Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 517 | Setembro de 2021 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

DÉBORA GRIMM Superintendente do Senar Paraná que integra o Sistema Faep/Senar-PR

Débora Grimm é engenheira Agrícola formada pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), pós-graduada em Gestão Pública e Logística e especialista em Elaboração, Gestão e Análise de Projetos. Em novembro de 1987 iniciou na Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar). Atuou nas áreas de Mecanização Agrícola, Planejamento e Engenharia Rural. Em 2016 passou a integrar a equipe da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) indicada para a Secretaria Executiva do Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná. Em 2019 assumiu a Presidência da Codapar acumulando a Diretoria Técnica Operacional. Em 2020 assumiu a Superintendência do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional Paraná (Senar-PR).

“ A mulher já conquistou e desempenha seu papel. Temos dificuldade ainda em áreas de representatividade, mas é um espaço a ser conquistado. Muito mais que gênero, precisamos de profissionais capacitados, competentes e dispostos a assumir responsabilidades. Esse avanço é gradual e contínuo.” A afirmação é da superintendente do Sistema Senar/PR, Débora Grimm, a primeira mulher a ocupar este cargo na história da instituição.

Para Débora, trabalhar no setor rural com capacitação de adultos, jovens e adolescentes, nas mais diversas áreas e na velocidade com que as coisas estão evoluindo, é desafiador.

A superintendente afirma que o agronegócio não é mais para amadores e há a necessidade do produtor se profissionalizar. "A gestão do agronegócio de forma mais profissional aumenta as oportunidades de sucesso.”


Revista Coamo: Qual a missão no Senar/PR?

Débora Grimm: O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado do Paraná é a instituição pertencente ao Sistema “S”, encarregada de realizar ações de formação profissional rural e atividades de promoção social, por meio de cursos, palestras, entre outros, voltadas às pessoas do meio rural, contribuindo com sua profissionalização e melhoria da qualidade de vida, bem como, preparando-as para o exercício da cidadania e da busca do desenvolvimento sustentável. Atualmente, são mais de 300 cursos, nas diferentes áreas da agropecuária e atividades afins. Ao longo de mais de 25 anos de existência já tem perto de 3,5 milhões de participações. Atua em todo Estado e qualquer produtor, trabalhador rural e suas famílias, além dos profissionais envolvidos no meio rural podem fazer os cursos de forma gratuita.



RC: Como foi sua recepção para ser a primeira mulher na história a ocupar o cargo de superintendente do Senar-PR?

Débora: Foi muito gratificante receber o convite do presidente do Sistema Faep/Senar-PR. Minha aproximação se deu quando atuei na Secretaria Executiva do Programa Prosolo, que foi desenvolvido em conjunto com a Seab e o Sistema Faep/Senar-PR. Assumir um cargo desta dimensão traz muita responsabilidade, tanto no desempenho junto à instituição, por obvio, como perante o público feminino que espera muito desta representatividade. Trabalhar no setor rural com capacitação de adultos, jovens e adolescentes, nas mais diversas áreas e na velocidade com que as coisas estão evoluindo, é desafiador.



RC: Muito se fala do papel multifuncional da mulher, além de casa e da porteira do agronegócio. O que pensa a respeito?

Débora: Esta capacidade de a mulher desempenhar diversos papeis faz parte da sua natureza. Cada vez mais, a mulher tem se mostrado eficiente e participativa na gestão da propriedade e dos negócios. Percebo sua atuação tanto na área técnica como na gestão. Normalmente a mulher é mais criteriosa e organizada e isso proporciona um diferencial para a gestão.



RC: Como observa a participação da mulher no cooperativismo e agronegócio?

Débora: Creio que perante a família e em seus negócios, a mulher já conquistou e desempenha seu papel. Temos dificuldade ainda em áreas de representatividade, mas é um espaço a ser conquistado. Muito mais que gênero, precisamos de profissionais capacitados, competentes e dispostos a assumir responsabilidades. Esse avanço é gradual e contínuo.



RC: A Faep criou a Comissão Estadual das Mulheres – movimento que une as mulheres no Agro paranaense. Conte um pouco sobre esse trabalho.

Débora: O Sistema Faep/Senar- -PR é composto pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná, o Senar e os sindicatos rurais. Atualmente, 2.400 produtores trabalham como dirigentes sindicais e destes, apenas 6% são mulheres. Para estimular a representatividade e o engajamento das mulheres, foi criada, em 2021, a Comissão de Mulheres da Faep. O objetivo é fortalecer as mulheres no agronegócio e, para isso, elas precisam estar preparadas, tanto pessoal como tecnicamente. A Comissão está desempenhando um excelente trabalho e conquistando, cada vez mais, mulheres para participar das capacitações e demais ações de incentivo. Aproveitamos aqui para convidar todas as mulheres que queiram conhecer mais deste trabalho que procure o Sindicato Rural da sua cidade ou entre em contato conosco.



RC: Há crescimento das mulheres nos cursos de capacitação do Senar? Em quais cursos elas mais se destacam e estão ocupando seu espaço?

