Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 492 | Junho de 2019 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“Cooperativismo paranaense tem compromisso com o desenvolvimento sustentável do Brasil”

José Roberto Ricken é o sétimo cooperativista a assumir a presidência do Sistema Ocepar

Natural de Manoel Ribas, na região central do Paraná, José Roberto Ricken é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Administração pela Ebape – Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas e especialista em Cooperativismo, com vários cursos no Brasil e no exterior. Ele é o sétimo cooperativista a assumir a Presidência da Ocepar. Foi reconduzido ao cargo de presidente do Sistema Ocepar, durante a Assembleia Geral Ordinária, para um novo mandato de quatro anos - gestão 2019/2023. Ricken assumiu pela primeira vez a presidência da entidade em 2016.  O presidente da Ocepar, é o entrevistado desta edição da Revista Coamo e relata os avanços e conquistas do sistema cooperativista paranaense.



Revista Coamo:  Presidente, qual foi o resultado em 2018 do cooperativismo paranaense?

José Roberto Ricken: No ano passado, as 215 cooperativas registradas no Sistema Ocepar, de sete diferentes ramos (agropecuário, crédito, saúde, infraestrutura, trabalho, consumo e transporte), registraram um crescimento de 18,9% no faturamento, atingindo a soma de R$ 83,5 bilhões. O número de cooperados aumentou 19,2% no exercício de 2018. Mais 300 mil pessoas aderiram ao movimento que hoje abrange 1,8 milhão de cooperados. O setor emprega diretamente mais de 100 mil pessoas e as exportações atingiram no ano passado US$ 3,9 bilhões, valor 17,6% superior ao de 2017. Os investimentos alcançaram R$ 1,9 bilhão e o segmento recolheu R$ 2,1 bilhões em impostos. O cooperativismo de crédito detém R$ 43,8 bilhões em ativos e as cooperativas de saúde contabilizam 2 milhões de beneficiários. No ano passado, os investimentos em formação profissional e promoção social possibilitaram a realização de 8.898 eventos, com 251 mil participações em treinamentos do Sescoop/PR.



RC: O senhor acredita que atingir 100 mil empregos diretos no cooperativismo é uma marca que merece ser comemorada?

Ricken: Com certeza, as cooperativas paranaenses demonstram firme compromisso com o desenvolvimento sustentável do Brasil. São mais de cem mil pessoas contratados diretamente pelo setor, além de centenas de milhares de empregos indiretos gerados como desdobramentos dos investimentos das cooperativas, no campo e nas cidades. Milhares de famílias estão economicamente ligadas ao cooperativismo.



RC: Como o setor explica a geração de tantos empregos, mesmo num cenário de retração da economia?

Ricken: Certamente não apenas com discursos, mas sim com um propósito realista dos cooperados, suporte do trabalho dos dirigentes e gestores, por meio de planejamento e investimentos na melhoria das estruturas e serviços.  A marca histórica de 100 mil empregos diretos gerados mostra a importância do cooperativismo paranaense para o desenvolvimento econômico e social do estado e do país. Anualmente, as cooperativas paranaenses aplicam R$ 2 bilhões em seus funcionários, incluindo salários, benefícios, FGTS, INSS e outros encargos.  Esse dinheiro amplia o consumo dos setores do comércio e serviços e, muitas vezes, se materializa na conquista da casa própria, em garantir o estudo para os filhos, enfim, na chance de uma vida com mais qualidade e conforto.



RC: Qual é o principal objetivo do cooperativismo?

Ricken:  O objetivo primordial do cooperativismo é potencializar os negócios de seus cooperados, prestar os melhores serviços, potencializar a competitividade dos associados. Para isso, as cooperativas atuam na difusão de tecnologia, capacitação da gestão e diversificação das atividades. As pessoas se unem em cooperativas para ganhar escala, ter acesso a novas tecnologias, capacitação, serviços e mercados, num modelo sustentável que aumenta a competitividade e as chances de crescimento. E, também, é importante destacar quem  contribui com seu trabalho para o crescimento do cooperativismo. Os 100 mil funcionários dão vida a um sistema do qual dependem mais de 2 milhões de paranaenses. Um setor que tem o desafio de manter o crescimento e a competitividade de seus cooperados.  Atualmente, o cooperativismo do Paraná responde por metade dos empregos gerados pelas cooperativas brasileiras (198 mil, de acordo com dados do Sistema OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras).



RC: Quanto aos investimentos, qual o montante investido nos últimos anos?

Ricken: Nos últimos cinco anos, o setor investiu R$ 11,2 bilhões, a maior parte dos recursos destinados à melhoria da atividade produtiva, industrialização, logística de armazenagem e estruturas de serviços e modernização tecnológica. Ao gerar empregos e potencializar os negócios de seus associados, cria-se um círculo virtuoso de desenvolvimento social, com consequências positivas para a economia paranaense, num processo de interiorização dos investimentos. O resultado desta estratégia tornou o cooperativismo do estado um player internacional do agronegócio, com produtos comercializados em mais de 100 países.



