Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 519 | Novembro de 2021 | Campo Mourão - Paraná

INFORME TÉCNICO

Potenciais desafios fitossanitários para a safra de soja

A safra de soja 2021/22 está iniciando no Brasil. Atualmente, a área plantada é de aproximadamente 38 milhões de hectares, com potencial para atingir 40 milhões de hectares. Expansão puxada pelos preços favoráveis da commodity e alta na demanda global por alimentos.

Vários são os desafios que os produtores rurais enfrentam. Alguns são conhecidos, como o capim-amargoso e a buva, principais plantas daninhas dos Estados do Sul do Brasil, além da ferrugem-asiática, doença com o maior potencial de dano se não manejada pelos programas de fungicidas. Pensando em pragas, os desafios são com o controle de percevejos e suas diversas espécies ao longo do ciclo do cultivo.

Existem ainda outros desafios que merecem atenção, para antecipar dificuldades em relação ao manejo e controle ao longo da safra de soja que inicia, sendo estes: O caruru (Amaranthus hybridus) resistente ao glifosato e herbicidas ALS; Uma “nova” espécie de lagarta-falsa-medideira (Rachiplusia nu) que tem sido relatada pela falta de controle em cenário de soja com genética para controle de lagartas; A mancha-alvo (Corynespora cassiicola) que é uma doença emergente nas últimas safras e que tem apresentado dificuldade de ser manejada por algumas das carboxamidas e estrobilurinas atualmente no mercado.

Caruru

(Amaranthus hybridus)

“Nova” falsa-medideira

(Rachiplusia nu)

Mancha-alvo

(Corynespora cassiicola)

Todos têm alternativas de manejo e controle. Se utilizados de maneira correta entregam o controle esperado e, também, além das informações a seguir, poderão ser discutidas com o engenheiro agrônomo responsável técnico.

Caruru: resistente ao glifosato e ALS

A ocorrência de Amaranthus hybridus com resistência múltipla aos herbicidas glifosato e aos inibidores de ALS na região Sul do Brasil, vem causando grande impacto para os produtores. É uma planta anual, herbácea, com caule ereto, que apresenta variabilidade de cores, desde o verde até o vermelho-púrpura. Tem grande capacidade de competição por água, luz e nutrientes e apresenta crescimento rápido. A identificação no campo dessa espécie pode ser difícil devido à similaridade entre as espécies dentro do gênero Amaranthus.

No mundo, já foram relatados 32 casos de resistência distribuídos em onze países. Estes casos foram reportados a cinco diferentes modos de ação: Inibidores da ALS, EPSPS, PROTOX, fotossistema II e mimetizadores de auxinas. No Brasil, o primeiro relato de A. hybridus resistente foi em 2018, sendo um caso de resistência múltipla a glifosato e clorimuron, identificado no município de Pelotas, no Rio Grande do Sul.

Desde o primeiro relato, o número de áreas com falhas de controle de caruru a glifosato e inibidores de ALS, vêm crescendo, principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul e Paraná. A dispersão rápida de caruru resistente preocupa produtores e pesquisadores, que buscam maneiras eficientes de controle para evitar prejuízos.

A dinâmica do fluxo de emergência dessa planta daninha é um fator que dificulta o controle, tornando o uso de herbicidas pré-emergentes indispensáveis no manejo eficiente de A. hybridus. A adoção de herbicidas pré- -emergentes permite a rotação de diferentes mecanismos de ação, diminui o banco de sementes e reduz a matocompetição inicial, permitindo que a cultura se desenvolva no limpo.

O manejo químico adequado de caruru resistente inclui as seguintes práticas: dessecação eficiente da área (manejo pré-semeadura), uso de herbicidas pré-emergentes e aplicação de herbicidas em pós-emergência da cultura. Mas, além do manejo químico, outras práticas são fundamentais para o controle do caruru, como: rotação de culturas, semeadura no limpo, uso de sementes certificadas, evitar pousio, rotacionar modo de ação dos herbicidas aplicados, plantar na época correta, eliminar escapes de plantas daninhas, realizar a limpeza de maquinário e fazer o uso correto das tecnologias de aplicação, visando a máxima eficiência dos produtos.

Rachiplusia nu: uma “nova” falsa-medideira

As lagartas que causam a desfolha de plantas de soja, já são velhas conhecidas. Porém, uma descoberta recente verificou a ocorrência de uma “nova” espécie de falsa-medideira, chamada Rachiplusia nu, a qual ataca plantas de soja Bt (que possui a tecnologia Cry1Ac).

