Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 541 | Novembro de 2023 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

FABIANA ALVES

CEO do Rabobank Brasil e Head para América do Sul

"Investir em sustentabilidade significa garantir retornos
futuros e mitigar riscos reputacionais e climáticos."

Equilibrar a agenda do desenvolvimento sustentável com a de segurança alimentar é um dos maiores desafios do mundo todo." A frase é da CEO do Rabobank Brasil e Head para América do Sul, Fabiana Alves, entrevistada do mês na Revista Coamo. 

Segundo ela, o fato é que, para muitos países, como o Brasil, a fome e a pobreza ainda são endêmicas. "Outro desafio é a diferença entre as necessidades dos consumidores globais e do nosso ambiente em termos de estrutura fundiária, legislação, diferentes biomas etc. Finalmente, como sempre, a comunicação estratégica torna-se ainda mais importante. Com todos esses desafios, a cadeia agrícola precisa ter um plano estratégico e uma comunicação organizada especificamente para lidar com as demandas enfrentadas por ser um país agrícola." 

 

Revista Coamo: Como a senhora recebeu esta indicação para assumir a direção do Rabobank Brasil!? Qual sua trajetória, expectativas e desafios? 

 

Fabiana Alves: Eu vim do agro. Desde criança, adorava ir para a fazenda com meu avô e o campo era o lugar onde me sentia realizada. Me formei em agronomia em Viçosa e trabalhei em diversas etapas da cadeia do agro. Trabalhar no setor Financeiro não estava no meu radar. Eu estava fazendo um MBA nos Estados Unidos quando recebi o convite do Rabobank, pois estavam buscando alguém que tivesse relação com o setor. A minha chegada ao posto de CEO do Rabobank Brasil e Head para América do Sul demandou um tempo de preparação e maturação. Passei por algumas posições dentro do Rabobank até chegar aqui. Comecei como estagiária e tive a oportunidade de participar de algumas jornadas de liderança propostas pelo banco. O convite para assumir como CEO aconteceu de forma orgânica, pois o caminho que percorri me preparou para essa posição. 

RC: A participação das mulheres na gestão e direção de grandes companhias no país é crescente. A que se deve esta atuação? 

Fabiana: O mundo corporativo e do agro têm olhado com mais seriedade o tema diversidade. No Rabobank buscamos cada dia mais avançar nessa agenda, promovendo a conscientização de todos os colaboradores, para que ainda mais mulheres possam atuar em cargos que antigamente eram ocupados apenas por homens. Acredito que temos muito espaço para conquistar, mas nas últimas décadas avançamos bastante no cenário sociocultural sobre os papéis de gênero, incluindo discussões e soluções para ajudar mulheres a conciliar o trabalho remunerado, fora de casa, com o não remunerado dentro de casa. Além disso, passamos a ter mais e melhor acesso a capacitação, que julgo ser um dos principais fatores determinantes da elevação da taxa de participação feminina.

RC: Qual a missão do Rabobank e desafios da instituição para os próximos anos? 

Fabiana: Somos impulsionados pela nossa missão de “Cultivar um mundo melhor juntos”. Buscamos soluções que beneficiem os nossos clientes, a sociedade e o mundo. Essa mentalidade cooperativa está no centro de tudo o que fazemos. Seja desenvolvendo novos produtos financeiros, compartilhando nosso conhecimento ou explorando nossa rede para enfrentar desafios comuns. Equilibrar a agenda do desenvolvimento sustentável com a de segurança alimentar é um dos maiores desafios do mundo todo. O fato é que, para muitos países, como o Brasil, a fome e a pobreza ainda são endêmicas. Outro desafio é a diferença entre as necessidades dos consumidores globais e do nosso ambiente em termos de estrutura fundiária, legislação, diferentes biomas etc. Finalmente, como sempre, a comunicação estratégica torna-se ainda mais importante. Para lidar com todos esses desafios, a cadeia agrícola precisa ter um plano estratégico e uma comunicação organizada especificamente para lidar com todas as demandas enfrentadas por ser um país agrícola.

