Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 449 | Julho de 2015 | Campo Mourão - Paraná

Rotação de Culturas

RESULTADOS DE 30 ANOS EM PESQUISA

Implantado há mais de 30 anos na Fazenda Experimental da Coamo, em parceria com a Embrapa Soja, um dos mais antigos ensaios de rotação de culturas do Brasil tem proporcionado resultados que comprovam a importância do sistema para a agricultura. O assunto tem sido amplamente divulgado pela cooperativa em eventos técnicos, principalmente, no encontro de cooperados e servido de base para a equipe técnica agronômica da Coamo assistir aos associados na condução das lavouras. Como forma de incentivar e validar o sistema, a Revista Coamo publica alguns dos resultados existentes, para que os leitores possam analisar os benefícios e implantar a rotação de culturas na propriedade.

É importante ressaltar o valor e o reconhecimento que a comunidade científica tem pelas instituições que preservam os ensaios de longa duração, prova disso é que o trabalho conduzido pela Coamo foi incluído pelo ARS – USDA (Serviço de Pesquisa Agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) no ranking de “ensaio agrícola de longa duração”. No Brasil, são poucos que fazem parte nessa relação. 

As colunas em azul representam produtividades de uma propriedade que em todas as safras, metade da área é com milho verão e a outra metade é com soja, sendo que as lavouras são alternadas de área ano a ano. Em verde, área com apenas 25% com milho verão e 75% com soja e, finalmente, em vermelho área onde nunca se planta milho verão, ou seja, sem rotação de culturas. O

O gráfico demonstra a necessidade de diversificar as culturas de inverno visando melhorar a produtividade da soja cultivada na sequência. Observa-se que a sucessão de culturas todos os anos com milho safrinha e soja representa a pior alternativa para a soja, quando comparada a áreas que utilizaram a cultura do trigo ou aveia em rotação de culturas.

As colunas em azul representam uma propriedade que não faz o plantio direto e em verde a que adota o sistema. Na média das três safras as áreas em plantio direto apresentaram produtividade 31% maior.

O gráfico demonstra, mais uma vez, a importância do produtor diversificar as lavouras no inverno. Observa-se que o milho verão após as alternativas de inverno apresenta produtividade variável, o que requer cuidado e atenção com o manejo, especialmente, quando este milho verão é plantado todos os anos após o milho safrinha e trigo isoladamente.

Até que chegasse ao nível atual, o ensaio passou por várias etapas com diferentes sistemas de rotação, testando a produtividade das culturas, incidência de doenças, principalmente, na soja e no trigo, compactação do solo, estruturação do solo, distribuição de nutrientes e raízes da soja, reciclagem de nutrientes, populações de microrganismos, dentre outros.

O principal desafio para que o sistema seja adotado por mais produtores, continua sendo a visão de retorno econômico imediato esperado em cada safra agrícola, isoladamente. A adoção de sistemas de rotação exige outras mudanças na propriedade e, também, de comportamento e, às vezes, mais investimento. Como os agricultores têm pouca referência para fazer as comparações de produtividade e econômica, acabam não adotando ou desistindo do sistema num curto espaço de tempo. 

O gráfico ilustra a importância de utilizar diferentes culturas de adubo verde para anteceder o milho verão. O plantio de leguminosas como, por exemplo, o tremoço e a ervilhaca, influencia positivamente na produtividade devido ao fornecimento de nitrogênio fixado biologicamente.

O gráfico demonstra que a medida que o produtor reduz a área de milho safrinha, aumenta-se a produtividade de milho verão plantado na sequência.

Este resultado de nove anos de trabalho comprova que o produtor que semeia toda a área com milho safrinha tem a produtividade reduzida em 15% quando comparado ao plantio em apenas metade da área. A medida que se reduz a área de milho safrinha aumenta-se a produtividade.

As colunas em azul representam a produtividade de uma propriedade em que todas as safras o produtor planta apenas 25% da área com trigo. Em verde, 50% da área, em amarelo 75% e em vermelho 100% da área, ou seja, não se faz rotação de culturas.

Ainda que seja perceptivo, a melhor produtividade do trigo sobre o milho safrinha quando comparado a aveia e trigo, é indispensável utilizar todas as alternativas num mesmo talhão, diversificando e rotacionando as culturas no inverno, pois além do rendimento do trigo, deve-se considerar a produtividade da soja cultivada na sequência sobre estas culturas.

O gráfico mostra que a produtividade de trigo numa área em que se repete o plantio num mesmo talhão todos os anos, é aproximadamente 50% inferior ao talhão onde se faz a rotação de culturas, alternando-o com milho safrinha.

Um dos parâmetros mais importantes para caracterizar a eficiência dos sistemas de manejo do solo e de rotação de culturas são os teores de matéria orgânica do solo. Para o solo argiloso da região de Campo Mourão o ideal é elevar os teores de carbono, principal precursor da matéria orgânica, acima de 24 g dm-3 (4.1% de matéria orgânica) na profundidade de 0 a 10 cm no perfil do solo. (Esse valor não se aplica ao solo arenoso).

Em razão da longa duração do ensaio, vários pesquisadores da Embrapa Soja atuaram na coordenação das atividades que estavam sob a responsabilidade dessa instituição. Primeiramente o pesquisador Celso de Almeida Gaudêncio coordenou as atividades até sua aposentadoria que ocorreu em 2000. Do ano 2000 até 2007, as atividades foram coordenadas pelos pesquisadores Eleno Torres e Paulo Roberto Galerani, e após esta data, até os dias atuais, a cargo de Júlio Cézar Franchini e Henrique Debiasi. Em razão do caráter multidisciplinar do trabalho atuaram também outros pesquisadores e pessoal de apoio da Embrapa/Soja das áreas de Manejo da Cultura, Solos, Plantas Daninhas e em especial, o pesquisador Álvaro Manuel Rodrigues de Almeida, comandando trabalhos de fitopatologia.

Os gráficos mostram que num período de nove anos de estudos, uma área manejada com rotação de culturas promove aumento significativo de carbono e nitrogênio no solo. Essa melhoria ocorre em todo o perfil de solo, mesmo a 40 centímetros de profundidade, quando comparado a uma área sem rotação de culturas.

Os gráficos mostram o efeito da rotação de culturas sobre a resistência do solo à penetração das raízes. Observa-se no quadro à esquerda, a camada de adensamento do solo que se forma nos primeiros 20 centímetros de profundidade em uma área manejada sem rotação de culturas. Por outro lado, quando o solo é manejado com rotação de culturas esse efeito não é observado como demonstrado no quadro à direita.

A imagem revela a qualidade de raízes nas plantas com rotação de culturas (direita), onde são mais desenvolvidas e com arquitetura vertical, atingindo maior profundidade no solo, que permite maior absorção de água e nutrientes e promove mais rentabilidade e estabilidade em condições climáticas adversas. Do lado esquerdo, observa-se a dificuldade de penetração das raízes no solo e a orientação predominante no sentido horizontal (raízes superficiais, tortas e bifurcadas).

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