Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 481 | Junho de 2018 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“Nosso cooperativismo tem uma bonita história com planejamento, resultados e desenvolvimento.”

Robson Mafioletti: Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Paraná (1996) e mestrado em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (2000). Desde maio de 2000, trabalha na Ocepar. Atuou na Gerência Técnica e Econômica – Getec até abril de 2016 e a partir desta data assumiu a Superintendência da Ocepar.

O planejamento no cooperativismo começou na década de 1970 com os Planos Regionais (PIC, NORCOOP e SULCOOP) e seguiram com os planos quinquenais. O superintendente do Sistema Ocepar, Robson Mafioletti destaca a  importância do PRC 100 - Plano Paraná Cooperativo 100 –, aprovado na Assembleia Geral de 2015. ”O PRC é o planejamento do cooperativismo para que consigamos atingir R$ 100 bilhões/ano de faturamento até 2021. A meta é audaciosa, fizemos o planejamento para atingir um valor financeiro estabelecendo estratégias para pavimentar o caminho para chegar neste valor de forma sustentável, com o somatório dos Planejamentos Estratégicos das Cooperativas.”


Revista Coamo: Como avalia a força do cooperativismo no Paraná? Essa força pode ser ampliada com o PRC 100?

Robson Mafioletti: O cooperativismo paranaense tem trilhado ao longo de sua história o caminho do crescimento e do desenvolvimento. Esta trajetória está alicerçada no planejamento de suas atividades e negócios, com uma visão de mercado, onde o econômico dá sustentação ao social. Já é uma tradição no sistema realizar a cada década um planejamento estratégico que envolva todas as cooperativas paranaenses. O PRC 100 - Plano Paraná Cooperativo 100 –, é o planejamento do cooperativismo para que consigamos atingir R$ 100 bilhões/ano de faturamento até 2021. Em 2017 as cooperativas obtiveram R$ 70,3 bilhões e em 2014 foi R$ 50 bilhões de faturamento, portanto, a meta é audaciosa, dobrar esta movimentação em poucos anos. Fizemos o planejamento para atingir um valor financeiro estabelecendo estratégias para pavimentar o caminho para chegar neste valor de forma sustentável, com o somatório dos Planejamentos Estratégicos das Cooperativas.


RC: Qual foi o resultado de pesquisa recente encomendada pela Ocepar junto ao Instituto Datacenso?

Mafioletti: A Ocepar encomendou pesquisa junto ao Instituto Datacenso, para avaliar a percepção dos paranaenses em relação ao cooperativismo e suas marcas. O resultado foi de 96% de aprovação (qualidade/preço) e demonstrou que, de forma geral, a população tem um conceito positivo das cooperativas. Porém, temos ciência que é necessário um esforço maior no sentido de mostrar aos consumidores que os produtos de cooperativas têm origem e qualidade garantida, transformando isso num diferencial de mercado.


RC: Quais os desafios do cooperativismo para os próximos anos?

Mafioletti: O principal desafio é o ambiente de negócios, estarmos sempre atualizados sobre as novas tecnologias e conquistarmos a preferência dos consumidores. Os desafios vêm principalmente das instabilidades econômicas e políticas que estamos sujeitos, dado a falta de um planejamento mais estruturado por parte dos governos em fazer as reformas necessárias para o país. As cooperativas têm uma característica muito forte que é a filosofia de trabalho e de valores, em que, os cooperados, dirigentes e funcionários pensam no longo prazo.


RC: Em quantos municípios do Paraná as cooperativas geram emprego e renda?

Mafioletti: Todos os anos, o cooperativismo tem desenvolvido novos projetos para ampliar sua capacidade de atendimento aos cooperados e de processamento da produção. Dos 399 municípios do Paraná, em 120 deles as cooperativas são as principais empresas, gerando emprego, renda e distribuindo riquezas. Em mais de 70 municípios, as nossas cooperativas de crédito são a única instituição financeira. São indicadores que demonstram o quanto o cooperativismo faz parte da vida das pessoas e que hoje, sem erro, mais de três milhões de paranaenses estão ligados direta ou indiretamente a uma cooperativa. Por isso precisamos dar continuidade ao trabalho de representação, defesa e fomento para que nossas cooperativas tenham um ambiente favorável e continuem crescendo e desenvolvendo as regiões em que atuam.