Fabiana Alves é CEO do Rabobank Brasil e Head para América do Sul. A executiva acumula mais de 30 anos de experiência no agronegócio, incluindo produção agrícola e indústria de alimentos. Sua história de sucesso no banco iniciou em 2008 como gerente de Consultoria. Também foi diretora da área Rural, que atende produtores e, em 2019, passou a atuar como diretora de Clientes Corporativos, tendo entregado expressivos resultados durante sua gestão. Foi pioneira no mercado com o movimento Mulheres do Agro e iniciou o processo de implantação de deals sustentáveis na instituição. Fabiana possui profundo conhecimento do agronegócio, com forte foco em clientes e, se tornou CEO do banco em março de 2023. A executiva é formada em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa e é pós-graduada em Administração de Empresas pela FGV – SP. Possui MBA com foco em desenvolvimento organizacional e finanças pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e passou por treinamento executivo em Strategic Banking Management no Insead, França

"SOMOS IMPULSIONADOS PELA MISSÃO DE "CULTIVAR UM MUNDO MELHOR JUNTOS". BUSCAMOS SOLUÇÕES QUE BENEFICIEM NOSSOS CLIENTES, A SOCIEDADE E O MUNDO."

RC: O Rabobank apoia agricultores de todo o Brasil. Quais os fatores chaves de sucesso observados nos produtores mais eficientes? 

Fabiana: Sendo um banco focado no agro, é importante ter uma visão de negócio abrangente para fornecer soluções eficazes ao setor neste novo contexto de mercado. A agenda ESG deve ter como objetivo equilibrar planeta, pessoas e lucros, e deve ser proporcionada transparência nas iniciativas e nos resultados para lhes dar credibilidade. O caminho é promover o diálogo e apoiar as soluções da cadeia, pois o impacto só será alcançado quando o comprometimento e as soluções estiverem integrados em todos os pontos. Colaboramos também com o investimento em novas tecnologias para a agricultura de alta precisão e regenerativa, além do foco na produtividade com a otimização do uso da terra. Toda empresa, instituição ou produtor precisa integrar temas ESG em sua estratégia e desenvolver um plano claro para reduzir emissões. No Rabobank, temos uma agenda recorrente com os nossos clientes sobre o tema e as melhores práticas para cada cultura. Temos ressaltado a importância do balanço de risco, retorno e sustentabilidade como fator estratégico na tomada de decisão. Afinal investir em sustentabilidade significa garantir retornos futuros e mitigar riscos reputacionais e climáticos.

RC: Qual o cenário atual e as perspectivas para a economia do Brasil e mundial? 

Fabiana: Tanto a economia brasileira quanto a mundial ainda estão tentando deixar para trás a inflação gerada pela pandemia, piorada pela guerra na Ucrânia e pelas quarentenas na China em 2022. Para isso, os bancos centrais tiveram que subir fortemente as taxas de juros e, como resultado, a inflação vem cedendo em todos os lugares, mas os efeitos dos altos juros mantêm o processo de desaceleração da economia. O Brasil, que começou o combate à inflação antes do resto do mundo, colhe frutos relativamente mais cedo, além de o agronegócio estar com um desempenho fenomenal em 2023. Assim, o Rabobank espera que o PIB brasileiro cresça 2,8% em 2023 (vindo de 2,9% em 2022), e 1,6% em 2024. Essa desaceleração pode ser pior tanto na Europa como nos EUA, país em que o banco projeta crescimento de 2% em 2023 (vindo de 2,1% em 2022) e somente 0,2% em 2024. Já a China deve se manter um pouco abaixo de 5% em 2023 e em 2024 (vindo de 3% em 2022). Esperemos que os riscos (como os geopolíticos e os de clima) não impactem tanto essas expectativas.

"Toda empresa, instituição ou produtor precisa integrar temas ESG em sua estratégia e desenvolver um plano claro para reduzir emissões."

RC: Como observa o impacto para o agro dos estoques elevados e queda dos preços das commodities? 

