Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 551 | Outubro de 2024 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

MARCELO BATISTELA

Vice-presidente da BASF Soluções para Agricultura no Brasil

“Desafio da agricultura é produzir mais, otimizar recursos e tornar os sistemas produtivos cada vez mais resilientes e sustentáveis.”

  Para o engenheiro agrônomo e vice-presidente da BASF Soluções para Agricultura no Brasil, Marcelo Batistela, o agricultor brasileiro é um dos mais abertos à adesão de novas tecnologias no mundo e é referência em várias práticas agrícolas sustentáveis como plantio direto, culturas de cobertura de solo, formação e cuidado do perfi l de solo. “Também estamos avançando em outras frentes importantes, como microbiologia de solo e nutrição, a combinação de química e biológicos para o controle de doenças e insetos, além do começo do uso da agricultura digital para tomar de decisões e otimização de recursos.”

  Com experiência internacional sobre a agricultura, Batistela diz que o desafi o fora do país foi entender, alavancar semelhanças e respeitar as diferenças entre o Brasil e o mundo. “Os agricultores e a agricultura são muito semelhantes, mas ao mesmo tempo muito diferentes em todo o mundo." 

   Revista Coamo: Como o senhor aceitou o desafi o de substituir José Munhoz Felippe, que se aposentou após mais de três décadas na Basf?

  Marcelo Batistela: Foi uma grande satisfação e uma honra. De certa forma, me sinto dando continuidade ao legado do José Felippe – mais conhecido por todos nós como “Zezé”. Além de termos convivido e trabalhado juntos por mais de duas décadas e ele ter sido um grande mentor e amigo, temos propósitos e valores muito similares como transparência, proximidade com a equipe e com os clientes. É claro que eu trago na minha bagagem pessoal muitas experiências e visões de negócio particulares que fui adquirindo ao longo da minha trajetória, importantes para iniciar este novo capítulo da Basf aqui no Brasil.

Marcelo Batistela é engenheiro agrônomo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/PR), com especializações nas áreas de Estratégia, Marketing no Agronegócio e Transformação & Liderança pela Fundação Dom Cabral, Fundação Getúlio Vargas e Harvard Business School. Atualmente, é vice-presidente da BASF Soluções para Agricultura no Brasil, após passar por várias experiências na indústria de inovação e tecnologia de insumos agrícolas em pesquisa e desenvolvimento, vendas, marketing, M&A e gestão de negócios, aqui no Brasil, na América Latina e em posições globais.

  RC: Com mais de 20 anos na Basf, como avalia sua carreira desde o início como representante técnico de vendas, passando pelas áreas de vendas, marketing e gestão de negócios, e chegando a vice-presidência para o Brasil? Qual o segredo para crescer e aproveitar as oportunidades de carreira?

  Batistela: Minha carreira na indústria começou um pouco antes, em outra empresa de inovação, onde trabalhei na área de pesquisa e desenvolvimento. Me juntei à Basf há pouco mais de 20 anos, onde encontrei um ambiente repleto de oportunidade para adquirir e compartilhar conhecimento. Tive a oportunidade de desempenhar diferentes funções, tanto mais próximas dos clientes e do mercado, quanto posições mais estratégicas com visão de longo prazo. Morei e atuei em todas as regiões agrícolas do Brasil. A Basf também me proporcionou a oportunidade de conhecer a agricultura e agricultores em todos os continentes dos mais diversos cultivos e modelos de negócio. Essa amplitude de experiências me deu uma visão 360 graus e um sólido conhecimento da cadeia de valor do agronegócio, e sou muito grato por isso. Na minha opinião, o segredo para ser bem-sucedido e realizado em tudo que fazemos é ter um propósito claro, ser apaixonado pelo que faz, estar aberto a aprender sempre, se cercar de pessoas boas que te desafi em e inspirem, desafiar o status quo e sempre colaborar com transparência e otimismo.

  RC: Qual o impacto das mudanças recentes na Basf, na divisão de soluções para a agricultura no Brasil? Ganhou mais agilidade e mais foco? 

  Batistela: No ano passado, iniciamos uma jornada de mudança que julgo ser corajosa e profunda, pois estamos intencionalmente nos inspirando na forma que nossas clientes pensam e atuam em seus negócios para defi nirmos o nosso modelo de negócio e a forma de nos organizarmos. Com isso, decidimos integrar todos nossos negócios em uma única estrutura (sementes, biotecnologias, modalidades fi nanceiras, proteção de cultivos e agricultura digital), dando sentido à Basf Soluções para Agricultura. Nossas ofertas e soluções passaram a ser focadas e desenvolvidas em uma visão holística das necessidades dos agricultores por sistema de cultivo e por geografi a, ou seja, defi nidos por rotação de cultivos (por exemplo: soja, milho e algodão, ou soja, milho e trigo, etc) e por regiões (Sul, Centro-Sul, Cerrados, Norte, etc) relevantes para os agricultores e para a Basf. Criamos uma estrutura mais voltada para o cliente, que sistematicamente busca entender as reais necessidades e conhecer a negócio dos nossos clientes em todas as áreas da empresa.

“O AGRICULTOR BRASILEIRO É UM DOS MAIS ABERTOS À ADESÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS. SOMOS REFERÊNCIA EM ADOÇÕES DE VÁRIAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS.”

  RC: E os desafios do presente e do futuro da Basf no Brasil no uso da tecnologia e sustentabilidade da produção agrícola?

