Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 496 | Outubro de 2019 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“Com o cooperativismo aprendi que quando todos ganham juntos há prosperidade para todos.”

Dalva Caramalac, superintendente do Sistema OCB/ MS, administradora, 34 anos de experiência no cooperativismo trabalhando como executiva na liderança de projetos de transformações organizacionais, gestão da mudança e de capital humano.

“O cooperativismo já é compreendido pela sociedade e pelos governos como um modelo de negócio capaz de gerar valor aos associados e produzir bens e serviços de qualidade, que continuará a crescer de forma sustentável. Também gera oportunidade de entrada no mercado de trabalho para aqueles que pretendem desenvolver determinada atividade econômica e sozinhos não conseguiriam.” A frase é da superintendente do Sistema OCB/MS, Dalva Caramalac, a entrevistada do mês na Revista Coamo. 

Administradora por formação, Dalva atua há 34 anos no cooperativismo como executiva na liderança de projetos de transformações organizacionais, gestão da mudança e de capital humano. 

No Mato Grosso do Sul, o sistema conta com 261 mil cooperados, 8.200 funcionários, com atuação em sete ramos (agropecuário, crédito, saúde, infraestrutura, transporte, consumo e produção de bens e serviços) e participação de 10% do PIB estadual. As cooperativas do setor agropecuário possuem 56% da capacidade estática de armazenamento, 1 bilhão de toneladas de soja e 3,4 bilhões de toneladas de milho. As cooperativas de saúde possuem 174 mil beneficiários, e o crédito 3,7 bilhões de empréstimo para cooperados.



Revista Coamo: Quais foram as principais atividades realizadas pela OCB-MS em 2019? Quais os desafios futuros?

Dalva Caramalac: A OCB/MS trabalha em sinergia com o Sescoop/ MS que é o nosso braço de formação profissional, monitoramento e responsabilidade socioambiental. Em 2019 estamos realizando capacitação técnica e comportamental de milhares de cooperados, dirigentes e trabalhadores de cooperativas, disponibilizando o conhecimento que precisam para estar em constante processo de evolução e interconexão. Sempre atenta às demandas das cooperativas e conectada às principais novidades no que se refere à educação continuada com olhar voltado para novas tecnologias e as necessidades do mercado. O cooperativismo já é compreendido pela sociedade e pelos governos como modelo de negócio capaz de gerar valor aos associados e produzir bens e serviços de qualidade, e continuará a crescer de forma sustentável. Também gera oportunidade de entrada no mercado de trabalho para aqueles que pretendem desenvolver determinada atividade econômica e sozinhos não conseguiriam. Esse desenvolvimento contínuo tem como mola propulsora a OCB/MS na representação política dos interesses das cooperativas junto aos poderes executivo, legislativo e judiciário, e o Sescoop/MS, na formação profissional e qualificação gerencial das cooperativas. O nosso desafio é levar às cooperativas o que há de mais moderno em tecnologias de gestão, tão necessárias em um mundo de transformação, visando a longevidade e perenidade de seus projetos, sem esquecer que na essência das mudanças estão as pessoas, razões de ser das cooperativas.



RC: Qual a sua função e como se sente como uma força integrante do cooperativismo? 

Dalva: Nestas mais de três décadas reflito sobre o aprendizado obtido e vejo com clareza que trabalhar por uma causa faz sua trajetória valer a pena. A construção de um legado começa quando você tem certeza sobre qual é o seu propósito de vida e ele converge com as estratégias da empresa que você trabalha. Tenho a consciência do meu papel no mundo e a realização plena de quem fez a escolha certa, que me aproximou da minha essência, da minha natureza. Aprendi que sucesso tem a ver com fazer aquilo que se gosta e que dá sentido à vida. Com o cooperativismo aprendi que quando todos ganham juntos há prosperidade para todos. Eu encontrei nos ensinamentos do cooperativismo um alicerce, uma relação com toda a minha história de vida e os valores aprendidos com meus pais. Encontrei congruência com meus ideais, valores, sonhos e possibilidades. Portanto, foi natural a minha adaptação a esse modelo de negócio. O cooperativismo ensina a buscar o sucesso nos negócios sem esquecer das pessoas. Me orgulho de criar um ambiente em que as pessoas sintam que vale a pena trabalhar. Sou uma pessoa apaixonada pelo cooperativismo e que acredita nele como meio para transformar a sociedade e contribuir com o projeto de vida das pessoas. 



RC: Quais as mudanças ocorridas nas últimas décadas no cooperativismo sul-mato-grossense? 

Dalva: Vi o movimento crescer de forma exponencial e ganhar musculatura. A ambição pelo desenvolvimento e evolução contínua, fizeram as lideranças perceber a realidade imposta pelo mercado em transformação e a necessidade de reinvenção. Por essa razão, a profissionalização da gestão ganhou o status de urgência, promovendo reestruturações, ênfase nas estratégias e nos modelos de negócios.



RC: Qual a importância do cooperativismo como agente de desenvolvimento para o MS e o país? 

Dalva: Gosto da definição de que o cooperativismo é uma filosofia cidadã e sustentável, que gera não somente renda e oportunidade de trabalho, mas traz a dignidade humana de forma igualitária, transforma realidades, mitigando a desigualdade econômica e social. Os olhares estão voltados para essa alternativa econômica que se sustenta na união e na valorização do capital humano, gerando resultados benéficos a todos. Seu maior patrimônio é formado por pessoas que somam forças para multiplicar oportunidades, resultados e confiança. São as pessoas que fazem do cooperativismo um modelo sustentável e justo para empreender, conscientes da força do trabalho coletivo, transformando obstáculos em oportunidades, resolvendo problemas que de outro modo seriam insolúveis. Mais que um modelo econômico bem-sucedido, somos milhões de pessoas inspiradas no bem comum, trabalhando por um mundo mais justo e equilibrado.



