Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 536 | Junho de 2023 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

SORAYA BISCHOFF

Analista Ambiental Ilog

“O descarte incorreto de embalagens plásticas é o grande vilão da preservação ambiental”

“Precisamos urgentemente investir em infraestrutura, coleta e educação ambiental, para que a logística reversa tenha sucesso. A partir do momento que o cidadão tem consciência da agressão feita ao meio ambiente, quando deixa um pacote de salgadinho, uma garrafa de long neck ou uma embalagem pet de suco à beira mar, já temos um grande avanço.” A afirmação é da analista ambiental, Soraya Bischoff, do Instituto de Logística Reversa (Ilog), que palestrou para funcionários da Coamo durante a Semana do Meio Ambiente promovida pela cooperativa na primeira semana deste mês de junho.

Soraya é especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, e nos últimos anos realizou mais de 40 palestras de Educação Ambiental. Segundo a especialista, o descarte incorreto de embalagens plásticas tem poluído oceanos, rios, lagos, solos e aterros sanitários, fazendo com que se torne o grande vilão da preservação ambiental. A poluição plástica tornou-se um problema global. Se pensarmos que apenas 10% do plástico produzido no mundo é reciclado, temos um imenso desafio pela frente.

Revista Coamo: O que é o Ilog e quais seus principais trabalhos?

Soraya Bischoff: O Ilog é o Instituto de Logística Reversa, um instituto sem fins lucrativos. Atuamos como uma entidade certificadora, responsável por emitir certificados de logística reversa que comprovam, por meio de notas fiscais, a correta destinação das embalagens pós-consumo, em atendimento a Lei Federal nº10.936/2022 e o decreto nº 11.044/2022. 

Temos parceria com associações e cooperativas de recicladores para o processamento dos materiais recebidos da coleta seletiva. Outro importante trabalho do Ilog é promover a educação ambiental, estruturar centros de reciclagens, regularização de associações e cooperativas, e promover a capacitação operacional de recicladores.

RC: De forma resumida e didática, para conhecimento dos leitores, o que é logística reversa, o que ela alcança e qual o seu ciclo natural?

Soraya: A Logística Reversa (LR) é uma ferramenta que possibilita que embalagens pós-consumo (papel, plástico, vidro e metal) retornem para o seu ciclo produtivo, impedindo que os resíduos sejam descartados incorretamente e poluindo aterros, rios, solos e oceanos.

RC: Qual o estágio atual da logística reversa no Paraná?

Soraya: O Paraná é um dos estados que tem progredido na regulamentação da logística reversa, além de possuir um Plano de Ação Integrada, promoveu em 2021, por meio da SEDEST/IAT, a Resolução Conjunta 020/2021 e 022/2022, onde foi estabelecida a plataforma digital “Contabilizando Resíduos”, uma importante ferramenta de gerenciamento de resíduos sólidos. No Estado do Paraná foram registradas mais de 60 mil toneladas de embalagens recuperadas no ano de 2021. O prazo para entrega dos relatórios referente ao ano de 2022 foi prorrogado para 30 junho deste ano, portanto somente após esta data teremos os números referentes ao ano de 2022, mas acredito que eles serão superiores ao ano anterior.

Soraya Bischoff é analista ambiental no Ilog (Instituto de Logística Reversa), desde 2016.
Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, MBA em Gestão Ambiental. Graduada
em Gestão Financeira. Nos últimos anos, realizou mais de 40 palestras de Educação Ambiental.

“HÁ POTENCIAL PARA AUMENTAR O ÍNDICE DE RECICLAGEM. É PRECISO CONSCIENTIZAÇÃO PARA SEPARAR E DESCARTAR CORRETAMENTE OS RESÍDUOS.”

RC: É fácil o cumprimento das políticas da logística reversa? Qualquer cidadão pode ter um compromisso para sua prática?

Soraya: Sim, qualquer cidadão pode e deve ter um compromisso com o meio ambiente. A partir do momento que fazemos a correta separação em nossas casas (orgânico/rejeito do reciclável) e colocamos para o caminhão do reciclável coletar ou levamos até um ponto de recebimento, já estamos colocando em prática uma das etapas da LR (Logística Reversa). A separação deve se tornar um hábito, assim como acordar, tomar banho e escovar os dentes.

Quando reciclamos, deixamos de extrair matéria prima do meio ambiente, garantimos a disponibilidade de recursos naturais para as gerações futuras e passamos a praticar os três pilares da sustentabilidade: social, econômico e ambiental.

RC: O que mudou nos últimos anos com relação a logística reversa e quais os desafios futuros?

Soraya: Há muito “chão” pela frente. Temos um grande potencial para fazer com que o índice de reciclagem aumente, porém, algumas questões fazem com que a gente permaneça com os mesmos números. Por exemplo: a falta de conscientização e empenho do cidadão na separação e descarte correto dos resíduos por ele produzidos; muitos municípios ainda não possuem infraestrutura que permitam a triagem destes resíduos e cooperativas/associações de recicladores necessitam de equipamentos para que a produção aconteça. É um trabalho de “formiguinha”, que precisa acontecer, mas acredito que o primeiro item dessa lista é a educação ambiental para todos com divulgação ampla. Importante lembrar que aprender é mudar comportamento, mas para isso é necessário antes, compreender os motivos que levam a mudança!

RC: Mas os avanços estão acontecendo de maneira gradual e contínua?