No estudo que verificou essa ocorrência da lagarta Rachiplusia nu, foram coletadas lagartas de cultivos de soja Bt que estavam apresentando escapes de controle nos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. O primeiro passo foi determinar se as lagartas eram da espécie Rachiplusia nu, pois visualmente essa espécie pode ser confundida com as lagartas da espécie Chrysodeixis includens. Estudos moleculares feitos na estação da Syngenta em Uberlândia/MG, confirmaram que as lagartas eram da espécie Rachiplusia nu, e que as plantas de soja em que as lagartas estavam sobrevivendo eram Bt, ou seja, expressavam a proteína Cry1Ac. Os pesquisadores observaram ainda, que nos testes em laboratório, ao fornecerem folhas de soja Bt para essas lagartas, elas também se alimentaram e sobreviveram.

As cultivares de soja Bt possuem diferentes tecnologias, sendo o Cry1Ac uma delas. Devemos ressaltar que esse relato é sobre lagartas Rachiplusia nu ocorrendo em soja Bt com a tecnologia Cry1Ac. Já lagartas da espécie Chrysodeixis includens são controladas pela tecnologia Cry1Ac na cultura da soja.

Historicamente, a ocorrência da espécie Rachiplusia nu era limitada nos Estados do Sul do Brasil e na Argentina. O controle dessas lagartas da espécie Rachiplusia nu nos Estados brasileiros em que foram detectadas, é também necessário para evitar a dispersão para outras regiões. Considerando que cerca de 80% da área de soja no Brasil é cultivada com soja Bt, este novo relato representa um alerta para que medidas adicionais de monitoramento e controle sejam implementadas na safra 21/22. É importante utilizar diversas táticas de controle dentro do MIP, como o uso de inseticidas de alta eficácia, a fim de se manter o alto teto produtivo das lavouras.

Mancha-alvo: cenário e manejo

A última safra de soja foi marcada por déficit hídrico e atraso de plantio nas principais regiões produtoras, principalmente no cerrado brasileiro. Este cenário propiciou atraso nas aplicações, maior ocorrência de manchas foliares como Septoriose e Cercosporiose e aumento da pressão de macha-alvo com destaque nos Estados do Sudeste, além do avanço em novas áreas do Paraná.

A mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola é uma das principais doenças da cultura da soja. Os sintomas típicos da doença incluem lesões iniciais com pontuações pardas e halo amarelado, evoluindo para grandes manchas circulares, de coloração castanho-clara a castanho-escura e, em casos mais severos, a desfolha prematura.

A Corynespora cassiicola vem se destacando safra após safra. Isso se deve ao aumento do uso de cultivares suscetíveis, pela perda de resistência das cultivares devido à maior presença do patógeno no campo, agravada pelo plantio sucessivo da soja com culturas que também são atacadas pelo fungo e pela capacidade de sobreviver em resíduos culturais e sementes infectadas. Os danos ocasionados pela doença podem representar perdas de até 40% da produtividade da soja.

Além das boas práticas agrícolas já conhecidas, o controle químico é a principal ferramenta no controle da mancha-alvo. Contudo, o uso intensivo de fungicidas que contenham um mesmo ingrediente ativo ou pertençam ao mesmo modo de ação, gera alta pressão de seleção sobre as populações de fungos, promovendo a multiplicação daqueles indivíduos menos sensíveis, resultando na evolução da resistência.

Segundo o Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas, as mutações mais observadas no campo são a G143A, que conferem forte resistência a Estrobilurinas (Picoxistrobina, Trifloxistrobina, Azoxistrobina, Piraclostrobina). No caso das Carboxamidas (Fluxapiroxade e Bixafen) a redução de sensibilidade é causada pelas mutações B- -H278Y e C-N75S, que vêm sendo monitoradas anualmente, desde a identificação na safra 2018.

Diante deste cenário, é imperativo que o manejo deste patógeno ocorra sempre de forma preventiva e ao longo de todo o ciclo da cultura. Em relação às aplicações de fungicidas, realizar a associação de diferentes modos de ação como, por exemplo, o protioconazole e utilizar fungicidas multissítios (chlorothalonil e mancozebe) em combinação com os fungicidas principais. Tais práticas controlam a doença e evitam a propagação de populações menos sensíveis.

Rodolfo Schiochet, Ricardo Desjardins Antunes,
Leandro Valerim e Eduardo Ozório
Syngenta Proteção de Cultivos Ltda.
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