RC: Quais os fatores determinantes para que as cooperativas sejam reconhecidas por gestão de excelência? 

Dalva: O Sistema OCB/MS fomenta fortemente o aperfeiçoamento e as boas práticas de governança e gestão nas cooperativas para aumentar a agilidade e a competitividade no mercado. Essas boas práticas ajudarão no avanço e fortalecimento dos negócios cooperativos. Atuamos como um instrumento para a promoção da cultura cooperativista, formação profissional e desenvolvimento gerencial das cooperativas e seus associados, investindo fortemente em estratégia e na integração do sistema, com o intuito de pavimentar o caminho para o desenvolvimento contínuo do modelo de gestão cooperativista, que apresenta melhoria em seus indicadores de crescimento ano após ano.



RC: Como observa o cooperativismo impulsionado pela Coamo no Mato Grosso do Sul desde 2003 e a evolução do sistema?

Dalva: Enxergo a Coamo como uma cooperativa coerente com seu propósito e sua missão. O que mais admiro é que apesar da sua expansão ela não abdica de manter a relação de confiança com seus cooperados e colaboradores. O verdadeiro sucesso nos negócios da Coamo está relacionado ao cumprimento de seu propósito e não apenas no retorno financeiro. Seu sistema de crenças mantém seus valores e princípios, mas também está aberta à adaptação de novos elementos trazidos pelos cenários de mudanças instáveis e desconhecidas. Integridade é uma das palavras-chaves da Coamo e permeia todas as suas práticas, e seu líder é um evangelista que conduz a jornada de transformação preservando a essência da cooperativa. 



RC: A Coamo está investindo mais de R$ 700 milhões no MS com duas novas indústrias em Dourados. Esta iniciativa pode impactar no incremento da força do cooperativismo no MS? 

Dalva: Com certeza, essa iniciativa dará muito mais visibilidade e importância ao cooperativismo do Estado, além do impacto econômico e social em Dourados e região. O agronegócio é o motor da economia sul-mato-grossense respondendo por 30% do nosso PIB, e a transformação de matérias primas é uma diretriz do governo do estado, que tem adotado uma política de incentivos à expansão industrial com o objetivo de diversificar nossa base econômica e promover o desenvolvimento. Segundo informações do governo do estado, 50% dos investimentos privados em infraestrutura no MS vem das cooperativas. A indústria da Coamo vem fortalecer essa diversificação e contribuir com o desenvolvimento do Estado.



RC: A formação e educação dos cooperados e funcionários tem sido importante no desenvolvimento das pessoas e da gestão? 

Dalva: Mais que importante, fundamental. A única certeza que temos é que o processo de mudanças é irreversível, e quem não entender essa máxima, ficará pelo caminho. Acompanhar a velocidade das mudanças e se adaptar aos novos tempos é um imperativo para levar a cooperativa à um novo patamar. É consenso que a educação promove a autonomia e o desenvolvimento e deve estar orientada ao aprendizado, à abertura e à inovação e alinhada com a velocidade que o mercado exige. A ação individual das pessoas em suas práticas diárias modela a cultura da organização e a que for capaz de aprender mais rapidamente é a que tem uma vantagem competitiva sustentável. A economia brasileira está passando por um processo de ressignificação. Diversos processos estão sendo reestruturados e a qualificação profissional é o sustentáculo desse processo. Nesse sentido, o Sistema OCB/MS está viabilizando parcerias com universidades e escolas de negócios para oferecer o que existe de melhor no cenário educacional para as nossas cooperativas.  Nosso propósito é contribuir significativamente para o crescimento e aumento da importância das cooperativas na economia  do estado, preparando os colaboradores, dirigentes e cooperados para se adaptar às novas exigências do mercado, às novas tecnologias e aos novos formatos de trabalho, pois o conhecimento amplia horizontes e prepara as cooperativas para darem conta dos desafios da quarta revolução industrial.




RC: Como analisa a ocupação da mulher rural do MS no cooperativismo? 

Dalva: A ocupação das mulheres em cargos de liderança ainda é muito tímida, mas já estamos fazendo algumas ações para mudar esse quadro. Estamos apoiando a iniciativa de algumas cooperativas para promover o desenvolvimento e empoderamento de mulheres que acreditam que é possível desenvolver negócios, ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, ajudar a melhorar o mundo onde vivemos.



RC: Com princípios e propósitos bem definidos o cooperativismo brasileiro vem evoluindo. A senhora acredita que se o Brasil fosse, como é na prática, o cooperativismo, poderia ser melhor e por quê? 

Dalva: Cooperar e compartilhar parece algo inovador, mas está no DNA do cooperativismo há 175 anos, desde que foi criada a primeira cooperativa no mundo. Queremos mostrar o quanto o cooperativismo está alinhado aos mais modernos conceitos de crescimento econômico, afinal, muito antes de se falar em economia compartilhada, sustentabilidade e disrupção, o cooperativismo já fazia tudo isso ancorado em seus princípios e valores. É um modelo de negócio que foi se aprimorando ao longo dos tempos e hoje está presente em mais de 100 países, congrega mais de três milhões de cooperativas e mais de um bilhão de homens e mulheres de todas as idades, raças e credos que acreditam na possibilidade de fazerem juntos e melhor, de gerar e compartilhar riquezas em todo o mundo.

Dalva Caramalac, superintendente do Sistema OCB/MS
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