Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 530 | Novembro de 2022 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

MARCIO NAMI Economista comportamental

Marcio Nami é administrador, Economista, pós-graduado em Linguística, Mestre em Gestão e Estratégia, Practitioner em PNL, Especialista em Coaching, Constelador Sistêmico, Diretor da Oporefah Soluções, Membro fundador do Instituto Brasileiro de Estudos em Cooperativismo, Conselheiro da Confederação Brasileira de Cooperativismo por dois mandatos. Autor dos livros: “Viabilidade das Cooperativas Abertas”, “Visões do Cooperativismo” “Views of Cooperativism” , “PNL e Cooperativismo”, “Geração Coach”, “Metacooperar” e “Ciclos do Poder Empreendedor”. Professor universitário em pós-graduação nas áreas: administração, estratégia e cooperativismo. Participante de missões de estudos em Cooperativismo nos países: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Holanda, Itália, Espanha, Marrocos e Portugal.

O economista comportamental Marcio Nami trabalha há mais de 15 anos com assessorias e consultorias nas áreas de estratégia, gestão e educação financeira para empresas dos mais variados portes e, também para pessoas físicas e empreendedores. “Uma educação financeira regular e consistente somente apresenta vantagens e absolutamente nenhuma desvantagem ou ônus. Um sinônimo que pode ser usado para educação financeira é previsibilidade, pois todos nós, pessoas físicas ou jurídicas, estamos sujeitos ao imprevisível, aos novos concorrentes, aos desafios de mercado, as falhas de produtos e processos, e as perdas de insumos ou valores”, afirma Nami.

Segundo ele, o elemento base para a construção de prosperidade financeira é a qualidade das perguntas, assim a base da história é: perguntas regulares e de mais qualidade é igual a melhores resultados.



Revista Coamo: Qual é realidade da educação financeira no Brasil?

Nami: Nosso país viveu décadas de inflação, embora hoje os números permaneçam razoavelmente controlados, ainda que longe do ideal, este período deixou para as futuras gerações a chamada “memória inflacionária”. Assim, é normal que durante duas ou três gerações, o senso de imediatismo e a falta de cuidado com as projeções de futuro esteja arraigada no inconsciente de grande parte das pessoas, por esta entre outras razões é que a propagação de uma educação financeira constante e consciente será um diferencial competitivo para as pessoas, empresas e famílias.



RC: Como deve ser a educação financeira?

Nami: Educação financeira é como exercício físico, a prática e a regularidade levam aos resultados, começando simples, ou seja, entendendo de onde vem seus recursos e para onde estão sendo direcionados, pode ser com um aplicativo, uma planilha, ou mesmo uma folha de papel e um lápis, o mais importante é começar, que muito em breve os resultados começam a aparecer e permanecer. Vivemos em uma época privilegiada, onde temos volume expressivo de informações, acesso fácil e relativamente barato, principalmente se comparado ao passado recente. Então, quando reunimos a isso vontade e disciplina você já sabe o resultado, não é? Sempre potencialmente o melhor possível.



RC: Quais os entraves para uma melhor educação financeira?

Nami: Curiosamente, o maior entrave para ações de prosperidade e educação financeira é pelo coeficiente de ansiedade. É muito comum, projetarmos o resultado: a compra de uma casa; a troca de um carro; a faculdade dos filhos; arrendar uma nova propriedade. Porém é comum esquecer que toda caminhada começa com o primeiro passo. Desta forma, quando entendemos que um planejamento consistente, compartilhado com a família e com as demais pessoas interessadas pode ser um instrumento de potencialização de resultados, começamos realmente a percorrer o caminho de resultados.



RC: Como deve ser o uso consciente do dinheiro pelas novas gerações com os meios digitais?

Nami: As novas gerações já nasceram em contato com o dinheiro virtual, cartões, aplicativos, PIX e outros tantos acessos, extremamente práticos e difundidos, mas que carregam um desafio em sua essência: o fato de serem virtuais. Curiosamente, a maior praticidade é também o maior gatilho para consumo, provocando reações como: “Gastei e não percebi”, “Nem notei que havia pagado”, “Na hora não me dei conta do valor”, “Só quando recebi a fatura é que notei o quanto havia realmente custado”. Estas e outras reações são extremamente comuns e provocadas pelo imediatismo junto com a praticidade, mas como tudo, existem vários caminhos. Os meios digitais são extremamente práticos e seguros, mas para eliminar ou diminuir as reações ligadas ao consumo impulsivo o melhor caminho ainda é o fato de ter projetos consistentes e compartilhados.



RC: As pessoas poupam ou gastam mais?

Nami: A maioria das pessoas se sente mais confortável em gastar e não tão confortável em poupar ou guardar dinheiro. Isso está ligado a natureza humana, pois quando gastamos ou compramos algo, muitas vezes não é um objeto, um bem ou algo do tipo, mas na realidade estamos adquirindo valores mentais como: segurança, aceitação, diminuição de ansiedade e outros tantos elementos de comportamento. Dessa forma, um excelente gatilho para incentivar o investimento é ter consciência de que: “quem investe não está deixando de gastar, mas sim se preparando para gastar mais e melhor no futuro” de forma consciente, duradoura, cooperativa e com ganhos reais para todos os envolvidos, possibilitando fazer com que o dinheiro trabalhe para você e não o oposto.



