Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 474 | Outubro de 2017 | Campo Mourão - Paraná

OPINIÃO

UMA PLATAFORMA PARA O BRASIL

Roberto Rodrigues: "não temos líderes no mundo. E isso tem uma consequência dramática, porque sem líder não se tem rumo, falta direção"

Convidado para o Fórum  dos Presidentes das Cooperativas Paranaenses e do Fórum de Agricultura da América do Sul, realizado nos dias 24 e 25 de agosto, em Curitiba, para mostrar sua visão sobre o momento atual, o ex-ministro da Agricultura e professor da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues, foi direto: “não temos líderes no mundo. E isso tem uma consequência dramática, porque sem líder não se tem rumo, falta direção”, disse. Uma condição, segundo Rodrigues, necessária para criar uma plataforma de desenvolvimento baseada em algo que o Brasil seja competitivo e eficiente. “A exemplo dos países desenvolvidos, temos que ter uma plataforma que envolva toda a sociedade brasileira. E, ao meu ver, isso está diretamente ligado à segurança alimentar”, frisou.  Confira a seguir, entrevista com Roberto Rodrigues:


Em que baseia-se a plataforma de desenvolvimento defendida pelo senhor?

Cada país tem uma plataforma lastreada na sua vocação nacional ou na história do seu povo. A China montou uma plataforma baseada na exportação; a Índia apostou em TI; a Coréia do Sul em eletrônicos; a Itália na culinária; a França na cultura; a Grécia no turismo histórico; a Noruega nos esportes de inverno. Então, por que o Brasil não busca uma plataforma no qual seja especialista, competitivo e eficiente? Mas essa plataforma não é o agronegócio, e sim outra coisa muito mais ampla que é a segurança alimentar global.  Você sobrevive se não tiver telefone ou carro, mas não pode sobreviver sem alimento. E o Brasil tem isso.


E por que segurança alimentar?

Dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostram que para sustentar o mundo, a produção mundial de grãos precisa crescer 20% na próxima década. E 40% deste crescimento deve vir do Brasil. Portanto, o mundo já reconhece que o Brasil tem um papel a cumprir para que não falte alimentos no futuro. E nós estamos de costas para isso. Não temos projeto consistente e que envolva toda a sociedade. E há outra razão trivialíssima: não há paz onde houver forme.  As migrações que vemos hoje, da África, Ásia e do Oriente Médio para a Europa Ocidental, são motivadas pela fome e guerra, ou seja, pela insegurança. As pessoas estão migrando em busca de comida e paz. Então, a segurança alimentar é um elemento importante da paz.


E é possível envolver toda a sociedade? O meio urbano já reconhece a importância do rural?

No país que enfrenta uma das piores recessões da sua história, o agronegócio é um oásis no deserto. Neste ano, o setor deve responder por metade do crescimento do PIB. É cada vez mais perceptível que a sociedade urbana está assimilando a importância do agronegócio. E isso se deve à mídia profissional e verdadeira, que mostra o papel do setor. Mas ainda não há a sensação de pertencimento. Ou seja, o urbano reconhece a importância do rural, mas não se inclui nele. Em vez de dizer que a agricultura vai bem, devíamos dizer que a ‘nossa’ agricultura vai bem.  A sociedade urbana tem de compreender que também é responsável pelo sucesso da agricultura. A relação entre o urbano e rural é siamesa, um não vive sem o outro.  Afinal, uma máquina agrícola é feita de aço, por isso, o empregado de uma siderúrgica também é responsável pelo sucesso da segurança alimentar brasileira, assim como o funcionário de uma fábrica de fertilizantes ou de defensivos agrícolas. A nossa plataforma é alimentar o mundo, por isso, temos que juntar o urbano e o rural. O mundo nos pede isso.


E qual o papel das cooperativas nessa plataforma?

Qual é o caminho para montar essa estratégia, ou seja, qual a instituição é urbana e rural, nacional e local, tem acesso a tudo e de tudo participa? É a cooperativa, cuja presença está no campo e na cidade.


FONTE: Assessoria de Comunicação do Sistema Ocepar

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