Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 535 | Maio de 2023 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

EDUARDO MONTEIRO

Vice-presidente Comercial Mosaic Fertilizantes

“Brasil detém grandes oportunidades de negócios, além de responsabilidades na produção e no abastecimento de alimentos no mundo.”

O cupando cargos de liderança nos últimos 25 anos, Eduardo Monteiro, vice-presidente Comercial da Mosaic, teve a oportunidade de contribuir com transformação da cultura corporativa, com resultados positivos e inovadores, por meio da construção de times engajados e de alto rendimento. Entrevistado deste mês na Revista Coamo, ele afirma que o investimento na saúde do solo aumenta a expectativa de vida da produção sustentável. E os fertilizantes são um aspecto importante para as lavouras, sendo o segundo maior investimento dos agricultores, representando de 30% a 35% do custo do plantio de grãos. Ao longo dos últimos anos, devido ao crescimento do agronegócioe da demanda por fertilizantes, o Brasil tornou-se um dos principais importadores mundiais do produto. O país é o único grande produtor agrícola altamente dependente de importações (80% a 85% da demanda total).

“Enquanto somos o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, nossa produção ocupa o 10º lugar no mundo e o Brasil gasta US$ 10 bilhões por ano importando 91% de seu potássio, 95% de seus produtos nitrogenados e 75% de seus produtos fosfatados.”

Eduardo Monteiro chegou à Mosaic Fertilizantes em 2002. Nessa trajetória, esteve à frente de diversas áreas, incluindo finanças, planejamento, logística, suprimentos e vendas, até chegar ao cargo atual de vice-presidente comercial e supply chain na Mosaic Fertilizantes. Em sua carreira profissional já atuou nas áreas de vendas, marketing da cadeia de suprimentos e finanças de empresas como PwC, Cargill e Mosaic Fertilizantes.

Revista Coamo: Qual é a sua missão na Mosaic Fertilizantes, uma das maiores produtoras globais de fosfatados e potássio combinados?

Eduardo Monteiro: Desde que assumi a vice-presidência comercial da Mosaic Fertilizantes, em 2020, me dedico diariamente a conduzir a empresa para ajudar o Brasil a alimentar o mundo, considerando a necessidade do desenvolvimento de produtos para uma agricultura de baixo carbono e cada vez mais sustentável.

Com essa visão, trabalhamos no desenvolvimento de produtos como o Performa Bio, que é o primeiro fertilizante mineral sólido com efeito biológico do país, cuja tecnologia equilibra, restaura e fortalece a microbiota do solo. E também na criação e implantação da linha MPasto, destinada à recuperação de áreas de pastagens, proporcionando uma nutrição vegetal adequada, reduzindo a degradação das pastagens e restaurando a produtividade pecuária sem a necessidade de abertura de novas áreas. Sendo que dentro desta linha temos também o MPasto Nitro, um fertilizante nitrogenado de alta concentração com inibidor de uréase, que aumenta a produção de matéria seca e da qualidade física ao mesmo tempo em que reduz em até 30% as emissões de gases de efeito estufa.

RC: Com sua vasta experiência, como define o agronegócio brasileiro?

Eduardo Monteiro: O agronegócio brasileiro alimenta cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com um estudo da Embrapa. Essa superpotência agrícola na qual o país se transformou nas últimas décadas é resultado do trabalho do produtor rural e de uma série de transformações e investimentos em pesquisa e desenvolvimento que criaram tecnologia para aumentar a produtividade, gerenciar profissionalmente as fazendas e digitalizar operações.

Se olharmos para o mercado de grãos, por exemplo, o Brasil tem um importante diferencial em relação a outros países, que é a capacidade de ter até três safras por ano. Isso beneficia o aumento produtivo nacional sem a necessidade de abertura de novas áreas.

RC: E o que senhor prevê para o futuro do agronegócio?

Eduardo Monteiro: No cenário mundial futuro, o Brasil detém grandes oportunidades de negócios, além de responsabilidades na produção e no abastecimento de alimentos no mundo. Até 2050, a produção brasileira de grãos pode ultrapassar 500 milhões de toneladas, desempenhando um papel ainda mais importante na segurança alimentar mundial. Os destaques devem continuar a ser o milho de segunda safra e a soja. E a Mosaic Fertilizantes tem trabalhado para contribuir com esse crescimento da produção de forma sustentável, com menor impacto ambiental, sempre com respeito à biodiversidade.

RC: O Brasil é uma das principais potências agrícolas do mundo. O que ainda precisa ser feito para sermos melhores?

Eduardo Monteiro: Há uma necessidade de melhorar a infraestrutura disponível aos produtores não somente no que se refere às questões logísticas, mas também a conectividade no campo, para que as inovações tecnológicas que já estão no mercado e as que ainda estão por vir possam ser usufruídas em sua totalidade. A automatização no cultivo agrícola amplia a capacidade de produção e, consequentemente, beneficia mais pessoas pelo mundo com o aumento da oferta de alimentos. O bom produtor precisa ser reconhecido e valorizado. Além disso, é importante facilitar o acesso dele a crédito visando segurança, tranquilidade e maior capacidade de investimento na sua cultura.

“HÁ NECESSIDADE DE MELHORAR A INFRAESTRUTURA DISPONÍVEL AOS PRODUTORES NAS QUESTÕES LOGÍSTICAS E NA CONECTIVIDADE NO CAMPO."

RC: O que representa o país estar entre os quatro maiores mercados de fertilizantes? Existe potencial para crescer?

