Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 460 | Julho de 2016 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“TEMOS QUE DAR UM SALTO PARA O FUTURO E COLOCAR A AGRICULTURA DO PARANÁ NO SÉCULO XXI, NA ERA DO CONHECIMENTO”

Para o engenheiro agrônomo formado pela UFPR em 1966 e diretor-presidente do Iapar, Florindo Dalberto,  a pesquisa agropecuária do Estado do Paraná, tem a missão de “prover soluções inovadoras para o meio rural e o agronegócio”, com o objetivo de melhorar a vida e a renda do produtor rural, e o desempenho econômico do agronegócio paranaense, numa perspectiva conservacionista dos recursos naturais. Ele é o convidado da Entrevista do mês na Revista Coamo.



Florindo Dalberto,

diretor-presidente do Iapar

Especialista em cafeicultura e administração de pesquisa, com diversos cursos no país e no exterior, Florindo Dalberto iniciou sua carreira no Instituto Brasileiro do Café (IBC), em Londrina. No início da década de 1970, atuou no projeto que resultou na implantação do Iapar, onde foi secretário geral e presidente. Presidiu a Associação dos Engenheiros Agrônomos de Londrina, a Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná e a Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina e Região (Adetec). Integrou e coordenou missões de intercâmbio tecnológico na área agrícola em 14 países e junto a organismos internacionais e preside atualmente, o Conselho Nacional das Entidades de Pesquisa Agropecuária (Consepa).

Revista Coamo: Como o senhor entrou no Iapar e o que mudou da sua primeira gestão até os dias atuais?

Florindo Dalberto: No início dos anos 1970 atuava como engenheiro agrônomo do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que foi o financiador inicial do Iapar e fui convidado para ser o elo entre as duas instituições, passando a ser então secretário geral do Iapar e me envolvendo no campo da pesquisa e da tecnologia, desde aquela época. A gestão inicial foi uma fase de construção física, humana e programática, seguida da consolidação da pesquisa e do modelo da agricultura paranaense. Presentemente se impõe um novo patamar de atuação na pesquisa, com a modelagem de uma rede de pesquisa e inovação para o agronegócio no Paraná, mediante a articulação sinérgica dos principais atores dessa cadeia de valor, as universidades, as cooperativas, as empresas tecnológicas e até os empreendedores. Temos que dar um salto para o futuro, colocar a agricultura do Paraná no século XXI, na era do conhecimento.


RC: Qual é a missão do Iapar que completa  44 anos de atuação?

Dalberto: O Iapar, como órgão de pesquisa agropecuária do Estado do Paraná, tem a missão de prover soluções inovadoras para o meio rural e o agronegócio, tudo com o objetivo de melhorar a vida e a renda do produtor rural e o desempenho econômico do agronegócio paranaense, numa perspectiva conservacionista dos recursos naturais. Para nós, a maior recompensa por estes 44 anos de luta é constatar que o Instituto teve papel decisivo para que a agricultura do Paraná atingisse o nível “classe mundial” que ostenta hoje em dia.


RC:  Qual é atualmente a estrutura do Iapar?

Dalberto: O Paraná está em uma zona de transição geoclimática com ambientes diversificados em termos de clima (tropical e temperado) e solos (arenito, basalto e sedimento). Por isso, o Instituto mantém estruturas de pesquisa representativas de toda essa diversidade. Assim, temos hoje 22 estações experimentais, cinco das quais funcionam também como pólos regionais, com estruturas próprias de pesquisa.  Temos também estações meteorológicas em todas as regiões do estado, que se somam às do Simepar, sistema do qual somos fundadores e parceiros âncoras. Nossa estrutura científica compreende ainda 30 laboratórios de pesquisa, vários de última geração por necessidade de nossos projetos. Mas o principal ativo do Iapar são mesmo as pessoas, temos hoje 600 funcionários, 110 deles pesquisadores vinculados a 14 áreas de especialidades, que atuam nos mais de 200 projetos vinculados a 14 programas de pesquisa, além de dois programas de inovação e transferência de tecnologia e mais de 40 analistas de ciência e tecnologia. Na gestão desses recursos, fomos uma das primeiras instituições do país a adotar, já nos anos 1980, a estrutura matricial de gestão, pela qual pessoas de diferentes áreas se agregam em equipes de projetos, conforme demandas captadas junto ao setor produtivo.


RC: Quais são os desafios do Iapar no presente e no futuro?