RC: Qual a importância do setor agropecuário no cooperativismo?

Ricken: Nas cooperativas agropecuárias, os investimentos em industrialização, para agregar valor à produção dos cooperados, e a profissionalização da gestão foram ações decisivas para o crescimento econômico do setor, com diversificação e mais renda no campo, e geração intensiva de postos de trabalho. O ramo agropecuário responde por 79% dos empregos gerados e a estratégia de crescimento direciona investimentos contínuos em industrialização. Ao potencializar os negócios de seus associados, cria-se um círculo virtuoso de desenvolvimento social, com consequências positivas para a economia paranaense, num processo de interiorização dos investimentos e do emprego.



RC: O setor vem investindo bastante também na capacitação dos funcionários.

Ricken: É verdade, pois na outra ponta, o consistente trabalho de capacitação proporcionado pelo Sescoop/PR aprimorou tanto profissionais operacionais, quanto gestores e dirigentes, aperfeiçoando mecanismos de governança e planejamento. Para isso, investimos de forma constante em agregação de valor da produção dos cooperados e, com o apoio do Sescoop/PR, promovemos a formação pessoal  profissional. Não se criam 100 mil empregos diretos com discursos bonitos, mas sim com investimento, organização e muito trabalho dos administradores e cooperados. Essa é a receita do cooperativismo para o crescimento e a geração de renda e empregos, mesmo num período de crise e desemprego.



RC: Qual foi o total de investimento do Sescoop/PR em 2018 visando a melhoria da prestação de serviços aos cooperados?

José Roberto Ricken na Assembleia da Coamo

Ricken: Em 2018, o Sescoop/ PR investiu R$ 45,7 milhões em treinamento, capacitação e monitoramento. Em média, o volume de investimentos cresce 10% ao ano, abrangendo a qualificação de profissionais de todas as áreas de atuação nas cooperativas. O PRC 100, planejamento estratégico do cooperativismo do Paraná, projeta um faturamento de R$ 100 bilhões nos próximos anos. Sabemos que o setor atingirá essa meta, mas nossa preocupação é em como as cooperativas vão estar estruturadas em termos de gestão e governança. O crescimento traz novos desafios.



RC: Quais as principais frentes de atuação do Sistema Ocepar?

Ricken: A atuação da Ocepar será sempre em defesa dos interesses das cooperativas paranaenses junto aos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e à diversos outros organismos visando propiciar avanços. Em 2018, destacamos a desoneração da folha de pagamento,  a aprovação do Refis do Funrural na Câmara dos Deputados, a redução dos juros para o crédito rural, o  aumento de linhas de financiamento para as cooperativas de saúde e amplificação do Programa Paraná Competitivo, com a utilização de créditos para compra de caminhões e insumos.



RC: O senhor foi reeleito recentemente para mais quatro anos à frente do Sistema Ocepar. Quais propósitos deverão nortear sua nova gestão?

Ricken: Em âmbito nacional, vamos sempre apoiar a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) para que ela continue fazendo uma representação competente do cooperativismo brasileiro. Da mesma forma, vamos assessorar os deputados e senadores da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) para que possam nos apoiar nos projetos de interesse das cooperativas em tramitação no Congresso Nacional. Vamos ajudar também a Frente Parlamentar da Agricultura (FPA). A Ocepar continuará a defender os interesses das cooperativas junto à Receita Federal, atuar positivamente pela reforma tributária e continuar com ações voltadas à melhoria da infraestrutura de transporte. O Brasil não pode depender apenas do modal rodoviário. Outro objetivo dessa gestão será buscar linhas de financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para as cooperativas de saúde e infraestrutura. Se conseguirmos mais recursos para a saúde e infraestrutura, todos os ramos podem se desenvolver”.

Em âmbito estadual, a ideia é continuar apoiando o G7, grupo formado pelas principais federações representativas do setor produtivo paranaense, do qual a Ocepar faz parte. Outro propósito é dar prosseguimento às ações para tornar o Paraná livre de febre aftosa sem vacinação. A entidade vai ainda buscar atender as demandas das cooperativas em relação ao ICMS. Hoje temos mais de R$ 1,5 bilhão em créditos de ICMS acumulados em nossos balanços. Vamos buscar recursos para equacionar essa situação e tentar negociar com o BNDES, para que o setor cooperativista paranaense continue investindo, no mínimo, R$ 2 bilhões por ano em agroindústrias e, assim, contribua para o desenvolvimento do Paraná. Em âmbito do cooperativismo paranaense, o grande desafio é alcançar, ainda nessa nova gestão, os R$ 100 bilhões de faturamento do setor, uma das metas do PRC 100, o planejamento estratégico das cooperativas do Paraná.



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