Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 474 | Outubro de 2017 | Campo Mourão - Paraná

HISTÓRIA

CAMPO MOURÃO 70 ANOS

Das terras dos "3 esses" às mais produtivas do Brasil


Nos anos 60, Campo Mourão já era importante centro econômico. Na imagem, vista parcial de uma das avenidas centrais da cidade

Sede do maior entroncamento rodoviário do Sul do Brasil e da Coamo - maior cooperativa agrícola da América Latina-, da quarta mais antiga Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado do Paraná e do segundo Município do Brasil a implantar a tecnologia do Plantio Direto, Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná, comemorou 70 anos em outubro deste ano, com a força da sua gente e do seu comércio, e da agricultura e pecuária, reconhecida como um dos pilares da sua economia.

Com mais de 94 mil habitantes segundo o Censo do IBGE, e polo de uma região com 25 municípios, Campo Mourão é predominantemente agrícola, tendo no plantio de soja e milho, seus principais produtos agrícolas, que industrializados no parque industrial da Coamo em Campo Mourão são exportados para os mercados interno e externo – para os cinco continentes.

Serrote manual era o principal instrumento de trabalho Tração animal na exploração da madeira em Campo Mourão

“ERA TUDO DIFERENTE, DA ERA DO CARROSSEL ÀS MÁQUINAS MODERNAS”

Campo Mourão na década de 70

Alderico Raimundo chegou a região em 1971

O produtor associado da Coamo, Alderico Raimundo, que chegou a região em 1971, lembra bem como era a agricultura na região de Campo Mourão há quase 50 anos. “Tudo mudou depois da chegada do cooperativismo com a Coamo – ele se associou na cooperativa em 1973. O calcário chegava na roça e a gente espalhava com o prato, hoje é bem diferente, tudo ficou mais fácil. Essa geração nova não sabe como era e não sentiu na pele as nossas dificuldades. Hoje se planta em dois dias o que demorava mais de uma semana.”

Com 73 anos, Alderico destaca a inovação e o acompanhamento das tecnologias com plantio profissional e o uso do que existe de mais moderno para produzir mais.  “Antes era aquele sol quente, muito suor e trabalho, hoje se trabalha bastante, mas menos que antes. O conforto chegou no campo com as colheitadeiras tendo ar-condicionado, GPS e muita coisa boa”.

Das 90 sacas de soja por alqueire, o associado comemorou na safra passada a produção média de mais de 170 sacas. “Tudo evoluiu, as variedades, tecnologias, só para ter uma ideia, antes a gente plantava soja na primeira semana do mês de novembro, hoje quando chega essa época a soja já nasceu e cresceu.”

HISTÓRIA

Segundo levantamento histórico, a região dos "Campos" bordejados pelas matas Atlântica e das Araucárias, sede da Nação Guarani, começou a ser visitada pelos jesuítas espanhóis entre 1524 e 1541 pelos bandeirantes paulistas a partir de 1628. A região pertenceu à antiga possessão espanhola chamada Província do Guairá, com capital em Assunção, hoje Paraguai.

Em 1765 começou a ser vasculhada por milícias do governo da capitania de São Paulo, que denominaram o vale descampado entre os rios Ivaí e Piquiri, de "Campos do Mourão", em homenagem ao governador da capitania de São Paulo, Dom Luís António de Sousa Botelho e Mourão (mais conhecido como Morgado de Mateus).

Na década de 1890 o pasto natural e o cerrado nativo dos "Campos do Mourão" serviam de ponto de descanso dos tropeiros que pela região passavam, tocando boiadas para negociar no Mato Grosso do Sul.  Em 1903 chegou e fixou-se nos "Campos do Mourão" a família do paulista José Luiz Pereira, seguida dos Teodoro, Custódio, Oliveira, Mendonça, Mendes e dos guarapuavanos Guilherme de Paula Xavier, João Bento, Norberto Marcondes, Jorge Walter (O Russo) entre outros pioneiros.

Até 1943, Campo do Mourão pertencia ao município de Guarapuava, quando passou a ser distrito do município de Pitanga e no dia 10 de outubro de 1947 foi emancipado política e economicamente pela Lei 02/47, sancionada pelo governador Moysés Lupion, tendo como seu primeiro prefeito nomeado em 18 de outubro de 1947 José Antônio dos Santos e depois Pedro Viriato de Souza Filho, primeiro prefeito eleito.