Batistela: O desafio de toda cadeia da agricultura no Brasil e no mundo é fundamentalmente o mesmo: precisamos produzir cada vez mais, otimizando os recursos, tornando os sistemas produtivos cada vez mais resilientes e sustentáveis. O Brasil está muito bem-posicionado neste contexto. Desenvolvemos um sistema produtivo no ambiente tropical extremamente efi ciente com mais de 2,2 safras por ano, altamente produtivo e intenso – e isso colocou o Brasil em uma posição estratégica para alimentar e mover não somente nosso país, mas o mundo. Ao mesmo tempo, o ambiente tropical e a alta intensidade de nossa agricultura, combinado com os desafi os climáticos e regulatórios, nos desafi a cada vez mais desenvolver conhecimento para combinar tecnologias e uma necessidade urgente de aproximação e cooperação entre todos os elos de nossa cadeia produtiva. Neste contexto, entendemos que nosso papel em estar próximo dos agricultores e de toda cadeia, nossa habilidade de gerar inovações em química, biologia, genética, digitalização e modelos de negócios, assim como gerar e compartilhar conhecimento, é essencial. Temos que estar cada vez mais focados em buscar produtividade otimizando recursos naturais e protegendo nossa rica biodiversidade, e juntos, continuar garantindo a perenidade do negócio e o legado da agricultura brasileira.

  RC: Pela sua visão e experiência, qual é o grau de exigência do produtor brasileiro para aumento de produtividades de forma sustentável?

  Batistela: O agricultor brasileiro é um dos mais abertos à adesão de novas tecnologias no mundo, já somos referência em adoções de várias práticas agrícolas sustentáveis como plantio direto, culturas de cobertura de solo, formação e cuidado do perfi l de solo. Também estamos avançando em outras frentes importantes, como microbiologia de solo e nutrição, a combinação de química e biológicos para o controle de doenças e insetos, além do começo do uso da agricultura digital para tomada de decisões e otimização de recursos. Não podemos esquecer que o agricultor brasileiro é um dos grandes responsáveis pela preservação de uma parte importante de nossos biomas por meio de nosso código florestal.

   Tudo isso combinado certamente já são uma fundação intencional ou intrínseca para uma agricultura resiliente e cada vez mais sustentável. Práticas e sistemas agrícolas que o mundo está discutindo agora já estamos atuando por aqui há mais de 20 anos. Ainda temos muito a aprender, a melhorar e a fazer, que vão além de implementar em larga escala as tecnologias e práticas existentes, mas estou convencido que este é o caminho e nossa responsabilidade comum para o desafi o de alimentar o mundo de maneira mais produtiva, rentável e sustentável.

  RC: Com sua experiência internacional, como os europeus veem o agricultor e a agricultura brasileira?

  Batistela: Uma das principais conclusões da minha jornada na agricultura fora do Brasil foi entender o quão importante é alavancar semelhanças e aprender e respeitar as diferenças. Os agricultores e a agricultura são muito semelhantes, mas ao mesmo tempo muito diferentes em todo o mundo. Minha impressão é que não somente os europeus, mas a maioria do hemisfério Norte tem uma visão dividida sobre o agricultor e agricultura brasileira: aqueles que conhecem ou estão mais envolvidos na cadeia produtiva de alimentos nos veem como altamente competitivos, inovadores e efi cientes. Por outro lado, o público mais distante do agronegócio ainda tem uma visão distorcida, muito influenciada por ausência de informação, ou pior: informações equivocadas. Minha convicção e reconhecimento à nossa agricultura, e que em toda oportunidade e fórum que fui exposto eu promovi e defendi, foi: o agricultor e a agricultora brasileira são abertos à tecnologia, dedicados e apaixonados pela atividade, corajosos e otimistas, o que somados ao ecossistema que os apoiam, resulta na agricultura mais moderna, resiliente, produtiva e sustentável que tive a oportunidade de conhecer no mundo.

Em visita à Coamo, Batistela plantou

uma árvore na Fazenda Experimental

“O Brasil está muito bem-posicionado. Desenvolvemos um sistema produtivo no ambiente tropical extremamente efi ciente e isso colocou o Brasil em uma posição estratégica para alimentar e mover não somente nosso país, mas o mundo.”

  RC: Como percebe o cooperativismo e sua importância como agente para alavancar a economia e gerar o desenvolvimento?

  Batistela: Sou um entusiasta do cooperativismo, pois acredito muito em colaboração e na força de um propósito comum. Na agricultura, o cooperativismo se faz ainda mais relevante e impactante, pois além de fortalecer a união e desenvolver a comunidade local, traz prosperidade e é uma fonte importantíssima de geração e disseminação de conhecimento, dando possibilidades de acesso à informação e tecnologias, independentemente do tamanho e da sofisticação do agricultor. É impressionante acompanhar o grande impacto e desenvolvimento do cooperativismo na agricultura que se modernizou e verticalizou, revolucionando a dinâmica e saúde financeira de seus agricultores associados e ganhando uma grande relevância do PIB da agricultura e de nosso país.

  RC: A parceria com a Coamo surgiu há décadas. Como o senhor avalia este compromisso e visão de futuro?

  Batistela: Eu tenho certeza de que todas estas décadas de parceria foram forjadas por meio de um propósito comum entre a Coamo e a Basf, uma similaridade enorme de valores e uma relação e colaboração aberta, honesta e respeitosa. O que nos dá a responsabilidade e o compromisso em seguir cultivando esta parceria por muitas décadas vindouras. Eu, a Basf e nossos colaboradores, cultivamos um respeito e admiração pela Coamo, seu quadro de funcionários e cooperados pela disciplina de colocar em prática sua visão e missão de maneira simples e direta, e ao mesmo tempo sofi sticada e forte, se tornando uma grande referência do agronegócio brasileiro. É uma grande fonte de inspiração.



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