Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 526 | Julho de 2022 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

CLODOMIR LUIZ ASCARI Presidente da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná (FEAPR)

“ O profissional da agronomia deverá dominar as tecnologias de uma agricultura cada vez mais conectada e automatizada, tendo todo embasamento da ciência e buscar atualização constante”, afirma Clodomir Luiz Ascari, presidente da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná (FEAPR) e vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Paraná (Crea). Natural de Pato Branco (PR), Ascari está no segundo mandato à frente da entidade que coordena 20 associações regionais e congrega 14,5 mil profissionais em diversas áreas de atuação. Em julho, ele participou em Campo Mourão, do 20º Congresso Paranaense dos Engenheiros Agrônomos, e concedeu entrevista à Revista Coamo.



Revista Coamo: Como começou a sua trajetória na agricultura?

Clodomir Ascari: Sou engenheiro agrônomo e estou há mais de 30 anos na atividade e na minha propriedade na região de Pato Branco (Sudoeste do Paraná). Em uma área de 120 hectares cultivo soja, milho, feijão e trigo em sistema com rotação de cultura, plantio direto, tecnologia de precisão com colheitadeira com mapeamento de produtividade. Enfim, uso todos os recursos disponíveis para ter mais produtividade.



RC: Qual a atuação da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná?

Ascari: Estamos organizados em 20 associações regionais, onde temos 14,5 mil profissionais fazendo parte ativamente. Eles atuam nas mais diversas áreas, como na assistência técnica, consultorias, extensão rural, pesquisa ensino nos diversos setores do agronegócio paranaense. O principal objetivo da Federação Estadual é a valorização deste profissional, sua capacitação e mantendo-o atualizado por meio de seminários, congressos e eventos técnicos.



RC: Quais os desafios na Agronomia, levando em conta as tecnologias e a conectividade?

Ascari: Nos últimos 50 anos, o Brasil passou da condição de importador para exportador de alimentos e essa mudança teve um protagonismo dos engenheiros agrônomos. Atualmente, o Brasil produz alimentos para mais de um bilhão de pessoas, só o Paraná supre algo em torno de 220 milhões de pessoas. O nosso Estado poderia produzir alimento para o Brasil por completo. Porém, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação) e ONU (Organização das Nações Unidas), a população mundial está em crescimento e será necessário aumentar a oferta de alimentos para suprir essa demanda. Assim, o Paraná e o Brasil terão um papel estratégico neste contexto. O Paraná, mesmo contando com apenas 2,3% do território nacional, se destaca como um dos maiores Estados produtores e exportadores do país. Ressaltamos que o nosso desafio é produzir alimentos de qualidade, aumen - tando a produtividade com pre - servação ambiental por meio do uso de novas tecnologias, como a digital ou a biotecnologia, com pesquisa e inovação.



RC: Há centenas de cursos de graduação no Brasil. Como os novos agrônomos estão saindo das faculdades?

Ascari: A qualidade do ensino e da formação profissional está sendo uma preocupação cons - tante da Confederação Brasilei - ra dos Engenheiros Agrônomos (Confaeab) e da nossa Federa - ção. Vimos nos últimos anos um aumento no número de cursos e vagas de agronomia no Paraná e no Brasil. São mais de 100 mil vagas oferecidas em 559 cursos e o Paraná oferece 10% desse to - tal e mais de 30% das vagas em ensino presencial e a distância. A FEAPR entende que quanto mais profissionais qualificados para desenvolver as atividades na agronomia, mais avanços tra - rá ao agronegócio paranaense e o desenvolvimento sustentável do Estado. Porém, é necessário que a formação dos engenheiros agrônomos oportunizem uma sólida formação teórico-prática para atender as demandas cada vez mais complexas do merca - do de trabalho e da sociedade. Diante disso a FEAPR promoveu o primeiro Encontro Paranaense de Coordenadores de Cursos de Agronomia onde foram debati - das questões ligadas à qualidade do ensino na agronomia e as propostas encaminhadas aos órgãos competentes, tais como instituição do Exame de Proficiência na Agronomia, Selo de Qualidade de Cursos com a efetiva participação do Sistema Confea/CREA, MEC, associações de profissionais e sociedade. Um curso de qualidade deve estar alicerçado na qualificação e dedicação de seu corpo docente, de boa estrutura laboratorial e de áreas experimentais para aulas teórico-práticas de um Projeto Pedagógico de Curso (PPC), que esteja sintonizado com as transformações dinâmicas da sociedade.



RC: Na sua opinião, como será o profissional do futuro?

Ascari: O profissional da agronomia deverá dominar as tecnologias de uma agricultura cada vez mais conectada e automatizada, tendo todo embasamento da ciência e atualização constante. Uma máquina para plantio, colheita ou para os tratos culturais, estima-se que tenha entre 15 e 20% de componentes eletrônicos. Ou seja, o engenheiro agrônomo do futuro precisará estar capacitado para conduzi-las. O uso da tecnologia será fator fundamental para a tomada de decisões no campo e o profissional agrônomo será aquele capacitado para interpretar os dados da melhor maneira e avaliar o momento certo.