RC: Há uma nova geração de cooperados com formação acadêmica, mais informação e tecnologia. Como as cooperativas devem se preparar para atender essa demanda? 

Mafioletti: Isso é um fato, por isso há necessidade constante de estarmos atualizados e inovando em nossos processos e produtos. Como disse o Guru Peter Drucker “os caminhos que nos trouxeram até aqui não serão os mesmos que nos levarão ao futuro”. Trabalhamos com esse alinhamento de pensamento no PRC-100, pois precisamos estar preparados e prontos para as mudanças e os desafios que ainda virão. As cooperativas têm feito este trabalho de transição de forma tranquila, sem sobressaltos para as novas gerações. As necessidades que nossos pais e avôs tinham quando foram constituídas as cooperativas são bem diferentes das necessidades atuais. É notório que as cooperativas mudaram muito daquela época para cá e estão mais preparadas com formação de jovens na filosofia cooperativista, grupos de mulheres, lideranças e assim por diante. O Sescoop, o nosso “S” do sistema cooperativista tem desempenhado um papel importante neste cenário, e tem investido na formação das pessoas. E isto é o nosso negócio, ter pessoas preparadas para enfrentar estes novos tempos. Atualmente são mais de 63 pós-graduações em andamento e três mestrados em gestão de cooperativas. Na era da aceleração da informação que estes jovens estão inseridos e poderão contribuir para o crescimento cada vez mais sustentável dos negócios cooperativos.


RC: As cooperativas de crédito vêm crescendo nos últimos anos. Por quê o senhor acredita que elas estão tendo mais espaço e credibilidade nesse segmento?

Mafioletti: O cooperativismo de crédito tem crescido na última década com taxas acima de dois dígitos no Brasil. Isto é fruto do planejamento e da busca de políticas públicas que possibilitassem a entrada de novos profissionais, produtores, empresários e púbico em geral no sistema. Atualmente, dos mais de 13 milhões de cooperados das diversas atividades no Brasil, cerca de 70% participam do ramo crédito. Isso aconteceu com mais força a partir de 2009 com a aprovação da Lei Complementar nº 130 e de um intenso trabalho realizado pelos sistemas de crédito e das cooperativas de crédito independentes. O caso da Credicoamo é extraordinário, ela ocupa as primeiras colocações entre as cooperativas de crédito do Brasil com uma estrutura de custos bem enxuta, atendimento personalizado e prima pelo relacionamento com o seu quadro social que são os próprios cooperados da Coamo. O diferencial do cooperativismo de crédito está na proximidade com seu cooperado e obviamente com seus custos mais baixos. Desta forma, no cooperativismo de crédito os custos para os cooperados e a rentabilidade dos investimentos é maior.


RC: O cooperativismo é uma saída para o Brasil crescer de forma mais sustentável?

Mafioletti: Sim, mas pensando nos 207 milhões de brasileiros, dos quais, 13 milhões (6%) participam diretamente do cooperativismo, temos que ter políticas públicas mais apropriadas para os diversos ramos do sistema. O Paraná é um exemplo disto, onde de forma empreendedora, milhares de cooperados do ramo agro são responsáveis por 2/3 da produção do Estado. Produção esta com garantia na sua origem com acompanhamento técnico de profissionais capacitados, desde a escolha de semente, como na aplicação racional de defensivos, armazenamento adequado, secagem do produto e industrialização dentro de todos os padrões exigidos tanto internamente como lá de fora. Precisamos também ter políticas para que outros segmentos do cooperativismo no Brasil possam crescer e ajudar no desenvolvimento das regiões e da economia.


RC: O setor agropecuário é uma forte alavanca para impulsionar a economia não só do Paraná, como do Brasil. Quais são os principais entraves enfrentados pela Ocepar?