Débora: Nos últimos 25 anos, tivemos mais de 3,5 milhões de participações no Senar/PR nas mais diversas áreas. Interessante observar que a média de mulheres fica em torno de 45%, com destaque para os cursos de promoção social, na área de produção artesanal de alimentos como panificação, conservação de frutas e hortaliças, derivados da mandioca, leite etc. Mas, também, cursos de inclusão digital, bovinocultura de leite, fruticultura, operação de tratores e implementos, aplicação de defensivos agrícolas, operação de drones, cursos na área de gestão (marketing, fluxo de caixa, gestão de pessoas, técnicas de negociação), dentre outros. Das mulheres que participam dos cursos do Senar/PR, a maioria está entre 25 e 45 anos. Percebam o interesse de jovens mulheres. Já realizamos muitos cursos exclusivamente para grupos de mulheres nas áreas de operação de máquinas e equipamentos. Além dos cursos de formação profissional, o Senar/ PR tem criado diversos programas estimulando a participação de mulheres do campo. Em 2008, criou o Programa Mulher Atual, que já capacitou quase 30.000 mulheres em 1.300 turmas. Trabalhando o espírito de liderança e empreendedorismo, autoconhecimento, sustentabilidade, qualidade de vida. Diversas mulheres que são referência no agronegócio estadual e nacional passaram por este programa. O Programa Jovem Agricultor Aprendiz, nos últimos 15 anos, contou com mais de 50.000 jovens entre 14 e 18 anos (urbano e rural) que participaram nas áreas de Gestão, Bovinocultura de Leite, Olericultura, Fruticultura, Mecanização Agrícola. Destaca-se o número crescente de mulheres, em torno de 50%, procurando o programa. No programa Empreendedor Rural, que estimula a olhar para a propriedade como uma empresa, o público feminino vem aumentando consideravelmente, mais de 13.000 mulheres já participaram. A criação de outros programas e capacitação constante do público feminino, está despertando na mulher rural o interesse em assumir, como protagonista, o negócio da família. Quanto a atuação das profissionais do setor, vemos cada vez mais técnicas no mercado de trabalho.



RC: Quais foram as principais atividades e desafios do Senar/PR nesses últimos 18 meses?

Débora: No início da pandemia, como não sabíamos o tempo que iria durar, investimos no nosso público interno, principalmente nos instrutores. Atualizamos os planos de aula, capacitamos este pessoal. Como o lema do Senar é “aprender fazer fazendo”, nossos cursos são muito práticos e presenciais, o que dificultou a adaptação para o modo online, mas, nos adequamos e disponibilizamos além dos cursos nesta categoria, uma biblioteca virtual onde todos podem acessar as cartilhas dos cursos no site ou no App do Sistema.



RC: Quais são os fatores que podem determinar a excelência na gestão do agronegócio?

Débora: Creio que podemos resumir em um ponto: conhecimento. Cada vez mais, o produtor deve estar “antenado” ao que está acontecendo, nos mais diversos campos, tecnologia e inovação, otimização de recursos, mercado, logística, sustentabilidade etc. O agronegócio não é mais para amadores, há necessidade do produtor se profissionalizar. Atuar no seu negócio de forma estratégica, com colaboradores qualificados e motivados. Produzir com mais qualidade, me nos custos, maior produtividade e de forma, cada vez mais, sustentável é o verdadeiro desafio para o setor. A gestão do agronegócio de forma mais profissional aumenta as oportunidades de sucesso.



RC: Como será o agronegócio do futuro? Mais digital, mais relacional?

Débora: A tecnologia e inovação estão no campo. A agricultura de precisão veio para ajudar o produtor a ser mais assertivo no seu processo de produção. Então, sim, seremos mais digitais.



RC: Como analisa a força do cooperativismo para o desenvolvimento de comunidades e do país?

Débora: O cooperativismo é mais que um modelo de negócio, é uma filosofia que busca uma atuação mais justa, equilibrada e com oportunidades a todos. Isso se reflete no espaço onde a cooperativa está inserida com a geração de empregos, injeção de recursos na economia local, e contribuição para a cultura e educação da comunidade.



RC: Considerando os princípios do cooperativismo, a senhora acredita que se o Brasil fosse “cooperativista”, poderia ser melhor?

Débora: O cooperativismo tem se mostrado uma instituição eficiente para o aumento da produção e melhoria da qualidade de vida dos associados. O Paraná é um ótimo exemplo, que poderia ser estendido para o restante do país.



RC: Como avalia o cooperativismo praticado pela Coamo?

Débora: A Coamo é um caso de sucesso. Ela reflete sua missão transformando a vida de cooperados e dos municípios onde atua, cumprindo seu compromisso ao longo dos seus 50 anos. E o Senar/ PR quer continuar junto com a Coamo disponibilizando cursos e serviços aos cooperados, trilhando este caminho de sucesso.



RC: Deixe sua mensagem aos cooperados da Coamo.

Débora: A mensagem aos cooperados da Coamo é para que busquem constantemente conhecimento e capacitação. O nosso desafio é mão de obra qualificada. A agricultura de precisão está invadindo as propriedades e precisamos ter gente capacitada para trabalhar. Menos força física e mais intelecto, e isso, proporciona uma condição de igualdade de gênero. Mas, isso só se consegue com a capacitação constante.

Débora Grimm, superintendente do Sistema Senar/PR
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