RC: Como ocorrem estas mudanças?

Nami: As mudanças ocorrem em etapas, primeiro os conceitos e depois as ações, e repare que isto vale para empresas e pessoas, pois os CNP´s nada mais são que um conjunto de CPF´s, ou seja, um grupo de pessoas com objetivos comuns. Existem ditados populares que carregam uma sabedoria fundamental com relação às finanças mais acredito que o mais simples e realista deles seja: “Dinheiro não aceita desaforos”. Repare que muitas pessoas sonham com o primeiro milhão, mas não percebem que este sonhado milhão nada mais é que um conjunto de reais, e se agregarmos a esta conversa o fato de que, se começarmos a olhar os reais, com a mesma ambição e vontade que olhamos os milhões, ainda que virtuais, os resultados começam a acontecer.



RC: A prática da educação financeira é simples ou complexa?

Nami: A prática da educação financeira não é complexa, mas fica muito mais fácil com a regularidade. Se você toma ações diariamente em favor do seu futuro, dos seus projetos e de suas ideias, os resultados começam a ficar consistentes. Por exemplo, meu sonho é comprar uma casa. Enquanto é sonho, é leve, descomprometido, mas desafiador para realizar correto? Vamos começar a pensar na ótica de projeto: Onde quero esta casa? Quanto vai custar? Tenho recursos? Vou precisar de fontes? Tenho apoio ou parcerias para realizar este projeto? Existem alternativas? É mesmo o melhor caminho? Do que terei de abrir mão para viabilizar esta ação? Esta escolha é que realmente quero? É importante ficar claro que o elemento base para a construção de prosperidade financeira é a qualidade das perguntas, assim a base da história é: perguntas regulares e de mais qualidade é igual a melhores resultados.



RC: Como a educação financeira propicia alcançar a qualidade de vida e ter as finanças em dia?

Nami: O dinheiro é e sempre será um fator positivo, não existe nada, nenhuma situação, ação ou momento que o dinheiro possa ter uma conotação negativa ou depreciativa. As crenças estabelecidas há muitas gerações, podem levar às vezes a cenários não realistas com relação à prosperidade e paz financeira, mas a verdade é que, quando analisado de forma calma e realista, o alicerce financeiro é a base de todas as conquistas relacionadas à união, qualidade de vida e harmonia entre as pessoas e grupos. Quanto mais cedo iniciar a caminhada para o planejamento, controle e compartilhamento de informações efetivas sobre prosperidade financeira, melhores serão os resultados.



RC: Deixe algumas dicas práticas para melhor controle do dinheiro?

Nami: Analise e controle os pequenos gastos da mesma forma que os gastos mais expressivos; Converse sempre sobre dinheiro e prosperidade; Acompanhe produtos e serviços financeiros: conhecimento é poder; Pense sempre antes de gastar: isso realmente é necessário; Saiba a diferença entre o que quer e o que realmente quer; Comemore suas vitórias e conquistas com as pessoas que são importantes para você; Lembre-se que a melhor hora de investir é sempre agora; Não espere condições ideais para iniciar seus projetos, melhor começar e ajustar do que ficar constantemente esperando; Transforme seus sonhos em planejamento; E, por último mas de forma fundamental: coopere sempre!



RC: Como observa a atuação do cooperativismo de crédito em benefícios dos associados?

Nami: Cooperativismo e evolução são sinônimos, existem dezenas de estudos nas mais variadas áreas comprovando que sociedades que cooperam mais, tem mais qualidade de vida, melhor interação e perspectivas mais consistentes com relação ao futuro e evolução. As cooperativas financeiras são sociedades de pessoas e existe a preocupação natural com as comunidades próximas no propósito de levar além de taxas e produtos mais justos, igualitários e inclusivos, aquele tempero único do “olhar do dono”. E isto quando é devidamente equilibrado e divulgado torna as sociedades, cidades e pessoas que se beneficiam muito mais incluídas e acolhidas.



RC: E a preocupação com a inclusão e a educação financeira para a família cooperada?

Nami: Uma materialização da essência, pois está na origem de cada cooperativa o bem-estar das pessoas, das comunidades, dos sócios, das pessoas enfim e como a base financeira é o alicerce para materialização de todas as conquistas, isto não poderia ser diferente com o cooperativismo. Logo, ações de educação financeira, palestras, eventos, conversas e o oferecimento de atendimentos personalizados e consultivos aos cooperados e comunidades constituem a verdadeira essência e claro, o diferencial competitivo das cooperativas de forma ampla.

Marcio Nami é economista comportamental e trabalha há mais de 15 anos com assessorias e consultorias nas áreas de estratégia, gestão e educação financeira
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