Mafioletti: Sem dúvida, o principal gargalo é a infraestrutura.  Tem as deficiências nas rodovias, portos, ferrovias e aeroportos. Esta é uma preocupação muito grande porque prejudica todo o agronegócio brasileiro. Há, inclusive, uma tributação significativa em alimentos básicos, o que não deveria acontecer. Outra questão importante é a garantia de renda. Esta é uma antiga demanda que não vamos parar de cobrar e sugerir ao governo. A política de seguro vigente no país não é suficiente, pois cerca de 20% da área cultivada no Brasil é coberta com o seguro rural ou Proagro, contra 50 a 80% em nossos concorrentes.

Essa política vem no sentido de beneficiar o produtor e a sociedade, ou seja, garantir, efetivamente, uma renda mínima ao agricultor para que ele possa, em caso de dificuldade saldar seus débitos e também não onerar o contribuinte com renegociação de dívidas. Estes gargalos são realmente preocupantes, mas, evidentemente, há uma gama de outros fatores que prejudicam o setor. Há, por exemplo, a atual situação política do país. Esta instabilidade traz reflexos para o dia a dia, pois fica difícil tomar decisões num cenário turbulento como o atual. E de forma geral precisamos fortalecer a capitalização das cooperativas para termos sustentabilidade. O presidente da Coamo, José Aroldo Galassini, disse que isso não se faz no curto prazo, mas sim é necessário pensar para mais de algumas décadas.


RC: Como avalia a atuação dos colaboradores no cooperativismo?

Mafioletti: É o nosso principal diferencial, nosso principal ativo, as pessoas. Acompanho o sistema há anos, e percebo o quanto evoluímos na melhoria do preparo dos profissionais, com qualificação dentro das exigências de mercado. Devemos chegar neste ano com aproximadamente 100 mil pessoas com carteira assinada no sistema cooperativista. O preparo dessas pessoas é fundamental para que o cooperativismo continue crescendo e se desenvolvendo.  Mais de 90% desses colaboradores tem uma relação direta nas suas regiões de atuação das cooperativas, facilitando assim o conhecimento das realidades locais. O Sescoop/PR tem sido um agente importante neste cenário, com investimentos anuais em capacitação e treinamento na casa dos R$ 50 milhões, sem contar os recursos investidos diretamente pelas cooperativas que certamente devem dobrar.


Robson Mafioletti, superintendente da Ocepar

RC: Segundo o professor Tejon, “O cooperativismo precisa ser um programa de Estado, uma cultura difundida para toda a população, e matéria obrigatória desde a escola fundamental”. Qual sua opinião?

Mafioletti: Sem sombra de dúvida. Já existem iniciativas do Sistema OCB e da própria Ocepar neste sentido, para que os jovens, já no ensino fundamental experimentem o cooperativismo e entendam melhor essa filosofia. Participar do cooperativismo muda a visão de mundo das pessoas, ela não está mais sozinha, vê que precisa sempre de alguém para poder se desenvolver. Como diz aquele ditado, que sozinhos podemos ir mais rápidos, mas juntos vamos mais longe. Para nós que vivemos neste meio é fácil entender os benefícios da cooperação, mas no Brasil, infelizmente isso não é a regra praticada. No passado tivemos alguns problemas de falta de visão de negócios e de transparência, fatos esses que ficaram registrados na memória de algumas pessoas, mas que aos poucos, com profissionalismo, melhoria da gestão e acompanhamento pudemos mudar.  E conforme disse o professor Tejon, temos muito ainda que avançar, mas estamos no caminho certo. Não vai demorar muito e o Brasil vai verificar que a cooperação é a forma mais eficaz de gerar resultados efetivos e consistentes.


RC: Como analisa a participação da Coamo e da Credicoamo para a pujança do cooperativismo?

Mafioletti: É uma referência extraordinária o trabalho da Coamo e da Credicoamo para o cooperativismo brasileiro. A forte liderança dessas duas cooperativas está na figura do seu líder, Gallassini, que ajudou a fundá-las e vive no dia a dia com muito trabalho e conquistas. As duas estão focadas nos resultados para toda a sociedade cooperativa. Ações como essas que se refletem no modo Coamo de funcionar. Isso fez com que toda energia de trabalho fosse focada no essencial e todos visualizaram o futuro possível.

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