Fabiana: Nos últimos anos, alguns fatores externos, como o início da pandemia da Covid-19, o conflito entre Rússia e Ucrânia e diversos eventos climáticos ao redor do mundo, ocasionaram uma valorização das principais commodities agrícolas. As margens recordes obtidas pelo produtor rural no Brasil geraram um estímulo financeiro, que por sua vez, resultaram em um aumento significativo da área plantada e na adoção de novas tecnologias que aumentam a produtividade, mas que também podem reduzir custos e impacto ambiental. Com a acomodação desses fatores, associado ao enfraquecimento da economia global, que está em processo de resfriamento pelo efeito defasado das elevadas taxas de juros, é natural que o apetite generalizado por commodities diminua. Por outro lado, há commodities e commodities e o impacto não será uniforme. A safra do próximo ano ainda deverá ser bastante promissora, o que já é um efeito do desempenho extraordinário do que observamos nos últimos anos.


RC: De uma forma geral, como é o comportamento do brasileiro com relação aos impactos da economia? O que fazer para ter uma economia sustentável? 

Fabiana: Observamos que o comportamento do brasileiro em relação aos impactos econômicos é dinâmico e influenciado por diversos fatores como: cenário macroeconômico, políticas governamentais, mercado de trabalho, flutuações nos preços de commodities, globalização e crises internacionais, educação financeira e cultura, entre outras. Após vários ciclos inflacionários e de crises, as pessoas têm melhorado a disciplina financeira. Além disso, a população brasileira, em geral, demonstra resiliência diante de desafios econômicos, adaptando-se a cenários de incerteza. A gestão econômica que visa reduzir os impactos da inflação também tem se demonstrado adequada, porém ainda enfrentando as incertezas externas. O brasileiro ou a brasileira é alguém de fé e é sempre otimista. Isto é ótimo porque assim ele ou ela mantém este nosso espírito empreendedor, apesar dos desafios da economia brasileira e mesmo os da global. Ainda assim, o mais importante é que a gente sempre procure a melhor informação disponível e faça o dever de casa de se proteger dos potenciais riscos econômicos. 

RC: Como avalia e o que representa a parceria com a Coamo? 

Fabiana: O Rabobank está no Brasil há mais de 30 anos, e a Coamo é um dos nossos clientes mais antigos, além de também um dos mais próximos. Nos orgulhamos de ter a Coamo como grande parceiro, e nos orgulhamos ainda mais quando percebemos o valor que uma entidade agregou para a outra para que ambas crescessem juntas ao longo destes anos. Tanto a Coamo como o Rabobank possuem raízes no cooperativismo, dessa forma compartilhamos os mesmos valores, o que propiciou a construção de um relacionamento de vários anos.


RC: Na sua opinião, qual a importância do cooperativismo como agente de desenvolvimento? 

Fabiana: O cooperativismo permite que os grupos possam debater melhor as questões e assegurar uma representatividade mais sólida. Por meio desse modelo de negócio, os cooperados têm mais força financeira e política para fomentar o próprio setor de atuação. Assim, criam um ambiente mais favorável e próspero. As cooperativas são entidades fundamentais no agronegócio brasileiro, atuando como agentes catalisadores que entregam não só estrutura física, operacional, financeira e logística, mas também conhecimento, na forma de assistência técnica, informações setoriais, tendências de mercado etc., alcançando um universo de produtores associados e estimulando o desenvolvimento sustentável da atividade agropecuária no Brasil e de tantas famílias que vivem desta atividade. Além disso, tem um papel de inclusão e fortalecimento de produtores rurais pequenos e médios. 


RC: O Rabobank é reconhecido como uma instituição com identidade cooperativa e parceiro do agronegócio. Como tem sido sua atuação nesta área? 

Fabiana: No Rabobank, trabalhamos em estreita colaboração com as principais cooperativas do agronegócio do Brasil e compartilhamos nossas raízes colaborativas nesse relacionamento, apoiando o crescimento baseado em pilares que consideram o impacto social e ambiental das operações.

"Para lidar com os desafios, a cadeia agrícola precisa ter um plano estratégico e uma comunicação organizada especificamente para atender as demandas do nosso país agrícola."

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