Eduardo Monteiro: Investir na saúde do solo é aumentar a expectativa de vida da produção sustentável. Por isso os fertilizantes são um aspecto importante para as lavouras, trata-se do segundo maior investimento dos agricultores, representando de 30% a 35% do custo do plantio de grãos. E, ao longo dos últimos anos, devido ao crescimento do agronegócio e da demanda por fertilizantes, o Brasil tornou-se um dos principais importadores mundiais de fertilizantes. O país é o único grande produtor agrícola altamente dependente de importações, elas respondem por 80% a 85% da demanda total. Enquanto somos o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, nossa produção ocupa o 10º lugar no mundo. De acordo com um relatório divulgado pela Cogo Consultoria, o Brasil gasta US$ 10 bilhões por ano importando 91% de seu potássio, 95% de seus produtos nitrogenados e 75% de seus produtos fosfatados.

RC: Qual a importância das discussões setoriais, como o Plano Nacional de Fertilizantes?

Eduardo Monteiro: Diante dessa realidade e olhando para o cenário que vem pela frente, com a expectativa de safras abundantes e continuidade do aumento da demanda por adubos, são fundamentais as discussões setoriais.

O Plano Nacional de Fertilizantes é um exemplo de oportunidade para que o governo e os diversos setores da sociedade dialoguem de forma transparente sobre recomendações e políticas voltadas para a melhoria do ambiente de negócios para investimentos na produção nacional e distribuição de fertilizantes. É importante buscar maneiras de aumentar a segurança no fornecimento desse produto e aproveitar oportunidades de inovação nesse setor e sustentabilidade do agronegócio brasileiro. A Mosaic Fertilizantes acompanha de perto as discussões em diferentes associações do setor, como Sinprifert, ANDA e IBRAM, e segue empenhada para tornar o cenário brasileiro mais favorável ao mercado de fertilizantes.

Eduardo Monteiro, vice-presidente Comercial da Mosaic

RC: O senhor é presidente do Conselho da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA). Qual é o papel da entidade no agronegócio?

Eduardo Monteiro: A ANDA está em atividade no Brasil há 56 anos com o objetivo de difundir e promover os fertilizantes em todas as etapas de seu processo produtivo. Na década da sua criação, somente 30% das áreas cultivadas usavam adubação, então 14 empresas se uniram para criar a ANDA. Hoje temos 122 empresas associadas, que se juntam para mostrar a importância do uso de fertilizante na agricultura nacional, seu custo-benefício. O agricultor precisa se conscientizar de que investir na saúde do solo significa aumentar a expectativa de vida da produção sustentável. A sucessão de cultivos e culturas sem a correta manutenção da fertilidade química do solo gera um ciclo que retroalimenta a degradação. Então, por meio da ANDA, mostramos que os fertilizantes são ferramentas poderosas para prevenir a degradação dos solos cultivados e, acima de tudo, para melhorar a saúde do solo. Temos vários livros publicados para levar informação ao agricultor. Inclusive editamos, desde 1986, o Anuário Estatístico que funciona como um banco de dados dos fertilizantes do Brasil e serve como importante e respeitada fonte de pesquisa no setor.

RC: Como percebe o trabalho da Coamo na difusão de tecnologias para seus cooperados?

Eduardo Monteiro: Sei do programa interno da Coamo voltado especificamente à tecnologia, que promove a capacitação dos seus cooperados para as atividades que realizam no campo. Esse cuidado que vocês têm com a educação do agricultor é bastante relevante, porque a tecnologia está numa constante evolução, otimizando cada vez mais o trabalho no campo e oferecendo novas oportunidades ao agricultor. E a partir do momento em que a Coamo desenvolve um programa como esse, ela se alinha a um dos propósitos do cooperativismo, que é de crescer juntos. Quanto maior a difusão das tecnologias, maior será a produção, melhor será a qualidade do cultivo, o que proporcionará um trabalho mais rentável aos cooperados e, consequentemente, o crescimento da Coamo e seu impacto positivo onde atua.

RC: Qual é a fortaleza da parceria das instituições, entidades com as cooperativas, e em especial, com a Coamo?

Eduardo Monteiro: O estabelecimento de parcerias fortalece a representatividade da cooperativa no setor, pode trazer vantagens aos cooperados e às suas famílias com programas, assistências e outros benefícios, assim como proporcionar um desenvolvimento maior da cooperativa, neste caso, por exemplo, a Coamo. Estabelecer essas relações é uma forma de contribuir ainda mais para a transformação socioeconômica da região atendida pela cooperativa. A Coamo é uma das protagonistas no cenário cooperativista nacional, que começou bem pequena no Centro-Oeste do Paraná e, em mais de seus 50 anos de história, vem promovendo mudanças constantes e relevantes por toda aquela região do Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina.

“A Coamo é uma das protagonistas no cenário cooperativista nacional. E vem promovendo mudanças constantes e relevantes em suas regiões de atuação."

RC: O senhor recebeu por meio do Agro World, do Grupo Mídia, a honraria de estar entre as 100 pessoas mais influentes do agronegócio brasileiro em 2023. O que representa este reconhecimento?

Eduardo Monteiro: Há cerca de 30 anos me dedico ao agronegócio. Acredito na força que ele tem para impulsionar o Brasil e ajudar a alimentar o mundo. Então esse prêmio me fez sentir extremamente honrado, primeiro por estar na mesma lista de tantas outras pessoas importantes para o setor, e segundo por me fazer recordar a trajetória profissional que estou trilhando há tantos anos no agronegócio.

É uma satisfação muito grande trabalhar nesse setor, lembrar tudo que tenho aprendido e todos os profissionais incríveis que estão comigo nessa jornada. Lá no futuro, quando mencionarem meu nome, desejo que ele esteja relacionado a uma pessoa que dedicou grande parte da sua vida para alimentar milhares de pessoas ao redor desse planeta, sempre defendendo práticas agronômicas sustentáveis, com respeito a todas as formas vivas que existem à nossa volta.

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.