mágica e precisa de orientação e apoio para se desenvolver e crescer. Me identifico com os valores e objetivos do agronegócio: gerar empregos e renda, e fixar o homem no campo. O agronegócio é um misto de desafios e realizações. Nada é fácil, mas tudo é possível. E isto vicia!”
Revista Coamo: Qual a importância do BRDE para o desenvolvimento das cooperativas e do agronegócio?
Carmem Rodrigues Truite: O BRDE apoia as cooperativas da região Sul desde o nascimento delas. Isto é um orgulho para nós. Oferecer crédito e apoio técnico aos produtores rurais, cooperativas e empresas do setor é nossa missão. Sem os financiamentos do BRDE certamente o crescimento seria mais lento. Pretendemos continuar apoiando o agronegócio e as cooperativas de produção e de crédito. Tem a ver com nosso DNA.
RC: Como avalia sua evolução pessoal e profissional após ingressar no BRDE?
Carmem: Estou no BRDE há 15 anos. Já entrei com uma boa bagagem de vida e experiência profissional, mas foi no BRDE que consegui aplicar tudo o que eu trazia e transferir isto para o projeto de outras pessoas. Me sinto auxiliando um pouquinho o desenvolvimento dos Estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul, possibilitando a distribuição dos recursos em operações pulverizadas. Tem sido gratificante profissional e pessoalmente. Numa próxima etapa pretendo auxiliar estudantes das Ciências Agrárias com palestras e rodadas de conversas, para que conheçam mais o crédito rural e se conscientizem da importância crucial de planejar a propriedade como um todo, bem como os investimentos necessários, para só então buscar o crédito.
RC: Qual o seu principal desafio como representante do BRDE?
Carmem: Localizar e apoiar as pequenas cooperativas e produtores rurais, que precisam de apoio do BRDE, e a forma de atendê-los, assim como foi lá atrás com as atuais grandes cooperativas do Paraná. É um público que tem carências na gestão e na administração, o que dificulta o acesso ao crédito adequado. Podemos catalisar esforços de várias instituições para que estas pequenas cooperativas cresçam e venham a gerar resultados para os cooperados. Também nos preocupa a busca de alternativas financeiras para atendimento aos clientes do agronegócio nestes novos tempos de redução dos subsídios.
RC: Por que é importante apoiar o cooperativismo?
Carmem: Acreditamos no cooperativismo. Quando se coopera, o pensamento é no todo, o esforço é de todos e o resultado também. No cooperativismo, todos têm direitos e deveres iguais, todos são iguais respeitando suas diferenças. O cooperativismo se importa com o crescimento da cooperativa, de seus associados e de sua região de atuação. Propicia educação financeira, troca e geração de conhecimento, assistência técnica, social, meio ambiente, trabalho, cumprimento das formalidades, tributos e valor agregado. O cooperativismo que conheço, seja na forma que for – de produção, de crédito, de saúde, de transportes, é a forma justa de “governar” a comunidade.
RC: Como avalia as transformações e potenciais das cooperativas paranaenses?
Carmem: As cooperativas paranaenses são exemplos para o Brasil e o mundo. São um orgulho para os paranaenses e precisam ser mais conhecidas, principalmente no meio urbano. As pessoas do meio urbano ainda não sabem o que é o cooperativismo. Eles ouvem falar, mas não se envolvem, como se fosse algo que não é para eles. Com o crescimento das cooperativas de crédito isto já melhorou bastante, mas precisa ser mais difundido. O potencial das cooperativas é gigantesco. As cooperativas possuem enorme capacidade para superar crises, obstáculos, dificuldades. São inovadoras sem perder os valores, são como enormes formigueiros: uma grande área de abrangência, números que impressionam e a solidez das grandes corporações, mas tudo embasado na dedicação, produção e colaboração de milhares de brasileiros.
RC: Diante do atual cenário econômico quais são os desafios do cooperativismo?