RC: Como é a parceria da federação com as instituições?

Ascari: A Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná tem o objetivo de fomentar o desenvolvimento do profissional e com apoio das entidades, realizar congressos, eventos técnicos, cursos de aperfeiçoamento e iniciativas que visem promover o conhecimento. Dentro disso, buscamos sempre ampliar nossas parcerias e trabalhar de forma conjunta com associações, empresas privadas e públicas, bem como instituições de classe. Temos visto que a união destas entidades é fator preponderante no fortalecimento do agronegócio paranaense e brasileiro, como um todo. Acreditamos fortemente nisso.



RC: O engenheiro agrônomo faz parte da história do agronegócio. Como o senhor avalia o trabalho dos profissionais de agronomia nessa área?

Ascari: A atuação do engenheiro agrônomo está intimamente ligada ao desenvolvimento do agronegócio no Paraná e no Brasil. O resultado estamos vendo ano após ano, com safras recordes e produtividades acima da média. Ressalta-se o profundo conhecimento do engenheiro agrônomo, responsável pelo cuidado no campo no combate às pragas, na escolha da melhor semente e no plantio correto. Importante ainda destacar que essa atuação começa lá na graduação com a busca pelo conhecimento, pela pesquisa e depois no aperfeiçoamento profissional. O Paraná com apenas 2,3% do território nacional, se destaca na produção agropecuária do país, e é considerado no mundo, o lugar onde mais se produz alimentos por metro quadrado. Isso, claro, é resultado dessa parceria entre profissionais, o agronegócio e os agricultores, os verdadeiros guerreiros no campo.



RC: Então, é fundamental para esse desenvolvimento a participação do profissional da agronomia?

Ascari: Sim, é fundamental, pois para elevar produtividades, por exemplo em um Estado como o nosso, sem expansão de áreas, é preciso, de forma contínua e sustentável, a participação dos profissionais da agronomia em toda a cadeia produtiva, no planejamento e na produção, seja na pesquisa, no ensino, na extensão e na gestão das empresas, instituições e cooperativas.



RC: O 20º Congresso Paranaense de Engenheiros Agrônomos foi em Campo Mourão. Quais foram os avanços e a contribuição para o desenvolvimento da categoria e do agronegócio?

Ascari: Este é um evento tradicional, que a cada dois anos tem trazido temáticas que tenham correlação com o dia a dia do profissional e do agronegócio. Neste ano, tivemos palestras importantes que foram desde os cuidados com o solo até a agricultura 4.0. Dentro deste contexto, como nosso objetivo institucional, temos a missão de contribuir com o crescimento profissional do engenheiro agrônomo oportunizando a atualização e o acesso a conhecimento e informações atuais. Desta forma, entendemos que os conhecimentos e informações adquiridas no Congresso Paranaense ultrapassam fronteiras e, de forma especial, chegam ao campo por meio do engenheiro agrônomo, oportunizando ao produtor mais desenvolvimento, produtividade e ganho de renda.



RC: A Associação dos Agrônomos de Campo Mourão (AEACM) é a quarta mais antiga do Paraná e comemora 50 anos de existência. Como a FEAPR analisa a atuação desta entidade?

Ascari: Ao longo destas cinco décadas esta entidade se consolidou como participativa e ativa, com o compromisso voltado ao apoio do profissional, seu desenvolvimento intelectual, o acesso a novos conhecimentos e, também, o desenvolvimento do campo. A AEACM sempre esteve, e está, de portas-abertas, sendo a casa não apenas do engenheiro agrônomo, mas também do produtor rural. A Associação e a Coamo sempre estiveram lado a lado, trabalhando juntas pelo crescimento do agronegócio regional, estadual e nacional, o que é comprovado pelo reconhecimento que ambas carregam.



RC: Quanto a importância do trabalho desenvolvido pelo cooperativismo em prol da melhoria do ambiente produtivo sustentável?

Ascari: O cooperativismo é o presente e o futuro. A união faz a diferença e os resultados provam isso. Como maior cooperativa agrícola da América Latina, o trabalho fomentado pela Coamo na capacitação e formação de profissionais na área técnica-agronômica é fundamental, uma vez que os engenheiros agrônomos são os vetores de desenvolvimento no campo, como responsáveis pela orientação técnica em relação aos melhores manejos com vistas a uma maior produtividade. Tenho plena convicção do comprometimento destes profissionais ligados à área técnica- -agronômica, integrantes de uma cooperativa com mais de 30 mil cooperados e faturamento anual superior a R$ 24 bilhões. Como produtor rural, sei o quanto a participação ativa dos engenheiros agrônomos no campo, no dia a dia da lavoura, contribui ao máximo para quem almeja o crescimento da produtividade na sua propriedade. Dentro deste contexto, investir na capacitação profissional é o caminho para que tenhamos cada vez mais profissionais altamente capacitados e o agronegócio cada vez mais forte.

Clodomir Ascari recebendo de Roberto Bueno, presidente da Associação dos Engenheiros Agronômos de Campo Mourão o livro dos 50 anos da entidade
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