Dalberto: Temos total consciência de que nosso Instituto precisa se renovar e reinventar para continuar tendo o protagonismo que teve nas primeiras décadas. Nesse sentido, no início do primeiro governo Beto Richa, há cinco anos, abrimos um amplo processo de consulta à sociedade paranaense, através de painéis de especialistas nas principais regiões do Estado, visando ajustar nosso posicionamento estratégico às necessidades e desafios da agropecuária paranaense do século XXI. O resultado desse esforço foi um novo Plano Diretor de Pesquisa, que resultou em 14 programas, e a reorganização da instituição para atuar dentro dos parâmetros da economia do conhecimento, que são a pesquisa em rede, as parcerias público privada, a gestão orientada a resultados e a colaboração em escala global, entre outros. Para viabilizar este “Novo Iapar”, no entanto, nossa prioridade no momento é conseguir junto ao Governo do Estado a abertura de concurso público para reposição de aproximadamente 400 vagas de funcionários aposentados nos últimos anos, 100 delas na área de pesquisa.


RC: Quais são os marcos e legados que o Iapar protagonizou em mais de quatro décadas?

Dalberto: O Iapar nasceu de uma reivindicação do setor produtivo paranaense para dar suporte tecnológico ao processo de transformação da monocultura cafeeira extensiva. Por isso, focou seu trabalho inicial nas necessidades mais prementes da agricultura que eram a definição de recomendações tecnológicas básicas para os principais cultivos. Iniciamos também os trabalhos de desenvolvimento de variedades de plantas melhoradas adaptadas às condições regionais e a produção de sementes de alta qualidade para o sistema estadual de sementes. Na segunda década, incrementamos ações relacionadas às boas práticas para manejo e conservação do solo e água, com fundamentação científica para o terraceamento, plantio em nível e o advento do plantio direto na palha, já em estreita colaboração com a ATER e os agricultores. Pontos fortes da pesquisa paranaense foram a viabilização da citricultura com convívio com doenças; modelo de café adensado; plantio direto na palha; duzentas cultivares lançadas; raça bovina composta Purunã; zoneamento agroclimático; regionalização socioeconômica e edafoclimática da agricultura paranaense; serviços como o Alerta Geada. Tudo isso constituiu base para o modelo próprio da agricultura paranaense, até hoje largamente praticado e servindo com referência nacional em diversos campos. Atualmente, o Instituto ainda cuida dessas atividades, mas agora buscando incorporar as novas possibilidades tecnológicas da Era do Conhecimento, com aplicações de ferramentas de informação, comunicação, novos materiais, sensoriamento remoto,  modelagem, biotecnologia avançada, entre outras. Desta forma procuramos oferecer soluções para os desafios das mudanças climáticas, crescente pressão à agricultura para produzir mais alimentos, fibras e energia e novos produtos da bioeconomia, sem comprometer a qualidade ambiental, mantendo a posição do Brasil e do Paraná como grandes atores do agronegócio mundial.


RC: Como está o trabalho de pesquisa desenvolvido pelo Iapar?

Dalberto: O Iapar executa mais de 200 projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, dentro dos seus programas de pesquisa: Café, Milho, Feijão, Raízes e Tubérculos, Fruticultura, Agroecologia, Cereais de inverno, Sistemas de Produção, Recursos Naturais, Cultivos Florestais, Pecuária de Leite e Corte, Integração Lavoura-Pecuária, Olericultura e Energias Renováveis. Para nosso orgulho, muitos de nossos colegas pesquisadores são referências nacionais e até internacionais em suas especialidades, e lideram grandes realizações de pesquisa e desenvolvimento tecnológico na agricultura.


RC: Como avalia o trabalho do cooperativismo para o desenvolvimento e organização dos produtores?

Dalberto: As cooperativas são atores expoentes da transformação da agricultura paranaense, em especial pela sua atuação na transferência de tecnologia, na experimentação e no desenvolvimento tecnológico. Com sua Fazenda Experimental, a Coamo desenvolve uma história riquíssima nesse campo. Os encontros de cooperados da Coamo são momentos marcantes na interação tecnológica entre ela e seus associados,  e fortalece as parcerias com as diversas entidades e empresas que atuam no desenvolvimento tecnológico da agricultura.


RC: Deixe uma mensagem aos cooperados da Coamo.

Dalberto: Sabemos que o produtor rural nunca decepciona e tem sido fonte das poucas notícias boas que recebemos no cotidiano difícil que atravessamos. Nesse momento de crise, mais uma vez, os agricultores são peça chave para a retomada do crescimento do País.  Por isso, não desanime, fortaleça seu braço cooperativista junto à Coamo.

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.