Carmem: Garantir a continuidade de recursos adequados para manter os níveis de investimento dos últimos anos, tanto na produção primária, quanto na verticalização da mesma; tanto para seus investimentos, quanto de seus cooperados. As cooperativas precisam e podem mostrar ao Governo e à sociedade que “manter o sistema de crédito rural não é um privilégio, mas uma das grandes políticas públicas relevantes, pois atende a verdadeira locomotiva da economia nacional. Em todas as nações evoluídas, a agricultura é considerada área essencial que merece apoio e proteção especial do Estado, tendo o crédito rural subsidiado como uma das mais eficientes políticas de apoio” – conforme palavras do Presidente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Santa Catarina. Esta política de subsídio se reverte integralmente em benefícios da nação brasileira: é segurança alimentar e garantia de bons resultados do PIB.
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Carmem Truite faz questão de sempre participar da Assembleia da Credicoamo, em Campo Mourão |
RC: Quanto aos recursos atuais, eles atendem à demanda do agronegócio?
Carmem: Não. E respondo diante de toda a demanda não atendida de dezembro/18 para cá, por esgotamento dos recursos equalizados e até alguns com taxa pós, via BNDES. Os recursos livres também não foram suficientes neste plano-safra e tem muito produtor aguardando para investir em itens básicos do agronegócio como correção e conservação de solos. Isto é muito ruim e perigoso.
RC: Qual a importância dos juros controlados e de longo prazo para o crédito rural?
Carmem: Não sou especialista em economia e finanças, e posso estar falando algo absurdo para os entendidos, mas acho que o agronegócio é algo muito diferente dos outros setores da economia. Acredito piamente que juros controlados e de longo prazo são necessários, pois dão segurança para todos os envolvidos: produtores, instituições financeiras, Governo e todos os que dependem do agronegócio. Veja bem, sabendo exatamente o custo do financiamento o produtor sente confiança, pode se programar e avaliar o tamanho de sua capacidade de investimento se comprometendo com algo conhecido e investindo. Desta forma ele cresce. A instituição financeira ganha segurança à medida que seu cliente está comprometido com algo que pode pagar, pois o agricultor investe naquilo que acredita. Ele não é do tipo que aposta. O Governo por sua vez ganha pela certeza de que os investimentos necessários para o crescimento do setor estão acontecendo, e no longo prazo colhe aumento das exportações, da geração de empregos e da autonomia da produção. Produzimos commodities e “comida”, e ninguém vive sem “comida”.
RC: Como está o atual cenário econômico?
Carmem: Estamos num momento crítico (mais um!), onde temos que unir forças e sacrifícios para arrumar a casa. A política de crédito rural está sendo revista, mas é preciso que o novo Governo entenda que financiar o setor primário é crucial para a segurança alimentar. Sempre ouvi dizer que o Brasil seria o celeiro do mundo com seu enorme potencial agropecuário. Temos solo, clima, água, tecnologia e mão de obra para isso, mas não há como continuar a produzir sem condições adequadas e proporcionais aos riscos e sazonalidades do campo. Claro que seguro agrícola vem sendo seguidamente discutido e é fundamental crescermos nisto, mas não há seguro que resolva a falta de armazenagem, solos esgotados e maquinário sucateado. Também seria oportuno o Governo adotar uma estratégia que auxilie na relação comercial com outros países, garantindo uma comercialização mais justa, mais simples e sem tantas surpresas ou sustos.
RC: Como analisa a expansão do agronegócio no Brasil?
Carmem: O agronegócio cresceu muito nos últimos 10 anos. As tecnologias aplicadas e o consequente aumento da produtividade, a entrada do país em novos mercados e o crescimento do setor de proteínas vão indo muito bem. Com grandes desafios, claro. Mas nós paranaenses temos a grande sorte de viver num Estado atendido por inúmeras cooperativas, que catalisam os esforços individuais tornando a tarefa menos árdua.
RC: Como avalia o agronegócio como meio de geração de emprego e renda?
Carmem: Fundamental. O agronegócio é diversificado, emprega profissionais de diversas categorias, está em todos os cantos do país, distribuído fora dos grandes centros, espalhando o desenvolvimento. Não é o único gerador de empregos e renda, óbvio, mas contribui de forma significativa e categórica para isto.