PLANTIO DIRETO

Uma marca de Campo Mourão

Em 2014, pioneiros do plantio direto foram homenageados pela Associação dos Engenheiros Agrônomos de Campo Mourão (AEACM). Carlito e Henrique Salonski (representando o pai Henrique), Álvaro Massaretto, Gabriel Borsato, Joaquim Montans e Ricardo Calderari

“As nossas terras estão entre as mais produtivas do país e tudo isto é resultado do surgimento da tecnologia do Plantio Direto (PD), que implantamos na região de Campo Mourão na safra 1973/74, que foi a segunda cidade do Brasil a usar esse sistema que é uma marca da nossa região e a maior revolução que aconteceu na nossa agricultura.” A afirmação é do engenheiro agrônomo Ricardo Accioly Calderari, um dos pioneiros do sistema PD no início da década de 70.  “O plantio direto foi a solução, pois quando chovia, a gente nem dormia direito porque a água levava tudo dentro dos rios e o plantio direto foi a solução.”

Para Calderari, Campo Mourão chega aos seus 70 anos com bastante progresso e perspectivas de crescimento, com a  força e união do seu povo com elevado espírito comunitário.

Pioneiros do plantio direto em Campo Mourão: Ricardo Accioly Calderari, Henrique Salonski, Joaquim Peres Montans, Gabriel Borsato e Gil Rebelo, técnico da antiga ICI, ao lado da plantadeira Rotacaster, também pioneira

AGRICULTURA TRANSFORMADA

Gallassini: “As terras eram famosas por serem fracas e tinha a fama dos "três esses" – saúva, sapé e samambaia."

Gallassini, então extensionista da Acarpa, com seu jipe de trabalho

Quando Campo Mourão foi emancipado em 1947, José Aroldo Gallassini tinha seis anos de idade e quando chegou a região em maio de 1968, portanto há 49 anos, estava com 27 anos. Como extensionista, carregava o ideal de promover a organização dos produtores em uma entidade que pudesse atender suas necessidades. O resultado foi o surgimento da cooperativa Coamo em novembro de 1970, da qual é idealizador, foi o primeiro gerente geral e presidente desde janeiro de 1975. “Quando cheguei aqui a cidade estava vivendo o fim do ciclo da madeira, tinha somente cinco tratores e era praticamente tudo manual, era o começo da agricultura com produtividades muito baixas, não tinha trigo e nem soja, e o arroz de sequeiro era uma lavoura de risco grande.”

Segundo o engenheiro agrônomo e presidente da Coamo, “as terras eram famosas por serem fracas e tinha a fama dos "três esses" – saúva, sapé e samambaia- e a produção era muito  baixa.  Mas tudo mudou, e com o trabalho de extensão rural e assistência  técnica,  evoluiu de forma fantástica com elevadas produções”, lembra Gallassini.

Um dos primeiros armazéns da Coamo em Campo Mourão

JUVENTUDE ANTENADA

Alvaro Machado da Luz, cooperado e neto de fundador da Coamo, lembra do início da sua família na agricultura na região de Campo Mourão

O neto do cooperado fundador da Coamo  Augusto Angelo Tonello – associado com matrícula  nº 40 -, o também cooperado Alvaro Machado da Luz lembra do início da sua família na agricultura na região de Campo Mourão. “Não tinha maquinário, era tudo na mão, cavalo com boi e carrossel, eles mesmo faziam a destocada para implantar as lavouras.”

Para o jovem associado da Coamo formado em agronomia e conduzindo as atividades da família, o grande desafio é continuar progredindo e inovando, com o acompanhamento das novidades. “É necessário caminhar, pois quem para não sai do lugar. Temos que valorizar os legados dos nossos pais e avós para produzir mais e melhor. Hoje o nosso plantio é sofisticado, a tecnologia é dinâmica e a gente usa muito o celular com diversos aplicativos que nos dão o que precisamos. Tudo ficou mais fácil com as máquinas e técnicas modernas. Mudou muito a agricultura de Campo Mourão e vai mudar muito. Para isso precisamos estar antenados e com apoio da assistência da Coamo vamos continuar tendo sucesso como empresários rurais”, prevê o associado da Coamo, que graduou-se em 1993 quando Campo Mourão estava com 46 anos. “A nossa cidade é pujante, vem crescendo e tem muito que progredir assumindo a sua vocação como polo regional e uma importante cidade do nosso país"

1954 - Procissão e missa campal em honra a São José na Praça Getúlio Vargas
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