Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 477 | Janeiro/Fevereiro de 2018 | Campo Mourão - Paraná

OPINIÃO

MOLDAR O FUTURO DA PRODUÇÃO ANIMAL DE FORMA SUSTENTÁVEL, RESPONSÁVEL E PRODUTIVA.

 BLAIRO MAGGI, Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

"Em relatório recente, as Nações Unidas estimaram que a população mundial crescerá cerca de 1 bilhão nos próximos 13 anos, alcançando a marca de 8,6 bilhões de pessoas, em 2030. Como alimentar esse contingente populacional de forma adequada, sem que os recursos naturais sejam exauridos e comprometam o bem-estar das gerações futuras?

O Brasil encontrou algumas respostas sobre o tema, principalmente, oriundas da decisão estratégica de transformar o país de grande importador a grande exportador de alimentos, com sustentabilidade, mesmo no desafiante ambiente tropical.

O rebanho no Brasil saltou de 145 milhões, em 1990, para os 218 milhões em 2017, reduzindo o tamanho da área destinada a pasto que caiu, no período, de 188 milhões de hectares, para menos de 167 milhões. Essa tendência deverá ser intensificada no futuro com o uso de novas tecnologias como a integração agricultura, pecuária e florestas.

O resultado acima é ainda mais importante na área de produção de grãos. Houve incremento de produção de 386%, em 40 anos, com aumento de área de apenas 33%, resultando em aumento de produtividade de 270%. O uso de tecnologia e da inovação, em ambiente tropical, propiciou plantio de duas safras de grãos no mesmo ano, utilizando a fixação biológica do Nitrogênio e o plantio direto, além de técnicas que auxiliam na incorporação de matéria orgânica e proteção dos solos de cerrado. Esses solos eram considerados inapropriados para o plantio por sua baixa fertilidade e hoje, as técnicas modernas de cultivo, garantem a melhoria contínua da qualidade do solo e da produção.

Aliado a esse esforço, o apoio da política agrícola propiciando crédito para financiamento, com recursos captados no mercado, resultou na criação de classe rural estimulada para o uso de novas tecnologias e enfretamento de desafios, como a deficiência de infraestrutura de transporte e armazenamento. Atualmente, mais jovens e mulheres procuram a atividade agropecuária brasileira pelo interesse de aplicar tecnologia e inovação no ambiente rural.

A legislação ambiental brasileira é uma das mais rígidas e exigentes, principalmente com os produtores rurais. O Código Florestal, aprovado pelo Congresso Nacional, em 2012, estabeleceu regras específicas para a atividade agropecuária, definiu áreas dedicadas à preservação ambiental nas beiras de rios e fontes de água, topos de morros e encostas, criando corredores ecológicos e preservando a biodiversidade. As propriedades rurais no Brasil são obrigadas também, a contarem com área de proteção permanente que varia de acordo com o bioma em que estão localizadas, na Amazônia, 80% da área deve ser protegida, no cerrado 35%, e nos demais biomas, 20%, sem receberem subsídios do governo por essa prática.

O resultado desse esforço dos produtores rurais e da sociedade brasileira indica atualmente que mais de 66,3% do território brasileiro é coberto por vegetação nativa e mais de 20,5% do território nacional é preservado nas propriedades rurais. Os 66,3% do território nacional, compreendem 5,64 milhões de Km2 área maior do que a dos 28 países da União Europeia (4,49 milhões de km2), maior do que a área da Índia ou mesmo equivalente a duas Argentinas. Os 20,5% do território nacional de área dedicada à preservação ambiental pelos produtores rurais brasileiros equivalem a 1,77 milhões de km2, área maior do que qualquer país europeu.

Complementado esse esforço, desde 2009 o governo federal implantou o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, denominado Plano ABC. Até o ano passado, o Plano ABC havia financiado mais de 30 mil projetos e investido cerca de US$ 6,4 bilhões. Mais de 12 milhões de hectares estão hoje sobre o sistema integrado de agricultura, pecuária e floresta. Essa área é maior que toda a área cultivada no Reino Unido, Holanda, Bélgica e Dinamarca, juntas. Muitas vezes, os próprios agricultores financiam essa prática sem contar com financiamentos bancários, pois acreditam no aumento da renda e da produção utilizando essa tecnologia inovadora.

O sistema integrado de produção permite uso mais eficiente da terra, preservando os solos e os recursos hídricos, unindo produtividade, bem-estar animal e diversificação da produção. Com eficiência e produtividade, aumenta a resiliência do agricultor frente às mudanças climáticas e alivia a pressão para a abertura de novas áreas de produção.

O sucesso dessas e outras tantas iniciativas do Brasil voltadas para o setor agropecuário, pode levar a atividade pecuária a ter um sequestro de carbono de até 4,5 bilhões de toneladas nos próximos 30 anos ao recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e reflorestar 12 milhões de hectares, até 2030.

Os dados apresentados provam que é possível produzir mais com sustentabilidade. No entanto, o surgimento do Brasil no mercado internacional agropecuário enfrenta muita resistência e preconceito, fundamentados na falta de conhecimento da realidade brasileira. Fatos isolados e negativos muitas vezes são supervalorizados em detrimento de visão mais holística sobre o país. Campanhas mal-intencionadas de competidores ineficientes tentam denegrir a trajetória mais vitoriosa de um país tropical no mercado internacional agropecuário, historicamente dominado por países que não se encontram na área tropical do globo.

O exemplo inovador do Brasil aliando produção com sustentabilidade poderá minimizar os efeitos do aquecimento global, conservar a biodiversidade, contribuir para a segurança alimentar e para a qualidade de vida no planeta."

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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