RC: O Brasil apresentou uma variação positiva. Há perspectivas para investimentos futuros no agronegócio?
Carmem: Nestes últimos três ou quatro anos vários investimentos foram postergados em função das incertezas e da crise existente. Está na hora de recomeçar. De certa forma, para o agronegócio paranaense, estes últimos anos de postergação foram bons para consolidar investimentos anteriores. Porém, tem muito investimento por acontecer visando à agregação de valor de nossos produtos e, também, investimentos na produtividade e diversificação em nossas áreas.
RC: É preciso pensar em novas estratégias para o crescimento e fortalecimento dos investimentos para os produtores rurais?
Carmem: Sempre. E cito três pontos: melhoria da gestão das propriedades, mais planejamento nos investimentos e seguro agrícola. Não podemos mais jogar com probabilidades. As margens são pequenas e o mercado externo nos afeta demais. É preciso, portanto aprofundar conhecimento e transformar o produtor rural cada vez mais em um empresário rural, independente do seu porte. E as cooperativas são fundamentais para esta transformação.
RC: Como observa a evolução da Credicoamo no cooperativismo de crédito?
Carmem: A Credicoamo tem foco total no produtor rural. Ela luta por direitos e benefícios para seus associados, e tem um excelente time para isto. Profissionais preparados, que trabalham de forma coordenada e com espírito de excelência. Cuidam para que nada saia errado. Cumprem as regras e normas à risca e são leais a seus cooperados e valores. A Credicoamo cresceu muito e oferece a cada dia mais opções e alternativas para seus associados, com o diferencial do atendimento pessoal e direto. E o grande mérito? A Credicoamo cresceu independente e tem tudo para continuar nesta trajetória de sucesso!
RC: Quais as vantagens da parceria entre Credicoamo e o BRDE nesses anos todos?
Carmem: A Credicoamo e o BRDE cresceram, e em ambas as instituições nossa parceria foi fundamental para este crescimento. Juntos conseguimos cumprir nossa missão de conceder crédito, e o fizemos de forma pulverizada e para um público diferenciado. Um público com tradição na agricultura e na pecuária, com patrimônio consistente, assistência técnica e apoio comercial da Coamo. É crédito assistido! A busca por conhecimento é necessidade constante em todas as áreas.
RC: Qual o nível de profissionalismo no segmento do agronegócio?
Carmem: Na parte técnica somos bons, dedicados e comprometidos, mas na assessoria ao crédito os profissionais ainda pecam muito. Os profissionais de campo precisam conhecer mais de crédito rural, custeio e investimentos para auxiliar no planejamento das propriedades rurais. Devem conhecer um pouco mais os programas e as alternativas para auxiliar o produtor a investir, e qual a melhor opção. Ando por aí e vejo nas universidades, nas instituições púbicas e privadas que somos especialistas cada qual em sua área: ou técnica ou crédito, e esta diferenciação muitas vezes mais atrapalha do que ajuda. E este é um diferencial da Credicoamo, pois ali vemos um maior entrosamento entre os técnicos de campo da Coamo e os técnicos bancários da Credicoamo, trabalhando de forma complementar e beneficiando o associado. Mas isto não é a realidade do País, nem de muitas regiões do nosso Estado.
RC: Deixe sua mensagem para a Coamo e Credicoamo.
Carmem: Já disse isto uma vez e repito: trabalhar com os profissionais da Credicoamo e da Coamo é trabalhar num mundo ideal. E aqui incluo os profissionais da Via Sollus Corretora de Seguros, que complementam o trabalho e a prestação de serviços da Coamo e da Credicoamo. Este mundo ideal não é um mundo perfeito. Tem falhas, tem problemas, tem desafios, tem dias que dá vontade de chorar, mas tem respeito à vida à família e ao homem do campo. Respeito ao coletivo. Tem busca pelo aperfeiçoamento e pelo que é justo e não apenas o que é legal. Tem investimento na comunicação visando à informação rápida e transparente a quem merece toda nossa dedicação: o brasileiro que produz!
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