Soraya: Sim, em alguns estados por exemplo já tivemos grandes avanços, com a logística reversa de embalagens pós-consumo sendo obrigatória para obtenção ou renovação das Licença de Operação (LO), Licença Ambiental Simplificada (LAS), Licença por Adesão e Compromisso (LAC), o que faz com que as indústrias e empresas se preocupem com um plano de LR. Considero bastante positivo o fato das marcas estarem preocupadas com seu posicionamento ambiental perante os consumidores, isso faz com que também busquem a LR.

RC: Neste sentido, qual o papel das empresas, entidades e consumidores visando um meio ambiente mais sustentável?

Soraya: No meu entendimento, o paradigma mais importante a ser suplantado é de que “o outro vai fazer por mim”. Conforme a legislação, a responsabilidade deve ser compartilhada entre todos: consumidores, importadores, fabricantes, distribuidores e comerciantes. Todos devem ter ações coordenadas para reaproveitar ou reciclar os resíduos. As indústrias que produzem devem se responsabilizar pelo retorno e pela destinação adequada ao final do ciclo de vida do produto. As empresas devem investir em programas internos, para atualização de seus funcionários, por meio de palestras, visitas técnicas etc. Ao governo cabe educar, criar campanhas de conscientização, instaurar a coleta seletiva nos municípios, criar programas de redução, reaproveitamento e reciclagem. E, finalmente, os cidadãos devem se responsabilizar pela separação dos recicláveis que produziu em casa e no trabalho ou escola. Deste modo, todos os elos da cadeia produtiva se responsabilizam pelo ciclo de vida dos produtos.

Soraya Bischoff, do Instituto de Logística Reversa (Ilog)

Os cidadãos devem se responsabiliza pela separação dos recicláveis que produzem em casa, no trabalho ou escola. Todos os elos da cadeia produtiva se responsabilizam pelo ciclo de vida dos produtos."

O simples ato de substituir o copo descartável por uma caneca é um grande avanço. Empresas com ações sustentáveis reforçam a imagem da marca e a tornam mais competitiva."

O simples ato de substituir o copo descartável por uma caneca é um grande avanço. Hoje, empresas com ações sustentáveis reforçam a imagem da marca e a tornam mais competitiva. Elas são apontadas como organizações amigas do meio ambiente, amigas da comunidade.

RC: Desde quando e o que existe a parceria entre o Ilog e a Coamo?

Soraya: Não é de hoje que a Coamo vem se preocupando com os três pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico. Nossa parceria tem mais de sete anos e é responsabilidade do Ilog certificar a Coamo pelas embalagens pós-consumo produzidas e inseridas no mercado do estado do Paraná, comprovando o destino correto, fechando desta forma o ciclo da LR. É uma parceria positiva, que tem gerado bons frutos e contribuído para o desenvolvimento socioeconômico do Paraná.

RC: Como analisa o cooperativismo para o desenvolvimento dos cooperados, funcionários e comunidades?

Soraya: Quando penso em cooperativismo a primeira coisa que me vem à cabeça é a junção de um grupo de pessoas que se une por um mesmo propósito. Elas juntam suas habilidades, conhecimentos e criatividade para alcançar uma meta que foi planejada por todos – cooperados e funcionários. Suas políticas, pautadas no respeito aos valores humanos e nas necessidades da comunidade, torna a sociedade mais justa e, certamente, com maior poder de competitividade nos mercados interno e externo. Por meio das cooperativas são gerados postos de trabalho que movimentam a economia, contribuindo para o desenvolvimento das regiões onde estão instaladas.

RC: Como a senhora observa a implantação do ESG nas empresas e a sua propagação de forma mais intensa junto aos protagonistas?

Soraya: É nítido que houve uma mudança no perfil do consumidor e as empresas, atentas a esta mudança, passaram a adotar em seu dia a dia as práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança). Hoje, esse indicador é um atrativo para investidores, sendo valorizado pelo consumidor e pela sociedade. Eu, particularmente, estou achando fantástica toda essa implantação nas corporações. Todos ganham. Empresário, colaboradores internos e externos, sociedade, meio ambiente.

RC: O tema deste ano do Dia Mundial do Meio ambiente é o combate à poluição plástica. Como observa esta realidade e os impactos no processo da logística reversa?

Soraya: O descarte incorreto de embalagens plásticas tem poluído oceanos, rios, lagos, solos e aterros sanitários, fazendo com que se torne o grande vilão da preservação ambiental. A poluição plástica tornou-se um problema global. Se pensarmos que apenas 10% do plástico produzido no mundo é reciclado, temos um imenso desafio pela frente. Precisamos urgentemente investir em infraestrutura, coleta e educação ambiental, para que a LR tenha sucesso. A partir do momento que o cidadão tem consciência da agressão feita ao meio ambiente quando deixa um pacote de salgadinho, uma garrafa de long neck ou uma embalagem pet de suco à beira mar, já temos um grande avanço.

RC: A Coamo tem promovido eventos para conscientização e boas práticas do meio ambiente junto a cooperados, funcionários e a comunidade. Como vê o papel do cooperativismo?

Soraya: As ações promovidas pela Coamo são extremamente importantes. É necessário fazer com que o time se sinta engajado pela causa. Seja em casa, no ambiente profissional, em uma simples volta pelo parque. Quando a equipe tem um exemplo positivo, ela quer seguir o mesmo, desta forma as práticas sustentáveis que hoje a Coamo pratica em seus ambientes internos e externos, fazem parte do ESG, já que economiza recursos e protege o ambiente. 

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